UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

 

 

 

 

A UTILIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DAS PESSOAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN - EDUCAÇÃO E CIDADANIA

 

 

 

Trabalho apresentado à Banca Examinadora

I  EDIPE

 

 

 

GOIÂNIA/2003

 

 

A UTILIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DAS PESSOAS PORTADORAS DE SÍNDROME DE DOWN - EDUCAÇÃO E CIDADANIA

 

                                   O projeto “A Utilização da Informática no Processo de Alfabetização de Pessoas Portadoras de Síndrome de Down” tem por finalidade atender e estimular o processo de alfabetização dos portadores da Síndrome de Down. Visa também permitir que o aluno do Programa de Formação de Professores da UCG vivencie um ambiente educacional com utilização de recursos computacionais direcionados à pessoas com direitos especiais. Desse modo, pretende também estudar e discutir com os acadêmicos aspectos ligados a educação inclusiva.

                                   1- O que é a Síndrome de Down

A Síndrome de Down caracteriza-se por sinais físicos peculiares e é uma das causas mais comuns de retardo mental. Afeta uma em cada 600 crianças nascidas.

                                   A causa da Síndrome de Down pode ser chamada simplesmente de um erro ou acidente biológico. A criança Down tem um cromossomo extra nas células do seu organismo: é este cromossomo que produz as alterações no seu desenvolvimento físico e mental.

                                   Os cromossomos são pequeníssimas estruturas que contêm nossos “fatores hereditários” ou genes. Cada cromossomo tem milhares de genes e este material genético é absolutamente crítico para o desenvolvimento e o crescimento de qualquer organismo.

                                   Uma criança com a Síndrome de Down tem 47 cromossomos, com um cromossomo extra do par 21 acrescido ao par normal. A isto se denomina trissomia 21 (três vezes o cromossomo 21), que é o outro nome da Síndrome de Down. Por haver 3 cromossomos 21, ao invés de 2 conjuntos, em uma criança Down o equilíbrio genético se desfaz e porisso se produzem alterações no desenvolvimento normal do organismo. (Lefèvre, 1988) 

                                   Estas alterações genéticas alteraram todo o desenvolvimento e maturação do organismo e inclusive alteram o desenvolvimento cognitivo do indivíduo portador da Síndrome.

Essas pessoas possuem algumas características especificas, por exemplo, um indivíduo  calmo, afetivo, bem humorado e com prejuízos intelectuais, porém podem apresentar grandes variações no que se refere ao comportamento. A personalidade varia de indivíduo para indivíduo e estes podem apresentar distúrbios do comportamento, desordens de conduta e, ainda, seu comportamento pode variar quanto ao potencial genético e características culturais que serão determinantes no comportamento.

                                   Segundo SCHWARTZMAN (1999), a Síndrome de Down  é marcada por muitas alterações associadas, que são observadas em vários casos. As principais alterações orgânicas, que acompanham a síndrome são: cardiopatias, prega palmar única, baixa estatura, atresia duodenal, comprimento reduzido do fêmur e úmero, pequena e hiperecongenica, ventriculomegalia cerebral, hidromefrose e sismorfismo da face e ombros.

                                   Outras alterações como braquicefalia, fissuras palpebrais, hipoplasia da região mediana da face, diâmetro fronto-occipital reduzido, pescoço curto, língua protusa e hipotônica e distância aumentada entre o primeiro, o segundo dedo dos pés, crânio achatado, mais largo e comprido: quinto dedo da mão muito curto, curvado para dentro e formado com apenas uma articulação; narinas normalmente arrebitadas por falta de desenvolvimentos dos ossos nasais; ouvido simplificado;  mãos curtas; lóbulo auricular aderente e coração anormal.

                                   A criança com Síndrome de Down tem idade cronológica diferente de idade funcional, desta forma não devemos esperar uma resposta idêntica à resposta das “normais”, que não apresentam alterações de aprendizagem. Esta deficiência decorre de lesões cerebrais e desajustes funcionais do sistema nervoso.

                                   A prontidão para a aprendizagem depende da complexa integração dos processos neurológicos e da harmoniosa evolução de funções especificas como linguagem, percepção, esquema corporal, orientação têmporo-espacial e lateralidade.

                                   Crianças portadoras de Síndrome de Down não desenvolvem estratégias espontâneas e este é um fato que deve ser considerado em seu processo de aquisição de aprendizagem, já que estas têm muitas dificuldades em resolver problemas e encontrar soluções sozinhas.

