ENSINO DE HISTÓRIA: A DIDÁTICA E A PESQUISA

 

                                                                                                        Roseli Martins Tristão           

 

 

O presente texto discutirá, o processo de definição do ensino de História, entendido concomitantemente como prática educativa e como um campo de pesquisa das Ciências Humanas. Abordaremos os consensos e adversidades tecidos nos muitos combates pelo ensino da História travados no decorrer das décadas de 70 a 90 do século XX, que acabou gerando novas propostas metodológicas para o ensino e a pesquisa em História, como condições inovadoras na formação de profissionais da área. Destacando, pesquisa e prática educativa para o ensino de História como elementos interdependentes. Daremos ênfase para década de 1990, momento em que, no Brasil, as propostas pesquisa e ensino, como práticas indissociáveis ou pesquisador educador, tornam-se mais expressivas no meio acadêmico, em geral, e nos cursos de licenciatura e bacharelado em História.

O que é o ensino de História dentro da perspectiva da Didática e Prática de Ensino vinculadas à pesquisa ? Se por um lado, diremos, esta dicotomia é falsa, por outro lado, é sensível que o ensino de História indissociado da prática da pesquisa, ainda não pode ser considerado consenso entre historiadores, no que se refere as suas práticas. Isto vale para os ensinos médio ou superior, nem tão pouco, podemos afirmar que esta proposta ganhou um espaço proeminente como campo ou objeto de investigação nos meios acadêmicos, salvo excessões.

È justo reconhecer que o ensino de História como prática educativa, por um lado, e as pesquisas entorno do ensino de História, por outro, desenvolveram-se bastante, desde que professores História e de Didática e Prática de Ensino de História, voltaram-se mais para eventos e Encontros de Pesquisadores em História (ANPUH nacionais e regionais), dentre outros.

Porém, faz-se necessário ressaltar que um dado da realidade só se torna um tema de estudos quando um ou mais motivos estabelecem-se como problemático. A princípio o que não está em crise não é notado e nem torna-se objeto de investigação. A famosa “crise do ensino de História”, como foi denominada por vários textos entre eles o de Elza Nadai, O Ensino de História no Brasil: Trajetória e Perspectiva, decorre tanto da derrocada da ditadura militar e sua influência sobre o ensino e a formação dos cidadãos na escola quanto dos deslocamentos epistemológicos da História, que recompõem sua função enquanto disciplina curricular e geram trasformações que são sentidas na prática de ensino da academia em torno dos anos 70 e que pressionam consequentemente os cursos de formação de professores.

Formados dentro de novos paradigmas, aqui ressaltamos a influência do pensamento marxista, os professores insatisfazem-se com a estrutura didática que encontram nas escolas. Junte-se a isso o processo de retomada dos movimentos sindicais docentes sob a ótica do novo sindicalismo, no contexto de crítica ao regime militar e de recuperação da escola pública e das condições de trabalho do professor.

Ainda, nos anos 70, as organizações de profissionais em educação, nas áreas de História a Associação Nacional de Professores de História (ANPUH) e de outras áreas, Geografia, Pedagogia, denunciaram a prática pedagógica tecnicista, com seu formalismo didático. Inicia-se o movimento da afirmação do político e a negação do técnico, é a contestação da prática pedagógica, até então, vigente. São também, alvo de denúncias, a falsa neutralidade do tecnicismo, bem como, é negada a própria dimensão técnica da prática docente.

Nos encontros de professores e pesquisadores, de História da década de 80, são propostas novas perspectivas, que assumam a multidimensionalidade do processo ensino-aprendizagem, e coloca como fundamental a articulação das três dimensões da educação: técnica, humana e política. Estas propostas, tornam-se a bandeira de grande número de profissionais em educação no Brasil, à época. Os textos e Anais dos eventos, provocam uma reflexão a partir de um posicionamento analítico das diferentes metodologias, numa discussão que promova o diálogo entre o objeto em foco e as múltiplas vertentes teóricas.

