Estudos realizados sobre a Prática de Ensino e Estágio Curricular Supervisionado

 

 

Lúcia Maria de Assis Vieira*

Maria das Graças Dias Ferreira Stein**

 

 

Resumo

            Este trabalho apresenta o resultado da discussão realizada em um grupo de estudo do Curso de Pedagogia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG) com relação às atividades de prática de ensino e estágio curricular supervisionado e sua conformação às exigências especificadas em legislações decorrentes da LDB – Lei Nº 9394/96. Apresentam-se as concepções e fundamentos que deveriam nortear as disciplinas Prática de Ensino e Estágio Curricular Supervisionado para, em seguida apresentar uma proposta de como operacionalizar essas atividades, discutindo a estruturação da formação acadêmico-profissional, a organização do estágio articulado à prática de ensino e a avaliação do estágio.

 

1. Introdução

            Tendo em vista as novas diretrizes legais decorrentes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, No. 9394/96, os professores orientadores de estágios supervisionados do Curso de Pedagogia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG) reuniram-se, em um grupo de estudo, para repensar as práticas vivenciadas nessa disciplina. As novas exigências chegaram quando o próprio Curso passava por uma discussão curricular que deveria efetivar alterações por recomendações da comissão de especialistas do MEC por ocasião da avaliação externa para a renovação de reconhecimento do curso. Esta confluência de interesses enriqueceu enormemente o trabalho do grupo de estudo. Concluiu-se que um currículo do Curso de Pedagogia deveria prever a disciplina Prática de Ensino a partir do primeiro período, as 800 horas de Estágio Curricular Supervisionado e os Estudos Independentes e de Aprofundamento, atividades exigidas pela nova legislação decorrente da LDB.

            O aprofundamento dos estudos realizados pelo grupo de professores culminou com o estabelecimento de fundamentos norteadores das Práticas de Ensino e Estágios Curriculares Supervisionados num Curso de Pedagogia, além de discutir como operacionalizar essas atividades no âmbito institucional.

            Apresentamos neste trabalho o resultado desse estudo de grupo, iniciando pela apresentação das concepções e fundamentos que deveriam nortear as disciplinas Prática de Ensino e Estágio Curricular Supervisionado para, em seguida apresentar uma proposta para operacionalizar essas atividades, discutindo a estruturação da formação acadêmico-profissional, a organização do estágio articulado à prática de ensino e avaliação do estágio e, finalmente, apresentamos as conclusões. 

 

2. Concepções e fundamentos norteadores da prática de ensino e estágio  curricular supervisionado do Curso de Pedagogia

           

            A prática de ensino e o estágio curricular supervisionado fazem parte do processo de formação profissional do aluno, permitindo-lhe o exercício direto “in loco” e a presença participativa em ambientes afins à habilitação pleiteada, o que deve ocorrer nas atividades da respectiva área de atuação profissional, sob a responsabilidade de um profissional da área, devidamente habilitado.

            Isso significa que a vivência de tais atividades deve efetivar-se sob a supervisão de um profissional experiente, visando oferecer ao(a) estagiário(a) um conhecimento do real em situação de trabalho, diretamente em instituições ofertantes de estágio que, no caso do Curso de Pedagogia, trata-se de creches, instituições regulares diversas (escolas), bem como outras instituições de programas educativos em geral. Além disso, esse é um momento rico de avaliação e de auto-avaliação, pois possibilita verificar e provar (em si e no outro) a realização das competências exigidas na prática educativa, especialmente através da docência.

            Em função desse caráter formador, que favorece a relação entre teoria e prática social, o Estágio Supervisionado e a Prática de Ensino são disciplinas obrigatórias  para a habilitação profissional do pedagogo. Quanto à Prática de Ensino, com carga horária de 400 horas (Resolução CNE/CP O2, de 19/02/2002), trata-se de uma disciplina que permeia todo o curso, de modo a favorecer ao (à) estagiário(a) o exercício da ação/reflexão/ação, a partir da fundamentação teórica construída no decorrer do curso. Essa disciplina consiste em um momento em que se busca produzir intervenções no âmbito do ensino e, com isso, administrar o sentido dessa atuação. Assim, ela deve ser planejada durante a elaboração do projeto pedagógico e seu acontecer deve se dar desde o início do processo formativo e se estender ao longo de todo o curso.

