O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO ENTUSIASMADO: ESTUDO QUANTITATIVO-QUALITATIVO DE CARACTERÍSTICAS DO CONSTRUTO

 

 

Simone Araújo Monteiro, Mestranda do Mestrado em educação da Universidade Católica de Brasília – Faculdade Cenecista de Brasília

José Florêncio Rodrigues Jr., Ph.D. Universidade Católica de Brasília

 

O presente texto compõe-se de seis seções: (a) itinerário pessoal no estudo do construto entusiasmo, (b) suporte teórico para o estudo do professor entusiasmado, (c) o construto entusiasmo no estudo do docente de nível de excelência, (d) breve revisão da literatura sobre entusiasmo do professor, (e) caminhos a serem explorados na pesquisa sobre entusiasmo do professor e (d) conclusão e resultados de pesquisa.  Elas são apresentadas a seguir. 

 

Palavras-chave: professor universitário; eficiência; entusiasmo.

 

Originando-se em investigação prévia, delineia-se aqui uma revisita ao construto entusiasmo do professo universitário.Toma-se como marco teórico o trabalho do psicólogo suíço Carl Jung. Este, louvando-se em estudos de Wilhelm Ostawal categorizou os indivíduos em dois tipos: introvertidos e extrovertidos. Postula-se que o professor entusiasmado seria um tipo extrovertido. Entusiasmo tem sido, também, um traço identificado em numerosos estudos sobre o professor universitário eficiente. Algumas questões emergem desses estudos; por exemplo, Entusiasmo seria uma característica inata ou adquirida? Ela é ubíqua ou restringe-se à sala de aula? Que descritores de baixa inferência tipificariam entusiasmo no professor? E, são congruentes ou discrepantes as percepções que professores e alunos têm sobre o professor entusiasmado? Restringindo o foco da literatura sobre o entusiasmo ao professor na sala de aula, revisam-se nove estudos focalizando o assunto. Seis são experimentais e três ex-post-facto. Desses estudos apreende-se, primeiro, que existem descritores de baixa inferência caracterizando consistentemente o professor entusiasmado; por exemplo, contato visual. Por outro lado, existem inconsistências nos estudos: não se pode afirmar categoricamente que entusiasmo da parte do professor induz o aumento de desempenho cognitivo  dos alunos, vez que os resultados se dividem igualmente. Finalmente, os autores propõem procedimentos de pesquisa a serem utilizados num empreendimento em curso.

 

Itinerário Pessoal no Estudo do Construto Entusiasmo

 

Como fazia habitualmente, ao iniciar aquele semestre da disciplina Metodologia do Ensino Superior na Universidade de Brasília, percebi que o meu orientador oferecia a possibilidade, aos alunos que o desejassem, de comporem um contrato de estudo, o qual equivaleria a algumas das tarefas de avaliação do curso. Não eram muitos os que se dispunham a assumir um contrato porque, em primeiro lugar, ele demandava mais tempo do que as tarefas regulares.  Como já havia através do professor conhecido a temática entusiasmo em sala de aula, manifestei o interesse pelo empreendimento. Estudar o que é entusiasmo, tal como se verifica em sala de aula na universidade.

 

Suporte Teórico para o Estudo do Professor Entusiasmado

 

Ao encetarmos o estudo presente, inquirimos sobre quem, entre os pensadores, filósofos ou formuladores de teorias sobre a natureza do ser humano, poderia servir de suporte para nossa investigação.  Para começar, o que significa entusiasmo de um ponto de vista etimológico?

Consulta ao Dicionário de filosofia de Abbagnano (1982) informa a etimologia do termo.  Origina-se do grego (en + Qeos) e representa a própria inspiração divina. No verbete correspondente se estabelecem distinções entre entusiasmo, ironia (à qual se liga o riso) e fanatismo; entre o entusiasmo intelectual e o religioso. Platão estabelece uma das primeiras críticas filosóficas, quando argumenta que toda a atividade que dependa da inspiração divina não é exclusivamente arte.  Neste contexto, encontra-se o entusiasmo.  É importante assinalar-se que os filósofos da Grécia antiga eram também educadores.  Portanto, era próprio de sua experiência a exaltação associada à verdade; conseqüentemente, o entusiasmo.

