Diagnóstico da Qualidade da Formação em Língua Inglesa dos Estudantes Concluintes do Curso de Letras da UEG/Anápolis

Márcia Silva

(UEG-GO, Projeto Línguas)

 

RESUMO

Este trabalho é um estudo diagnóstico feito em um grupo de alunos formandos em Letras da UEG/Anápolis, de 2002. O objetivo foi caracterizar o grau das competências comunicativas de (Listening/Speaking) em língua inglesa. O problema científico - quais eram as principais deficiências no processo de aprendizagem e quais suas possíveis causas. A investigação se sustenta nos pressupostos do enfoque histórico-cultural, das revisões e análises dos principais métodos, enfoques e abordagens para o E/A de LE. A pesquisa visa fornecer subsídios tanto teóricos, quanto práticos para cursos de formação de professores de LE e para o aperfeiçoamento das maneiras de se aprender línguas por parte dos alunos. Espera-se que este estudo possa causar um impacto positivo no sentido de levar a uma reflexão maior sobre a qualidade dos professores licenciados com pouco dominio e proficiência em língua inglesa que estão atuando no EF/EM, bem como, criticar o pouco espaço para a língua inglesa, que ainda lhe é reservado na matriz curricular.

 

PALAVRAS CHAVE: a) Qualidade; b) Formação de professores; c) Língua inglesa; d) Processo Curricular.

INTRODUÇÃO

Uma reflexão sobre a qualidade do profissional que esta sendo formado no curso de Letras

Os avanços da ciência e o progresso técnico cientifico têm promovido uma série de mudanças e tendências que se instalam em todas as esferas da pratica social. Figura se entre elas: a união da ciência com a prática; a mudança da correlação das funções que cumpre o homem e sua liberação cada vez maior das funções de execução; o crescimento ininterrupto da importância das funções de direção e por último, a automatização, tipos novos de atividade humana que se transferem cada vez mais às novas tecnologias.

Estas necessidades se manifestam igualmente na instrução em geral, uma das esferas da atividade humana, que se concretiza na exigência cada vez mais de profissionais com uma alta preparação pra a construção do futuro. “Para que isto ocorra, é necessário que se ofereça um ensino que garanta a formação deste futuro profissional com conhecimentos e habilidades de avanço e que tenha a capacitação básica necessária, hábitos de trabalho intelectual e autopreparação, assim como, amor pela profissão que lhe permita colocar sua preparação a serviço do desenvolvimento social e econômico ao iniciar sua atividade laboral”. Ojalvo, (2001)

Situação problemática: Partindo deste cenário, um tema de grande preocupação no campo da educação, na atualidade, é, certamente, a formação de professores licenciados em língua inglesa, dos cursos de Letras das universidades brasileiras. Neste contexto está inserido o curso de Letras da Universidade Estadual de Goiás, UEG/Anápolis.

O desempenho e o domínio para a comunicação em língua estrangeira (LE) têm sido, em menor ou maior medida, objeto de estudo que vem sendo observado e discutido por professores de Prática do Ensino de Inglês – (Estágio Curricular Supervisionado obrigatório), na UEG/Anápolis hoje ainda é aplicada apenas no último ano do curso de Letras. Esses acadêmicos, futuros docentes de língua inglesa ao engressarem nas escolas e colégios de educação básica, dos ensinos fundamental e médio (EF/EM), apresentam muito pouco domínio e ainda são inseguros para a prática de suas habilidades lingüísticas, gramaticais e literárias em língua inglesa adquiridas ao longo dos quatro anos de estudo dentro da universidade.

O momento de prática docente dos alunos do curso de Letras da UEG/Anápolis ocorre em concomitância com várias outras disciplinas obrigatórias do currículo, incluindo-se ainda além a Prática do Ensino de Língua Inglesa, a Língua Portuguesa, o que torna o estágio, (no último ano do curso), uma experiência estressante e traumatizante para esses alunos, o que evidencia um currículo inviável e pesado. Desta forma, fica muito difícil estar formando professores com competência teórica, aplicada e profissional. Como afirmam Cavalcanti e Moita Lopes (1991), os cursos universitários, em geral, idealmente enfatizam o desenvolvimento da competência lingüística do aluno professor, esperando que esta ênfase de alguma forma seja revertida no ensino, uma vez que geralmente apenas um ano (do total de quatro) é destinado à Prática de Ensino.