            O Estágio Curricular Supervisionado com duração de 400 horas, deveria ser desenvolvido a partir do início da segunda metade do curso (Resolução CNE/CP O2, de 19/02/2002), propiciando ao aluno a oportunidade de participação em situações reais de vida e de trabalho. Isso se daria, obrigatoriamente, sob a responsabilidade e a coordenação da instituição de ensino em que o aluno se encontra regularmente matriculado. O estágio curricular supervisionado imbricar-se-ia com a prática de ensino e seria realizado através de estratégias coordenadas pelo professor orientador da área específica de cada habilitação.

            Considerando-se a exigência da integração teoria e prática na formação/trabalho do educador concebe-se a Prática de Ensino como mediação do processo ensino-aprendizagem em que o fazer concreto, fundamentado pelo saber científico, possa consolidar e intervir na graduação acadêmica, constituindo-se de atividades pedagógico-didáticas que compõem o Estágio Curricular Supervisionado. Nessa perspectiva, a prática, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, constitui-se como o eixo formador do educador através do conhecimento e da interpretação do real, mediatizados pelos referenciais teóricos oferecidos pelas demais disciplinas do currículo.

            Entendendo-se que a Prática de Ensino não é apenas “locus” de aplicação de um conhecimento científico e pedagógico, mas espaço de criação e reflexão, em que novos conhecimentos são gerados e modificados constantemente, os conteúdos a serem estudados bem como os procedimentos metodológicos da disciplina Prática de Ensino foram definidos levando-se em conta um diagnóstico progressivo, análise institucional e intervenção pedagógica, através de projetos de trabalhos coerentes com as demandas e desenvolvimento de propostas sócio-interacionistas inovadoras.

            Essas atividades práticas seriam compatíveis com as disciplinas oferecidas e teriam caráter de pesquisa educacional.

            Ao longo da graduação o aluno pesquisador organizaria o portfólio de aprendizagem, com vistas a elaboração de um dossiê, que contemplaria o registro das pesquisas realizadas bem como as produções de sua autoria, pareceres e conclusões. A construção de registros deveria acontecer desde o início aos primeiros períodos do curso, vinculando competências teórico-práticas, formulando hipóteses, elaborando princípios, propondo soluções criativas para as necessidades diagnosticadas nas realidades analisadas.

            Este trabalho teria sentido se o aluno e seu orientador consolidassem uma práxis[1], demonstrando visão crítica mediante relações sociais enquanto determinadoras das dinâmicas escolares cotidianas, ao mesmo tempo que são por estas, determinadas. Todo este processo representa pré-requisito para a certificação do graduando, pois

      

Pensar o estágio nos cursos de graduação é também pensar teoria/pesquisa/formação. Para a construção de uma teorização adequada em educação, faz-se necessária a prática, pois não é possível pensar sem praticar. A prática, nascida dos estágios, enriquece a pesquisa, a formação e a teorização. Somente a prática bem conduzida, refletida, conduz à pesquisa de soluções eventualmente originais aos problemas da realidade cotidiana. As situações apresentam-se ao estudante de graduação em sua formatação original. Os estágios ensinam o aluno a aprender a olhá-los e nesse olhar determinar e definir respostas aos impasses percebidos (FAZENDA, 1993).

           

            Integrar teoria e prática tem se constituído em um constante desafio para os educadores, professores e alunos dos cursos de pedagogia. Nesse sentido, o Estágio consistiria em um momento de imersão dos alunos na realidade educacional, seja na sala de aula, seja em espaços escolares mais amplos, como, por exemplo, na família, nas relações de trabalho, inserção do educando na sociedade ou nos movimentos comunitários e sociais bem como em espaços extra-escolares.

            O artigo 2º do decreto 87497/82 considera o estágio curricular como:

as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante  pela participação em situações reais da vida e de trabalho realizadas na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público ou privado, sob responsabilidade e coordenação da Instituição de Ensino a que o aluno se encontra legalmente vinculado.

