Histórias de festas e
religiosidades populares: uma proposta para a pesquisa e o ensino através da
coleção Histórias de Goiás.
Mônica Martins da Silva[1]
A coleção de paradidáticos Histórias de Goiás é uma novidade recente no mercado editorial que prima pela originalidade na escolha de temas e abordagens sobre a história regional. Esta coleção surgiu no ano de 2002 a partir de diferentes pesquisas realizadas na Universidade Federal de Goiás por alunos do curso de mestrado em história nos mais diversos temas envolvendo os campos da história política, social e cultural. O resultado foi a organização de seis volumes temáticos que buscaram adaptar a linguagem formal e científica da academia para alunos de ensino fundamental e médio a fim de proporcionar outras fontes de leitura sobre a história de Goiás uma vez que, apesar do crescimento expressivo sobre as pesquisas em história regional, as fontes são ainda os clássicos textos escritos nos anos de 1970. Houve a preocupação em explicar não somente a inserção da história de Goiás no contexto nacional mas, explorar as múltiplas temporalidades dessas histórias bem como as especificidades de Goiás em diferentes aspectos importantes de sua trajetória.
Pretende-se, aqui, apresentar a proposta de um dos volumes desta coleção que se preocupou em discutir a história de festas e religiosidades em Goiás. Este é o volume nº quatro e foi o único escrito por duas autoras: Mª Socorro de Deus e Mônica Martins da Silva, ambas pesquisadoras sobre o tema com importantes trabalhos realizados neste campo. Este volume procurou condensar um pouco das experiências das autoras em suas pesquisas bem como ampliar a proposta de trabalho. O resultado foi um compacto estudo que buscou apresentar uma painel sobre os principais elementos da religiosidade popular católica em Goiás. E, a partir de agora passa-se a fazer uma análise da experiência em produzir este material bem como a discussão dos métodos e conceitos aplicados para em seguida apresentar os limites e possibilidades didáticas desse livro.
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Sou pesquisadora sobre festas e religiosidades populares há oito anos, e também professora do ensino fundamental e superior, e tenho percebido inúmeras possibilidades de problematização dos estudos sobre cultura a partir da percepção da pluralidade de experiências evidenciadas a partir das festas. Tenho percebido também que apesar da grande dinamização desses estudos no campo do ensino fundamental e médio a disciplina história, mesmo com todas as aberturas ocorridas nas últimas décadas, ainda pouco valoriza as experiências imateriais da vivência humana; por que homens e mulheres crêem? Quais as histórias dessas crenças? Porque o universo religioso sobretudo católico é repleto de festas, porque muitas festas não existem mais? Por que surgiram muitas outras festas? O que é tradição? Porque pessoas se fantasiam de reis, embaixadores, juízes, rainhas, princesas de uma nobreza divina e mítica para comemorar os seus santos? Essas são algumas questões que se procura levantar a partir do livro História das festas e religiosidades em Goiás a fim de problematizar a noção de história, inserindo outras categorias para se pensar as ações humanas.
