PAPÉIS DO PROFESSOR NA SALA DE AULA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
Palavras-Chave:
Abordagem, Papel e Papel Social, Papel do Professor. Interação
professor-aluno, sala de aula de língua estrangeira.
Resumo: Neste artigo tratamos dos papéis que um
professor pode desempenhar na sala de aula de língua estrangeira e a sua relação
com as abordagens de ensino de língua tratadas por estudos desenvolvidos pela
lingüística aplicada. Trazemos o conceito do termo papel e apresentamos um
breve estudo sobre a relação dos papéis de um professor com enfoques teóricos
que tratam do processo ensino e aprendizagem. Por último, descrevemos os tipos
de papéis de alguém que ocupa a posição de professor de uma língua
estrangeira.
Introdução
O processo de aprender línguas é um ‘fato social’. É
uma prática que se desenvolve a partir do contato entre duas ou mais pessoas em
diferentes contextos. Como um dos
ambientes onde ele pode se concretizar, temos a sala de aula, a qual na definição
de Moita Lopes[1],
é compreendida como “um evento social no qual, indivíduos identificados como
professor e aluno, num processo de interação, trocam experiências e, através
de tentativas, procuram construir uma aprendizagem significativa e
conhecimento”.
No cenário
da sala de aula, o professor e os alunos são os participantes responsáveis e
os agentes cruciais[2]
do processo de ensino e aprendizagem. Neste
espaço não só físico, mas, sobretudo social, crenças e conceitos se
misturam, influenciando as ações, determinando os deveres
e os direitos, e também as expectativas enquanto eles executam as suas
respectivas funções. Desse modo, representando os seus respectivos papéis,
ambos adotam comportamentos capazes de mostrar como alguém deve ser e qual o
tipo de ação que se espera de uma pessoa ocupando os lugares de
‘professor’ e de ‘aluno’ num determinado grupo.
Na
sala de aula, ao professor costuma ser atribuído o papel de autoridade e de
participante mais importante do evento, devido a sua formação profissional e
maior experiência em relação ao conhecimento que se propõe produzir.
Ele é tido como aquele a quem compete fazer a aula acontecer.
Observando
o comportamento do professor de línguas, especificamente aquele que lida com o
ensino de uma língua estrangeira, pode-se dizer que alguns dos papéis por ele
desempenhados não se apresentam diferentes quando comparados aos papéis de
professores de áreas distintas. Inicialmente, ele pode se apresentar como o
instrutor, o administrador, o organizador, o disciplinador, tornando-se, então,
o desestrangeirizador[3]
acompanhado pelo papel de negociador, treinador lingüístico entre tantos
outros papéis próprios e específicos para o ensino de uma LE, os quais
apontamos no decorrer do artigo. Salientamos que a representação desses papéis
vai depender do tipo de abordagem ou visão de ensino construída no e pelo
professor no decorrer da sua experiência e história de vida com a língua-alvo.
Observando tudo que o homem faz e como faz em cada lugar que se apresenta, pode-se dizer que ele é como um ator[4], um protagonista, interpretando vários papéis. Ele, no seu cotidiano representa uma série de papéis, os quais caracterizam e determinam os seus comportamentos no grupo social (cenário) do qual ele participa.
Com o propósito de compreender o termo papel, a seguir, abaixo, trazemos alguns conceitos apresentados pela sociologia, psicologia e outras áreas cientificas que tratam desse tópico em suas pesquisas.
Na LA, Widdowson em um estudo sobre o papel do professor e do aluno no processo de ensino e aprendizagem de línguas, apresenta-o como “... uma parte que as pessoas desempenham na vida social”.[5] Neste conceito, o papel representa a função de alguém e se apóia nas idéias de Banton, na sociologia, que o define como “um grupo de normas e expectativas aplicadas àqueles que ocupam uma determinada posição”.[6]
Na psicologia educacional, Lindgreen[7], desenvolvendo um estudo sobre os papéis do professor na sala de aula, apresenta-os como “porções seqüenciais de comportamento padronizado, que transformamos em rotina familiar”. Segundo este autor, ao desempenhar um papel, um indivíduo demonstra as suas próprias expectativas ao mesmo tempo em que lida com as expectativas das outras pessoas com as quais ele interage num determinado contexto social.
