Neste trabalho a modernidade interessa como prática social e visão de mundo que caracterizam uma determinada época. E ao mesmo tempo, momento de grandes e aceleradas transformações instituintes de uma racionalidade que espalha por todas as esferas da sociedade, inclusive no espaço físico.
Em Goiás, a partir da década de 1930 o discurso
sobre a modernidade se contrapõe às idéias de decadência e atraso que impediam
o desenvolvimento e o progresso do Estado. Este discurso vai aos poucos se
tornando realidade no momento em que políticos e ideólogos vêem a possibilidade
de inserir a região no projeto da Nação.
Chaul (1997, p.154),
afirma que a idéia de ruptura com o passado e a de progresso se mesclam na
representação da modernidade, no Brasil em geral e em Goiás em particular.
Nesse contexto de adesão à idéia de progresso e ruptura com o passado,
constitui-se um imaginário salvacionista, que veio a ser a marca do projeto
brasileiro de modernidade, traduzido na concepção demiúrgica de Estado que, por
intermédio da intervenção planejada, procurava adotar uma política mais justa
para a questão social, garantindo, desse modo, a unidade e a identidade
nacional.
A modernidade representava os anseios de grupos políticos, que
acreditavam que incorporando o novo, o moderno o Estado teria maiores chances
de desenvolvimento e de representatividade nacional. Por outro lado, existiam
os grupos políticos que representavam a tradição, o continuísmo dos
privilégios, ou seja, os grupos dominantes que há muitos anos mantinham-se no
poder.
Um fator fundamental que alterou a dinâmica
populacional de Goiás resultou da construção de Goiânia na década de 1940. A
nova capital significou para Goiás um novo tempo. A economia tomou impulso e a
urbanização foi acelerada, tanto na cidade de Goiânia como no seu entorno.
Marco forte
da modernidade em Goiás, Goiânia reuniu o tradicional e o moderno, uma
verdadeira mesclagem do urbano com o rural. O concreto armado e a arquitetura
moderna da época contrastavam com o meio de transporte rudimentar que era
utilizado para carregar o material para a construção da cidade que surgia no
vazio do sertão.
A construção de Goiânia promoveu a abertura de
novas estradas, tornando-a elo de ligação entre os municípios e com outros
estados, favoreceu a imigração, e conseqüentemente o povoamento, acelerando a
colonização do Mato Grosso Goiano, zona de grande riqueza agrícola; criou o
primeiro centro urbano de relativa importância em Goiás que, se não chegou a
constituir um centro industrial – como esperavam os construtores -; desenvolveu
para si e para todo o estado os diversos tipos de serviços (colégios e
faculdades, bancos, hospitais, comércio etc) indispensáveis ao desenvolvimento.
(PALACIN, 1994, p109).
Outros
fatores também contribuíram para a expansão populacional do Estado de Goiás, e
foram decisivos principalmente para a ampliação e surgimento de núcleos
urbanos.
Segundo
Barreira (1989,p 12) toda movimentação ocorrida em Goiás, e que incorreu em
alterações no conjunto do Estado na década de 50 foi devido a quatro frentes de
ocupação: “Sudeste (região de influência da Estrada de Ferro) Sudoeste, Mato
Grosso de Goiás e uma frente mais avançada, no Vale de São Patrício, que se
instala após a chegada da Estada de Ferro a Anápolis, em 1935”. Essas frentes
abriram o Estado para a economia nacional e também imprimiram uma nova
fisionomia na região centro-sul não somente pelo grande contingente
populacional que se instalou nesta área, mas também, pela implementação da
pecuária e agricultura para o mercado externo. Grandes regiões foram
desbravadas nesta época, o que significou uma movimentação populacional e
econômica na criação e/ou ampliação de novos núcleos urbanos nas áreas de
fronteiras.
Assim como Goiânia reestruturou o
espaço do centro oeste brasileiro, a construção de Brasília na década de 1950 e
a construção de vias de integração causaram grandes alterações do ponto de
vista espacial, no Brasil e em Goiás. Segundo BORGES (5, mimeo):
A construção de Brasília implicaria também na
implantação de uma rede de transportes que interligaria aos principais centros
urbanos do país. A nova capital foi planejada como ponto central do sistema
viário brasileiro. Em pouco mais de Três anos, depois da decisão de se transferir
a capital federal para o planalto, era possível alcançar o centro geográfico do
país por rodovias consideradas modernas. A ligação de Brasília com as demais
regiões brasileiras permitiu a circulação de riquezas entre as áreas
agrário-extrativas do interior e os centros industrializados do sudeste.
Uma das rodovias colocada como prioritária para o Governo JK foi a Belém Brasília. A abertura da Rodovia quebrou definitivamente o isolamento do povoamento desenvolvido, até então, na região norte de Goiás, o espaço passou a ser ocupado efetivamente por grandes projetos agropecuários, interligando a economia regional à dinâmica capitalista.
