SABERES DO BOM PROFESSOR: Estudo sobre características profissionais de professores formadores em cursos de licenciatura.

 

Libna Lemos Ignácio Pereira*

 

 

 A formação e o desenvolvimento profissional de professores tem sido um dos temas mais presentes na investigação educacional, nos últimos anos. A multiplicação desses estudos se deve, em boa parte, à implementação, em vários países do mundo, das reformas educativas realizadas para fazer frente a exigências postas pelas transformações econômicas, sociais e políticas no mundo globalizado. A docência universitária, área até há algum tempo pouco investigada no campo da Didática, passou a merecer mais atenção de pesquisadores, dado que as mudanças no sistema de formação e qualificação profissional para o mercado de trabalho estariam exigindo melhorias no ensino superior e no desempenho acadêmico das instituições e, em decorrência, no desempenho dos docentes universitários.

            Este estudo remeteu-se, especificamente, às questões da formação e do desenvolvimento profissional de formadores de professores. A equação do problema é bastante clara: se são necessárias mudanças na preparação profissional dos professores para o ensino fundamental e médio, também os formadores desses professores precisam mudar. Na verdade, as demandas educacionais da sociedade contemporânea estão exigindo compreensão muito mais clara do fato de que para a formação de alunos - cidadãos para a vida social, econômica, política, cultural, nas condições de um mundo sujeito a aceleradas transformações, requer professores também bem formados e, por sua vez, professores bem formados de licenciandos.A primeira pergunta, portanto, que conduziu o interesse deste trabalho é: quem é o professor universitário que está formando futuros professores para o ensino fundamental e médio?

            A resposta a esta pergunta tem sido objeto de várias pesquisas, abordada sob vários ângulos. Neste trabalho, propusemo-nos a buscar maior compreensão acerca dos saberes profissionais do "bom professor" em cursos de licenciatura, tomando depoimentos de professores e alunos, verificando o desempenho de professores na sala de aula e, por fim, cotejando esses dados com os resultados de investigações sobre o tema "saberes profissionais de professores".

É importante conhecer como pensam os docentes, que idéias sobre o ensino orientam sua prática, como eles trabalham junto aos seus alunos, pois "é o reconhecimento do seu papel e o conhecimento de sua realidade que poderão favorecer a intervenção no seu desempenho" (CUNHA,1989). Portanto, os resultados esperados foram identificar os traços comuns aos bons professores e a utilização deles para a análise sobre a educação de professores e seu desempenho visando representar uma real e direta contribuição ao ensino e formação de professores.

A necessidade de enfrentar mudanças significativas que vêm ocorrendo na organização político-administrativa, social, educacional e cultural dos países, decorrentes dos avanços científicos e tecnológicos e do processo de mundialização leva-nos a ponderar sobre uma educação ao mesmo tempo planetária, globalizante e garantidora dos espaços locais. "O campo da educação está muito pressionado por mudanças, assim como acontece com as demais organizações. Percebe-se que a educação tem sido colocada como um dos caminhos viáveis para transformar a sociedade" (MORAN, 2000:11). Impõe-se, assim, às escolas e aos professores a articulação de uma educação que atenda às demandas e necessidades sociais, mas também aos processos de desenvolvimento em sentido transformador, de modo que o conhecimento adquirido, geral e específico, associe-se ao desenvolvimento de aptidões e habilidades que tornem os alunos competentes para enfrentar diferentes situações e que possam desenvolver-se como pessoas, como cidadãos críticos e participativos cuja atuação se traduza em competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem.

A importância que a qualificação profissional dos professores adquiriu nos últimos anos, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, tem levado a discussões, debates e pesquisas sobre uma nova educação escolar e a construção de um novo perfil profissional do professor. Desde a década de 70, amplos questionamentos têm sido feitos sobre os cursos de licenciatura. Nas décadas de 80 e 90, acentuaram-se os encontros e publicações com discussões sobre formação profissional, destacando-se o tema dos saberes e competências ou saberes dos professores.

            Em 1982, Libâneo apresentava sua dissertação de mestrado A prática pedagógica de professores da escola pública sobre as características do bom professor, em que estudou a história de vida e a prática docente cotidiana de 30 professores tidos como "bem sucedidos" na sala de aula.  Estudos como os de Cunha (1989) e Pimentel (1996) procuraram desvelar e compreender quem é e o que determina o desempenho do professor "bem sucedido" na prática da sala de aula e o significado que atribuem ao seu trabalho. Candau (1997:83) considera de fundamental importância o reconhecimento e a valorização do saber docente no âmbito da reflexão sobre a Didática e da formação continuada, de modo especial dos saberes da experiência, núcleo vital do saber docente. Esses estudos apontam para a emersão de um perfil do docente altamente qualificado e necessário para o contexto da educação brasileira.

