HISTÓRIA ORAL: RESGASTE DAS BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA

 

Adriana Assis Leão Silva - CAJ-UFG

Camila Kruk Silva Lima- CAJ-UFG

Fabiane Fernandes Miranda - CAJ-UFG

Miriam Rodrigues Silva Assis - CAJ-UFG

Zenilda Maria de Sousa Paniago - CAJ-UFG

Orientador: Prof.º M.Sc. Alípio R. de Sousa Neto - CAJ-UFG 

 

 

INTRODUÇÃO

 

No transcorrer das décadas de 70/80, o ensino História ennen   de História passou por diversas transformações. Os conhecimentos escolares da disciplina passaram a ser repensados pelos educadores dos diversos níveis do sistema educacional e redefinidos em diversos projetos curriculares. Esses projetos sofreram forte influência dos debates travados entre os historiadores, que voltaram as suas atenções para novas temáticas de estudo.

Esses debates e estudos repercutiram no ensino da História, na medida em que proporcionaram aos educadores o questionamento da História Tradicional e a busca de projetos curriculares alternativos que incorporassem ao ensino as novas contribuições da Historiografia.

O Brasil já não era o mesmo, havendo a necessidade de se repensar a educação como instrumento de luta pela democracia, de luta contra as desigualdades sociais. Nesse sentido, a educação de uma forma geral, e o ensino da História, de forma particular, passaram a ter um papel diferente do período ditatorial, objetivando a formação de cidadãos reflexivos e críticos, capazes de analisar, questionar, problematizar, contribuindo para o processo de transformação  da sociedade na qual vivem, se engajando na luta pela melhoria das condições de vida das gerações atuais e futuras. Para que esse objetivo se efetive é necessário o indivíduo se reconhecer como  agente transformador desta realidade, valorizando sua identidade perante o grupo, conhecendo seu passado através das gerações anteriores e  reconhecendo, no presente, características destas gerações.

Esse trabalho tem a preocupação de resgatar a identidade de indivíduos por meio do diálogo com o passado, possibilitando, desta forma, uma melhor compreensão do presente, entendendo-o como uma construção histórica, produzida por seres humanos que, através de diversas formas de manifestação, nos legaram uma herança.

Nesse trabalho, optamos por desenvolver o tema “BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA” utilizando como recursos metodológico entrevistas, observação de brincadeiras e pesquisas bibliográficas. Nossos entrevistados representam várias gerações (bisavôs, avôs, pais e filhos) que viveram (ou vivem a infância) em espaços diversos (zona rural e zona urbana).

 

AS BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA

 

Além de resgatar parte de nossa história, por meio da oralidade, os resultados desse projeto poderiam servir ainda, caso haja interesse, como subsídios didáticos na disciplina de História no Ensino Fundamental ou até mesmo para incentivar outros educadores a fazerem o mesmo com seus educandos. Sobre a oralidade, em FERREIRA e AMADO (2001), encontramos uma importante citação de Cruikshank citando Cohen (1989) : 

(...) a tradição oral (...) para a maioria das pessoas, (...) não é um conjunto de textos formais: é uma parte viva, vital da vida. ‘O conhecimento do passado não são aqueles remanescentes mortos e quase mortos de uma cultura oral passada, transmitidos por estreitos canais de geração a geração, mas está relacionado com a inteligência crítica e a utilização ativa do conhecimento. (p. 159)

 

Ao resgatar as brincadeiras de infância esse projeto constituiu-se em estudos do meio realizado de maneira parcial. Nesse sentido, NILDECOFF (1998), ao tratar dos estudos do meio afirma que eles podem acontecer  de forma integral ou parcial. E considera como estudos parciais: 

(...) somente o estudo de um problema ou de um aspecto do meio. Por exemplo, investigar:

         Como nossa população se abastece de gêneros alimentícios?

         Onde trabalham os habitantes de meu bairro?

         Como são as casas do meu bairro?

