ARTE E CULTURA LOCAL

 

 

* Bárbara Graziella Opa Nunes – 267/01 **Fernanda Célia Alves de Freitas – 130/02 *Jane Fernandes Arbués Carneiro – 277/01 **Joyciene Kelly Alves Pereira – 279/01

 

 

O projeto de cultura na E.J.A. nasceu do questionamento: Como pessoas vindas de lares pobres da periferia, podem sentir-se sujeitos da transformação da sua realidade? Na escola a cultura fica sempre em segundo plano e o espaço em Educação Artística limita-se a atividades estereotipadas, sem levar em consideração o valor da disciplina e da escola para a formação cidadã, lhes negando o repertório cultural e artístico de sua comunidade, de sua nação e da humanidade.

Os alunos gritam através de seus gestos e comportamentos que nossos feitos no dia-a-dia não são prazerosos.

Reconhecemos que nossa sala é prenhe de talentos, que a nossa cultura é rica e da nossa história podemos ser sujeitos.

Vamos lançar mão desse recurso: valorizar, interpretar e entender  cada expressão cultural, aprendendo com cada uma delas que “gente” é ser humano integral e juntamente com essas expressões fazer da nossa educação um palco significativo e prazeroso.

Analisando o perfil dos alunos da E.J.A. do ponto de vista sociocultural, podemos verificar que formam um grupo muito heterogêneo. Os alunos chegam à escola já com uma grande bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo de histórias de vida bastante diversificada. São donas de casa, diaristas, operários, serventes da construção civil, agricultores, migrantes de diferentes regiões do país, idosos, jovens, homens e mulheres, professando diferentes credos religiosos. Trazem, enfim, conhecimentos, crenças e valores já constituídos.

No primeiro momento de nosso estágio, nas observações e regências podemos perceber que nas aulas em que houve confecções e manipulações de materiais, os alunos voltaram no tempo e agiram como crianças: espontâneas e felizes, apesar da grande dificuldade de se permitir vivenciar esse tipo de experiência.

Assim, justifica-se a realização desse projeto, dando que no meio dele, estaremos buscando compreender melhor as questões do tema como parte da aquisição de habilidades e competências pertinentes. Para identificar, analisar e sistematizar os dados por meio da observação, entrevista e referencial teórico, relacionamos as seguintes indagações:  Até quando a escola não será um lugar onde se possa também dar umas boas gargalhadas? Sentir prazer e tê-la como espaço de lazer? O aprendizado não condiz com nossa própria história e com a construção de nossa cultura?  Não se aprende com a arte e com a cultura local? Como vêem a educação escolar?

A educação de jovens e adultos teve seus movimentos iniciados no final da II. guerra mundial, a partir de idéias democráticas que influenciaram as mobilizações nacionais da época. Houve a busca de uma política de educação de base, onde a população rural pudesse se adaptar ao mundo moderno, fabril. Nasce ai as campanhas de alfabetização de adultos.

Esse momento histórico não tomaria forma sem a contribuição de Paulo Freire que no final dos anos 50 se une à luta contra o analfabetismo. Surge desses ideais uma nova visão sobre a educação de adultos nomeada libertadora, onde o precípuo básico seria criar um espaço no processo de apropriação da linguagem escrita que levasse o homem a ultrapassar sua situação de homem objeto à sujeito transformador de sua própria história e do mundo.

Com o golpe militar de 1964, Paulo Freire é exilado. Em 1967, cria-se o MOBRAL, procurando utilizar a metodologia freiriana desvinculando-a do fazer político. Em agosto de 1979 sob o clima de anistia política, Paulo Freire chega ao Brasil.

Nos anos 80 unindo-se novamente Paulo Freire e os grupos de educação Popular que trabalhavam na clandestinidade reconquistam seus espaços. Ocorre a extinção do MOBRAL, mas poucas mudanças ocorreram a nível geral.

O ano internacional da alfabetização abre a década de 90. Educadores, governo e sociedade são desafiados a resgatar a cidadania de milhões de pessoas.

Percebemos que a Educação de Jovens e Adultos, durante sua trajetória, manteve uma relação com o poder político ora sustentando as estrutura sociais estabelecidas, ora reestruturando-as. Porém a concepção de Educação Popular continua contribuindo com a construção da Educação que vislumbramos abraçar.

A Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, artigo 37, 38 da L.D.B., estabelece normas para o sistema de ensino, detalhando inclusive aspectos relativos à Educação de Jovens e Adultos. É justamente essa resolução, mais especificamente o artigo 37 § 2º que dá suporte a estratégia de ensino para E.J.A. que se desenvolve a luz dessa legislação.

Existe entre o homem e o mundo uma relação dialética. Paulo Freire, em à Sombra desta Mangueira (pg. 25), diz

“antes de tonar-me um cidadão do mundo, fui e sou um cidadão do Recife, a que cheguei a partir do meu quintal, no bairro da Casa Amarela. Quanto mais enraizado na minha localidade, tanto mais possibilidade tenho de me espraiar , me mundializar. Ninguém se torna local a partir do universal. O caminho existencial é o universo. Eu não sou antes brasileiro para depois ser recifense, pernambucano, nordestino. Depois brasileiro, latino-americano, gente do mundo.

Para Freire a liberdade é uma decorrência do conhecimento e esse só se realiza na práxis onde alcançaremos o conhecimento crítico da situação opressora que não é só econômica, mas também ideológica, política, social e cultural.

