ADAPTAÇÕES METODOLÓGICAS NA DIDÁTICA E PRÁTICA DO ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (E/LE)
Profª
Alessandra Araújo (Esc. Mun. J. A. Vila Nova)
Profª
Ana Paula Martins Oliveira (ALFA/LET-UCG)
Profª
Ms.Cleidimar Aparecida Mendonça e Silva (Cambury/LET-UCG)
Profª
Iris Oliveira de Carvalho (Cambury/LET-UCG)
Profa.
Dra. Lucielena Mendonça de Lima (FL-UFG)
Profª
Marilda Pinheiro Costa (Esc. Mun. Prof. Percival Xavier Rebelo)
Profª
Renata Souza Moraes (Col. Est. Pedro Xavier Teixeira)
Nosso trabalho tem
o objetivo de responder à seguinte pergunta: como os professores de E/LE
adaptam sua formação pedagógica às necessidades de sua realidade de
trabalho? Nos fundamentaremos no modelo ampliado da operação global do ensino
de línguas, proposta por Almeida Filho (1998, p.17), que nos esclarece que a
abordagem de ensinar do professor deve ser entendida dentro da operação global
de ensino que
compreende o planejamento de cursos e suas unidades, a
produção ou seleção criteriosa de materiais, a escolha e construção de
procedimentos para experienciar a língua alvo, e as maneiras de avaliar o
desempenho dos partipantes. A abordagem é uma filosofia de trabalho, um
conjunto de pressupostos explicitados, princípios estabilizados ou mesmo crenças
intuitivas quanto à natureza da linguagem humana, de uma língua estrangeira em
particular, de aprender e ensinar línguas, da sala de aula de línguas e de papéis
de aluno e de professor de uma outra língua.
Encontramos
nos Parâmetros Curriculares Nacionais para Língua Estrangeira (ensino
fundamental, 1998, e médio (1999) que os motivos que explicam o fracasso do
ensino de línguas –predominantemente o inglês, inclusive atualmente- são
“fatores como o reduzido número de horas reservado ao estudo das línguas
estrangeiras e a carência de professores com formação lingüística e pedagógica”
(PCN, 1999, p.147).
Quanto
ao primeiro, infelizmente ainda não foi resolvido. Concordamos que é
praticamente impossível aprender uma LE durante noventa minutos; e quanto ao
segundo, com relação à formação de professores de espanhol, a FL/UFG[1]
já licenciou aproximadamente cem profissionais em seis turmas. Com certeza não
é um número suficiente. Porém com o reduzido número de aulas, duas por
semana, e a inclusão gradativa no currículo, somente no ensino médio, podemos
considerar que a situação se sustenta. É importante ressaltar que o LET/UCG
também está licenciando professores desde 1999.
O processo de ensino de línguas estrangeiras baseado na abordagem
comunicativa e por tarefas ressalta
a necessidade de ir além da simples transmissão e aprendizagem de
conhecimentos gramaticais, pois argumenta-se que saber uma língua implica um
conhecimento de estratégias reais de uso e estar familiarizado com os aspectos
culturais e pragmáticos da mesma, além de poder comunicar-se em situações
imprevisíveis, ou seja, segundo Canale (1995) deve-se posuir competência
comunicativa e saber atuar em
una situação de comunicação real.
Estamos conscientes da dificuldade que representa o uso comunicativo de
uma LE nos primeiros níveis, porém acreditamos que nos mais avançados, os
aprendizes têm mais condições de conhecer e usar a LE com fins comunicativos
em situações, senão imprevísiveis, pelo menos nas já conhecidas. Com o auxílio
de bons materiais básicos e complementares autênticos, de preferência, e
livros didáticos que sejam aliados do professor, se são bons, podem ajudar os
professores nesse processo.
Almeida Filho (1998, p.22, ver figura em Anexo) nos apresenta os vários
elementos que influenciam na abordagem de ensinar do professor. Veremos a
seguir, dois relatos que exemplificam os valores desejados pela Instituição,
que neste caso, é a Secretaria Municipal de Ensino da cidade de Goiânia.
A professora
Alessandra Araújo, que trabalha na Escola Municipal José
Alves Vila Nova, nos coloca duas perguntas que nos inquietam muito e que
vamos tentar, talvez não nesta oportunidade, ajudá-la a respondê-las, pois
nos interessa a todos:
“Inicialmente cai de paraquedas no ensino infantil, já que na
Faculdade de Letras-UFG fui preparada para dar aulas para o ensino
médio. O que me deu conforto é saber que para tudo há uma maneira,
algo como aquela conhecida frase brasileira “para tudo tem um jeitinho”. Em
l999, comecei a dar aulas de espanhol em uma escola municipal de Goiânia, que
desenvolvia o Projeto Pedagógico “Escola para o Século XXI”, isto é, uma
escola que deveria trabalhar projetos, uma vez que estava inserida no processo
de Ciclo[2].
Digo, deveria, porque até hoje somente se trabalhou alguns projetos
sobre datas comemorativas. Em geral, os professores trabalham cada um dentro de
sua disciplina. Não posso deixar de ressaltar que um ou outro professor muitas
vezes se junta e trabalham determinados temas.
