PRODUÇÃO DE MATERAIS MIDIÁTICOS EM DIDÁTICA.
INTRODUÇÃO
O tempo presente é caracterizado não apenas pelo desenvolvimento técnico-científico que interfere em toda vida social, produtiva e pessoal, como traz consigo um novo vocabulário que ao mesmo tempo em que é assimilado pelos jovens com muita facilidade, pouco a pouco penetra no mundo das diferentes gerações: software, hardware, bits, cibercultura, hipertexto, era digital, tempo real e virtual, e-mail, etc e tem estado presente nos diálogos contemporâneos.
Penetrar neste universo simbólico para desvendá-lo, atuar e produzir conhecimento de interesse da área de educação, a partir destes referenciais, foi o desafio da equipe[1] que elaborou, desenvolveu e executou cada parte deste projeto.
O presente texto trata dos resultados obtidos no sub-projeto “Novas Tecnologias e Núcleo Didático de Formação de Professores” da pesquisa Infovias e Educação, desenvolvida nos anos de 2000 a 2002. Este subprojeto teve como objetivo geral consolidar um campo específico de investigação pedagógica para produção de conhecimentos e tecnologias didático-pedagógicas, a partir das tecnologias de comunicação e informação direcionadas para a educação presencial e a distância(EAD).
Entendendo que a Didática, enquanto disciplina voltada para o estudo das relações entre ensino-aprendizagem, não pode ignorar as transformações provocadas pelas inovações tecnológicas nas relações cognitivas e comunicativas que ocorrem nos processos de aprender e ensinar, a pesquisa buscou investigar como a Didática pode propor formas de condução do ensino face às tecnologias de comunicações inseridas no cotidiano escolares, sendo uma preocupação permanente as demandas pela capacitação docente e discente para utilização didático-pedagógica dessas tecnologias.
A inexistência (ou fragilidade) desta
formação, aliada à resistência dos professores às novas tecnologias, são
responsáveis pela utilização dos equipamentos tecnológicos e informacionais
introduzidos nas escolas apenas como recurso “audiovisuais e
ilustrativos”.Trata-se de uma compreensão da tecnologia que se restringe ao
aparato tecnológico, mas que não leva em conta sua dimensão cultural, ética e
estética, enquanto uma criação humana. E ainda desconsidera que, no caso das
tecnologias de ponta, a elas está agregada a dimensão cultural do conhecimento,
não só porque são criações humanas, mas também porque são veiculadoras de
informação, conhecidas como tecnologias da informação e da comunicação (TIC).
E como nos alerta Libâneo (1998), os educadores, dificilmente conseguem propiciar que os alunos aprendam “no ou por meio do” computador, quando muito levam-nos a aprenderem “sobre” o computador (p.71), o que não difere dos demais recursos tecnológicos quando são utilizados na escola.
Em função das demandas didático-pedagógicas das tecnologias de
comunicação e informação do trabalho docente, ultrapassarem apenas a capacidade
de manuseio e domínio dos equipamentos tecnológicos – demandando a apropriação
de mecanismos comunicativos e cognitivos para lidar com elas enquanto mediações
culturais da comunicação que se realiza no ensino – e da compreensão da prática pedagógica como propulsora da transformação do
cotidiano do saber fazer didático atribuiu-se um grande valor a esta pesquisa
como possibilidade de articulação entre teoria e prática.
Sendo o ensino um processo que ocorre em
ambientes comunicacionais intencionalmente organizados, com vistas à formação
dos alunos, a integração das novas tecnologias nesse processo tende a alterar
significativa e qualitativamente a relação dos educandos com o objeto de
conhecimento, haja vista que traz a possibilidade de, numa perspectiva
tridimensional, com som e movimento veicular saberes culturais, informações,
idéias e valores, que, se bem mediados pelo professor poderão propiciar um
salto qualitativo e quantitativo nas aprendizagens. Essa possibilidade, no
entanto, está associada à capacidade docente de prover condições e meios para
que os educandos possam significar, selecionar, construir e reconstruir os
saberes e informações veiculados pelas novas tecnologias.
Por tomar como desafio criar mecanismos para intervir nos processo de ensino articulados às novas tecnologias três professoras da equipe de Didática e Prática de Ensino da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Federal de Goiás (UFG), juntamente com a coordenadora do Projeto Infovias e demais alunos participantes na pesquisa, constituíram espaços para estudos e práticas sobre as tecnologias da comunicação e informação nos cursos de formação de professores.
A metodologia de trabalho proposta inicialmente previa o intercâmbio e produção coletiva envolvendo professores de diferentes instituições de ensino superior, ou seja, dos pólos definidos pelo projeto Infovias e Educação, quais sejam: Goiânia, Anápolis, Jataí, Catalão e Rio Verde[2]. Entretanto, vários fatores impossibilitaram a realização plena desta proposta, dentre as quais destaca-se a falta de participação dos pólos. Inicialmente, os pólos de Anápolis e Catalão responderam ao convite para participação, sendo que o pólo de Anápolis alegou ausência de disponibilidade de tempo para participação. O pólo de Catalão, por sua vez, enviou um texto produzido pelo grupo de professores de didática apresentando reflexões sobre a proposta desenvolvida nesta disciplina no curso de Pedagogia. Infelizmente, este grupo não enviou outras produções pertinentes a esta reflexão.