Como professora de Prática do ensino de Inglês percebo, a exemplo de outros professores, que muitas dessas afirmações constituem crenças já apropriadas por dirigentes, alunos e professores. Ressalte-se, entretanto, que o diagnóstico aqui proposto não constitui resultado de investigação sistemática sobre o tema proposto para este estudo. Busca-se tão somente sugerir algumas indagações e reflexões, cuja pertinência necessita ser avaliada, e aquelas que forem aceitas, que requeiram o aprofundamento e confrontação com a literatura específica, com embasamento teórico dessas deficiências, para verificar o grau de competência lingüística desses alunos. No que se refere especificamente às habilidades de compreensão auditiva (listening) e de compreensão oral (speaking), denominadas (L/S), busca-se identificar os fatores que possam estar contribuindo para essa realidade que ora atravessa o curso e fornecer subsídios para uma reflexão sobre o processo E/A de língua inglesa, nos outros cursos de Letras,  oferecidos nas outras unidades da UEG, visando à melhoria das condições dessa oferta.

Para diagnosticar as principais deficiências apresentadas pelos alunos concluintes do curso de Letras, no processo de formação em língua inglesa e suas possíveis causas, foi feito: A) uma análise dos resultados dos questionários de avaliação do curso de Letras, aplicados em uma amostra de alunos concluintes (4º ano) de 2002 e em um grupo amostra para comparação, alunos calouros (1º ano); B) análise dos resultados dos questionários de avaliação das aulas de Inglês no curso de Letras,  aplicados em uma amostra de alunos concluintes (4º ano) de 2002 e de alunos calouros (1º ano) e C) análise dos resultados dos testes de nível e das entrevistas orais, para avaliar o grau de competência lingüística de L/S em língua inglesa nos estudantes do (4º ano) (Upper-Intermediate to Advance) e (Beginner to Intermediate), (1º ano).

A necessidade desse estudo dentro do plano de estudo dos acadêmicos de Letras responde, em primeiro lugar, à missão e às necessidades do perfil profissional que a UEG pretende formar vide Projeto Pedagógico do Curso de Letras da (UEG, 2000), que é: “um profissional capaz de se desenvolver em sua esfera de atuação com uma adequada competência, e, em segundo lugar, pelas experiências docentes que estes alunos têm enfrentado não somente para se comunicar em língua inglesa, mas também para ser capaz de bem desempenhar seu papel de futuros ou de atuais professores licenciados em língua inglesa nos EF/EM”.

Constituem antecedentes sobre o tema desta investigação, estudos realizados pela professora dra. Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (1996, 1998, 2000 e 2002), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); pesquisas realizadas pela dra. Maria Helena Abrahão Vieira (1992, 1996, 1997,1999); da UNICAMP; de Cavalcanti e Moita Lopes (1986, 1991); além de trabalhos desenvolvidos pelo professor dr. José Carlos Paes de Almeida Filho (1986, 1987, 1991, 1992, 1995, 1997, 1998, 1999), um dos principais defensores da abordagem comunicativa para o ensino de línguas no Brasil.

O objeto de estudo para este diagnóstico é o processo E/A de língua inglesa. A unidade de observação foi os alunos concluintes do curso de Licenciatura em Letras da UEG/Anápolis que iriam atuar na área da educação como professores de língua inglesa em escolas e colégios de EF/EM.

O problema científico que se apresenta é: quais são as principais deficiências que apresentam os alunos concluintes do curso de Letras no processo de aprendizagem de língua inglesa e quais são as possíveis causas dessas deficiências?

Os  objetivos deste estudo foram: diagnosticar o grau das competências lingüísticas de alunos concluintes do curso de Letras da UEG/Anápolis, no que se refere ao domínio das habilidades de competências lingüísticas de L/S, em língua inglesa, assim como identificar os fatores que contribuem para essa realidade. Fornecer subsídios para uma reflexão sobre como se dá o E/A de língua inglesa no curso de Letras, da UEG/Anápolis, visando à melhoria do processo de formação.

A hipótese a demonstrar era: as principais deficiências dos alunos concluintes do curso de Letras no que se refere à aprendizagem de língua inglesa, estão basicamente no domínio das habilidades de L/S e suas causas incidindo no processo de desempenho docente desses alunos na pratica do ensino de inglês (estágio supervisionado) e também nas demais disciplinas relacionadas com a língua inglesa. Os principais fatores que explicam essas deficiências são o Projeto Pedagógico e o Processo Curricular do E/A de língua inglesa.