                                   Outras deficiências que acometem a criança Down e implicam dificuldades ao desenvolvimento da aprendizagem são: alterações auditivas e visuais; incapacidade de organizar atos cognitivos e condutas, debilidades de associar e programar seqüências.

                                   Estas dificuldades ocorrem, principalmente, por que a imaturidade nervosa e não mielinização  das fibras podem dificultar funções mentais como: habilidade para usar conceitos abstratos, memória, percepção geral, habilidades que incluam imaginação, relações espaciais, esquema corporal, habilidade no raciocínio, estocagem do material aprendido e transferência na aprendizagem. As deficiências e debilidades destas funções dificultam principalmente as atividades escolares.

                                   As inúmeras alterações do sistema nervoso repercutem em alterações do desenvolvimento global e da aprendizagem. Não há um padrão estereotipado previsível nas crianças com Síndrome de Down e o desenvolvimento da inteligência não depende exclusivamente da alteração cromossômica, mas é também influenciada por estímulos provenientes do meio sócio-cultural.

                                   O trabalho pedagógico deve primordialmente respeitar o ritmo da criança e propiciar-lhe estimulação adequada para desenvolvimento de suas habilidades intelectuais. O ensino das pessoas com síndrome de Down devem ocorrer de forma sistemática e organizada, seguindo passos previamente estabelecidos. O ensino não deve ser teórico e metódico e sim deve ocorrer de forma agradável e que desperte interesse na criança. Normalmente, o lúdico atrai muito a criança na primeira infância, e é um recurso muito utilizado, pois permite o desenvolvimento global da criança através da estimulação de diferentes áreas.

                                   2- Educação e Cidadania

O projeto poderá contribuir no processo de alfabetização vivido por portadores da Síndrome de Down, como também iniciar o desenvolvimento de conceitos básicos de informática. Desse modo, poderá favorecer uma certa inclusão na sociedade tecnológica das pessoas beneficiadas, além de criar um ambiente favorável aos alunos das Licenciaturas no que se refere à capacitação para questões relativas à Educação Inclusiva.

Este projeto, por contemplar também a participação dos estudantes do Programa de Formação de Professores da UCG, cria a oportunidade de se estudar a especificidade da alfabetização de portadores da Síndrome de Down e de se vivenciar a prática pedagógica relacionada à questões da educação inclusiva. 

O projeto tem por objetivo Capacitar alunos do Programa de Formação de Professores da UCG na perspectiva da Educação Inclusiva no trabalho educativo com portadores da Síndrome de Down. Propiciar a criação de um ambiente educacional com a utilização de recursos computacionais para pessoas portadoras de necessidades especiais. Criar um ambiente em que os alunos dos cursos de licenciatura da UCG possam vivenciar uma prática pedagógica com pessoas portadoras de necessidades especiais, visando enriquecer o processo desses futuros profissionais. Discutir e analisar as aplicações dos recursos computacionais em uma perspectiva de auxiliar a mediação pedagógica no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo uma maior compreensão da utilização da tecnologia no contexto educacional.  Criar um grupo de estudo sobre o processo de ensino-aprendizagem de portadores da Síndrome de Down, proporcionando um embasamento teórico-prático sobre questões relativas à Educação Inclusiva. Desenvolver atividades pedagógicas com a utilização de recursos computacionais para auxiliar no processo de alfabetização vivido por pessoas portadoras da Síndrome de Down. Estimular o desenvolvimento da percepção espacial e visual por intermédio de softwares educacionais e tarefas específicas, permitindo a realização de atividades de orientação espacial e memória visual. Desenvolver a expressão escrita com a utilização de aplicativos que permitam a produção textual (texto, imagem, textos enigmáticos, ...) e estimular ao portador da Síndrome de Down uma utilização correta do computador, direcionando a aprendizagem também para conceitos básicos como: ligar, desligar salvar, abrir e imprimir arquivos, desenvolvendo uma utilização autônoma e independente.

                                   3- Os portadores da Síndrome de Down e o Projeto: A Utilização da Informática no Processo de Alfabetização das Pessoas com Síndrome de Down.

                                   Uma das maiores preocupações em relação à educação da criança, de forma geral, se dá na fase que se estende do nascimento ao sexto ano de idade. Neste período, a educação infantil tem por objetivo promover à criança maior autonomia, experiências de interação social e adequação, permitindo que esta se desenvolva em relação a aspectos afetivos, volitivos e cognitivos, que sejam espontâneos e antes de tudo sejam “crianças”.