            Mais recentemente, outros enfoques para compreender os saberes pedagógicos e a prática docente estão sendo valorizados pelas investigações e pelos programas de formação de professores. É o que se verifica em Pimenta (1999), quando aponta caminhos para ressignificação dos cursos de formação a partir da consideração dos saberes necessários à docência - a experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos e Azzi (1999), em que o saber pedagógico é construído pelo professor no cotidiano de seu trabalho. Vasconcelos (1996) e Masetto(1998) enfatizam que o exercício docente no ensino superior exige competências específicas como: competência em uma área de conhecimento, conhecimento da prática profissional dos alunos, domínio na área pedagógica e exercício da dimensão política.

            Laranjeira et al. (1999) relaciona as funções do professor em consonância com os artigos 1o , 2o  e 13 da LDB, que delineiam as competências essenciais à atuação profissional do professor, e considera o conhecimento profissional dos professores organizado em cinco âmbitos de igual importância: conhecimentos sobre criança, jovens e adultos; conhecimentos sobre as dimensões culturais sociais e políticas da educação: cultura geral e profissional; conhecimento para a atuação pedagógica e conhecimento experiencial contextualizado na ação pedagógica.

Nóvoa (1992) discute a nova configuração da profissionalização docente, escrevendo que o desenvolvimento profissional dos professores precisa ser considerado em duas dimensões, atualmente pouco consideradas, a saber: o desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento organizacional, compreendendo a perspectiva do professor individual e do coletivo docente.

            Gauthier et al. (1998) apresenta uma visão do ensino numa concepção onde vários saberes necessários ao ensino são mobilizados pelo professor: o saber disciplinar, o saber curricular, o saber das ciências da educação, o saber da tradição pedagógica, o saber experiência e o saber da ação pedagógica. Tardif (1999) define a epistemologia da prática profissional como o estudo do conjunto de saberes realmente utilizados pelos profissionais em seu espaço de trabalho e caracteriza os saberes profissionais dos professores em: temporais; plurais e heterogêneos; personalizados e situados ; carregam as marcas do ser humano. Canário (1999) também apresenta uma nova configuração profissional do professor em quatro dimensões essenciais: o professor é um analista simbólico (significa encará-lo como um "solucionador de problemas", em contextos marcados pela complexidade e pela incerteza, e não como alguém capaz de dar as "respostas certas" a situações previsíveis); o professor é um artesão (mais do que um reprodutor de práticas o professor é um reinventor de práticas, reconfigurando-as de acordo com as especificidades dos contextos); o professor é um profissional da relação (a relação com os alunos impregna a totalidade do ato educativo, não pode ser ensinada, apenas aprendida, e engloba de modo inextricável as dimensões intelectual e afetiva); o professor é um construtor de sentido (mais do que transmissor de conhecimentos, o professor precisa ser um "construtor de sentido" ou criar recursos que tornem possível aprender e que ao sujeito central no processo de aprendizagem seja proporcionada a construção de si próprio, da relação com os outros e da relação com a realidade social).

            Delors (1999), em seu conhecido Relatório para a Unesco, aponta que para enfrentar os desafios do próximo século e para dar resposta ao conjuntos das suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. A contribuição dos professores é fundamental e decisiva , cabendo-lhes a responsabilidade de formar o caráter e o espírito das novas gerações. Para isso, deverão desenvolver qualidades de ordem ética, intelectual e afetiva para cultivar nos seus alunos essas qualidades. Nessa mesma linha, Morin (2000) faz uma reflexão sobre os sete saberes "fundamentais" que a educação do futuro deveria tratar em toda a sociedade. Em um desses saberes - a ética do gênero humano - A ética deve formar-se nas mentes com base na consciência de que o humano é , ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie e todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias  e da consciência de pertencer à espécie humana. Reflete sobre as dúvidas e interrogações do nosso tempo e a necessidade de que se eduque através de uma nova ética, que se ensine a ser, a viver, a dividir, a comunicar. Moran et al. (2000) aborda a necessidade de uma revisão ampla do papel do professor nos dias de hoje e os desafios de ensinar e educar com qualidade numa sociedade globalizada e com forte influência dos meios de comunicação e dos recursos da informática.