Significação teórica: apresentou-se um diagnóstico para a realização de um estudo sistemático sobre como acontece o E/A língua inglesa, mais especificamente, as habilidades de L/S , traduzidas aqui como compreensão auditiva e oral, no Curso de Letras.  Do ponto de vista teórico, a investigação se sustenta nos pressupostos do enfoque histórico-cultural e da teoria da atividade que foi desenvolvida por Vigotsky e seus colaboradores, por constitui um marco teórico e metodológico adequado para a compreensão, diagnóstico e direção do processo de formação e desenvolvimento dos valores morais, já que, a partir de seus princípios, categorias e métodos fundamentais, em particular aqueles que abordam a problemática do desenvolvimento sócio-cultural do homem, possibilita uma análise científica acerca de quais são esses valores, o lugar que eles ocupam na personalidade e como operam no processo aprendizagem de LE. relatados por Kraftchenko. O. B e González, V.M. (coleção de autores CEPES, 1999).

As demais competências de  compreensão de leitura e escrita: “Reading/Writing”, forão tratadas juntamente com as de L/S, através das revisões, análise e estudos dos diferentes métodos e enfoques na tentativa de oferecer uma visão histórica da evolução da didática, enfocando as buscas incessantes de novas orientações que levem a um E/A de línguas cada vez mais eficiente.

Em fim, análise das leis do Ministério da Educação e Cultura – (MEC), que dispõem sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, da Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional – (LDB). E por fim, uma análise critica aos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira - (PCNs), que surpreendentemente da pouca importância ao ensino das habilidades de L/S, colocando em segundo plano o ensino da fala, priorizando a leitura, o ensino instrumental da língua inglesa para o EF/EM.

Significação prática: preocupa-se com a qualidade do aluno que sai do curso de Letras, para a sua pratica profissional, ministrando aulas de, e, em língua inglesa, para os EF/EM. Objetivando estas preocupações, colocou-se em prática um sistema de tarefas para diagnosticar as principais deficiências que estes alunos apresentam em seus processos de formação e/ou de suas possíveis causas; apresentou-se também, outro sistema para avaliar o nível de desenvolvimento das habilidades de L/S, dos alunos concluintes do curso de Letras.

Novidade científica: apresentou-se uma proposta de estudo metodológico para o E/A de língua inglesa e disciplinas afins, embasada no enfoque pragmático-lingüístico e na concepção histórico-cultural de desenvolvimento psíquico que até agora não havia sido considerada objeto de estudo no plano de E/A na área de Letras dentro da UEG.

Marco Conceitual: Deu-se através da  conceitualização das seguintes palavras-chave para este diagnóstico: a) Habilidade lingüística de compreensão auditiva; b) habilidade lingüística de compreensão; c) Projeto Político Pedagógico do Curso de Letras da UEG/Anápolis; d) Processo Curricular.

METODOLOGIA DA PESQUISA

Este estudo diagnóstico relata os resultados de uma pesquisa de base teórica e empírica com o objetivo de caracterizar as habilidades lingüísticas de L/S de um grupo de alunos formandos de língua inglesa (e de língua portuguesa) do curso de Letras da UEG/Anápolis. A pesquisa teórica e empírica foi escolhida por ser a mais adequada à pesquisa de caráter interventivo, e por oferecer uma perspectiva geral sobre as abordagens, teorias, enfoques, além das análises de estudos e pesquisas recentes na área do E/A de línguas, bem como ainda propor alterações nas formas de se ensinar língua inglesa, no curso de Letras e de mudanças nos programas das disciplinas oferecidas.

Este estudo também utiliza a integração dos modelos qualitativo e quantitativo da investigação educativa, na busca da compreensão e do nível de aprendizagem de L/S dos alunos concluintes e de alunos calouros do curso de Letras já citado.  Estará embasado segundo o modelo histórico-cultural de Lev Semenovich Vygotsky (1987, 1995, 1997 e 1998), e de seus colaboradores, para explicar como se dá a construção do E/A de língua inglesa, os instrumentos de intermediação do conhecimento entre os aprendizes, seus signos lingüísticos, a linguagem, as atividades de fala e a ZDP, para explicar as trocas interpessoais na constituição do conhecimento. O (4º ano) do curso de Letras da UEG/Anápolis, como objeto de investigação, além de arquivos e assessorias de administração que detêm os documentos e outras informações para a elaboração do diagnóstico aqui proposto.