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O estudo das festas vêm se consolidando no campo historiográfico, sobretudo, nas últimas três décadas e avançando na inclusão de novos problemas, novos cortes temporais e novas perspectivas de análise. É relevante citarmos a importância da historiografia francesa nesse processo de consolidação dos estudos sobre festas pois, o interesse pelos rituais públicos tem uma referência importante na obra de Marc Bloch[2] sobre os reis Taumaturgos publicada na França em 1924, reeeditada em 1983 e traduzida no Brasil em 1993. A partir daí, a nouvelle histoire e a sua história problema, passando por Braudel e a sua história total até a década de 1970, com a pulverização dos estudos históricos e a difusão dos estudos sobre mentalidades que compuseram um campo de análise específico com uma abordagem mais antropológica, temos uma maior valorização dos aspectos da vida cotidiana e imaterial. O que se segue nesse processo é a pulverização desse campo de estudos, como afirmou Vainfas[3], em um novo campo mais consistente chamado de história cultural. Assim temos uma trajetória interessante de estudos que são hoje referências para se pensar a cultura popular, as religiosidades e as festas que ganham força nesse contexto de pesquisas. O trabalho de Mona Ozouf[4] é também uma outra referência importante para a consolidação desses estudos, pois, ao se preocupar com a festa e a sua relação com a revolução francesa, abriu novas perspectivas para o estudo da política a partir daí também dimensionada nos aspectos simbólicos e rituais, bem representando o que Michel Vovelle[5] apresentou como uma importante momento de mudanças no campo historiográfico com a redescoberta da festa pela historiografia francesa no bojo do movimento de maio de 1968. Obras como a de Le Roy Ladurie[6] apresentam outras possibilidades de análise para as festas a partir da análise do carnaval antigo, assim como os estudos de Jacques Heers[7], linha temática consolidada com o trabalho do russo Bakhtin[8] que entre outros aspectos redefiniu o conceito de cultura popular ao inseri-la dentro da discussão de circularidade cultural. No âmbito específico ao qual se relaciona esta proposta de pesquisa destacamos uma importante coletânea publicada na França por Pierre Nora nos anos de 1990 na qual as festas, a memória, o patrimônio e as celebrações coletivas são objeto de reflexão relevante[9]. Nos anos de 1970 e 1980, temos outras contribuições importantes fora da academia francesa como os estudos de micro-história de Carlo Ginsburg que ora contribuiu para dimensionar o conceito de circularidade cultural com o Queijo e os Vermes[10] como também difundiu os estudos sobre feitiçaria[11] e das práticas do sabá. Na historiografia anglo-saxã as pesquisas sobre cultura popular ganharam reforço com as obras de Thompson[12] e Burke[13] bem como com as pesquisas da historiadora americana Natalie Zemon Davis[14].
No
Brasil, todas essas mudanças começam a repercutir a partir das décadas de 1980 e 1990 com a tradução de
várias dessas obras e a influência paulatina em vários programas de pós-graduação[15]
nos quais tem havido um aumento
considerável no campo de estudos sobre as festas e religiosidades. Uma
averiguação rápida nos anais da ANPUH nos últimos dez anos dá uma indicação
dessa mudança pois, as pesquisas
envolvendo as experiências imateriais relacionadas ao sagrado, ao gestual, ao
simbólico multiplicaram-se de uma forma surpreendente. Outros exemplos dessa
difusão são os diversos congressos temáticos envolvendo as festas, como o VIII congresso Internacional sobre Festas
realizado em 1992 em Lisboa que reuniu inúmeros pesquisadores luso-brasileiros
na discussão de diferentes temáticas e um grande evento organizado pela USP em
1999[16] no contexto das comemorações dos 500 anos do
descobrimento, com o título: Festas: Sociabilidades na América Portuguesa que resultou numa grande coletânea de artigos que revela que as opções de estudo de festas
tem transitado por perspectivas diversas ora sobre o controle público ou
eclesiástico sobre esses festejos, ou por análises mais etnográficas nas quais
o diálogo com a antropologia se reforça.
Outro exemplo é uma sequência de simpósios sobre história das religiões
e religiosidades realizadas anualmente desde 1999 com organização da UNESP e
dos encontros anuais do CEHILA/Brasil, grupo já consolidado no estudos das
religiosidades cristãs, bem como
encontros regionais como o XXVI Simpósio Nacional do CEHILA cujo tema foi Religiosidades, Misticismo e História no
Brasil Central que acabou dando origem a uma coletânea de textos muito
interessante[17], II simpósio
regional desse grupo: Vivências do Sagrado no Centro-Oeste realizado na cidade
de Goiás o último ocorrido em 2003: Religiosidades;
utopias e resistências.