                                   O atendimento a criança portadora de Síndrome de Down deve ocorrer de forma gradual, pois não consegue absorver grande número de informações. Também não deve se apresentar informações isoladas ou mecânicas, a aprendizagem deve ocorrer de forma lúdica e concreta.

                                   É importante que o profissional promova o desenvolvimento da aprendizagem nas situações diárias da criança. A evolução gradativa da aprendizagem deve ser respeitada. Deve-se cumprir cada etapa de desenvolvimento e não exigir da criança atividades que ela não possa realizar, pois estas atitudes não trazem benefícios a ela e ainda podem causar lhe estresse.

                                   Em crianças com Síndrome de Down é comum observar uma evolução desarmônica e movimentos estereotipados. Esta defasagem pode ser compensada através do planejamento psicomotor bem direcionado, que lhe proporcione experiências fundamentais para sua adaptação ao processo educacional.

Os estudos na área de educação especial nos mostram que as pessoas portadoras da Síndrome de Down apresentam o desenvolvimento cognitivo diferenciado. A literatura existente afirma que esse desenvolvimento ocorre em um ritmo lento e, embora a Síndrome de Down seja uma conseqüência genética, ressalta que o ambiente sócio-cultural favorece e influencia o desenvolvimento de habilidades e capacidades do indivíduo. Diante dessa perspectiva, pode-se considerar que a riqueza do meio sócio-cultural vivenciado por esses indivíduos pode contribuir para o desenvolvimento cognitivo. Nesse sentido, a proposta deste projeto torna-se relevante por poder criar um ambiente educacional com a utilização de recursos tecnológicos direcionados a implementar o processo de alfabetização.

A aplicação da Informática e Educação no contexto escolar tem sido alvo de intensas pesquisas devido a ampla utilização das mais diferentes atividades sociais e conseqüentemente com reflexos na educação.

A introdução do computador na educação tem provocado uma verdadeira revolução na nossa concepção de ensino/aprendizagem. Primeiro os computadores podem ser usados para ensinar, pois a quantidade dos programas educacionais e as diferentes modalidades do uso do computador mostram que essa tecnologia pode ser bastante útil nesse processo.

Sabe-se hoje, o quanto é importante o acesso às ferramentas tecnológicas e o que isto tem proporcionado ao homem. Dentro desse contexto a Educação não poderá colocar-se a margem, especialmente, a educação de pessoas com direitos especiais.

Entretanto, a utilização do computador como ferramenta educacional, não como instrumento apenas que ensina o aprendiz, mas como ferramenta com qual o mesmo desenvolva algo mais, onde o aprendizado ocorra pelo fato de estar executando tarefas por intermédio do computador, enriquecendo o ato de aprender.

A base teórica, portanto, de sustentação desta proposta está consubstanciada nas concepções de Piaget e Vygotsky que afirmam a construção do conhecimento a partir da interação com o meio físico e cultural.

                                   Cabe ainda destacar que a realização desta proposta possibilita o surgimento de um campo de pesquisa com o desenvolvimento de conhecimentos referente às questões do processo de ensino-aprendizagem de crianças e adolescentes com necessidades especiais. Espaços condizentes com a função da Universidade enquanto instituição social e produtora de conhecimento.

                                   Nesse processo, deve-se propiciar ao educando especial um ambiente de aprendizagem que permita desenvolver uma metodologia de trabalho, capaz de integrar as atividades que vem realizando com outros recursos educacionais.

                                   Assim, esse projeto tem, especialmente, o interesse de executar atividades, que tenham fundamentação pedagógica e educativa, e que sejam fundamentais ao desenvolvimento das áreas psicomotoras, sensoriais, cognitiva e sócio–afetiva dos educandos com a Síndrome de Down, e sobretudo, que contribua para seu aprendizado no sentido de sua inclusão na sociedade.

                                   Destacamos, que estas atividades não são especificas para pessoas com Síndrome de Down, pois elas são capazes de utilizar software educativo, como qualquer outra pessoa, mais sim, que essas atividades possam contribuir muito no trabalho pedagógico de qualquer professor ou aluno.

                                   Portanto, devemos nortear a ação de qualidade em educação e conseqüentemente, na qualidade de vida desses educandos.

                                   Recentes pesquisas revelam que as atividades desenvolvidas com o computador, através dos softwares educativos, têm provocado um impacto marcante na vida desses educandos, enriquecendo sua capacidade intelectual, seu sentimento de auto – estima, e colocando-os em contato com sua capacidade de aprender cognitiva e emocionalmente.