 

Entretanto, foi o psicólogo suíço Carl Jung (1991) quem nos forneceu elementos mais úteis para a investigação, com sua teoria sobre tipos psicológicos.  Como se recorda, Jung louvou-se nos estudos de Wilhelm Ostwald para criar as duas categorias de tipos psicológicos propostas por ele: os extrovertidos e os introvertidos.  Ele postulou que cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo orientado para seu interior ou para o exterior, sendo que a energia dos introvertidos se dirige para seu mundo interior, enquanto a energia do extrovertido é mais focalizada no mundo exterior. Entretanto, ninguém é totalmente introvertido ou extrovertido. Algumas vezes a introversão é mais apropriada; em outras ocasiões, a extroversão é mais adequada.  Por outro lado, os dois tipos se excluem mutuamente, de forma que não se pode ser, a um só tempo, extrovertido e introvertido. 

 

O Construto Entusiasmo no Estudo do Docente de Nível de Excelência

 

Coincide com o início das pesquisas sobre o professor universitário eficiente o aparecimento do construto entusiasmo entre as características identificadas.  Numa rápida revisão de estudos estrangeiros e brasileiros pode verificar-se essa assertiva. Os estudos de Feldman e Ramsden, assim como o Students’ Evaluation of Education Quality reportados Li e Kaye (1998) listam entusiasmo entre as características de professores universitários destacados.  No Brasil, essa característica foi identificada num estudo de Rezler (1987). 

 

Entretanto, como ressalta Rodrigues Jr. (2002), entusiasmo, assim como outros construtos definidores de professores universitários exemplares, constituem atributos de alta inferência.  Ou seja, faltam-lhes contornos precisos, objetivos; ao contrário, o que se tem são descrições ambíguas ou redundantes.  Assim, por um lado, entusiasmo é considerado um traço marcante de bons professores universitários; por outro, não se sabe exatamente o que é entusiasmo e como ele se manifesta na conduta do professor.  Em particular, seria importante ter-se resposta para perguntas tais como, Entusiasmo é uma característica inata ou adquirida?  Ela é ubíqua ou restringe-se à sala de aula?  Que descritores de baixa inferência tipificariam entusiasmo? e, São congruentes ou discrepantes as percepções que professores e alunos têm sobre o professor entusiasmado?

 

Breve Revisão da Literatura sobre Entusiasmo do Professor

 

Evidência de que o entusiasmo do professor é um assunto pouco explorado é o reduzido número de pesquisas sobre o tópico. Bases de dados como Web of Science e ProQuest, além daquelas facultadas pelo portal da CAPES foram consultadas, resultando daí pouco mais de uma dezena de estudos.  Particularmente, no Brasil inexistem estudos catalogados em bases oficiais sobre o assunto.   Some-se à escassez de estudos, a inacessibilidade de alguns, daí resultando oito estudos.  Em traços gerais, estes podem ser grupados em duas categorias, segundo o procedimento de pesquisa adotado: estudos experimentais e estudos ex-post-facto.

 

Estudos Experimentais

 

Seis estudos provêm da América do Norte (cinco dos EUA e um do Canadá).  O delineamento típico desses estudos é o de uma turma à qual se ministra um tópico, com duração variada, a um grupo experimental.  Em três estudos (Young, 1973; Bettencourt et al., 1983 e Wineburgh, 1990), além do grupo experimental, havia um grupo controle.  A instrução foi ministrada pessoalmente em cinco dos seis experimentos) e em um, via videotape.  Observa-se, igualmente, outra distinção nos estudos deste grupo: em cinco deles os instrutores receberam diretrizes precisas sobre comportamentos que conotariam entusiasmo.  Nesses estudos, o(a) instrutor(a) era orientado(a) a empregar ações denotativas de entusiasmo, identificadas na literatura; por exemplo, movimentar-se à frente ou modular a voz.  Finalmente, as turmas participantes do experimento respondiam teste de conhecimento sobre o tópico apresentado.  Além disso, em um estudo os alunos avaliaram a instrutora do ponto de vista afetivo.

 

Os resultados desses estudos não apontam para uma direção única. Ao contrário, dividem-se igualmente.  Três estudos—Mastin, Young e Wood & Murphy dão conta de desempenho elevado por parte das turmas experimentais; igualmente três—Wineburgh, McKinney & Larkin e Bettencout et. al.-- reportam resultados não significativos do ponto de vista de teste estatístico. 