            Entretanto, cumpre destacar que, a despeito dos avanços teóricos na compreensão de uma nova educação escolar e de um novo perfil de professor, há, ainda, uma imensa distância entre o conhecimento produzido e a prática concreta da maioria dos professores, bem como é bastante precária a assimilação de novas concepções de saberes emergentes em face da nova realidade da sociedade em transformação. O mesmo se pode afirmar quanto à incorporação desses estudos e análises nos cursos de formação inicial de professores.

Esta pesquisa, incorporando os estudos existentes sobre características profissionais de professores, visou obter dados para compreender melhor a realidade da formação profissional e contribuir para a reflexão sobre os desafios atuais de se repensar o papel do professor frente às novas exigências postas para a educação escolar e, especialmente, a reestruturação didático-pedagógica dos cursos de licenciatura. No caso deste trabalho, essa questão foi pesquisada entre professores e alunos da Faculdade de Filosofia Bernardo Sayão, instituição integrante da Associação Educativa Evangélica, localizada na cidade de Anápolis, Estado de Goiás.

 

O tema dos saberes profissionais dos professores na pesquisa educacional

 

Tardif (1999:15) chama de epistemologia da prática profissional o estudo do conjunto dos saberes utilizados realmente pelos profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar todas as suas tarefas. Dá ao termo saber um sentido que engloba os conhecimentos, as competências, as habilidades e as atitudes, isto é, aquilo que muitas vezes foi chamado de saber, saber-fazer e saber-ser. Para esse autor, a epistemologia da prática profissional visa compreender a natureza desses saberes, assim como o papel que desempenham tanto no processo de trabalho docente quanto em relação à identidade profissional dos professores

             Em relação aos saberes/conhecimentos docentes, Carr e Kemmis in Fiorentini,1998:326),  os consideram essenciais e complexos principalmente quando se pensa a educação como práxis. Neste contexto, valorizam tanto os conhecimentos teóricos produzidos por teorias que recortam a realidade como aqueles saberes complexos produzidos reflexivamente pelo professor ao produzir o trabalho docente. Mas o professor crítico, ao privilegiar a dimensão da práxis, reelabora ou modifica os conhecimentos teóricos de que se apropria, bem como também não considera definitivos aqueles que produz na prática.

Como em qualquer campo de atuação, o conhecimento profissional do professor representa o conjunto de saberes que o habilita para exercício de suas funções profissionais. O conhecimento profissional do professor deve se construir na formação inicial e se estender na formação continuada, possibilitando-lhe capacidade de criar soluções adequadas às diferentes situações que enfrenta no cotidiano educativo.

Gauthier et al. (1998:29) definem 6 tipos de saberes da ação pedagógica:  saber disciplinar, saber curricular, saber das ciências da educação, saber da tradição pedagógica , saber experiência e saber da ação pedagógica.

            O saber disciplinar refere-se aos saberes produzidos pelos pesquisadores e cientistas nas  diversas disciplinas científicas.

           O saber curricular são os saberes que a  escola, enquanto instituição, seleciona e organiza as partes dos saberes produzidos pelas ciências e os transforma em programas escolares.

           O saber das ciências da educação são os conhecimentos profissionais que o informam a respeito de várias facetas de seu ofício ou da educação de um modo geral.

           O saber da tradição pedagógica refere-se às representações e concepções prévias do magistério existentes, entre os alunos no início da formação docente. Muito mais forte do que se poderia imaginar à primeira vista, essa representação da profissão, ao invés de ser desmascarada e criticada, serve de molde para guiar os comportamentos dos professores.

           O saber experiência é o aprender do professor através de suas próprias experiências. Está conectado com o saber da ação pedagógica. É o saber experiência dos professores a partir do momento em que se torna público e que é testado através das pesquisas realizadas em sala de aula. Os julgamentos dos professores e os motivos que lhes servem de apoio podem ser comparados, avaliados, pesados a fim de estabelecer regras de ação que serão conhecidas e aprendidas por outros professores.

 

            Tardif (1999:9,27) Caracteriza os saberes profissionais dos professores como: temporais, porque se desenvolvem durante a vida profissional num processo de longa duração do qual fazem parte dimensões identitárias e dimensões de socialização profissional, bem como fases e mudanças;  são plurais e heterogêneos porque provêm de diversas fontes: cultura pessoal (história de vida e de sua cultura escolar anterior); conhecimentos disciplinares adquiridos na Universidade (conhecimentos didáticos e pedagógicos); conhecimentos curriculares veiculados pelos programas escolares e o próprio saber ligado à experiência de trabalho, na experiência de certos professores e em traduções peculiares ao ofício de professor; são ecléticos e sincréticos porque os professores utilizam muitas teorias, concepções e técnicas, conforme a necessidade e em função de objetivos; os saberes profissionais dos professores estão a serviço da ação e é na ação que assumem seu significado e sua utilidade; Os saberes dos professores carregam as marcas do ser humano e o objeto do trabalho docente são seres humanos e os saberes dos professores trazem consigo as marcas de seu objeto de trabalho; o saber profissional comporta sempre um componente ético e emocional. As práticas profissionais exigem do professor uma grande disponibilidade afetiva e uma capacidade de discernir suas reações interiores.

