PRODUÇÃO DE MATERAIS MIDIÁTICOS EM DIDÁTICA.

 

Maria Emilia de Castro Rodrigues

 

INTRODUÇÃO

 

O tempo presente é caracterizado não apenas pelo desenvolvimento técnico-científico que interfere em toda vida social, produtiva e pessoal, como traz consigo um novo vocabulário que ao mesmo tempo em que é assimilado pelos jovens com muita facilidade, pouco a pouco penetra no mundo das diferentes gerações: software, hardware, bits, cibercultura, hipertexto, era digital, tempo real e virtual, e-mail, etc e tem estado presente nos diálogos contemporâneos.

Penetrar neste universo simbólico para desvendá-lo, atuar e produzir conhecimento de interesse da área de educação, a partir destes referenciais, foi o desafio da equipe[1] que elaborou, desenvolveu e executou cada parte deste projeto.

O presente texto trata dos resultados obtidos no sub-projeto “Novas Tecnologias e Núcleo Didático de Formação de Professores” da pesquisa Infovias e Educação, desenvolvida nos anos de 2000 a 2002. Este subprojeto teve como objetivo geral consolidar um campo específico de investigação pedagógica para produção de conhecimentos e tecnologias didático-pedagógicas, a partir das tecnologias de comunicação e informação direcionadas para a educação presencial e a distância(EAD).

 

DIDÁTICA E AS NOVAS TECNOLOGIAS

Entendendo que a Didática, enquanto disciplina voltada para o estudo das relações entre ensino-aprendizagem, não pode ignorar as transformações provocadas pelas inovações tecnológicas nas relações cognitivas e comunicativas que ocorrem nos processos de aprender e ensinar, a pesquisa buscou investigar como a Didática pode propor formas de condução do ensino face às tecnologias de comunicações inseridas no cotidiano escolares, sendo uma preocupação permanente as demandas pela capacitação docente e discente para utilização didático-pedagógica dessas tecnologias.

A inexistência (ou fragilidade) desta formação, aliada à resistência dos professores às novas tecnologias, são responsáveis pela utilização dos equipamentos tecnológicos e informacionais introduzidos nas escolas apenas como recurso “audiovisuais e ilustrativos”.Trata-se de uma compreensão da tecnologia que se restringe ao aparato tecnológico, mas que não leva em conta sua dimensão cultural, ética e estética, enquanto uma criação humana. E ainda desconsidera que, no caso das tecnologias de ponta, a elas está agregada a dimensão cultural do conhecimento, não só porque são criações humanas, mas também porque são veiculadoras de informação, conhecidas como tecnologias da informação e da comunicação (TIC).

E como nos alerta Libâneo (1998), os educadores, dificilmente conseguem propiciar que os alunos aprendam “no ou por meio do” computador, quando muito levam-nos a aprenderem “sobre” o computador (p.71), o que não difere dos demais recursos tecnológicos quando são utilizados na escola.

Em função das demandas didático-pedagógicas das tecnologias de comunicação e informação do trabalho docente, ultrapassarem apenas a capacidade de manuseio e domínio dos equipamentos tecnológicos – demandando a apropriação de mecanismos comunicativos e cognitivos para lidar com elas enquanto mediações culturais da comunicação que se realiza no ensino – e da compreensão da prática pedagógica como propulsora da transformação do cotidiano do saber fazer didático atribuiu-se um grande valor a esta pesquisa como possibilidade de articulação entre teoria e prática.

Sendo o ensino um processo que ocorre em ambientes comunicacionais intencionalmente organizados, com vistas à formação dos alunos, a integração das novas tecnologias nesse processo tende a alterar significativa e qualitativamente a relação dos educandos com o objeto de conhecimento, haja vista que traz a possibilidade de, numa perspectiva tridimensional, com som e movimento veicular saberes culturais, informações, idéias e valores, que, se bem mediados pelo professor poderão propiciar um salto qualitativo e quantitativo nas aprendizagens. Essa possibilidade, no entanto, está associada à capacidade docente de prover condições e meios para que os educandos possam significar, selecionar, construir e reconstruir os saberes e informações veiculados pelas novas tecnologias.

Por tomar como desafio criar mecanismos para intervir nos processo de ensino articulados às novas tecnologias três professoras da equipe de Didática e Prática de Ensino da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Federal de Goiás (UFG), juntamente com a coordenadora do Projeto Infovias e demais alunos participantes na pesquisa, constituíram espaços para estudos e práticas sobre as tecnologias da comunicação e informação nos cursos de formação de professores.

A metodologia de trabalho proposta inicialmente previa o intercâmbio e produção coletiva envolvendo professores de diferentes instituições de ensino superior, ou seja, dos pólos definidos pelo projeto Infovias e Educação, quais sejam: Goiânia, Anápolis, Jataí, Catalão e Rio Verde[2]. Entretanto, vários fatores impossibilitaram a realização plena desta proposta, dentre as quais destaca-se a falta de participação dos pólos. Inicialmente, os pólos de Anápolis e Catalão responderam ao convite para participação, sendo que o pólo de Anápolis alegou ausência de disponibilidade de tempo para participação. O pólo de Catalão, por sua vez, enviou um texto produzido pelo grupo de professores de didática apresentando reflexões sobre a proposta desenvolvida nesta disciplina no curso de Pedagogia. Infelizmente, este grupo não enviou outras produções pertinentes a esta reflexão.