O psicodrama, parte da psicologia que estuda o indivíduo e a sua interação num determinado grupo, compreende o termo papel como “uma forma funcional que um indivíduo assume no momento específico em que ele reage a uma situação específica, na qual outras pessoas ou objetos estão envolvidos”.[8] Assim, como já mencionado, para Banton, um papel corresponde às normas e expectativas, estabelece o tipo de comportamento que uma pessoa (ator) deve ter ao representá-lo, definindo a sua identidade[9] no grupo.
Com base nos conceitos apresentados, sabe-se, então, que o papel pode ser entendido como uma função ou algo que se espera de alguém. Ele representa uma identidade do individuo construída com base nos valores, os quais foram adquiridos e aprendidos por meio de suas relações sociais.
O papel do
professor e as teorias de ensino e aprendizagem
Na
sua prática docente, sabe-se que o professor enquanto desempenha os seus(s) papéis
na sala de aula, representa papéis originados de algumas teorias sobre o
processo ensino e aprendizagem na psicologia. Antes de tratarmos desses enfoques
teóricos, abrimos um espaço para tratar da conceituação dos termos:
‘aprendizagem’ e ‘ensino’, os quais ele está diretamente envolvido.
Quando
uma pessoa aprende, ela vivencia uma experiência na qual se coloca numa condição
de conhecedor de algo que pode ocorrer a partir da influência de outras
pessoas. Brown[10],
no tratamento dos significados dos termos ‘aprendizagem’ e ‘ensino’,
apresenta a aprendizagem como um processo ou prática que possibilita ao indivíduo
adquirir ou apropriar-se de um conhecimento através do seu estudo, de experiências,
ou instrução resultando numa mudança de comportamento.
Já o ensino, para este mesmo autor, compreende a ação na qual alguém
assume o lugar daquele que demonstra algo e ministra conhecimentos para outras
pessoas. No contexto da sala de
aula, sabe-se que, em primeiro lugar, um dos praticantes da ação de demonstrar
e ministrar conhecimentos é representado pelo professor, o qual é compreendido
como o indivíduo a quem compete “guiar, facilitar, capacitar outra pessoa (o
aprendiz), ao mesmo tempo em que cria e estabelece condições para que a
aprendizagem aconteça”.[11]
Refletindo uma concepção ou visão sócio-interacionista do ensino e
aprendizagem, assunto seguinte, professor pode, metaforicamente, ser então
entendido como uma ponte capaz de unir as ações de ensinar e aprender na sala de
aula.
Durante a ação do professor em sala de aula, percebemos a manifestação de dados concretos de sua história, cultura, crenças e concepções e de uma formação pedagógica ou científica. Deparamos, então, com evidências de uma experiência pessoal, de uma formação profissional e de contribuições de diferentes teorias ou descobertas advindas de outros estudos que aplicadas na sua prática educativa, direciona o seu pensamento. Como exemplos de teorias que influenciam a prática do professor temos: o comportamentalismo, o humanismo e o sócio-interacionismo. Abaixo, apresentamos um quadro, no qual trazemos estes enfoques teóricos da psicologia e apresentamos alguns verbos que indicam o tipo de ação relacionado a cada um deles e que podem ser identificados nas ações de um professor no contexto de sala de aula.
O enfoque teórico e a ação do
professor na sala de aula.
Enfoque Teórico |
Verbo Ação |
Comportamentalismo/Behaviorismo |
Ø
Controlar Ø
Formar Ø
Manipular Ø
Reforçar Ø
Recompensar e Punir Ø
Avaliar |
Humanismo |
Ø
Facilitar Ø
Confiar e acreditar Ø
Trabalhar a auto-estima Ø
Incentivar e estimular Ø
Descobrir |
Sócio-Interacionismo |
Ø
Mediar Ø
Mostrar Ø
Orientar Ø
Direcionar Ø
Possibilitar |
Considerando
os enfoques e os verbos listados no quadro acima, notamos, em primeiro lugar, a
mudança da postura autoritária, de controlador e manipulador do professor para
uma prática mais democrática e aberta entre ele e o aprendiz.