 

            Pimenta (1999:20), sintetizando outros estudos, agrupa os saberes que configuram a docência em saberes de experiência, o conhecimento e saberes pedagógicos.

            Saberes da experiência - Os alunos dos cursos de licenciatura possuem saberes de sua experiência de alunos de diferentes professores em toda a sua vida escolar. Isso lhes possibilita dizer quais professores foram significativos em suas vidas. Também sabem sobre o ser professor através da experiência socialmente acumulada e das representações e estereótipos que a sociedade tem dos professores. Os saberes da experiência são também aqueles que os professores produzem no seu cotidiano docente, num processo permanente de reflexão sobre sua prática, mediatizada por seus colegas de trabalho, e textos produzidos por outros educadores.

            Saberes dos conhecimentos específicos- Para atuação numa sociedade tecnológica, multimídia e globalizada, é preciso possibilitar que os alunos trabalhem os conhecimentos científicos e tecnológicos, desenvolvendo habilidades para operá-los , revê-los e reconstruí-los com sabedoria, o que implica analisá-los, confrontá-los, contextualizá-los.  Discutir a questão dos conhecimentos nos quais são especialistas no contexto da contemporaneidade constitui um segundo passo no processo de construção da identidade dos professores nos cursos de licenciatura.

            Saberes pedagógicos. O futuro profissional não pode constituir seu saber - fazer senão a partir de seu próprio fazer.

           O tema dos saberes de professores, abordados como "competências profissionais", aparece com destaque em alguns autores. Perrenoud (2000), especialmente, as define como uma  capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situações. Segundo esse autor, essa capacidade ou capacidades não se confundiriam com os objetivos comportamentais, condutas e práticas observáveis, tal como entendidos no tecnicismo educacional. Nem se confunde com o desempenho observado enquanto indicador mais ou menos confiável de uma competência, porque aí faltaria a atividade cognitiva, elemento necessário na definição de competência.

Laranjeira et al. (1999: 31-33) afirmam que as competências profissionais têm status de objetivos gerais da formação, mas isso não significa que se deva esperar que cada professor individualmente desenvolva todas elas igualmente e ao mesmo tempo. Isso seria pensar num perfil absoluto, rígido e inatingível. Na verdade, as competências são construções progressivas e, em grande medida, coletivas. As autoras formulam uma extensa lista de competências, dentre as quais destacam:

 - Eleger princípios éticos e epistemológicos para fazer escolhas e tomar decisões metodológicas e didáticas de modo consciente e consistente.

 - Gerir a classe e os instrumentos para a organização do trabalho, estabelecendo uma relação de autoridade e confiança com os alunos..

- Intervir nas situações educativas com sensibilidade, acolhimento e afirmação responsável de sua autoridade.

- Investigar o contexto educativo na sua complexidade e analisar a prática profissional, tomando-a continuamente como objeto de reflexão.

- Considerar as características dos alunos e da comunidade, os temas e necessidades do mundo social e os princípios, prioridades e objetivos do projetos educativo e curricular.

- Fazer escolhas didáticas e estabelecer metas que promovam a aprendizagem e potencializem o desenvolvimento de todos os alunos, considerando e respeitando suas características pessoais, bem como diferenças decorrentes de situação sócio-econômica, inserção cultural, origem étnica, gênero e religião, atuando contra qualquer tipo de discriminação e exclusão.

-Utilizar diferentes e flexíveis modos de organização do tempo, do espaço e de agrupamento dos alunos para favorecer e enriquecer seu processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.

- Manejar diferentes estratégias de comunicação dos conteúdos, sabendo eleger as mais adequadas considerando a diversidade dos alunos, os objetivos das atividades propostas e as características dos próprios conteúdos..

- Utilizar estratégias diversificadas de avaliação da aprendizagem e, a partir de seus resultados, formular propostas de intervenção pedagógica, considerando o desenvolvimento de diferentes capacidades dos alunos.