            Assim, o estágio supervisionado, conforme já citado anteriormente, superaria a idéia de simples aplicação de conhecimentos para ser um instrumento de inserção do aluno na realidade, condição para compreender as relações sociais na escola e fora dela. Nessa perspectiva, o Estágio não pode ficar sob a responsabilidade de um único professor da escola de formação, mas envolve, necessariamente, uma atuação coletiva dos formadores, uma vez que se considera o pedagógico como sendo uma prática social a que estão vinculados conhecimentos, sentimentos, necessidades dos educandos e dos professores, num processo de desafio constante. Esse desafio nos possibilita um entendimento da prática que seja interdisciplinar:

uma  atitude coerente, que supõe uma postura única frente aos fatos, é na opinião crítica do outro que fundamenta-se a opinião particular. Somente na intersubjetividade, num  regime de co-propriedade, de interação, é possível o diálogo, única condição de possibilidade de interdisciplinaridade. Assim sendo, pressupõe uma atitude engajada, um comprometimento pessoal (FAZENDA, 1993).

            Outra característica fundamental do estágio curricular supervisionado seria o de desenvolver no(a) estagiário(a) uma atitude de pesquisador da própria prática, em que professores e alunos discutiriam, problematizariam e reconstruiriam as suas ações a partir da  constituição de grupos de estudo e das reflexões das práticas pedagógicas vivenciadas  nas instituições ofertantes de estágio e em debates promovidos nas salas de aula do curso, dentro dos programas das disciplinas, sob a forma de projetos coletivos e interdisciplinares. Assim, os problemas discutidos e vivenciados na Prática de Ensino e/ou Estágio Curricular, ofereceriam subsídios aos alunos na elaboração de uma monografia como trabalho de final de curso, que teria o acompanhamento obrigatório de um professor orientador escolhido pelo graduando.

 

3. Uma proposta de estrutura da formação acadêmico-profissional

            As atividades das disciplinas Prática de Ensino e Estágio Curricular Supervisionado deveriam se compatibilizar com o horário das aulas de graduação, exigindo programação, desenvolvimento e acompanhamento avaliativo das atividades. A disciplina Estágio Curricular Supervisionado deveria se iniciar a partir da segunda metade do curso e o Quadro 01 mostra a estruturação dessas disciplinas nos diversos períodos do curso:

 

 

 

 

Quadro 01: Estrutura de Formação Acadêmico-Profissional do Curso de Pedagogia

 

Períodos do Curso de Pedagogia

 

 

Habilitações

 

 

Magistério

Supervisão e Orientação

 

Atividades

Total

Total

 

Atividades em sala de aula

36

36

36

36

18*

36

198

-

-

198

 

Caixa de texto: 378Caixa de texto: 180Prática de Ensino Atividades (extra-classe)

50

50

80

-

-

-

180

-

-

 

 

 

 

Caixa de texto: 400Caixa de texto: 400Caixa de texto: 300Caixa de texto: 200Caixa de texto: 100Caixa de texto: 200Estágio Curricular Supervisionado

 

 

 

I

200

II*

100

III

200

500

 

 

 

 

Total de Prática de Ensino (Teoria Prática)

86

86

116

236

118

236

878

 

 

 

 

*Estágio II estaria vinculado às teorias da Pedagogia como Ciência (Fundamentos da Ação do Pedagogo)

            Com essa estruturação, a disciplina Prática de Ensino teria, como já dissemos, o propósito de colocar os graduandos em contato com o futuro campo de atuação desde os anos iniciais da formação profissional,  e ainda, para aqueles que já exercem a profissão docente, possibilitaria atuações mais lúdicas, inovadoras e comprometidas com a aprendizagem dos alunos.

 

3.1 Prática de Ensino Fundamental (anos iniciais)

            A disciplina Prática de Ensino se desenvolveria em torno de quatro (4) eixos temáticos, sendo um eixo em cada período do curso, devendo estes promover a articulação dos conhecimentos e habilidades oferecidos pelo conjunto de disciplinas científicas, a um outro de disciplinas pedagógicas, que iriam fornecer as bases para ação docente.

            Por se tratar de uma disciplina teórico-prática, como já foi dito, é indispensável que o aluno esteja em permanente contato com as instituições educacionais (escolares ou não), observando, analisando e problematizando as questões educacionais gerais e sobretudo as práticas de ensino-aprendizagem que certamente contribuem para uma atuação competente, crítica e responsável.

            Nesse sentido, busca-se organizar uma proposta de estudo, trabalho e observação prática de maneira gradativa e consistente de forma a possibilitar uma melhor compreensão da organização do trabalho escolar.