Castells (2003) nos alerta que nesta grande rede (a Internet) são os usuários que definem o tipo de aplicação e de desenvolvimento da tecnologia. Os que chegarem depois, diz Castells, “terão menos a dizer sobre o conteúdo, a estrutura e a dinâmica da Internet” (idem, p.263). Mas, quando a tecnologia é nova demais e não é bem compreendida é normal a resistência e a criação de diferentes mitos sobre ela.

Diante do impasse e por compreenderem a importância deste tipo de pesquisa, o pólo de Goiânia conseguiu reunir três professoras de Didática que definiram como temática de estudo e objeto de pesquisa para elaboração de material didático a proposta da disciplina de Didática e Prática de Ensino do Ensino Fundamental ministrada no curso de Pedagogia da FE/UFG adequando-os a linguagem web, pois a linguagem e metodologia utilizada em EAD são específicas.

A definição deste tema ocorreu depois de várias reuniões onde foram levantados as temáticas estudadas na disciplina, seus desafios e seus avanços. A partir desta definição iniciou-se o processo de levantamento dos materiais didáticos produzidos por este grupo em consonância com a dinâmica da disciplina.

Após este levantamento desenvolveu-se a seleção e organização destes materiais. Todo o processo de construção deste material, em um cd-rom, propiciou ao grupo proponente o exercício de reflexão sobre a própria prática e a função da disciplina de Didática e Prática de Ensino na formação inicial e continuada de professores.

Este cd-rom constitui-se de reflexões e descrição da proposta pedagógica desenvolvida na disciplina de Didática e Prática de Ensino no Ensino Fundamental, estruturando-se da seguinte maneira: apresentação, breve contexto e dinâmica da disciplina, e os links educação especial; educação para infância e adolescência, formação inicial e continuada, educação de jovens e adultos envolvendo em cada um deles os projetos de extensão e de pesquisa, grupo de estudo, bibliografias/sinopses, sites e e-mail, palestras e textos vinculados as subtemáticas enfocadas. É mencionado ainda o corpo docente que desenvolve a proposta da área de Didática e Prática de Ensino na Educação Fundamental e os nomes das organizadoras do cd-rom.

            Apesar das dificuldades vivenciadas na elaboração deste cd-rom, desde aquelas vinculadas a problemas técnicos na elaboração do mesmo até a diminuição da equipe no decorrer do processo da pesquisa e montagem, consideramos que o resultado deste trabalho demonstra o desafio que é produzir material para a educação à distância. Um dos aspectos desafiadores refere-se à linguagem e metodologia específica, outro se refere à construção de um trabalho coletivo em que são agregados diferentes áreas do conhecimento, tais como a da informática e a da comunicação. Vale ressaltar que enquanto estes profissionais muitas vezes não dominam as concepções pedagógicas e apresentam dificuldade de articular seus conhecimentos técnicos com o acadêmico, os professores não dominam o conhecimento técnico.  Neste sentido, a sintonia entre os diferentes saberes exige paciência, respeito e muita determinação.

Entendemos que criar um campo de investigação pedagógica integrado com outras áreas do conhecimento propicia uma produção de múltiplos olhares, mas temos que reconhecer que é também um grande exercício de redimensionamento do próprio saber, contribuindo para a educação da prática e da forma de registro desta, aspecto tão importante e muitas vezes relegado por nós educadores. Concluindo, entendemos que vencemos obstáculos, produzimos saberes, e estamos construindo as trilhas nas quais os jovens continuarão a caminhar nos processos de  ensino-aprendizagem.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

CASTELLS, Manuel. Fluxos, redes e identidades: uma teoria crítica da sociedade informacional. In: _________. Novas perspectivas críticas em educação. Tradução: Juan Acuña. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.  

LIBÂNEO, J.C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.

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[1] Esta equipe contou com professores da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás(FE/UFG), da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e do Campus Avançado de Jataí da Universidade Federal de Goiás(CAJ/UFG), e também alunos dos cursos de Pedagogia, Comunicação, Engenharia e Artes Visuais da UFG. Além da autora deste texto, são eles: as professoras Mirza Seabra Toschi (coordenadora geral do Projeto Infovias e Educação), Cleide Aparecida Carvalho Rodrigues(coordenadora do sub-projeto Novas Tecnologias e Núcleo Didático de Formação de Professores), Verbena Lisita, Eva Aparecida de Oliveira, Regina Maria de Araújo Tomaz Netto, Wolney Honório Filho, Maria Aparecida Almeida e Juçara Gomes de Moura; as alunas de Pedagogia, bolsistas de Iniciação Científica, Silvia de Fátima Azevedo Coelho, Crystiane Ribeiro Mendes, Juliana Guimarães Faria, de Artes Visuais, Eva Cordeiro e de Comunicação, Emmerson  Kran. 

[2] Devido a problemas de ordem administrativa, esta última cidade ficou pouco tempo com a equipe e os laços de comunicação foram interrompidos.