O ensinar centralizado e único do professor comportamentalista, cede
espaço para uma ‘ação’ na qual o ele deixa de ser o transmissor exclusivo
do processo para, então, tornar-se o facilitador capaz de criar condições
para que o aluno aprenda a aprender, e que busca conscientizar nesse mesmo
aprendiz, o seu papel de agente e responsável pelo processo de aprendizagem no
qual ele se encontra. Percebe-se,
então, que o professor e os alunos, tornam-se os agentes ativos do processo por
meio de uma prática interativa, na qual ambos se tornam os mediadores e responsáveis
pela construção do conhecimento e da aprendizagem.
A
sala de aula de línguas é um lugar onde se realiza “um encontro, por um
determinado tempo, de duas ou mais pessoas (uma delas geralmente assumindo o
papel de instrutor) com propostas de aprender uma língua”.[12]
Nesse ambiente formal, o professor e os alunos, ambos em interação contribuem
com suas experiências e/ou formação para a concretização do processo de
ensino e aprendizagem durante o ensino e aprendizagem de uma língua-alvo.
Portanto, sabe-se que é impossível falar a respeito do papel do
professor sem direcionar para o papel do aluno, pois, ambos, ocupam posições
complementares, influenciando-se de modo recíproco na realização da aula.
Numa
concepção tradicionalista, no ambiente da sala de aula é comum encontrar o
professor como aquele que ocupa o lugar de líder do processo de ensinar, como o
detentor de um saber e como aquele a quem compete a missão de transferir um
conhecimento outra pessoa. Compreendido
como a autoridade deste espaço social, ele é quem costuma determinar e tomar
as decisões, centralizando o processo durante a aula.
Combatendo essa idéia, nas ultimas décadas, a partir dos anos 80,
muitas são descobertas e propostas as quais mudaram e, ainda está mudando essa
sua imagem. Atualmente, percebemos propostas de um professor mais aberto e
democrático e que tem se dedicado em criar condições que facilitem e
incentivem o aprendiz a se interessar pela aprendizagem.
Como já mencionado, hoje, ele vem se tornando alguém que ensina o aluno
aprender a aprender com mais confiança e liberdade.
No
sócio-interacionismo, temos o conceito do professor como um possibilitador e
mediador[13]
da aprendizagem. Segundo essa
teoria, o professor é alguém, que devido a uma maior experiência com um
determinado objeto de estudo, torna-se capaz de instruir o seu aluno durante o
processo na sala de aula, dando oportunidade para que o ele (o aluno) consiga
construir a sua aprendizagem, e também ajude outros alunos (colegas de sala) a
alcançar um determinado conhecimento. Além disso, suas presença e ação
devem incentivar a interação, o desenvolvimento da autonomia e a conscientização
do aprendiz.
Refletindo
sobre os papéis do professor propostos pelos enfoques comportamentalista ou
behaviorista, humanista e sócio-interacionista, sabe-se que o primeiro enfoque
tem uma maior história no processo ensino e aprendizagem de línguas. E
considerando as características delineadoras da abordagem comunicativa, nas três
ultimas décadas, durante a sua prática docente, o professor tem recebido influências
de novos métodos e propostas de ensino, os quais revelam o professor como o
facilitador do enfoque humanístico e o mediador do sócio-interacionismo.
De
um modo geral, sabe-se que entre todos os papéis que um professor pode
representar na sala de aula de LE, o principal se refere ao papel de instrutor.
Segundo Lindgreen[14], esse papel define o
professor como aquele que “executa as ações de iniciar, dirigir a aula e
avaliar a aprendizagem”, [15]ou
seja, ele é o “responsável” pela aprendizagem.