Temos aí, talvez e sem o concurso intencional dos interlocutores, o estabelecimento de uma primeira proposta do ensino e pesquisa em História de forma imbricada: as experiências em sala formariam uma espécie de pesquisa aplicada ao ensino de história e vice-versa. Vale ressaltar que, o processo que gerou a nova proposta, ocorria mais num espontaneísmo, nas tentativas, nos erros e acertos do que motivados ou embasados em abordagens teóricas e metodológicas, fruto de pesquisas científicas. 

Do outro lado, desse contexto histórico  educacional, estaria o “clássico” ensino de História, exigência  dos programas curriculares, como disciplina aplicada, ou seja, o repasse do resultado das pesquisas e estudos dos programas de pós-graduação, feitas via de regra na academia. Ou ainda, como o resultado do trabalho dos docentes  atuantes nos cursos de formação de professores, que por sua vez, também eram repassadores de conhecimentos, ou em outras palavras, da produção de conhecimento resultantes de pesquisas na área de História.        

E, por fim, também como parte do contexto, apareceria a “ciência pura” do ensino de história como um campo que se constituía no diálogo com teorias da História e da Educação e de outras ciências. Via de regra, como função da academia, resultados de trabalhos de pesquisa dos teóricos ou estudiosos da História, quase sempre desvinculados da atuação didática, nas disciplinas de formação de professores, que atuariam, por sua vez,  nas escolas.

Pode-se deduzir que as novas discussões e propostas, nesse campo, se constituíram muito lentamente, em torno da existência das preocupações, reflexões, e posicionamentos político-pedagógicos no âmbito da escola, derivada das angústias e questões formuladas e não respondidas, pelos profissionais da educação na área de História.

A resposta, ou as hipóteses de possíveis resoluções, vieram a partir da nova postura dos profissionais que iniciaram um aprofundamento da reflexão que, permitiu-lhes perceber que as questões iam muito além das questões de método e da técnica. Que as reflexões deveriam verter, também, sobre os condicionamentos históricos, políticos e sociais do ensino de História, o que acabou por gerar, paulatinamente, um novo campo de possibilidades de pesquisa em História, Didática e Prática de Ensino de História, locado nas Universidades e, muitas vezes, limitado, por um lado, pela estrutura do poder, que autorizavam ou não, os destinos da História e da Educação, de um modo geral e, por outro lado, pela própria estrutura da Universidade.

Assim, em meados da década de 80, alguns historiadores, locados dentro de importantes centros universitários, desenvolvem pesquisas, muitas vezes, financiadas pelos próprios orgãos oficiais da educação, Ministério da Educação e Cultura (MEC), que lhes propiciam uma aproximação com a realidade escolar que, na verdade, era o locus de aplicação dos saberes produzidos nos centros acadêmicos. A partir desse contato, aparece diante dos estudiosos, a dicotomia entre o saber produzido na Universidade e o saber aplicado na Escola. É aí, que podemos localizar o início de um discurso, entre vários historiadores, de superação das dicotomias referentes ao ensino de História: Universidade – Escola; Teoria – Prática; Professores – Pesquisadores; Ensino – Pesquisa. Constitui-se, o anseio de uma aproximação desejada e, que aos poucos vai ganhando espaço nos meios acadêmicos, nos cursos de licenciatura em História, em grande parte do Brasil. Mas que, infelizmente, ainda está muito no âmbito dos debates, das boas propostas,  que efetivamente na prática, ao que parece, ainda está longe a superação das dicotomias.

Na verdade podemos afirmar que o que mantêm a situação dicotômica, é a própria dinâmica do sistema educacional brasileiro que, infelizmente, não propicia condições para que os professores-historiadores(pesquisadores), que militam nessa área, avancem de forma mais incisiva. E, na prática permanece cabendo à academia, o papel de pesquisar à História e à Escola cabe o papel de aplicar os frutos dessas pesquisas, ou seja, a produção de conhecimento histórico. As pesquisas são feitas pelos professores universitários ou por seus orientandos nos programas de pós-graduação.