            No primeiro período, o propósito seria compreender a estrutura da escola e o Sistema Educacional. Dentro desse tema busca-se analisar as condições materiais e físicas, os níveis e modalidade de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio),  as séries, ciclos e turmas, bem como as escolas técnicas. Especialmente no que se refere ao Sistema Educacional seriam analisadas a legislação escolar (leis e regimentos), as organizações intra-escolares (estudantis, APMs, Conselho de Escola etc) e extra-escolares (Conselho Municipal, Estadual e Federal de Educação). Visando ampliar o olhar sobre a organização escolar, que se constitui em objeto de estudos no 2º período do curso, eixo temático: quem faz parte da escola e as relações sociais na/da escola é o foco da Prática de Ensino.

            O segundo período realizaia  um exame das “relações inter-escolares” (a comunidade interna: professor-aluno, professor–professor, aluno–aluno). Podem surgir exames da questão do amor na escola, do companheirismo, da amizade e de seu papel educativo. Mas há, também, as relações extra–escolares (a comunidade externa: escola–pais; escola–comunidade; escola–meios de comunicação; escola–empresa, etc).

            Com o objetivo de ampliar os conhecimentos a respeito da organização escolar, propõe-se para o terceiro período do curso o seguinte eixo temático: os atos e os meios escolares. Trata-se de saber o que fazem os agentes da escola, examinando-se a dialética entre o ensinar, pesquisar e aprender (o que é aprender? Para que aprender?). Esses agentes também alimentam na escola (Merenda escolar)? Têm momentos de lazer, recreação e esporte? Deve-se analisar o papel do jogo e da brincadeira na educação, o papel do teatro, da dança, do canto, do cinema, da TV, etc. Existem os rituais escolares a serem examinados: o planejamento, currículos, programas, horários, aulas, provas, notas, exames, avaliações, férias, dias comemorativos, a volta às aulas, atividades extra-curriculares etc. Quanto aos meios escolares: qual é o papel do livro didático, do manual, das revistas, dos jornais, das técnicas pedagógicas, dos vídeos, da informática, do giz, da fala do professor, do aluno e das aulas expositivas.

            No quarto período, a Prática de Ensino deveria se destinar a assessorar e acompanhar as atividades de iniciação profissional através do Estágio Curricular Supervisionado, que trataria da execução de projetos de intervenção na forma de projetos de ensino aprendizagem num esforço de contínua articulação entre as dimensões teórica e prática do fazer pedagógico. O Quadro 02 mostra esquematicamente essa proposta de trabalho para esses quatro períodos.

 

 

 

 

Quadro 02 - A organização do trabalho na escola

1º PERÍODO

Atividades teórico-práticas (em classe) - 36h

Atividades práticas/Extra-Classe – 50h

Eixo temático: A estrutura da escola e o Sistema Educacional. Compreensão das concepções de Educação e Sociedade que influenciam os processos educativos escolares, identificação e análise desses processos a partir da realidade escolar mais próxima.

·         Atividades de Campo (observação, entrevista e análise documental)

·         Caracterização da escola

·         Rede física;

·         Níveis e modalidades de ensino;

·         Perfil sócio – econômico dos alunos.

·         Estruturação organizacional

Regimento, calendário, colegiado, projeto político – pedagógico, e avaliação institucional.

2º PERÍODO

Atividades teórico-práticas (em classe) – 36h

Atividades práticas/Extra-Classe – 50h

·         Eixo temático

·         Quem faz parte da escola e as relações sociais na/da escola. A organização escolar na visão de seus principais agentes ou atores.

·         Atividades de Campo

·         Entrevista

Análise das relações intra e extra escolares e aspectos a serem definidos como parâmetros para “olhar” a instituição escolar.

3º PERÍODO

Atividades teórico-práticas (em classe) – 36h

Atividades práticas/Extra-Classe – 80h

·         Eixo temático

·         Os atos e os meios escolares. O que fazem os agentes da escola: o que é ensinar, pesquisar e aprender? Para que?

·         Atividades de Campo

·         Observação, entrevistas, análise concretas em que se realiza o trabalho na escola; identificação de seus problemas e elaboração de proposta de intervenção – Projeto de Ensino aprendizagem.

4º PERÍODO

Atividades teórico-práticas (em classe) – 36h

Atividades práticas/Extra-Classe – 200h

·        

200 h

 
Eixo temático

·         A prática da prática. Possibilidade e limites na/da escola reflexão sobre sua ação.