Todo esse cenário esboçado demonstra como tem se tornado frutífero o campo de estudos sobre as festas, tanto pela possibilidade de um diálogo teórico pertinente como pelas inúmeras opções metodológicas alargadas pela história cultural. Contudo, percebe-se que ainda há muito para se fazer. Em Goiás, apesar do crescimento notório no campo de estudos sobre religiosidades, como na maioria do país, poucas pesquisas concluídas têm as festas como objeto de estudo. Os trabalhos, na sua maioria, têm privilegiado o estudo da história da Igreja católica, seu processo de afirmação na história goiana e suas diretrizes normatizadoras sobretudo durante o processo de romanização[18] e estudos sobre movimentos internos à própria igreja como a Renovação Carismática[19]. Diversas pesquisas sobre o campo religioso são constantemente publicadas na revista Fragmentos de Cultura criada nos anos de 1980 pela Universidade Católica de Goiás que multiplicou esse número a partir da criação recente do mestrado em Ciências da religião. Na antropologia, temos a maioria dos estudos sobre festas em Goiás e nesse caso podemos novamente citar Carlos Rodrigues Brandão e Sidney Valladares[20]. No mestrado em história da UFG há talvez uns dos poucos trabalhos produzidos dentro das atuais preocupações da história cultural.[21].
O livro História das festas e religiosidades em Goiás é parte dessa história esboçada e, certamente traz algumas novidades na linguagem comumente utilizada no ensino de história uma vez que pouco se trabalha ainda com o conceito de cultura popular. O próprio conceito de cultura, em toda a sua elasticidade tem tido uso restrito e, normalmente tem se utilizado ainda o velho conceito de folclore que por sua vez carrega toda uma gama de significados implícitos e explícitos que atualmente os estudos de história cultural procuram desconstruir. É comum chamarmos as manifestações culturais de um povo de folclore, mas esse termo nos dá a idéia de cultura presa a um passado que precisa ser conservado. Por isso preferimos nos referir a esse conjunto de práticas apenas por culturas. É impossível conservarmos as nossas manifestações exatamente como no passado, pois nós, seres humanos e sociais, recriamos nossos hábitos a cada dia: inventamos palavras, fazemos moda, reinventamos nossas tradições e recriamos nossas festas.
Procura-se demonstrar que a cultura também tem uma história e para isso indaga-se: Será que é possível saber da origem deste conjunto de hábitos que as pessoas possuem, como o de rezar para um santo, fazer uma promessa, ir a uma romaria, participar de um pouso de folia, de uma dança ou de uma novena? Infere-se: Se perguntarmos a elas, vão nos responder que aprenderam com os pais, com os avós ou com algum outro antepassado, mas nem sempre conseguirão nos explicar sua origem, daí é possível concluir que muitos desses hábitos são tão antigos e tão comuns que nem é possível datá-los e esse conjunto de hábitos que aprendemos através das gerações, chamamos de tradição. Porém, procura-se demonstrar que essas tradições não têm um forma única. Cada cidade, sociedade ou família possui as suas próprias tradições, e, como são repassadas por pessoas diferentes para épocas também diferentes são modificadas, adaptadas e recriadas. Uma vez que a cultura muda, assim também muda a sociedade em que se vive, e, se continuamos a repetir gestos e costumes do passado, eles vêm sempre com uma cara nova, com novas palavras, novas cores e novos sentidos.
No livro apresentado, o uso do conceito “cultura popular” apesar de toda a sua complexidade[22] está implícito na abordagem das múltiplas experiências do catolicismo festivo em Goiás e pode ser o início do trabalho com essa conceituação de pluralidade a partir das várias expressões de crenças com romarias, procissões, novenas, oferendas numa representação mais clássica daquilo que se convencionou chamar de sagrado e também barraquinhas, fogos, banquetes e danças chamados de elementos profanos. No livro é demonstrado como no universo popular, e não só nele, esses elementos estão em profunda simbiose de tal forma que a definição do que é sagrado ou profano seja uma tênue linha invisível.