Para que sejam superadas as dicotomias,  faz-se necessário um posicionamento dos envolvidos, ou seja, dos professores pesquisadores que anseiam a superação da separação entre os papéis de pesquisador e professor. É necessário, também que os pesquisadores de História que, não poucas vezes, são professores de História da Escola, dos ensinos fundamental e médio, consigam encontrar caminhos para superar essa ambiguidade.

É evidente que as funções, educador/pesquisador, são imbricáveis, e essa imbricação é constituída primeiro pelo posicionamento dos envolvidos em ter como anseio, a superação das dicotomias entre os papéis de professor e de pesquisador.

A relação entre as funções, de educador e de pesquisador, existe teoricamente e torna-se óbvia, se levarmos em consideração que os professores de História, como já foi dito, que muitas vezes atuam nos ensinos Fundamental e Médio, são afastados temporariamente de todo ou de parte de seu trabalho docente para se aprimorarem nos cursos de pós-graduação latu sensu, ou a nível de mestrado e de doutorado, em outras palavras, para tornarem-se ou se aperfeiçoarem na função de pesquisadores. Ao concluírem o curso, voltam a atuar como professores de História.

Outra forma de se perceber esta imbricação, entre as funções professor/pesquisador, é através da observação dos pontos de contato entre professores e pesquisadores que atuam nas instituições de ensino superior, através de suas atividades docentes na formação continuada de professores dos ensinos Fundamental e Médio das Escolas. E que estes últimos, como alunos, no decorrer de seus estudos de aperfeiçoamento, cursos de pós-graduação, têm contato direto, com as produções e publicações científicas, de seus mestres e orientadores. 

Mas, apesar desses pontos imbricantes, as funções de educador e a de pesquisador, na área da história, parecem estar ainda fortemente afastadas em espaços distintos, e com fronteiras bastante delimitadas. Aqueles que desejam mudar esta realidade, coexistem com as tensões entre o “grupo da Prática de Ensino” e o grupo dos “teóricos” ou ainda, enfrentam à má vontade dos professores responsáveis pelas disciplinas de conteúdos específicos da área de  História, que não conseguem “enxergar” a relação que nos parece tão óbvia, entre teoria e Prática de Ensino, entre esta e as diversas disciplinas.

Como se não bastassem os problemas internos, na Universidade, ainda há os obstáculos criados pelas instituições financiadoras de pesquisa, bem como, as exigências legalistas e normatizadoras da Educação estabelecidas pelos orgãos oficiais, que regimentam o currículo mínimo, a carga horária de Estágio Supervisionado que, muitas vezes, ultrapassa o senso da lógica. Essas barreiras, contribuem, sobremaneira para manter a dicotomia entre formar o licenciado/pesquisador, ou professor produtor de conhecimento histórico.

O repensar desta situação, feito com muita competência por alguns educadores e críticos da separação entre ensino e pesquisa, como Pedro Demo, Vavy Pacheco, Conceição Cabrini e outros, acaba tornando-se alvo de interesse de poucos profissionais da educação, por um lado. E por outro, alvo de combate de outros tantos profissionais que insistem em manter os saberes e competências como privilégios, numa hierarquia que reflete –se no status profissional, intelectual e salarial. Em outras palavras, insistem em manter a produção de conhecimento como função restrita dos teóricos que atuam nas Universidades, os quais concebem a ciência como conhecimento digno de ser conhecido apenas por, “meia dúzia”, de intelectuais e o “povão” – graduandos das licenciaturas, alunos das Escolas, leigos em geral - que tratem de aceitá-la e reverenciá-la como verdade finalista produzida, nos altares das Universidades, pelos sacerdotes dos saberes. Pedindo desculpas pela deselegante metáfora, é assim que percebemos a insistência velada de muitos intelectuais, em manterem a dicotomia entre ensino e pesquisa.                         