                                   Destarte, considerando o computador como instrumento a mais que poderá minimizar as barreiras sociais entre os educandos e o mundo físico, seja através do desenho, da leitura da escrita, ou da sua própria interação social, justificamos a necessidade da execução desse projeto educacional às pessoas com Síndrome de Down.

4- Relato de uma atividade             

A utilização da tecnologia serve como mais um recurso para desenvolver as potencialidades cognitivas. Essa utilização pode contribuir para que os portadores de Síndrome de Down ganhem auto-estima e autonomia para resolver seus próprios problemas. Percebe-se nas atividades desenvolvidas a tentativa de se valorizar a capacidade, a iniciativa e a criatividade do aluno, considerado como sujeito da construção de seu conhecimento. Os conteúdos são trabalhados de forma interdisciplinar, a partir de projetos baseados nas necessidades dos alunos, a fim de auxiliá-los no desenvolvimento consciente de cidadão.

Por exemplo, no semestre de 2003/2, está sendo desenvolvido o Projeto “Eu no Mundo”, considerando que a criança precisa descobrir seu corpo e construir uma imagem corporal. O resgate da importância do corpo e seus movimentos, o conceito de vida associado a movimento, a retomada do indivíduo  como agente ativo na construção de sua história, proporciona a capacidade de dissociar movimentos, individualizar ações, organizar-se no tempo e no espaço.

                                   A possibilidade que um corpo tem de se mover no espaço é instrumento essencial para a construção do intelecto e o corpo serve como órgão de trabalho gerador de experiências. As explorações das possibilidades motoras de uma criança desencadeiam circuitos sensório-motores, que estruturaram as relações que conceberá futuramente. O processo formal da educação consiste em repassar conceitos à criança sem leva lá  a vivencia e este e seu ponto falho, pois para internalizar uma informação não basta decorar conceitos e sim  participar da construção destes e construir suas próprias idéias. A criança tem que ser vista de forma global e educa-la não e apenas trabalhar a mente e sim o global, abrangendo todos os aspectos, inclusive a necessidade de interagir com o meio tendo contato direto com universo de objetivos e situações, que o cercam podendo assim efetivar suas construções sobre a realidade.  

O projeto possui dois tipos de público: portadores da Síndrome de Down e alunos dos cursos de Licenciaturas da UCG. As horas destinadas aos portadores da Síndrome de Down perfazem um total de 1h e 20min semanais para cada grupo. As horas destinadas aos alunos das licenciaturas perfazem um total de 12 horas semanais.

A avaliação do projeto será realizada por intermédio de questionários aos pais e contato com as escolas regulares freqüentadas pelas pessoas beneficiadas; registro das observações sobre o desempenho do público alvo em cada aula e registro de freqüência, como também, reuniões com os pais e a equipe técnico-administrativa da ASDOWN.

                                   Em relação aos alunos dos cursos de Licenciatura a avaliação será efetuada por intermédio de um relatório ou relato de experiência que expresse a contribuição do projeto para a formação acadêmica do futuro professor.

                                   Considerações

                                   A falta de oportunidade para as pessoas com Síndrome de Down  estabelece uma distancia significativa entre as pessoas “normais” com as pessoas portadoras desta síndrome. A ciência sabe que esta anomalia impõe limitações ao desenvolvimento da capacidade intelectual. Mas podemos constatar que o maior bloqueio ao progresso desses indivíduos não é imposto pela genética, mas sim pela sociedade. Ou seja, se não damos às pessoas com Síndrome de Down oportunidade de experimentar determinadas situações e desempenhar certas funções, como saber onde poderiam atuar melhor?

                                   A discriminação social com  pessoas portadora de Síndrome de Down é basicamente a falta de informação. As pessoas discriminam o que não conhecem.  

                                   Este  projeto visa acima de tudo, proporcionar as pessoas portadoras da Síndrome de Down igualdade nas condições de desenvolvimento e aprendizagem.

                                  

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNICAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

CRUICKSHANK; JOHNSON. A educação da criança e do jovem excepcional. Porto Alegre: Globo, 1975.

 

LEFÈVRE, B.H. Mongolismo: Orientação para famílias. São Paulo: AMED, 1981.

 

SCHWARTZAN, J. S. Síndrome de Down. São Paulo: Mackenzie, 1999.

 

UCG; ASDOWN Goiás. PROJETO:“A utilização da informática no processo de alfabetização de pessoas portadoras a Síndrome de Down” -  Projeto interdepartamental: 2003

 

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