 

Alguns pressupostos subjazem a esses experimentos.  Um deles é o de que entusiasmo é um construto que pode ser incorporado ao estilo de ensinar do professor.  Conseqüentemente, ao contrário do que preconizaria Jung, com a sua tipologia de indivíduos introvertidos e extrovertidos, os pesquisadores da linha experimental parece estarem persuadidos de que, desde que instruído nos comportamentos típicos de entusiasmo, o(a) professor(a) pode ministrar sua instrução entusiasticamente.  Um segundo pressuposto é de que o construto entusiasmo pode ser decomposto em componentes discretos.  Em alguns experimentos tais comportamentos são ambíguos (poder-se-ia denominá-los de comportamentos de alta inferência); esse é o caso de “nível geral de energia,” utilizado por McKinney & Larkins (1982). Outros comportamentos são pontuais, objetivos, precisos (poder-se-ia denominá-los de baixa inferência); por exemplo, “variação vocal,” empregado no estudo de Wood & Murray (1999).  Finalmente, presumem os pesquisadores dessa linha que o entusiasmo do professor tem o potencial de influir na aprendizagem cognitiva; ou seja, o aluno teria um desempenho mais alto quando numa situação de sala de aula com professor(a) entusiasmado(a) comparado com outro, cujo(a) professor(a) fosse destituído dessa característica.   

 

Estudos Ex-Post-Facto

 

Como é sabido, estudos ex-post-facto caracterizam-se por se darem após a ocorrência do fenômeno em observação.  Portanto, neles falta controle prévio de variáveis e não se pode inferir causalidade entre os fenômenos, a não ser indiretamente. 

 

Localizaram-se três estudos dessa natureza focalizados no construto entusiasmo.  São eles o de Hoffman et. al. (1982), Barnes & Barnes (1993) e Murphy & Walls (1994).  Neles empregam-se métodos estatísticos com base em correlação, particularmente a análise fatorial.  O estudo de Murphy e Walls não é, a rigor um ex-post-facto, vez que nele, gravam-se 30m. de aula de quatro professores universitários considerados excelentes as gravações são, subseqüentemente, analisadas.  Entretanto, Murphy e Walls não realizaram um experimento, à semelhança dos estudos anteriores.

 

Os resultados dos três estudos são díspares; não autorizam o pesquisador retirar conclusões uniformes sobre o que seja entusiasmo do professor.  Vamos passar em revista esses resultados e tentar extrair deles subsídios para o entendimento desse construtor.

 

Hoffman e colaboradores, após realizarem análise fatorial dos dados dos seus questionários, identificou quatro fatores definidores do professor apto a atender a necessidades dos alunos; foram eles, dar suporte ao aluno, entusiasmo, ser agradável e desafiar.  Note-se que, nesse estudo, entusiasmo não é o foco de investigação.  Ele emerge como um fator numa investigação com foco mais amplo, ou seja, características de professores aptos a atender necessidades de estagiários em educação.  

 

Ao contrário do estudo precedente, os de Barnes & Barnes e o de Murphy & Wall lidam diretamente com o construto entusiasmo, buscando defini-lo.  Assim, do questionário administrado pelos dois primeiros pesquisadores a alunos de 11 cursos de Exatas e de 17 da área de Humanas de uma universidade do centro-oeste norte-americano, obtiveram-se correlações superiores a 0.8 nas duas áreas para cinco descritores de entusiasmo.  Foram eles: (a) manutenção da atenção da turma, (b) apresentações que estimulam a mente, (c) uso de exemplos para esclarecimento, (d) coerência na apresentação do material e (e) preparo satisfatório para as apresentações. 

 

Murphy e Walls usaram videotapes de quatro professores considerados exemplares e os apresentaram em sessões de 30m.  Eles observaram as relações concomitantes e seqüenciais de cinco descritores de entusiasmo; ou seja, (a) contato visual, (b) expressão facial, (c) vocalização, (d) gestos e (e) movimentação em sala de aula.  No que se refere a relações concomitantes, a relação mais ocorrente foi a de contato visual (a) com vocalização (c).  Comportamentos seqüenciais associados a entusiasmo foram, contato visual (a), seguido de vocalização (c), seguido de gestos (d). 

 

Uma análise rápida desses descritores evidencia primeiro, que alguns sinalizam mais propriamente o efeito de entusiasmo do que sua causa; por exemplo, manutenção da atenção.  Não seria o entusiasmo do professor o responsável por esse resultado em vez de ser causa dele?  Segundo, descritores como preparo satisfatório para as apresentações apontam para uma fase anterior à instrução, algo que discrepa do todo das análises sobre entusiasmo, as quais sugerem que este se dá enquanto o docente ministra a instrução.  Finalmente, há que se notar a convergência entre descritor de entusiasmo, tal como uso de exemplos e descritores de outros construtos, por exemplo, clareza do professor (ver Magdalena,(1980).  Existem, ao que parece, áreas de interseção entre diferentes construtos que caracterizam o professor universitário eficiente.    