Superar esta dicotomia, demandam um esforço cotidiano, para não dizer sobre-humano, para que não caiamos na lógica da ciência e da sociedade, que se constituem como “lugares autorizados” para determinar sobre o nosso objeto de estudo, o conhecimento da História. E ainda, o que nos parece mais difícil, a tarefa estafante de sermos os vigias constantes, para que a Universidade ou o Estado não se constituam como o lugar do discurso competente sobre a História ensinada.

Sobre a necessidade de manter as relações entre o saber acadêmico e o saber escolar, combater a dicotomia entre professor e pesquisador de História e apontar uma saída, Conceição Cabrini é bastante expressiva ao comentar:

 ... pensar a pesquisa e o ensino como um processo global, único, o que destrói pela base a separação entre produção e transmissão. Acabamos por afastar a preocupação com a elaboração de qualquer tipo de “material instrucional”, centrando-nos em elaborar uma proposta de como desenvolver o ensino de história (...) permiti, tanto ao aluno quanto ao professor, uma reflexão sobre sua historicidade em seu duplo aspecto: como agente histórico dentro das condições em que vive e como produtor do seu próprio conhecimento... (Cabrini, 1994, p.12)

 

A dicotomia é uma realidade secular, concreta e institucionalizada no Brasil, de um sistema educacional, principalmente no que refere-se à formação de professores. E que tende, por isto, a manter a separação entre as funções acadêmicas, a distância entre o saber produzido na acadêmia e o aplicado nas escolas e, finalmente entre o ensino e a pesquisa.

A idéia de integração entre a teoria e a prática, na formação do professor-pesquisador, de superação da licenciatura e bacharelado no sentido de uma formação unificada do profissional e outras idéias correlatas são princípios ainda não absorvidos nos consensos educacionais, e precisam ser encaradas dessa forma por nós para que sejam superadas.

Para que esta superação ocorra, defendemos a idéia que se o ensino de História é uma atividade profissional, a Didática de História deve ser o primeiro objeto de preocupação do executor desta profissão. E, entorno dos saberes sobre a prática de ensinar a História e seus problemas é que se estruturarão as demais investigações, que crescerão além dos limites impostos por programas, conteúdos, currículos, etc. Transformar os limites em possibilidades de se realizar as trocas necessárias para a vitalidade dessa Prática e desse campo cuja epistemologia buscamos delimitar e compreender. Esta Didática, primeiro, envolverá as discussões sobre o relacionamento entre professor/aluno, como sujeitos históricos e não, meros, sujeitos que se relacionam no processo do ensino aprendizagem. A partir daí, parte-se para as questões da elaboração e da validação dos materiais didáticos. E finalmente para as possibilidades e especificidades do processo de avaliação. Enfim, esta proposta Didática, é por nós entendida, como Didática da História, numa concepção literal do termo. A proposta, pode oferecer uma amplitude de objetos de análise ou pesquisa, e não uma restrição de possibilidades de estudos e análises, se entendermos que na formação do professor/ pesquisador, todos os objetos de pesquisa, convergirão ou partirão da Didática e da Prática de ensino.

Isto porque, nesse contexto metodológico, de convergir a Didática da História para um processo de imbricação entre ensino e pesquisa, se encontrarão outros conhecimentos, da História, que não precisam ser diretamente ligados ao campo teórico da Didática e Prática de Ensino de História. Ou ainda, que tenham como objeto de investigação, questões exclusivamente ligadas à educação. Tanto se poderá penetrar no ramo do campo educacional da História, como por exemplo, o da História da História, ou seja, a historiografia da História como disciplina escolar, a teoria dos currículos de História, as metodologias do ensino de História, como também outros campos que possibilitem múltiplas investigações e interpretações da História - em seus mais diversos sentidos: acontecimentos, fatos e transformações humanas no tempo e no espaço, a Filosofia da História à História como ciência, etc - que os estudiosos, ao longo dos séculos conseguiram construir, e assim por diante. Cada um desses campos do conhecimento histórico, torna-se um objeto de pesquisa histórica sem deixar de ser também, o ensino de História e, mesmo, sem deixar de ser Didática e Prática de Ensino de História.