             Porlán & Toscano (2000:37) apresentam as fontes de conhecimento profissional. Para eles, o saber dos professores especialistas não pode reduzir-se ao conhecimento acadêmico e formal de uma disciplina concreta. O novo saber profissional deve organizar-se em esquemas de conhecimento teórico-práticos de caráter integrador que devem alimentar-se ao menos destas quatro fontes de conteúdos profissionais:

- de diversas disciplinas científicas relacionadas, analisadas cada uma delas desde uma perspectiva lógica, histórica, sociológica e epistemológica, o que constituiria a dimensão científica do saber profissional;

- das diferentes disciplinas que estudam os problemas do ensino e da aprendizagem de uma forma geral, o que constituiria a dimensão psico-pedagógica de tal saber;

-da própria experiência, bem como professores e alunos (no caso da formação inicial), e da experiência acumulada historicamente pelos grupos de professores inovadores, o que constituiria a dimensão empírica do mesmo;

- das didáticas específicas, que atuariam como disciplinas de sínteses que integrariam as três dimensões anteriores.

GIMENO (1995:74) afirma que a essência da profissionalidade do docente reside na relação dialética entre tudo o que através dele se pode difundir - conhecimentos, destrezas profissionais, etc. - e os diferentes contextos práticos.

           

Os "bons professores" apresentaram as seguintes habilidades dentro dos itens norteadores estabelecidos e organizados a partir das informações coletadas na investigação:

a)Atitudes do comportamento afetivo e tipo de relacionamento que estabelece:

-         Valorizam o diálogo e incentivam os alunos à participação.

-         Levam em conta os contextos sociais, culturais e psicológicos dos alunos.

-         Incentivam os alunos para a busca pelo conhecimento fortalecendo a sua auto-estima e despertando-lhes o gosto pela aprendizagem.

-         Criam, na sala de aula, um clima de descontração, bem estar e de muito respeito e consideração pelo aluno.

b) Organização e gestão da aula:

-         Apresentam aos alunos o plano de ensino e explicitando os objetivos da matéria.

-         Variam os procedimentos de ensino.

-         Utilizam adequadamente o tempo.

-         Estruturam a aula de forma que haja, na introdução, uma ligação da aula com conteúdos vistos anteriormente e ao final, aplicam atividades para consolidação do conteúdo.

c) Competências metodológicas:

-         Dão seqüência lógica e coerente às aulas.

-         Variam os estímulos.

-         Utilizam linguagem acessível.

-         Elegem atividades e recursos apropriados para tornar a matéria compreensível.

-         Preocupam-se com o desenvolvimento do raciocínio, da argumentação e do pensamento dos alunos.

d) Domínio da matéria e de sua comunicação didática:

-         Dominam os saberes de conhecimento específico.

-         Atualizam-se em relação aos conteúdos.

-         Procedem a mediação entre a sociedade da informação e os alunos utilizando conhecimentos sobre a realidade econômica, cultural, política e social para contextualizar os conhecimentos.

-         Relacionam a matéria com a vivência prática dos alunos.

-         Fazem a mediação da transposição didática

e) Desenvolvimento Profissional:

-         Investem, pessoalmente, na própria formação através de leituras, cursos e congressos.

-         Empenham-se em preparar os alunos para encarar o futuro com confiança, determinação e otimismo.

 

Reportando-me aos objetivos levantados, inicialmente, nesse trabalho, concluímos:

-         Foi possível identificar as características e comportamentos pessoais dos "bons" professores através das representações dos alunos e dos professores e estão explicitadas nesta conclusão.

-         A prática de sala de aula retratou as percepções apresentadas pelos alunos sobre "bom professor".

-         As relações profissionais entre os professores pesquisados e os alunos comportam um componente ético e emocional e incentivam e favorecem o processo de construção do conhecimento.

-         A prática pedagógica dos professores, em sua maioria, tem favorecido o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos em direção ao domínio de conhecimentos, habilidades e atitudes de reflexão crítica, responsabilidade e interesse pelo estudo.

-         Para que haja correspondência entre as competências profissionais do professor e as necessidades e exigências do mundo contemporâneo, os professores devem estar alerta para as constantes e profundas mudanças desencadeadas pela sociedade do conhecimento. Trata-se de um desafio para que busquem nova metodologia que atenda às exigências da sociedade. Os docentes universitários precisam formar para a cidadania e contribuir para a produção do conhecimento compatível com o desenvolvimento tecnológico.

 

 

 

 

 

 

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* Mestre em Educação, Sub-coordenadora e professora do Curso de Pedagogia da Faculdade Filosofia Bernardo Sayão, AEE.