 

Caminhos a Serem Explorados na Pesquisa sobre Entusiasmo do Professor

 

Chegou-se a um estágio na pesquisa sobre o entusiasmo do professor no qual existem alguns poucos achados capazes de serem transplantados para a sala de aula; por exemplo, parece consolidado a relevância de descritores tais como “contato visual” como definidor do professor entusiasmo. Outros achados são dúbios; é um ponto mudo se o professor entusiasmado efetivamente promove aprendizagem em níveis superiores.  Existem aspectos que necessitam investigações com abordagens diferentes das praticadas até agora.  É o entusiasmo um traço estável da personalidade ou algo a ser aprendido? 

 

O que se pretende com o presente texto é delinear alguns roteiros a serem seguidos no futuro.  Primeiro, que se identifiquem, em primeiro lugar, professores reputados como entusiasmados pelos alunos.  É importante que a pesquisa se volte para esses indivíduos em vez de lidar com o construto como se fora uma abstração.  Segundo, ao serem identificados professores entusiasmados, que se os inquira mediante instrumentos que aprofundem questões como estabilidade do traço.  Terceiro, que essas questões sejam, igualmente, respondidas pelos alunos, permitindo cruzamento dos dados.  Quarto, que se empreguem procedimentos qualitativos, tais como a técnica do incidente crítico, possibilitando o surgimento de descritores até então imersos nas investigações precedentes.  Um estudo preliminar que realizamos traz à tona um descritor até agora ausente nos elencos de descritores de entusiasmo: alunos observaram que professores entusiasmados se estendem em sala ou no corredor além do tempo estrito de aula. 

 

Acreditamos que esses roteiros, assim como outros, nos permitirão lançar mais luz sobre esse descritor, a um só tempo decisivo no perfil do professor eficiente, e fugidio e intangível ao alcance do professor que deseja incorporá-lo ao seu perfil. 

 

 

 

 

CONCLUSÕES, CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

 

No presente trabalho, partiu-se das características de professores universitários eficientes, particularizando o construto entusiasmo. A pesquisa tomou como fio condutor as seguintes questões:  O que é entusiasmo? É o entusiasmo uma característica inerente ao professor ou uma característica que poderia ser assimilada? Quais seriam os elementos constitutivos do entusiasmo no professor; em outras palavras, quais os descritores de baixa inferência que podem definir este construto?  Essas questões foram consideradas com base em dados provenientes de alunos e professores, das áreas de Humanas e Exatas.  Nesta última seção, olhando o estudo retrospectivamente, propõem-se considerações, conclusões e recomendações, estas últimas com sentido prospectivo.

 

Uma consideração a ser feita reporta-se aos dados obtidos dos professores identificados como entusiasmados.  Durante a pesquisa, em função do tempo para o seu desenvolvimento, limitou-se o número de professores entusiasmados estudados.  Originalmente seriam 31 professores da Área de Exatas e 82 da Área de Humanas, indicados por alunos como professores entusiasmados. Destes, foram incluídos apenas os docentes com mais de 3 indicações por alunos, ou seja, 20 docentes. Isto representa uma perda de cerca de 80% da amostra original . Este fato para a pesquisadora apresenta-se como um ponto particularmente deficiente na pesquisa, pois se considera perda de dados para a interpretação do fato e concomitantemente a esta questão ignorou-se o universo dos professores considerados entusiasmados. É possível que os resultados fossem diferentes dos atuais, caso se tivesse abrangido a totalidade da amostra. 

 

Uma segunda consideração, constituindo-se, também, uma limitação relaciona-se  com o instrumento empregado na pesquisa.  Nele observam-se defeitos, os quais, possivelmente, interferiram nos resultados.  Faltou submeter o referido instrumento a teste piloto, o qual, certamente, evidenciaria tais defeitos. Entre eles, cito a ambigüidade na alternativa sobre freqüência da manifestação, pelo professor, de entusiasmo na instrução.  Duas das alternativas apresentadas— “freqüentemente” e “constantemente” são ambíguas, impossibilitando ao respondente distinguí-las. Os dados originários desse item, por conseqüência—estarão prejudicados. 

 

Na sua tipologia do ser humano, Carl Jung enfatiza os conceitos de personalidade extrovertida e personalidade introvertida. Essa nomenclatura descreve tipos genéricos de seres humanos. Esses tipos têm correspondência funcional; ou seja, o extrovertido desencadeia sua libido rumo ao objeto, enquanto o introvertido busca retirar sua libido do objeto. O professor de personalidade extrovertida não apresenta dificuldade em sua expressão pessoal. Ele faz valer a sua presença, diferentemente do tipo introvertido, o qual só reage internamente; não exterioriza  suas emoções e suas reações só são percebidas em explosões afetivas.