O papel de instrutor é inicialmente um papel central, o qual recorre a
outros papéis auxiliares para atender novas propostas ou objetivos durante a
aula.
Para Almeida Filho, o professor na sala de aula de língua
estrangeira é alguém que deve ter como meta: desestrangeirizar[16]
a LE para outras pessoas (aprendizes). Como
um desestrangeirizador[17],
ele se apresenta com a capacidade de fazer com que a língua não falada pelo
seu aluno passe a ser parte da sua realidade, através do desenvolvimento da
competência lingüística e comunicativa na LE nesse aprendiz.
Porém, convém lembrar que, segundo este autor, o tipo de aula
(acontecimento), de aprendizagem ou conhecimento depende da sua concepção do
processo de ensinar e aprender e, também da forma como ele, o professor,
compreende a língua/língua estrangeira.
Para
Almeida Filho, o professor, como o desestrangeirizador, se apresenta como alguém
que ensina uma língua de outras pessoas, ou uma língua de estranhos. Porém,
uma língua que vai deixando de ser estranha segundo o tipo de contato do
aprendiz com ela. O professor também deixa de ser o único responsável e
transmissor do conhecimento[18], tornando-se, então, o
mediador e o facilitador. No desempenho desses papéis, enquanto ensina, o esse mesmo
professor cria oportunidades
e condições para que o seu aluno também se sinta um responsável ativo
durante o processo ensino e aprendizagem da língua-alvo.
Nas
últimas décadas, muitos estudos[19]
sobre o processo de ensino e aprendizagem de línguas têm voltado a sua atenção
para a abordagem comunicativa. Fala-se
de um processo de ensino de uma língua estrangeira, no qual o aprendiz seja
capaz de usá-la com sentido e significado.
Combate-se um ensino que só fique preso a sistemas, a forma e as regras,
como se propõe a abordagem de ensino formalista gramatical. No entanto, sem a
pretensão de determinar ou selecionar uma abordagem que seja melhor ou mais
eficiente, pesquisas na área da Lingüística Aplicada (doravante LA) têm se
preocupado em mostrar que, o professor de uma LE, enquanto desestrangeirizador, deve ser alguém competente para a realização
de um trabalho capaz de unir estas duas visões durante o ensino da língua na
sala de aula. Vejamos, a seguir, uma descrição do professor que age orientado
pela abordagem comunicativa[20]:
Ele é, por exemplo, um negociador das
atividades de sala de aula. Neste, papel, uma das principais responsabilidades
é estabelecer situações prováveis de comunicação. Durante as atividades
age como conselheiro ou orientador, respondendo às perguntas do aluno e
monitorando o seu desempenho. Outras vezes, o professor deve ser um
co-comunicador, enganjando-se em atividades comunicativas com os alunos.[21]
Abaixo,
apresentamos mais alguns papéis e também atitudes do professor, levantados por
Almeida Filho[22] com o auxilio de
professores que lidam com o ensino de línguas.
Papéis
do Professor (P) e Atitudes do Professor (A)
Mediador/Moderador Informador Orientador Observador Sistematizador básico Renovador Negociador Grande autoridade Garantidor de segurança Integrador de grupos Pressionador Ilustrador Cultural Direcionador Co-responsável Treinador Lingüístico Facilitador |
P P P P P A P P P P P P P A P P |
(Co)
participante Questionador Testador/Verificador Selecionador Formador Propiciador Analista
crítico da própria prática Usufruidor
crítico de pesquisas Estimulador/animador/instigador Avaliador Crítico
da própria prática Cúmplice Compreendedor/Compreensível Re-lembrador
de gramática Psicólogo |
A P P P P P P P P P A A A P A |
Almeida
Filho, 1997
Wright[23]
, num estudo sobre os papéis dos professores e dos alunos na sala de aula de línguas,
apresenta os papéis desse professor sob duas visões: gerenciador[24]
e instrutor. No papel de gerente, o professor é um administrador que organiza o
grupo e ambiente, cria condições para que a aprendizagem ocorra. Em síntese,
ele é quem determina e faz a aula acontecer. Como um gerente, ele lida com
outras pessoas (alunos) no espaço da sala de aula, um ‘pedaço da
sociedade’ com a função de manter uma ordem e disciplina e controle do
processo de aprendizagem. Ele se torna uma autoridade controlando os
acontecimentos e movimentos sociais na sala de aula. No papel de instrutor, ele
assume propostas pedagógicas do processo. Durante a aula, o professor é aquele
que busca explicar, guiar e orientar na realização das atividades e tarefas
enquanto ensina, esclarecendo dúvidas e avaliando aquilo que o aluno produz
nessas atividades. Segundo este autor, na parte prática convém não separar
uma visão da outra, pois ambos costumam ocorrer simultaneamente numa relação
de interdependência[25].