A cultura é tão fundamental na vida do homem que, sem ela, nenhum povo sobrevive. Um perigo que sombreia nosso país é justamente está aberto a invasão cultural. A Pedagogia dominadora tem como pilar a introjeção na cultura dominada da cultura imperial.

Em regime de opressão a cultura popular deve ser mimetizada, e a nossa luta pela libertação só terá, sucesso se retirarmos o homem da condição de objeto, onde ele adota um eu que não lhe pertence, uma cultura que não é a sua e escreve a história do outro da qual ele não faz parte.“A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e crítico, que caracteriza um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana.Esta é a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais, fazer da Arte uma área de conhecimento tão importante quanto as outras, respeitada com toda a sua especificidade.

No P.C.N. de Artes (pg. 43) onde tratar do Conhecimento Artístico como reflexão, coloca que, além dele existir como experiência estética, contém o conhecimento gerado pela investigação da arte como atividade humana, como produto das culturas ou parte da história.

Levando em consideração o ritmo de cada aluno, suas experiências, interesses, expectativas, níveis econômicos e sociais, este projeto visa basicamente realizar um trabalho artístico, apreciar e refletir sobre eles. O Projeto Arte e Cultura Local proporciona ao aluno, muito da metodologia triangular, proposta por Ana Mae Barbosa (observação, produção e contextualização) no livro a imagem no ensino da arte (pg. 34) em que Ana Mae defende esta metodologia, colocar “o saber fazer” como insubstituível para a aprendizagem da arte e para o desenvolvimento do pensamento de uma linguagem diferente da discursiva. Esse pensamento, que ela classifica de presentacional capta e processa informações através de imagens.

Produzir a arte levar o aprendente a pensar inteligentemente acerca não só da criação de imagem, como também do cotidiano dominado por códigos visuais fixos ou em movimentos.

Fazer ou decodificar essas imagens significa fazer o julgamento da qualidade das diversas formas  de expressão artística. O ensino da arte na E.J.A., deixa a desejar, no sentido em que ao aluno não é oferecido a oportunidade de realizar leituras de outras linguagens, além da própria letra.

O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento gradativo das estruturas mentais. Esta forma de organização da atividade mental que vai se aperfeiçoando e se solidificando até o momento em que estando plenamente desenvolvida, caracteriza um estado de equilíbrio superior a aspectos da inteligência, vida afetiva e relações sociais.

Estudar o desenvolvimento significa conhecer características comuns do ser humano, o que permite reconhecer as individualidades, em que alguns fatores como: hereditariedade, crescimento orgânico, maturação neurofisiológica e o meio irão traçar as diferenças.

Há diferentes possibilidades de aprendizagem que a partir desses fatores podem ser realizadas: aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa.

A preocupação subjacente nesse projeto é a de criar condições tais para que o aluno “fique afim” de aprender, de buscar novas informações, formas de expressão artísticas e culturais locais. Sem dúvida não é fácil, pois precisa surgir como solução para a necessidade. Para resolver este problema, consideramos pontos, como: a necessidade que o aluno já traz introduzido e associados a ela outros conteúdos e motivos e, criar novos interesses no aluno.

O Projeto visa proporcionar aos alunos da E.J.A. um aprendizado mais significativo que contribua para o desenvolvimento da socialização, interesses, raciocínio lógico e valores expressados em obras, manifestações culturais e artísticas pelo contato direto com artistas da cidade e indireto através da história, propondo produções artísticas articuladas com a apreciação, promovendo atividades que exercitem a intuição, ampliando conhecimento de mundo, manipulando diferentes objetos e materiais, mediando o interesse por suas próprias produções e por outras obras, através do conhecimento da diversidade de produção artística.

Nas aulas propostas aos jovens e adultos estarão mais envolvidos no fazer a arte e na pesquisa. O conhecimento artístico e histórico deve está sempre presente, enriquecendo o processo de criação. A arte é conhecimento e não decoração ou cópia mecânica do objeto supostamente artístico.

É um projeto para um semestre, mas será desenvolvido em 12 (doze) encontros devido à falta de tempo hábil.

Embora, podendo ser acrescentado referências artísticas de outras regiões brasileiras, o foco destas propostas será sempre a cultura local. Os encontros serão intercalados entre preparação e produção através de oficinas. Nos encontros de preparação serão apresentadas as propostas, referenciais teóricos e históricos de cada atividade, não só através de leituras como também de materiais audiovisuais cada encontro terá duração de 04 horas. As 06 (seis) oficinas de 04 horas cada, constituíram-se de: literatura, fotografia, artesanato, música, pintura e comida típica.

 

BIBLIOGRAFIA

 

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo, Cortez, 1992.

 

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais. Arte; Brasília, 1996.

 

LIMA, Elvira C. S. Alguns princípios básicos sobre o processo de desenvolvimento e de aprendizagem – texto.

 

Desenvolvimento e aprendizagem na escola: Aspectos culturais, neurológicos e psicológicos – texto.

 

Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Lei n.º 9.394/96

 

FREIRE, Paulo – Educação Como Prática da Liberdade – Rio de Janeiro, Paz e Terra.

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* Acadêmicas do curso de Pedagogia

** Acadêmicas do curso de Pedagogia e Professoras