A Belém-Brasília, em conexão com outras rodovias formou o eixo rodoviário do país, incrementando o movimento demográfico e as relações comerciais inter-regionais, principalmente, entre o Sul e o Norte de Goiás, ampliando o mercado interno. Ainda, segundo Barreira (1998), “esses eixos rodoviários de penetração foram verdadeiros instrumentos para a conquista interna do território nacional”.
A
rodovia alterou profundamente a estrutura socioeconômica do Norte de Goiás.
Reestruturou o espaço econômico regional, tanto urbano como rural, Pois a falta
de meios de transportes isolava o norte do restante do Estado. De acordo com
Borges, (mimeo):
A comunicação com a capital era feita por terra em carro de boi ou tropas. Ainda na década de 1930, a viagem a cavalo durava mais de mês. Não havia cidade entre Peixe e Jaraguá, numa distância de aproximadamente 500 quilômetros. Apenas as vilas: Descoberto (Porangatu) Santana do Moxombombo, agora Uruaçu. Os núcleos populacionais antigos, a maioria, estagnaram-se e novos aglomerados urbanos foram criados e se desenvolveram ao longo da estrada.
A estrada influiu decisivamente no crescimento e modernização de núcleos urbanos já existentes nas regiões como Ceres, Uruaçu e Porangatu.
Segundo VALVERDE (1967,p 276) antes mesmo que a rodovia chegasse em Porangatu.
Inicia-se um tremendo fluxo de população para a cidade, que cresceu de 930 habitantes, em 1950, para 2.886 habitantes, em 1960, bem como para as terras florestais das vizinhanças, especialmente as da bacia do rio Santa Tereza, afluente da margem esquerda do Tocantins. Aí, chegaram povoadores de duas categorias sociais: posseiros, vindos de regiões pobres e em crise social, especialmente do Piauí e Maranhão, para abrir roças e iniciarem nova vida; fazendeiros, acompanhados de mateiros, empregados e jagunços, para abrirem invernada.(VALVERDE, 1967, p. 276).
Neste contexto (BRAGA, 1990), destaca a importância da construção da rodovia para o desenvolvimento de cidades no interior do Estado de Goiás.
(...), cidades como Uruaçu e Porangatu tiveram outras origens, mas o seu “ressurgimento”, o seu desenvolvimento deve-se tão somente, à intensificação dos transportes, à rápida comunicação com o sul, o que lhe foi proporcionado pela Belém-Brasília, esta estrada acelerou não apenas o desenvolvimento comercial, mas, como não podia deixar de ser, o social e cultural da região.
A implantação da rodovia provocou uma substancial valorização das terras do Norte de Goiás, estimulando uma corrida à especulação imobiliária nessa região.
Conforme Libâneo (2000):
Uma das
características das transformações pelas quais passa o Brasil hoje é a
intensificação da urbanização. A urbanização é quase a síntese das
transformações econômicas, sociais, políticas, culturais, geográficas, porque a
cidade é hoje a síntese da vida social. Na verdade a cidade é a materialização
das relações sociais, econômicas, culturais.
Com
a construção da rodovia, vários núcleos populacionais aparecem e dentro de
poucos anos adquirem características de centros urbanos. As cidades goianas
servidas pela rodovia se reurbanizaram e passaram a contar com as modernas invenções
do mundo capitalista, como a energia elétrica, o telefone, o telégrafo e outros
que vão contribuir na expansão dos aspectos da vida social, política e cultural
do Estado, bem como adquirir características modernas. Algumas cidades
conheceram com maior ou menor intensidade os efeitos da modernização, alterando
assim seus aspectos físicos e culturais, tais como a arquitetura, a urbanização
e a implantação de serviços de infra-estrutura.
Libâneo afirma ainda que, a concentração cada vez mais densa nas cidades (urbanização) significa transformações, significa que mais pessoas estão tendo acesso à ciência, à tecnologia, à informação, à mudança de valores, significa também intensificação da circulação de pessoas, mercadorias, informações, idéias, símbolos, ou seja, significa repensar a cidadania, as práticas de cidadania atingindo as responsabilidades das escolas.
O surgimento da Belém-Brasília trouxe para Porangatu em 1960 um grande crescimento populacional, proporcionando o desenvolvimento educacional que até então estava inserido em um contexto deficitário em decorrência da falta de recursos físicos e humanos, causados principalmente pelas dificuldades de acesso a outros centros. Estes problemas começaram a ser sanados a partir da pavimentação da rodovia na década de1970 que diminuiu as distâncias entre Porangatu e o restante do país. Pessoas de outras regiões chegavam na cidade, interagindo com os moradores, passando a interferir em sua cultura, impondo novos hábitos, trazendo a modernidade.
As
escolas que antes ofereciam apenas a primeira fase do ensino fundamental passam
a oferecer também a segunda fase e posteriormente o ensino médio e superior.