Por exemplo, numa atividade de sala, o gerente ao organizar a sala se
complementa com o instrutor que explica e orienta como fazer essa mesma
atividade.
Outras
considerações que podem influenciar os papéis do professor construídos na
sala de aula se referem ao (s) método (s)
adotados (s). Segundo Almeida Filho[26],
a abordagem é uma força orientadora da prática do professor e determinadora
do método na aula. A abordagem de
ensinar adotada o professor faz uso
de métodos ou ações diferenciadas e responsáveis pelo(s) seus papéis
durante a aula.
Prabhu[27]
afirma que o professor durante o ensino de línguas deve ter em mente que não
existe um método único de ensinar, e sim, ter um ‘senso de plausibilidade’
ou ‘compreensão subjetiva’[28]
para utilizar um método capaz de fornecer subsídios que para que atenda a sua
necessidade e que permita a esse professor alcançar o objetivo que propõe no
tratamento da língua-alvo num momento específico. O método pode estar nas
suas “crenças, experiências, na sua formação, na sua própria prática no
ensino da língua”.[29] Assim, com base na ‘ação’
de Almeida Filho e no ‘senso de plausibilidade’ de Prabhu, o professor pode
num dado momento fazer usos de diferentes métodos, desde que ele seja
considerado aceitável para sanar problemas e favorecer a aprendizagem. O
professor pode num dado momento se apresentar como um repetidor calcado na visão
estruturalista da abordagem gramatical e comportamentalista
e/ou ainda um negociador/comunicador sob uma visão comunicativa de
ensino de uma língua. Independente
do papel manifestado, o propósito do professor deve ficar centrado no desejo de
construir uma aprendizagem eficiente.
Segundo
Brown, um método é um “conjunto de ações usado para uma apresentação
sistemática de uma língua baseada em uma abordagem”.[30]
No Quadro a seguir, apresentamos uma lista de métodos e/ou abordagens de
ensinar línguas e papéis que um professor pode desempenhar ao materializá-los
no ensino de LE dentro da sala de aula.
Método
|
Papéis do
Professor
|
Método gramática-tradução |
Controlador Tradutor Repetidor Centralizador Memorizador |
Método Direto |
Condutor Questionador Fornecedor
de modelo Treinador
da gramática e pronúncia Repetidor |
Audio-língual |
Fornecedor
de modelo Controlador
e manipulador da aprendizagem Reforçador Repetidor |
Resposta Física Total |
Diretor
ativo do processo Repetidor Controlador |
Modo
silencioso |
Diretor Instrutor Ajudante Advertidor
e conselheiro |
Método Natural |
Fornecedor
de input (estímulos, informação). Facilitador
criativo na aprendizagem de línguas. |
Sugestopédia |
Encorajador
positivo Autoridade Incentivador Garantidor
de segurança Facilitador |
Método Comunicativo |
Facilitador
da comunicação Participante Analista Conselheiro Ilustrador
Cultural Fonte
de Recurso Supervisor Negociador |
Conforme
o quadro anterior, notamos que os métodos desenvolvidos transformaram as ações/práticas
na sala de aula de línguas. Relacionando ao quadro dos enfoques,
comportamentalismo, humanismo e sócio-interacionismo e os verbos que indicam as
ações do professor, percebemos também mudanças significativas nos
comportamentos do professor que lida com o ensino de línguas.