Ou então: o estudo de uma fábrica, de um estabelecimento rural, de alguma obra pública. (...) Pode-se também fazer trabalhos de alcance ainda mais restrito. Por exemplo: reportagens com moradores antigos, com trabalhadores, donas de casa, fornecedores, etc.; pesquisas, observações de um determinado lugar, etc. Estes estudos parciais são considerados como uma finalidade em si, independentes, ou então integrados em uma Unidade de Trabalho, em relação com o problema mais amplo que tal Unidade executa. (p. 13-4)

 

Ao realizar a pesquisa empreendida procuramos abranger várias gerações para que assim conhecêssemos “mais de perto” como viveram as gerações antepassadas e também para que tivéssemos maior quantidade de elementos a serem analisados, com relação às brincadeiras. Tínhamos a intenção de perceber mudanças e permanências, semelhanças e diferenças nas brincadeiras de hoje e nas de antigamente, ou seja, em tempos e espaço diferentes.

Centramos o foco de nossa pesquisa nos seguintes aspectos: perfil dos entrevistados: idade, quantidade de filhos e netos, local em que viveu sua infância: zona rural ou zona urbana, e mais especificamente na visão e os tipos de brincadeiras da época, e o brinquedo que gostariam de ter ganhado.  

A faixa etária dos entrevistados de todas as gerações varia entre 5 a  87 anos, sendo que a maioria viveu suas infâncias na zona rural. As brincadeiras aqui apresentadas   variam do período compreendido entre a década de 20 aos dias atuais representado portanto, 83 anos de história.

Alguns dos resultados encontrados referentes às brincadeiras foram:

GERAÇÃO

VISÃO DAS BRINCADEIRAS E BRINQUEDOS DA ÉPOCA

 

BRINQUEDO QUE GOSTARIA DE TER GANHADO/DEPOIMENTOS

Bisavôs

Os bisavôs, em sua maioria, alegaram que quase não tinham acesso às brincadeiras e se referiram mais às necessidades de trabalhar – tanto para auxiliar os pais na subsistência da própria família, quanto porque fazia parte de suas rotinas. E quando brincavam, seus brinquedos eram construídos por eles mesmos, como por exemplo, bonecas de pano.

 Das brincadeiras da época destacam-se: estilingue, viagens de carro-boi, bet, queimada, amarelinha, jogos estudantis, matinês dançantes, boneca de mamona, cavalo de pau – feito dos ramos do pé de mandioca.

“(...) nunca fui envolvida com brinquedos, mas o que eu queria mesmo era ter estudado para hoje poder ler e não ter que bater o dedo nos documentos. Isso é muito triste até minha aposentadoria é outra pessoa que recebe pois acho aqueles botões complicados demais”.

 

Avôs

Os avôs, já tiveram mais contato com brincadeiras, alguns construíam seus próprios brinquedos, outros compravam, todos disseram que essas brincadeiras eram em horas vagas, nas quais descansavam dos momentos de trabalho rotineiros.

As brincadeiras mais presentes nessa geração foram: peteca, queimada, amarelinha, pique e pega, de esconder, chicotinho queimado, cantigas de roda, bonecos e carrinhos diversos, casinha, carrinhos de boi feitos de frutas de época e estilingue. Além dessas brincadeiras, alguns consideravam tomar banho nos rios como brincadeiras e em casos particulares falaram em: pegar vaga-lume, cobra cega, cavalinhos  de cabos de vassouras, carrinho de óleo e barbante e finalmente, finca.. Citaram também brincadeira de gesto onde a criança tinha que declamar e ao mesmo tempo realizar gestos correspondentes.

Bicicleta e boneca que “virasse os olhinhos” conta inclusive que “(...) a primeira boneca que ganhou e fechou os olhinhos foi seu filho que teve com apenas 16 anos”.

 

Pais

Os pais viam brincadeiras de forma um pouco diferenciadas das gerações anteriormente citadas. Nessas gerações já existiam mais brinquedos industrializados e os trabalhos eram menos intensos.