·         Atividades de Campo

·         Execução do Projeto de

Ensino – aprendizagem

 

Estágio Curricular Supervisionado

 

 

 

 

3.2 Prática de Ensino (Magistério das Matérias Pedagógicas)

 

“A seriedade profissional do professor se manifesta quando compreende o seu papel de instrumentalizar os alunos para a conquista dos conhecimentos e sua aplicação na vida prática; incute-lhes a importância do conhecimento das lutas dos trabalhadores: orienta-os positivamente para as tarefas da vida adulta”  (LIBÂNEO, 1990).

 

            O Estágio de Prática de Ensino das Matérias Pedagógicas seria executado nas escolas de ensino médio, que formam professores para atuarem nos anos iniciais do ensino fundamental ou instituições diversas em que sejam caracterizados processo de ensino-aprendizagem, como Escola de Educação Ambiental, Ensino Médio que oferece as disciplinas Filosofia e Sociologia, Curso Normal Superior, Pós-Médio Magistério, Seminários Evangélicos, cursos livres de teologia,  dentre outros.

            Essa disciplina deveria ter os seguintes objetivos: (1) Conhecer as instituições ofertantes para oficialização do Estágio Supervisionado em Matérias Pedagógicas; (2) Caracterizar a realidade organizacional e educacional da Instituição; (3) Caracterizar os alunos e a comunidade escolar na qual aconteceria o Estágio Supervisionado; (4) Analisar a prática docente contextualizada; (5) Exercer a prática docente em três disciplinas, previstas em legislação, de forma consciente, ética e responsável; (6) Contribuir com a revitalização do Curso de Magistério, através de uma participação competente no processo educativo e (7) Concretizar o feed back para o professor orientador, através de relatório técnico, encontros individuais, coletivos e seminário.

 

4. Organização do Estágio Curricular Supervisionado articulado à Prática de ensino

           

            Como foi especificado nos fundamentos norteadores, estágio curricular supervisionado precisaria articular-se à prática de ensino para que os (as) estagiários(as) pudessem desenvolver o processo de construção do conhecimento, a atitude investigativa, a pesquisa de sua própria prática, a interdisciplinaridade, através da vivência profissional, além de mobilizar saberes e competências específicas, através de um espaço de comunicação e de transmissão/apreensão desses conhecimentos, em interação com as práticas educativas.

            Os seguintes objetivos específicos precisaria, portanto, ser alcançados no estágio curricular: (1) Conhecer a realidade de cada prática pedagógica, mediante a interação de educadores-professores e alunos envolvidos; (2) Registrar a realidade da instituição educativa (PPP, Regimento, Calendário, estatutos), utilizando-se de entrevista com a equipe pedagógica e/ou direção da escola/instituição; (3) Desenvolver     projetos    de     trabalho   que   contribuam    com    a resolução dos desafios educacionais contextuais; (4) Redigir relatório técnico que poderia fornecer subsídios para a elaboração da monografia do Curso.

            O estágio supervisionado de prática de ensino deveria se desenvolver, portanto, sob a forma de: pesquisa-ação; projetos diretamente ligados ao processo de ensino-aprendizagem; seminários, debates, reuniões de estudo, cursos de pequena duração; oficinas pedagógico-didáticas; ação docente (planejamento, regência).

 

 

 

4.1 Estágios de Supervisão Escolar e Orientação Educacional

“A prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo” (PAULO FREIRE).

“Discutir a formação do pedagogo implica extrapolar os aspectos meramente curriculares, rumo a questões amplas que possibilitem análises mais contextualizadas, capazes de perceber as relações sociais em sua totalidade e a vinculação com a organização do trabalho pedagógico” (VEIGA, 1997).

 

            O Curso de Pedagogia deveria organizar seu currículo visando tornar a formação do Pedagogo cada vez mais coerente às novas demandas sociais, desenvolvendo na comunidade acadêmica uma atitude progressista, crítica e interdisciplinar, possibilitando assim o maior envolvimento do curso com a sociedade em que está inserido.

            Esse envolvimento consistiria em pesquisar a própria prática, agir, intervir e transformar. A visão do trabalho pedagógico pretende-se ampla e global, possibilitando uma reflexão permanente acerca das expectativas, necessidades e problemas que envolvem o processo educativo. Fundamenta-se na construção do conhecimento e na pedagogia dialética.