Como já mencionado, olhando a relação entre o professor e o aluno de línguas,
percebemos que o aprendiz abandona o papel de receptor passivo e também passa a
ter um papel ativo enquanto lida com o professor que abandona a postura autoritária
e assume uma postura democrática. No entanto, acompanhando a trajetória do método
gramática-tradução ao método comunicativo, notamos influências dos enfoques
apresentados na seção 2.2 deste capítulo. Por exemplo, no método da gramática-tradução,
método direto, método audio-língual e método de resposta física total,
percebe-se, na ação do professor, características do behaviorismo ou
comportamentalismo. Considerando o método modo silencioso, passando para pelo método
natural, pelo método sugestopédia até chegar no método comunicativo,
percebemos um professor com aspectos do humanismo e sócio-interacionismo. Em
outras palavras, o professor se mostra preocupado com o afetivo do aprendiz e
com o significado e importância do objeto de estudo para a sua vida, tornando a
aula de línguas como processo mais flexível e dinâmico.
Nas últimas décadas a preocupação do professor se baseia em buscar
meios que facilitem a aprendizagem para o aluno. Ele se torna o companheiro mais
experiente e capaz de ajudar, orientar e mostrar caminhos para os seus alunos na
aprendizagem da língua-alvo. Por último, observando o método comunicativo, o
professor se torna o participante e mediador do processo enquanto interage com
aluno.
Considerações
Finais
O
professor de língua estrangeira, quando entra na sala de aula, realiza nesse
ambiente uma prática de ensinar com base em crenças culturais e concepções
teóricas. Essas crenças e/ou concepções recebem o nome de abordagem e pode
ser subdividida em duas correntes; (a) a abordagem gramatical, que trata do
ensino das regras gramaticais e estrutura da língua-alvo (b) a abordagem
comunicativa, que propõe um ensino da língua centrado na mensagem e no propósito
de desenvolver a competência lingüístico-comunicativa no aprendiz.
Uma forma de se compreender e analisar a abordagem de ensino do professor
de LE é através do reconhecimento e da identificação dos papéis
desempenhados por ele durante a sua prática docente. Direcionados por esse propósito, fomos para a sala de aula
olhar o comportamento do professor de LE, para assim, identificar os seus papéis
e explicitá-los segundo as fundamentações teóricas apresentadas neste
estudo.
Os papéis
correspondem a comportamentos que alguém deve ter no grupo, revelando o que
deve ser feito (normas) e o que se espera (expectativas) que ele faça numa dada
posição. Eles refletem aspectos do mundo sócio-cultural do indivíduo, os
quais compõe a sua identidade perante o grupo do qual ele participa. Outro dado
relevante sobre papel, refere-se ao fato dele não existir sozinho. Refletindo
sobre a visão sócio-interacionista, sabe-se que para a sua existência sempre
haverá um outro indivíduo ocupando uma posição complementar e desempenhando
um papel também complementar. No contexto da sala de aula, essas posições
complementares se mostram em indivíduos ocupando os lugares de professor e de
aluno, compreendidos como os agentes, ambos são os participantes e construtores
principais da aprendizagem e conhecimento que acontece nesse ambiente.
Sobre
os tipos de papéis que um professor desempenha na sala de aula são de ordem
social e particularmente pedagógica. A
sua ordem social constitui-se dos valores sócio-culturais construídos na sua
história de vida. A pedagógica está fundamentada na sua formação,
refletindo os enfoques teóricos e científicos subjacentes a sua prática. Ao
longo do nosso trabalho, citamos como exemplos desses enfoques, com um caráter
tanto social quanto pedagógico, as contribuições advindas da psicologia e
aplicadas na educação, relacionando-as com as abordagens de ensino de línguas
advindas das pesquisas em Lingüística Aplicada e que influenciam a formação
do professor.