Procura-se também, em alguns momentos, estabelecer um diálogo com o aluno de modo a conduzir uma reflexão sobre por que de tantas festas populares. Certamente nas cidades maiores como Goiânia, por exemplo, essas experiências estejam pulverizadas entre alguns grupos bastante particulares como os grupos de Congada de ex-moradores de Catalão e o giro da bandeira do Divino entre moradores da antiga Vila Boa de Goiás, porém as notícias e imagens sobre essas festas são conhecidas de todos e como as experiências humanas são circulares, certamente já ouviram falar de um pouso de folia, de alguma festa em homenagem a Nossa Senhora D’Abadia, São José, São João, Divino Espírito Santo, já rezou ou viu alguém rezar um terço, fez alguma promessa ou conhece alguém que fez, já ouviu falar em alguma procissão perto de sua casa, ou quem sabe já ouviu alguma dessas histórias de seus pais ou avós. Se não, certamente já viu ou ouviu os foguetes, as “bombinhas”, o hasteamento de mastros, barraquinhas, já saboreou docinhos, broas de milho ou pãezinhos distribuídos em alguma festa popular.
Procura-se demonstrar que as festas fazem parte da história de todos nós e abre-se a possibilidade de pensar as utopias e representações coletivas presentes nessas festas como os foliões de reis e do divino, a variedade de personagens de uma realeza divina como imperadores do divino, rei dos cristãos, rei dos mouros, capitão do rosário, embaixadores, entre muitos outros personagens criados e recriados na tradição popular. Possibilita-se, a introdução a um complexo mundo de representações culturais simbólicas que expressam elementos de identidade, memória, tradição além do diálogo com experiências de outros tempos e lugares. É possível demonstrar, por exemplo, que muitas das festas que existem hoje já existiam no passado seja no Brasil Colônia ou Império seja nos reinos ibéricos medievais ou açorianos, cada um com os seus sentidos particulares e específicos, próprios de seu tempo.
Estudar as festas remete a um diálogo com a imaterialidade da experiência humana: o riso, os sonhos, as utopias e as representações de diferentes grupos. As festas são importantes elementos da cultura de um povo, pois, através delas, os grupos apresentam as suas histórias, suas danças, seus ritmos. Geralmente são uns dos poucos momentos de lazer de algumas sociedades, e é nelas que as pessoas se encontram, revêm amigos, têm seus namoros, reencontram parentes distantes, compram roupas novas, vão à feira, bebem e dançam um pouco mais.
A abordagem histórica do livro tem como objetivo demonstrar que toda a pesquisa feita está baseada em fontes históricas e abre-se a possibilidade de repensar o conceito de fonte, já tão debatido desde a história nova francesa, mas ainda em construção. É certo que a pluralidade na noção de fonte histórica já existe dentro das discussões do ensino de história a muitos anos, porém as noções acabam contemplando aquelas que comumente aparecem nos livros didáticos. O estudo das festas populares possibilita perceber várias possibilidades de fontes de pesquisa para as sociedades e suas culturas. E, na experiência em estudar Goiás pôde-se vislumbrar algumas dessas possibilidades como as crônicas de viajantes europeus que estiveram em Goiás no início do século XIX como Emanuel Phol e Saint-Hilaire e que teceram inúmeras considerações sobre as festas populares em Goiás, abriu-se também a possibilidade para fontes privadas como o diário de Ana das Dores e Ana Joaquina, moradas da província de Goiás no século XIX e que em seus diários dão um espaço relevante para narrar o cotidiano das festas, têm-se também a possibilidade de referência a uma ampla imprensa escrita em Goiás na segunda metade do século XIX com notícias de festas em todas a província, têm-se também a possibilidade de diálogo com narrativas do século XX como a do folclorista Câmara Cascudo e as múltiplas definições para o folclore brasileiro, e também outras fontes como a revista folclórica que circulou em Goiás entre a década de 1970 e 1980 e também as fontes religiosas como a s várias crônicas redentoristas de Goiás, relatórios de novenas, compromissos da Irmandades, entre muitos outros.