Para referendar nossa proposta, recorremos a noção de Prática e Didática em História, segundo Cabrini et al. Segundo essas autoras esta noção depende fundamentalmente da forma como o profissional encara o processo de ensino/aprendizagem e da sua concepção teórica de História. Como já foi dito acima, o ensino acadêmico encontra-se estruturado de tal forma que à Universidade cabe a produção do conhecimento, no caso aqui, do conhecimento histórico. Enquanto que, os professores formados pelas  Universidades, que atuarão nos ensinos fundamental e médio, cabe a reprodução desse conhecimento.

A nosso ver, a proposta metodológica de uma Prática e Didática de História, que ao mesmo tempo seja prática docente e exercício de pesquisa torna-se possível, a partir do  conceito de educação que concebemos que é o de que o estudo e a reflexão são a essência do trabalho de ensino/aprendizagem. A partir daí percebemos que a Prática e a Didática de História, enquanto parte do ensino de História, é um momento de reflexão e de um fazer específico do conhecimento . Portanto, tanto a História disciplina, como a Prática do ensino de História podem ser vistas como instâncias de participação na criação do saber. 

Para endossar a idéia de que a dicotomia professor/pesquisador, pode acabar para além dos muros da Universidade, utilizamos aqui, o conceito de saber histórico escolar, construído por historiadoras da PUC, a partir de pesquisa realizada, por elas, na Segunda metade da década de 80. (Cabrini, 1994, p. 4). Este conceito permite a abordagem da relação da disciplina escolar com o conhecimento acadêmico, pensando o professor como criador, como intelectual do seu ofício, mesmo que não o faça intencionalmente. Já que a criação desse conceito amplia o campo de atuação do professor, numa proposta, que anula a dicotomia entre ensino e pesquisa. As reflexões sobre o saber que transmite retira-o da mediocridade da melhor técnica para transmitir conhecimento, e lhe possibilita ir além da função de mero reprodutor de conteúdos e livros didáticos escolhidos pelas instâncias do poder. Possibilita-lhe dispor-se como investigador, um dialogador com o pesquisador que é docente universitário.

Segundo Demo, é difícil a nova proposta, a começar pelos vícios históricos dos “estágios”. Os estágios são concessões à prática, com presença curricular residual, mal organizados, sem acompanhamento de qualidade por parte do curso e por parte dos responsáveis no local do estágio. Na maioria dos casos mantém-se como exigência formal resvalando com uma realidade distante da teoria vista na Universidade. Existem Escolas públicas que entregam aos alunos estagiários as atividades de sala de aula, quando os mesmos estão apenas iniciando esta atividade, liberando os professores da turma.

É preciso perceber que as atividades de Estágio Supervisionado, exigência da Prática de Ensino, não se restringe á aplicação da teoria, por mais que isto seja essencial. A teoria deve denotar forma própria de relevância frente à realidade, o que inclui sua “utilidade” histórica. A aplicação da teoria ressalta o lado da qualidade formal, no aprimoramento das condições instrumentais de exercício profissional. Mas é necessário reclamar o outro lado da prática, em cujo plano deve aparecer a instrumentação científica na função de embasamento da profissão do educador. Em outras palavras, preparar o pesquisador. Indispensável é ser educador competente, como é indispensável ser pesquisador atuante, trazendo para o bojo da prática pedagógica cotidiana a instrumentação científica adequada.

A atividade de pesquisa não pode ser encarada como atividade de vanguarda, obtida apenas à revelia da aprendizagem acadêmica mas principalmente na própria construção da profissão. Essa questão se torna mais fundamentada, ainda, se lembrarmos que as ciências sociais se dedicam a pesquisar a práxis histórica do homem, e tal práxis precisa ser teorizada, não para fugir de si mesma, mas pra retornar convenientemente instrumentada na direção de mudanças sociais relevantes. (Demo,1992, p.101).