 

Os dados obtidos no presente estudo, tanto de alunos como de professores, não são conclusivos quando olhados do ponto de vista estatístico.  Indo além do teste estatístico, os dados descrevem o(a) professor(a) entusiasmado(a) como alguém que assim o é uniforme e ubiqüamente; não apenas em sala de aula, não apenas em uma certa disciplina, porém onde quer que se encontre.  A literatura investigada não se endereça a esse aspecto.  O presente estudo trás à luz esse dado, embora de forma não conclusiva.  O construto entusiasmo, portanto, parece ser algo congênito; um traço de personalidade típico do extrovertido, como diria Jung. 

 

Quanto à natureza do construto, o estudo o revela, tal como na literatura, como algo multiforme, policrômico.  O professor entusiasmado combina bom humor e domínio de conteúdo, características aparentemente desconexas.  É também da natureza do construto combinar aspectos contraditórios.  Por exemplo, aparecem nos incidentes críticos relatos de episódios nos quais o aluno percebeu o professor(a) como entusiasmado(a) num contexto negativo: repreendendo a turma por preguiça ao omitir-se de responder uma pergunta ou então ao denunciar dois trabalhos com o mesmo autor. Por outro lado, o(a) professor(a) entusiasmado(a) brinca (“tease” no Inglês) com determinados alunos para quebrar a monotonia da aula de sexta-feira à noite.  Portanto, não se trata de um construto unifatorial.

 

Este estudo fornece suporte, embora tênue, para a noção de que o(a)  professor(a) entusiasmado(a) promove aprendizagem cognitiva elevada nos alunos.  Tanto nos dados de alunos como dos professores, tanto da área de Exatas como de Humanas as menções ou notas situam-se no nível superior ou médio superior.  Embora alguns experimentos registrados na literatura neguem apoio a essa constatação, no experimento de Wineburgh (1990) ela foi verificada. 

 

Finalmente, recomenda-se o prosseguimento na exploração do construto entusiasmo mediante a combinação de dois procedimentos.  Primeiro, a identificação do professor entusiasmado pelo aluno.  Em seguida, o registro do procedimento desse professor em contexto de sala de aula, mediante uso de câmera de vídeo.  Esse procedimento permitirá analisar segmentos de instrução com foco em descritores de baixa inferência. Embora o registro em vídeo apresente a restrição de obstrusividade, haveria como manter o ambiente de sala de aula próximo do natural e obter-se o registro eletrônico.

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências

 

Abbagnano, N. (1982).  Dicionário de filosofia.  São Paulo: Edtora Mestre Jou.

 

Bettencourt, E. M., Gillett, M. H., Gall, M. D. & Hull, R. E. (1983).  Effects of teacher enthusiasm training on student on-task behavior and achievement.  American Educational Research Journal. V.20, n.3, 435-450.

 

Flanagan, J. C. (1954).  The critical incident technique.  Psychological Bulletin.  51(4),327-358.

 

Hoffman, J. L.  (1982).  The cooperating teacher as most significant other: a competent humanist.  Documento ERIC n. ED213718.

 

Li, R.Y. & Kaye, M.  (1998).  A case study for comparing two service quality measurement approaches in the context of teaching in higher education.  Quality in Higher Education, v. 4, n. 2, 103-113.

 

Mastin, V. E. (1963). Teacher enthusiasm.  The Journal of Educational Research. V. 56, n. 7, 385-387.

 

Magdalena, B. C. (1980). Percepção de alunos sobre clareza do professor: um estudo na 3ª série do II grau.  Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

 

McKinney, C. W., Larkins, A. G., & Kazelskis, R., Ford, M. J., Allen, J. A. & Davis, J. C. (1982). Some effects of teacher enthusiasm on student achievement in fourth grade Social Studies.  Journal of Educational Research, v. 76, n.4, 249-253.

 

Murphy, C. A. & Walls, R. T. (1994).  Concurrent and sequential occurrences of teacher enthusiasm behaviors.  Paper presented at the Annual Meeting of the American Educational Research Association, New Orleans, LA.

 

Rodrigues Jr., J. F. (2002).  Manual para formação do instrutor.  Brasília: Editora Universa.

 

Wineburgh, A. C. (1990).  The effect of enthusiastic teaching on the listening comprehension of kindergarten children. Dissertação de Mestrado, Mercer University in Atlanta, Ga., EUA

 

Wood, A. & Murray, H. G. (1999).  Effects of teacher enthusiasm on student attention, motivation, and memory encoding.  Paper presented at the annual meeting of the American Educational Research Association, Montreal. 

 

Young, E. M. (1973).  Effect of teacher enthusiasm on vocational business education student achievement. Tese de doutorado, University of Missouri, Columbia (EUA). 

 

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