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O livro Histórias das festas e religiosidades em Goiás trabalho procurou interpretar parte da experiência festiva católica em Goiás a partir de alguns elementos mais conhecidos procurando porém evidenciar que cada experiência é particular a cada grupo, cidade ou sociedade aonde é realizada. E, que a importância de uma determinada festa deve ser atribuída à sua particularidade.
A primeira festa discutida no trabalho é a festa do Divino Espírito Santo, uma das mais importantes do calendário católico no período colonial e imperial e uma evento recorrente na maioria das cidades goianas até o início do século XX. No livro evidenciou-se a festa do Divino de Pirenópolis, uma das maiores atualmente e ali temos características comuns a outras festas do divino de outras cidades: a presença do imperador, os fogos, a grande distribuição de comida, pãezinhos, doces, entre muitos outros eventos.
Apresenta-se também a pluralidade do culto a Maria, papel representado pela Virgem Maria, mãe de Jesus, que foi povoado por uma forte imaginação em todo o país. Costumou-se chamar as imagens e estampas representadas pela Virgem Maria de Santa ou de Santinha, criando-se assim, uma espécie de relacionamento muito próximo. Têm-se também as várias atribuições a Maria: Nossa Senhora do Bom Parto, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro ou da Piedade, Senhora da Boa Morte, entre outras.
Outra manifestação muito recorrente refere-se à festa de Nossa Senhora do Rosário na qual há uma variedade de ritos aplicados para a homenagem à Senhora do Rosário: novenas, procissões, Congadas, Cavalhadas.. Variadas também são as cidades que comemoram essa infinidade de festas: Goiás, Pires do Rio. Anhangüera, Caiapônia, Luziânia, Jaraguá, Catalão, entre outras. Em Catalão, acontece uma das festas de Nossa Senhora do Rosário mais populares de Goiás. É uma das festas que mais envolvem pessoas. Nas cidades onde a Senhora do Rosário é festejada há missas, novenas, leilões e procissões. Há ainda as apresentações alusivas ao mês de maio, data da libertação dos escravos: congos, moçambiques, tapuios e folias. As festas do Rosário acontecem sobretudo em maio e outubro, contudo, esta data não é fixa, pois trata-se de uma festa móvel.
Têm-se também a abordagem da festa dos Santos: a festa de São Sebastião, a Festa de Santana: Santana, a festa de São Gonçalo que é festejado no dia 10 de janeiro. É o padroeiro dos violeiros e das mulheres que querem se casar. A principal atração desta festa consiste na riqueza de sua dança, a roda de São Gonçalo. Santa Luzia é outra santa bastante homenageada, sobretudo nas rezas e novenas. Luzia é a santa protetora da visão ou “da vista”, como dizem. Na cidade de Posse, colocam-se velas em todas as janelas das casas residenciais durante a procissão. Têm-se também os santos Juninos: Santo Antônio, São João e São Pedro são festejados com fogueira, bandeirolas, quadrilhas, barraquinhas e comidas típicas.
As Festas da Semana Santa são também abordagens e nesse caso faz-se uma referência mais direta à de Vila Boa de Goiás com um evento bastante peculiar que é a procissão do fogaréu. Contudo demonstra-se que outras semanas santas acontecem em outros lugares.
O estudo das romarias também é relevante neste trabalho e nesse caso fez-se referências à Romaria de Trindade que teve início por volta de 1850 e a Romaria do Muquém que ocorre numa região completamente desabitada, nas proximidades da cidade de Niquelândia, a 300 quilômetros de Goiânia.
Procura-se também demonstrar que dentro de cada festa acontecem muitas outras festas e algumas ganharam até uma dimensão maior do que a festa mais antiga. E o caso da cavalhada que em Goiás acontece normalmente nas festas do Divino e em Pirenópolis ganhou uma dimensão maior. Têm-se também as folias que em geral tem o papel de angariar fundos para outras festas mas que tem os seus próprios rituais e a os seus momento de celebração particulares. Têm-se a explicação das histórias das congadas e várias danças do cancioneiro popular que não existem mais como a Dor de Canela, o batatão, o marimbondo, o Cururu, a candeia e outras que ainda são praticadas como o vilão, a catira, o Tapuio e as quadrilhas.