            As duas habilitações, Supervisão Escolar e Orientação Educacional, embora distintas do ponto de vista da exigência legal, deveriam se constituir em uma unidade na qual se buscaria formar o pedagogo, educador não-docente, que atuaria nas instituições como mediador entre as práticas educativas existentes e o Projeto de Escola, voltado para um aluno(a) concreto(a), inserido num contexto sócio-histórico específico. Pretende-se colaborar para que, neste contexto, haja melhores condições de vida e de participação rumo à consolidação de políticas mais justas e conseqüentemente de uma sociedade mais fraterna (LIBÂNEO, 1986).

            Os objetivos a serem alcançados seriam, portanto, os seguintes: (1) Valorizar a ação do pedagogo nos diversos níveis de ensino; (2) Identificar e analisar os limites e conquistas das práticas pedagógicas nas instituições ofertantes de estágio supervisionado; (3) Reconstruir os conhecimentos elaborados no Curso de Pedagogia para o desenvolvimento de um plano de ação vinculado ao Projeto Político Pedagógico da Instituição; (4) Propiciar situações de aprendizagem para a prática do pedagogo em uma perspectiva progressista crítica.

4.1.1 Proposta para as etapas dos estágios de supervisão escolar e orientação educacional

            A primeira etapa deveria se destinar à caracterização da Instituição quanto à: Nível de ensino, cursos oferecidos e filosofia de trabalho; normas regimentais; projeto pedagógico e plano de desenvolvimento institucional - PDI; quadros docentes, técnicos e administrativos; perfil dos profissionais da área pedagógica; perfil dos alunos e da comunidade entorno.

            O estagiário observaria ainda: a forma de gestão; se há Colegiados, Conselhos, Associação de Pais, etc.; participação do pedagogo na definição e implementação dos projetos; organização pedagógico-didática da instituição; níveis de planejamento; participação dos professores e alunos nas decisões da escola; processos de avaliação, dentre outros.

            A etapa seguinte seria a de acompanhamento e avaliação, em que seriam desenvolvidas as atividades propostas. O Estagiário, atento aos objetivos do estágio, participaria de todas as atividades que julgasse pertinentes à sua área, tais como reuniões, encontros pedagógicos, conselhos de classe, colegiado, assembléias, visitas às classes, reuniões de pais, entre outras, sempre orientado e acompanhado pelos profissionais responsáveis pela sua avaliação.

            A execução de um projeto inovador, como contribuição do Estagiário à instituição ofertante deveria ser acertada no início dos trabalhos, bem como o cronograma e os recursos necessários. Este projeto consistiria em realização de cursos, oficinas, organização de eventos, seminários, feiras, atividades nas áreas de orientação de estudos, liderança, relações interpessoais, afetividade e sexualidade, informação profissional, trabalho com projetos, avaliação do processo ensino-aprendizagem, técnicas e instrumentos de avaliação, ou outros temas de acordo com as necessidades da instituição. Todas as ações do Estagiário deveriam contar com a assessoria do professor orientador ou da sua participação, sempre que necessário. O Estagiário manteria, no mínimo, três encontros individualizados com o professor orientador como parte do programa de acompanhamento e avaliação.

            A participação  em projetos na área de extensão, que são vinculados à área de formação do estagiário, poderia ser considerada atividade de Estágio, devendo o aluno encaminhar solicitação ao Colegiado de curso que deliberaria sobre a pertinência das atividades e o total de carga horária equivalente.

 

5. Avaliação do estágio

            A avaliação do Estágio contemplaria quatro dimensões: diagnóstica, formativa, somativa e formadora. Diagnóstica e formativa, porque o estagiário é avaliado ao longo do processo, considerando-se seu crescimento quanto à iniciativa, criatividade, liderança, capacidade de trabalhar em equipe e de cooperar. Formadora, porque acompanha o desenvolvimento de atitudes como solidariedade, humildade, simplicidade, que o habilitará a gerenciar os conflitos surgidos com profissionalismo e ética. Somativa, porque atribui notas, numa escala de 0 a 100 pontos.

            Professores e estagiários fariam, ao final de cada semestre, um encontro geral (seminário) para auto-avaliação, análise crítica, revisão de todos os componentes do Estágio Supervisionado e socialização das experiências.