RESULADOS ESPERADOS

Os resultados aqui levantados, servirão como base para uma proposta de estudo metodológico que poderá ser vinculada na Prática de Ensino de Língua Inglesa com o conteúdo essencial da profissão a partir da consideração dos componentes essenciais do currículo dos alunos do curso de Letras e suas necessidades comunicativas. Espera-se que este estudo possa causar um impacto positivo no sentido de levar a uma reflexão sobre a qualidade dos profissionais licenciados em língua inglesa que a UEG está formando. Sobre o pouco espaço que ainda é reservado à língua inglesa na matriz curricular. Fornecer subsídios aos professores para uma análise de como suas aulas de língua inglesa e suas literaturas são ministradas e, também, análise da qualidade dos planejamentos de ensino dessas disciplinas.

CONCLUSÃO

A presente investigação  nos permitiu diagnosticar, que o currículo, o programa das disciplinas de língua inglesa oferecidos na matriz curricular do curso de Letras da UEG/Anápolis, não esteve contemplando o E/A de língua inglesa, basicamente no desenvolvimento das habilidades lingüísticas de L/S, nos alunos/professores, concluintes do ano de 2002.

Este estudo de caracterização reflexiva e critica nos revela também que as habilidades lingüísticas de L/S, tiveram um nível muito baixo de desenvolvimento nos alunos do 4º ano formandos de 2002; embora  tenha sido constatado, melhores resultados dessas mesmas habilidades, nos alunos calouros do 1º ano, que concluirão o curso de Letras em 2005.

Pode-se diagnosticar, quanto aos professores de língua inglesa do Departamento de Letras, nas análises estatísticas efetuadas, (pela avaliação de seus próprios alunos), que estes professores têm um bom relacionamento com seus alunos, dominam o conteúdo, planejam bem suas aulas, são claros em suas explicações e avaliações.

Esses professores, porém, encontram-se limitados, por falta de apoio de: orientação e supervisão didático-pedagógica, estrutura, materiais didáticos, tornando assim suas aulas conteudistas, teóricas, isoladas das demais disciplinas, não visando assim para a prática profissional desses alunos que serão futuros professores de língua inglesa.

Nas avaliações se pode diagnosticar também, que os  professores do curso de Letras, não deixa claro em sua atuação, quais são seus métodos  e abordagem de ensino de língua inglesa para professores de língua inglesa; quais são as concepções pedagógicas, o modelo de educação e de comunicação, o modelo de profissional que se deseja formar.

Os resultados obtidos deixam claro que o aluno do curso de Letras, não tem consigo qual será o seu papel como profissional da educação talvez porque nem mesmo seus professores o têm.

 

RECOMENDAÇÕES

Diante desse quadro apresento algumas sugestões relacionadas à formação de professores de inglês, da UEG/Anápolis e extensivo a demais cursos de outras instituições que deveriam passar por uma reformulação de seus currículos. Em geral, a formação deste aluno-professor, fica relegada aqui a um único ano e (às vezes a um único semestre em outras instituições) de Prática de Ensino da língua-alvo, o que é muito pouco.

Também é necessário pensar na elaboração de  projetos com programas de apoio ao professor de línguas recém-formado que recebeu pouca ou quase nenhuma informação sobre como ensinar e é abandonado depois, sem um acompanhamento ou um programa de ‘improvement program’ aperfeiçoamento que o ajude na sua prática.

A aprendizagem de uma língua precisa traduzir-se pela aquisição da habilidade para participar no processo dinâmico e criativo da comunicação, o que não ocorre quando o ensino é feito em unidades, separado, rotulado e isolado da língua como um todo – tenham elas o nome de estruturais ou funcionais. E, além do mais, seja qual for a decisão do professor quanto à metodologia escolhida, é preciso que o processo de E/A da língua forneça ao aluno um propósito, uma intenção comunicativa e uma necessidade de transmitir informação. É com base nessa concepção que se montou este diagnóstico, perseguindo principalmente a idéia de que o essencial é que o estudante de Letras sinta a aula de inglês como uma experiência significativa, próxima à sua vida profissional e diária.

 

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