Professores habilitados vindos da capital dão um significativo impulso
qualitativo à educação do município, iniciando um novo processo de
transformações na vida das pessoas que aqui viviam alterando seus costumes,
hábitos, e toda a estrutura da cidade, que entra em um processo de aceleração
jamais visto. A educação acaba atraindo pessoas de outras regiões, e, conseqüentemente,
ocorre maior desenvolvimento comercial, social, cultural, político, econômico
facilitando o intercâmbio, em termos nacionais: comércio, novos tipos de
trabalho, aumento da oferta educacional, necessidade de trabalho mais
qualificado etc.
Pretende-se,
pois investigar a expansão do ensino em
Porangatu, espaço construído pelo
diálogo de várias culturas, decorrentes do contraste do moderno com o
tradicional. A Rodovia Belém Brasília
por representar fruto do moderno no país, e em Goiás será o ponto inicial deste
trabalho. Pois foi a sua construção que encurtando as distâncias favoreceu as
mudanças no processo educativo.
O
andamento da pesquisa envolve:
Estudo
e produção de referencial teórico sobre o tema modernidade e modernidade em
Goiás; entrevistas que encontram-se em fase de transcrição e analise; levantamento de fontes escritas; definição e
organização dos capítulos da dissertação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARREIRA, Celene Cunha M. Antunes. Região da Estrada
do Boi: Usos e abusos da natureza. Goiânia: UFG, 1998.
BORGES, Barsanufo Gomide. O despertar dos
dormentes: estudo sobre a Estrada de Ferro de Goiás e seu papel nas
transformações das estruturas regionais – 1909-1922. Goiânia: CEGRAF, 1990.
------------ A Rodovia Belém Brasília e a
Integração do Norte Goiano; mimeo.
BRAGA, Ana. A Comunicação no Médio Norte Goiano,
Goiânia, Ed. Oriente, 1973.
CHAUL, Nasr N. Fayad. A Construção de Goiânia e
a Transferência de Capital. Goiânia, Centro Editorial e Gráfico de UFG, 1988,
(Coleção Documentos Goianos. 17).
------------Caminhos de Goiás: da construção da
decadência aos Limites da Modernidade Goiânia: ed, da UFG, 1997.
DIAS, Catarina Vergolino e VALVERDE, Orlando. A
Rodovia Belém Brasília, Estudo de Geografia Regional, Rio de Janeiro, Fundação
IBGE, 1967.
GOMES, Luís Palacin et al. História de Goiás em
Documentos, Goiânia, Ed. UFG,1994.
LIBÂNEO, José C, O processo de ensino na escola,
ib., p.77-100. (Mimeo)
------------- A Urbanização, Escola e Currículo
2000.p 1-4. Rascunho, (Mimeo)
(ESQUEMA
DO POSTER)
A MODERNIDADE E SEUS REFLEXOS NA EDUCAÇAO EM PORANGATU –1960-2000
PROBLEMA: Qual a influência da modernidade nas transformações educacionais surgidas em Porangatu partir da década de1960?
JUSTIFICATIVA: Faz-se necessário conhecer e analisar a importância da construção da Rodovia Belém-Brasília para a expansão do ensino em Porangatu.
OBJETIVO: Contextualizar o surgimento da Rodovia Belém-Brasília e
perceber seus reflexos na educação em
Porangatu a partir da década de 1960.
METODOLOGIA: Através do resgate da memória local (história oral) está sendo realizado um estudo qualitativo enfatizando as mudanças na educação surgidas com a introdução da modernidade (Rodovia Belém - Brasília) em Porangatu. A coleta de dados baseia-se em de entrevistas, observações e documentação.
ANDAMENTO DA PESQUISA: Envolve situações articuladas entre si:
Estudo e analise de referencial teórico sobre os temas Modernidade e Educação;
Levantamento de fontes escritas;
Entrevistas: em fase de transcrição e análise;
RELEVÂNCIA: Os reflexos da modernidade em Porangatu, através da construção da Rodovia Belém-Brasília dará, um novo enfoque na história local capazes de preencher as lacunas das fontes escritas existentes sobre a educação, bem como colocar novos elementos à disposição dos interessados na leitura da sociedade.
Mestranda: Edna Lemes Martins Pereira Universidade Católica de Goiás.
Orientadora: Dra. Profª Maria Helena de Área: Ciências Humanas
Oliveira Brito. Sub área: Educação
PEREIRA, Edna Lemes Martins. Universidade Católica de Goiás.)
Email: edna.lemes@brturbo.com
Neste trabalho que tem como objetivo contextualizar os reflexos da modernidade na história da educação em Porangatu – 1960-2000 e perceber como as transformações modernas, passam a interferir em novas áreas até então isoladas e periféricas. Partindo de relatos sobre a cidade de Porangatu-Go, a partir da década de 1960, pretende-se discutir como a construção da Rodovia Belém-Brasília vista aqui como um fator da modernidade, passa a interferir e contribuir no desenvolvimento educacional da cidade.