            Competiria ao Professor Orientador do estágio curricular supervisionado: (1) Estabelecer a integração da realidade da Instituição do aluno com o Projeto Político Pedagógico das instituições educativas ofertantes de estágio; (2) Cumprir integralmente a carga horária estabelecida para a habilitação no curso; (3) Acompanhar e avaliar qualitativamente o desempenho do Estagiário, através de entrevistas, visitas à instituição ofertante, registros parciais e outros; (4) Promover a avaliação quantitativa que corresponderá a 100 (cem) pontos.

 

6. Considerações finais

 

            As disciplinas Prática de Ensino e Estágio Curricular Supervisionado no Curso de Pedagogia deveriam permear a formação do professor–educador do primeiro ao último período, o que possibilitaria a oportunidade de se desenvolver pesquisas que se relacionam a temas que desafiam as instituições educacionais.

            A imersão do(a) estagiário(a) nas realidades educacionais proporcionaria o conhecimento das diferentes culturas, contribuindo com o processo de humanização dos alunos historicamente situados. Nesse sentido, o exercício dos diversos saberes pedagógicos necessários à docência é significativo na formação da identidade do professor. “Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão; da revisão das tradições” (Pimenta: 1999, 19) que se dá a partir das parcerias estabelecidas com os colegas professores, com os teóricos, com os alunos, com os pais e entidades comunitárias.

            O aprimoramento da profissão docente se dá nessas interações de experiências e por isso não pode ser considerado pronto, acabado. A formação continuada do pedagogo docente deve ser estimulada no próprio processo de formação inicial com a participação nos seminários, cursos de extensão, atividades de iniciação à pesquisa e publicação.

            Zeickner (1993), em seu livro Formação reflexiva de professores, propõe que o professor assuma uma atitude reflexiva em relação ao ensino e às condições sociais que o influenciam: refletir na ação, sobre a ação e sobre a reflexão na ação.

            Essa habilidade de reflexão, trabalhada nas aulas teóricas, nos estágios e prática de ensino, contribuiria para a formação de pedagogos docentes e não-docentes, autônomos, capazes de construírem projetos de pesquisa interdisciplinares, adaptando inovações tecnológicas sem perder o respeito pelas diferentes culturas de seus alunos e professores proporcionando-lhes emancipação que se constitui na liberdade de sentir, criar e ser.

            A Prática de Ensino e o Estágio Curricular Supervisionado deveriam ser, portanto, disciplinas consideradas como portas abertas para ler, ser e estar no mundo e o formando, que passar por essas portas, deve deixá-las abertas, para a continuidade de oportunidades aos demais estagiários.

 

7. Bibliografia consultada

CANDAU, Vera Maria (org.). Magistério construção cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1999.

CUNHA, Maria Izabel. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 1989.

FAZENDA,  Ivani C. O papel do estágio nos cursos de formação de professores . In: PICONEZ, S. (org.). A prática de ensino e o estágio supervisionado . Campinas: Papirus, 1991.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.

LUDKE, Menga e André, Marli E.D.A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPV, 1986.

_____ Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro – efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1994.

PERELLÓ, Jorge Solivellas. Pedagogia do estágio: experiências de formação profissional. Belo Horizonte: PUC – MG, 1998.

PIMENTA, SELMA G. O estágio na formação de professores. São Paulo:   Cortez, 1994.

_____Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 1999.

SEVERINO,  Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 1998.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político Pedagógico – Pedagogia da Escola. Uma construção possível. Campinas: Papirus, 1997.

ZEICHNER. Formação reflexiva de professores. Lisboa: Educa, 1993.

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* Professora e Coordenadora do Curso de Pedagogia do Unileste-MG – Mestre em Educação - UNIMEP

** Professora do Curso de Pedagogia do Unileste-MG – Mestre em Educação - UNIMEP

[1] Práxis é entendida por Victor como a aplicação de uma teoria. Bacon e Kant como o conhecimento aplicado útil à vida; Boaventura de Souza Santos define em seu paradigma emergente, que a teoria nasce da prática e a ela deve voltar, ou seja torna-se senso comum; MARX refere-se à práxis como a ação, à atividade livre, universal, criativa e auto-criativa, por meio do qual o homem transforma a si mesmo e o mundo.