Partindo da concepção do papel de instrutor que o professor desempenha
na sala de aula de LE apresentado neste estudo, classificamos esse papel em
tipos principais: pedagógicos gerais e pedagógicos específicos. O
primeiro grupo refere-se aos papéis do professor de LE comuns aos papéis de
professores de diferentes áreas na sala de aula. Estes papéis apresentam-se
como papéis que tratam do ambiente
físico e social da sala de aula. Os papéis específicos correspondem aos papéis
próprios da ação do professor na sala de língua estrangeira. Resumindo, fica
evidente que nos dois casos, esses papéis se resumem em papéis sociais e pedagógicos
de um indivíduo na sala de aula.
ALMEIDA
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[1]
Allwright e Bailey, 1991; Moita Lopes, 1995.
[2]
Allwright e Bailey, op. cit.
[3] Almeida Filho usa o termo desestrangeirizar para se referir à ação do professor na sala de aula de LE. A partir desse termo, utilizamos passamos a termo ‘desestrangeirizador’ para apontar um dos papéis, que ao nosso ver, pode ser compreendido como o principal papel do professor que lida com o ensino de uma língua estrangeira. Ver Almeida Filho, 1998.
[4]
Williams, 1994; Banton, 1965.
[5]
“… a part people play in the performance of social life”. (Widdowson,
1991. p.180; tradução nossa); Wright, 1987; 1990.
[6]
“… a set of norms and expectations applied to the incumbents of a
particular position”. Banton, 1965, p. 139.
[7]
Lindgreen, 1976, p. 435.
[8]
Moreno, apud Williams, op. cit.
[9] Analisando o conceito de identidade, Cunha (2003b) diz que, a identidade produz sentido de ordem na vida do individuo, enquanto que “sob uma perspectiva sociológica, ela situa o indivíduo no grupo. Ambas perspectivas se completam ao considerar que, para saber quem somos, temos que reconhecer a posição em que nos colocamos”.
[10] Brown, 1987.
[11] Idem, ibidem, p. 7.
[12]
“ …the gathering, for a given period of time, of two or more persons (one
of whom generally assumes the role of instructor) for the purposes of
language learning”. (van Lier, apud
Alwright e Bailey, 1991, p. 18; tradução nossa).
[13]
Vygotsky, 2000a; 2000b; 2001; Williams e Burden, 1997; Rego, 2000; Almeida
Filho, sem data. (mimeo)
[14]
Lindgreen, 1976.
[15]
Lindgreen, 1976, p. 407-411.
[16] O professor tem como função, buscar a língua-alvo para a realidade do aprendiz daquela língua. Além desses papéis, no anexo 4, apresentamos um quadro com mais alguns exemplos dos papéis do professor na sala de aula de línguas listados por Almeida Filho. Ver Almeida Filho, 1998, p. 12.
[17] Almeida Filho usa o termo desestrangeirizar para o professor que lida com o ensino de uma LE. A partir desse termo, adotamos o vocábulo ‘desestrangeirizador’ para tratar de um dos papéis desse professor na sala de aula de LE.
[18] Larsen Freeman, apud Almeida Filho e Barbirato, 2000.
[19] Almeida Filho, op cit; Almeida Filho e Barbirato, 2000; Félix, 1999; Hymes, 1972.Widdowson, 1990; 1991; Félix, 1999; Hymes, 1972.
[20] Na seção 2.4 deste capítulo, retomamos para um estudo mais detalhado de abordagem de ensino de língua e tipos de abordagem.
[21] Almeida Filho e Barbirato, 2000. p 30
[22] Almeida Filho, 1997.
[23] Wright, 1987, pp. 51-52; 1990.
[24]
Wright usa os termos ‘manager’ e ‘instructor’ que aqui traduzimos
como papel de ‘gerente’ e papel de instrutor. Wright,
op cit.
[25] Wright, 1987.
[26] Almeida Filho, 1997; 1998; 1999.
[27] Prabhu, 1990.
[28] Mello, in Mello e Dalacorte, 2000, pp. 9-37.
[29]
Idem, op. cit.
[30] “an overall plan for a systematic presentation of language based upon, a selected approach”. (Brown, 1994, p. 14; tradução nossa).