Castells (2003) nos alerta que nesta grande rede (a Internet) são os usuários que definem o tipo de aplicação e de desenvolvimento da tecnologia. Os que chegarem depois, diz Castells, “terão menos a dizer sobre o conteúdo, a estrutura e a dinâmica da Internet” (idem, p.263). Mas, quando a tecnologia é nova demais e não é bem compreendida é normal a resistência e a criação de diferentes mitos sobre ela.
Diante do impasse e por compreenderem a importância deste tipo de pesquisa, o pólo de Goiânia conseguiu reunir três professoras de Didática que definiram como temática de estudo e objeto de pesquisa para elaboração de material didático a proposta da disciplina de Didática e Prática de Ensino do Ensino Fundamental ministrada no curso de Pedagogia da FE/UFG adequando-os a linguagem web, pois a linguagem e metodologia utilizada em EAD são específicas.
A definição deste tema ocorreu depois de várias reuniões onde foram levantados as temáticas estudadas na disciplina, seus desafios e seus avanços. A partir desta definição iniciou-se o processo de levantamento dos materiais didáticos produzidos por este grupo em consonância com a dinâmica da disciplina.
Após este levantamento desenvolveu-se a seleção e organização destes materiais. Todo o processo de construção deste material, em um cd-rom, propiciou ao grupo proponente o exercício de reflexão sobre a própria prática e a função da disciplina de Didática e Prática de Ensino na formação inicial e continuada de professores.
Este cd-rom constitui-se de reflexões e descrição da proposta pedagógica desenvolvida na disciplina de Didática e Prática de Ensino no Ensino Fundamental, estruturando-se da seguinte maneira: apresentação, breve contexto e dinâmica da disciplina, e os links educação especial; educação para infância e adolescência, formação inicial e continuada, educação de jovens e adultos envolvendo em cada um deles os projetos de extensão e de pesquisa, grupo de estudo, bibliografias/sinopses, sites e e-mail, palestras e textos vinculados as subtemáticas enfocadas. É mencionado ainda o corpo docente que desenvolve a proposta da área de Didática e Prática de Ensino na Educação Fundamental e os nomes das organizadoras do cd-rom.
Apesar das dificuldades vivenciadas
na elaboração deste cd-rom, desde aquelas vinculadas a problemas técnicos na
elaboração do mesmo até a diminuição da equipe no decorrer do processo da
pesquisa e montagem, consideramos que o resultado deste trabalho demonstra o
desafio que é produzir material para a educação à
distância. Um dos aspectos desafiadores refere-se à linguagem e metodologia
específica, outro se refere à construção de um trabalho coletivo em que são
agregados diferentes áreas do conhecimento,
tais como a da informática e a da comunicação. Vale ressaltar que enquanto
estes profissionais muitas vezes não dominam as concepções pedagógicas e
apresentam dificuldade de articular seus conhecimentos técnicos com o
acadêmico, os professores não dominam o conhecimento técnico. Neste sentido, a sintonia entre os
diferentes saberes exige paciência, respeito e muita determinação.
Entendemos que criar um campo de investigação pedagógica integrado com
outras áreas do conhecimento propicia uma produção de múltiplos olhares, mas
temos que reconhecer que é também um grande exercício de redimensionamento do
próprio saber, contribuindo para a educação da prática e da forma de registro
desta, aspecto tão importante e muitas vezes relegado por nós educadores. Concluindo, entendemos que vencemos obstáculos, produzimos
saberes, e estamos construindo as trilhas nas quais os jovens continuarão a
caminhar nos processos de
ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
CASTELLS,
Manuel. Fluxos, redes e identidades: uma teoria crítica da sociedade
informacional. In: _________. Novas
perspectivas críticas em educação. Tradução: Juan Acuña. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1996.
LIBÂNEO,
J.C. Adeus professor, adeus professora?
Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998.
[1] Esta equipe contou com professores da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Goiás(FE/UFG), da Universidade Estadual de Goiás
(UEG) e do Campus Avançado de Jataí da Universidade Federal de Goiás(CAJ/UFG),
e também alunos dos cursos de Pedagogia, Comunicação, Engenharia e Artes
Visuais da UFG. Além da autora deste texto, são eles: as professoras Mirza
Seabra Toschi (coordenadora geral do Projeto Infovias e Educação), Cleide
Aparecida Carvalho Rodrigues(coordenadora do sub-projeto Novas Tecnologias e
Núcleo Didático de Formação de Professores), Verbena Lisita, Eva Aparecida de
Oliveira, Regina Maria de Araújo Tomaz Netto, Wolney Honório Filho, Maria
Aparecida Almeida e Juçara Gomes de Moura; as alunas de Pedagogia, bolsistas de
Iniciação Científica, Silvia de Fátima Azevedo Coelho, Crystiane Ribeiro Mendes,
Juliana Guimarães Faria, de Artes Visuais, Eva Cordeiro e de Comunicação,
Emmerson Kran.
[2] Devido a problemas de ordem administrativa, esta última cidade ficou pouco tempo com a equipe e os laços de comunicação foram interrompidos.