Têm-se portanto, a partir daí, os elementos a partir dos quais pretende-se debater e problematizar a noção de cultura no ensino de história.
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[1] Mestre em História pela UFG e professora da SME/Goiânia. Atualmente leciona didática e prática em ensino de história na UEG/ UnU Cora Coralina e é doutoranda em história cultural pela UnB.
[2] BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos. São Paulo: Cia das Letras 1993.
[3] VAINFAS, R. Da História das Mentalidades à Nova História cultural. In: Domínios da História. Rio de Janeiro, Campus, 1997.
[4] OZOUF, Mona. "A Festa: Sob a
Revolução Francesa" . In: Le Goff e Nora, História: Novos objetos. Rio de Janeiro, Francisco Alves,
[5] VOVELLE, Michel. Ideologias e Mentalidades. São Paulo, Brasiliense, 1987.
[6] LADURIE, Le Roy. O Carnaval de Romans. São Paulo, Cia das Letras, 2002.
[8] BAKHTIN, M. BAKHTIN, M. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: O contexto de Rabelais. São Paulo, Edunb, 1996.
[11] ________________ . Mitos, Emblemas, Sinais. Trad. São Paulo, Cia das Letras, 1989 & Historia Nocturna. Uma decifração do Sabá. Lisboa, Relógio D’água editores, 1995.
[12]THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo, Cia das Letras, 1998.
[13] BURKE,
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Moderna. São Paulo, Cia das Letras, 1989.
[14] DAVIS, Natalie Zemon. Culturas do Povo. Sociedade e cultura no
início da França moderna. (coleções oficinas da História) Rio de janeiro,
Paz e Terra, 1990.
[15] Esse processo tem sido marcado por um número crescente de pesquisadores que desde Roberto da Matta e o seu já clássico Carnavais, malandras e heróis, têm se ocupado em entender diferentes dimensões da festa brasileira seja no período colonial ou no império, nas tradições carnavalescas, na etnografia histórica dos rituais africanos ou nas paradas públicas oficiais.
[16]
JANCSÓ, István & KANTOR, Iris. Festa:
Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa. (2 volumes). São Paulo, Imprensa Oficial/ Hucitec/ Edusp/ Fapesp,
2001.
[17]
COUTINHO, Sérgio Ricardo (org.) Religiosidades,
Misticismo e História no Brasil Central. Brasília, (CEHILA), 2001.
[18]
Exemplos dessa produção historiográfica são: SANTOS,
Miguel Archângelo Nogueira dos. Missionários
Redentoristas Alemães em Goiás. Uma Participação nos Movimentos de Reforma e
Restauração Católicas. (1894-1944) vol I São Paulo, USP, Tese de Doutorado,
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[19]SILVA, Mª Conceição. Hegemonia e Poder. História da R. C. C. em Goiânia. Goiânia, Kelps, 2001.
[20] PIMENTEL, Sideney Valadares. O Chão é o Limite. A Festa do Peão de boiadeiro e a domesticação do sertão. Goiânia, UFG, 1997.
[21] DEUS, Mª
Socorro. Romeiros de Goiás: História da
Romaria de Trindade no século XX. Goiânia, UFG, dissertação de mestrado,
(Mimeo), 2000 e SILVA, Mônica
Martins da. A Festa do Divino.
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Dissertação de Mestrado,(mimeo), UFG, Goiânia, 2000.
[22] Uma boa discussão sobre as problemáticas do conceito de cultura popular podem ser encontradas em um interessante artigo de Martha Abreu: Cultura Popular: um conceito e várias histórias. In: ABREU & SOIETH (orgs) Ensino de História: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003. p.83-102.