A Didática de História, aqui proposta é a que busca a contextualização na teoria, de um lado e na pesquisa/ensino, de outro. A Prática de Ensino deve estar relacionada com a formação acadêmica, e deve estar relacionada com o desdobramento na realidade, ou seja, realizar com plenitude o confronto entre teoria e realidade histórica, não uma prática dispersa, intermitente, esporádica, sem método, sem compromissos com resultados. É necessário se repensar a Prática de Ensino, para que a mesma se garanta como fonte de conhecimento e não só aplicação de conhecimento adquirido. A Didática e Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado em História, devem se tornar possibilidades de aplicação teórica e fundamentação científica do profissional, que é também sujeito social. Deve garantir possibilidades para que o aluno estagiário possa produzir conhecimento, projetos, unindo saber e mudança.                  

Há que se buscar uma Didática e Prática de Ensino em História, que não seja só do interesse do aluno, mas garantam a visível utilidade e aplicação educativa. Trata-se de uma Prática profissional plena, demandando dedicação e integração no momento em que ainda se é aluno. É fundamental que exista, como integralização entre a Didática e Prática de Ensino e a Pesquisa, com um trabalho de monografia, direcionado a motivar o aluno a produzir uma proposta teórico-prática de realização profissional. Seria o momento de elaboração do próprio conhecimento, no qual se demonstraria o domínio teórico-metodológico, bem como condição de realização prática e empírica.

A nosso ver esta Didática associada à Pesquisa, facilita para o aluno estagiário, candidato a se tornar docente em História, perceber que a teoria não é a realidade histórica e sim interpretação da mesma. No extremo oposto, que a prática é limitante porque não consegue executar toda a riqueza da teoria e perceber também, como futuro historiador, que realmente não há história real sem prática. Em outras palavras, o aluno estagiário e pesquisador nos ensino  e na pesquisa em História, vevenciaria, que a teoria e a prática são fecundas e são dialéticas. Que é fundamental conhecer o quanto tal fecundação contrária, entre teoria e prática, pode trazer à cena dos critérios de cientificidade formais mas a própria função social (práxis) da ciência.        

Nos apoiamos em Bergmann, quando ele afirma que a Didática da História, e aqui acrescentamos a Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado, vai muito além de métodos e técnicas, é o móvel cuja investigação constitui a espinha dorsal da área. O autor define a Didática da História como a própria investigação sobre o significado da História no contexto social.

A necessidadde de que as dicotomias entre Ensino e Pesquisa em História, entre Educação e História sejam superadas dentro de perspectivas e propostas novas que superem os debates, que já é reconhecida por vários historiadores, é demonstrada pela quantidade de artigos de historiadores e educadores, apresentados em encontros científicos, como os da Associação Nacional de História (ANPUH), que apontam para um novo perfil do profissional de História, uma formação unificada, que tornaria sem sentido a difenenciação entre licenciado e bacharel.

Este ensaio procurou realizar uma discussão sobre as concepções de ensino de História com o Didática da História, de autores que entendem a História como emanação de múltiplos focos e experiências sociais, como Klaus Bergmann. Também em autores que defendem o fim da dicotomia entre Ensino e Pesquisa, como o faz Pedro Demo.  Em termos de referenciais teóricos, baseou-se em estudos da História Social e da Educação como princípio científico e ducativo.    


 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

 

BERGMANN, klaus. A história na reflexão didática. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 9, n 19, p.29-42, set 89/fev 90.

CABRINI, Conceição et. O Ensino de História: Revisão Urgente. São Paulo: Brasiliense, 1994.

DEMO, Pedro. Pesquisa, Princípio Científico e Educativo. São Paulo: Cortez, 1992.

NADAI, Elza. O Ensino de História no Brasil: Trajetória e Perspectiva. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 13, n. 25/26, p. 143-162, set.92 / ago93.*

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* Mestre em História pela UFG. Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Goiás – UEG/Anápolis.