Permanecem alguns brinquedos construídos: perna de pau, o estilingue, as bonecas de pano, a peteca, as brincadeiras com versos, a queimada, a  amarelinha, banhos nos rios  e muitos outros. Surgem nessa geração o futebol, o biloquê, cantinho do vizinho, ping-pong, dominó, bingo, pique esconde, carrinho de rolimã, bicicleta, boliche, baliza.   

 

 

(...) ganhávamos brinquedos industrializados mas o que gostávamos mesmo era de aventura, no final da tarde reuníamos (todos os primos) e íamos inventar o que fazer. Das invenções destaco o rancho flutuante para pescar no rio – a cobertura era feita de palha de buriti. Carrinho construído com a palha do coco, carruagem com rodas de loba (fruto da lobeira), e com os pneus velhos de trator fazíamos carrinhos. Colocávamos uma criança dentro do pneu e a soltávamos ladeira abaixo, a brincadeira só terminava quando o pneu caía por conta própria e a criança saia de lá dentro meio tonta abanando a poeira. 

A maioria das mães entrevistadas disse que gostaria de ter ganhado  na infância bonecas.

Filhos

Muitas diferenças neste período de vida foram percebidas nas formas de ver as brincadeiras das gerações anteriores. As crianças e os adolescentes, de hoje, se referem quase exclusivamente a brinquedos industrializados e de tecnologia avançada (como computador, vídeo game, televisão, etc.)

Brincam de: boneca, bicicleta, barraquinha do Sítio do Pica-Pau Amarelo, patinete, pular corda,  fazendinha, figurinhas de balinha,  espadas, basquete, computador, skate, jogar bola, pique-esconde e pique-pega.

(...) gostaria de fazer melhorias no computador (mais ram, mais um HD, uma webcam, etc), um laptop ou um PDA (palm por exemplo), um game boy advanced (vídeo game de mão), uma tela portátil par meu ps2, uma bateria para o ps2, etc. Isso apenas o que eu gostaria de ter, mas sei que isso não é possível e sou feliz com o que tenho, apesar de sempre lutar por mais. 

Outros filhos entrevistados disseram que gostariam de ganhar: um autorama, um computador, bebê da estrela e um skate.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as entrevistas outros elementos foram sendo acrescidos à nossa temática pois, a maioria dos entrevistados ficou satisfeita com a possibilidade de resgate do passado e falavam dos diversos aspectos de suas vidas.

Assim, seus depoimentos nos possibilitaram acrescentar em nosso banco de dados características referentes a: relação conjugal, ao mundo do trabalho, a situações específicas vivenciadas pelas  mulheres, moradia (como eram construídas as casas), manifestação cultural, meio de transporte, hábito alimentar, educação escolarizada, dentre outros aspectos.

Quanto às brincadeiras ficou explícito que nas gerações dos bisavôs e avôs os filhos ajudavam seus pais no trabalho cotidiano tendo como principal objetivo à subsistência do grupo, sendo que estas gerações quase não vivenciaram momentos de brincadeiras.

A geração dos pais, participou do mundo do trabalho de seus familiares com menor intensidade e tiveram mais contato com as brincadeiras do que seus antepassados.

Já a geração atual não se referiu ao mundo do trabalho e participam de um período determinado pelas inovações tecnológicas, mal conhecem as cantigas de roda, a maioria nunca confeccionou um brinquedo e passam a maior parte de seu tempo assistindo programas televisivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História, Geografia. Brasília: 1997. v. 5. 166 p.  

 

FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína.Usos & abusos da história oral.4. ed.Rio de Janeiro:Fundação Getulio Vargas, 2001.

 

NIDELCOFF, María Teresa. A escola e a compreensão da realidade: ensaio sobre a metodologia das ciências sociais. São Paulo: Brasiliense,1998. 103 p. (Tradução: Marina C. Celidônio)

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Guia para apresentação de trabalhos monográficos na UFG. Goiânia: Ed. UFG, 2001.

 

Apresentação.ppt

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