Na realidade, o que quero dizer aqui é sobre as adaptações metodológicas
que são necessárias na Didática e Prática de Ensino de Espanhol como Língua
Estrangeira (E/LE) dentro desse processo descrito anteriormente.
Sai da faculdade com a consciência de que a aprendizagem de uma língua
estrangeira dentro da abordagem comunicativa (ampliados mais tarde com meus
estudos de especialização) e da
abordagem por tarefas que têm o objetivo didático de desenvolver a competência
comunicativa ou a capacidade de interagir lingüisticamente de forma adequada
nas diferentes situações de comunicação, integrando as habilidades necessárias.
Fui para a prática e vi que
isso não era tão fácil como parecia. Primeiro, porque temos salas com no mínimo
30 alunos, não há como colocá-los em círculo, o que facilitaria a comunicação.
Segundo, se planejamos uma aula com dinâmicas que dá movimento ao corpo, o
professor não consegue seguir o programa da aula, uma vez que o grupo não tem
regras, nem limites. Terceiro, creio que é o que mais dificulta o trabalho é a
falta de compromisso com os estudos por parte do alunado e seus responsáveis.
Muitas vezes, os pais não valorizam o ensino do espanhol acreditando que o inglês
seria mais importante e necessário. É nesse contexto que ocorre as adaptações
metodológicas, não temos um programa a ser seguido, cada professor constrói o
seu (geralmente se há dois professores na mesma escola, eles se comunicam e o
elaboram).
Nas aulas tenta-se de tudo para desenvolver as quatro habilidades, sem
ter muito êxito, claro que há as exceções, alunos que nos encantam com sua
responsabilidade, facilidade e plazer em aprender espanhol. Minhas aulas, no
geral, giram ao redor do ensino de vocábulos através de ilustrações,
compreensão escrita de pequenos textos, há grupos que é possível trabalhar
textos mais longos. A compreensão auditiva é feita com canções que se tornam
famosas no Brasil, as canções infantis somente funciona bem na primeira etapa
de Ciclo II, muitas vezes são ridiculizadas, uma vez que há a questão
sociocultural, isto é, as crianças, na Espanha, são tratadas como crianças
e no Brasil como miniaturas adultas, que se vestem e têm quase a mesma
linguagem. Outras vezes, trabalho contos para desenvolver as já citadas
habilidades.A expressão oral e a escrita são as mais prejudicadas, uma vez que
se lhes pedimos que escrevam em espanhol, grande parte dos alunos mostram resistência,
por não perceber a importância da língua, por não demonstrar interesse e
outras vezes por falta de atividades que os levem a expressar-se em espanhol.
Geralmente, caimos, pelos vários fatores citados, na rotina de atividades
estruturalistas, com muitos exercícios gramaticales e repetitivos, etc.
Em suma, o objetivo principal do E/LE, que é a comunicação, foi
deixado em algum lugar dessa trajetória da Rede Municipal. esta vive uma
dicotomia: a atual realidade da maior parte das escolas e o que ela realmente
propõe.
Antes de concluir minha fala não posso deixar de pôr a citação de
Krug (200l, p.45)[3]
que apresenta alguns dos princípios nos que se fundamentam a atual Gestão
Democrático-Popular (2001- 2004):
nas escolas por ciclos de formação,
o compromisso é possibilitar a
todas as crianças e adolescentes o acesso ao conhecimento formal. Para isso,
contribuem o conhecimento das fases de formação, a situação social de
desenvolvimento, o contexto cultural e a concepção de conhecimento, esse
entendido como um processo humano, histórico, incessante, de busca de compreensão,
de organização, de transformação do mundo vivido e sempre provisório, tem
origem na prática do homem e nos processos de transformação da natureza. É, também, uma ação humana atrelada ao
desejo de saber. Só o homem, por ser pensante, pode ser sujeito: somente ele
pode desejar a mudança, porque só a ele lhe falta a plenitude.
Ainda segundo este texto e para esclarecer a falta de um programa que dê
norte para as aulas de espanhol, temos a proposta da Secretaria de Ensino que é
A
elaboração de um currículo ou proposta curricular, deve objetivar ações que
possibilitem o desenvolvimento do indivíduo em todas as sua dimensões: física,
psíquica, cognitiva, afetiva, social e estética. Portanto, não há lugar para
as prescrições, os modelos ou as listagens de conteúdos pré-estabelecidos a
serem trabalhados por cada disciplina. Ao contrário, o que se pretende é a
superação dessa visão restrita e fragmentada de conhecimento a ser
transmitido.
Finalizo com estas perguntas: como fica o ensino do espanhol em una
escola pública, tendo em vista o fato de que não se consegue o êxito de ter
una aula comunicativa, já que este é o objetivo principal? O que fazer para
conciliar a proposta da Secretaria com a realidade das escolas?
Bom, a Secretaria tenta inverter este quadro ao propor aos professores
que em seus momentos livres para estudos sejam, realmente, usados para isto, que
a partir das reflexões feitas por toda a rede tenhamos um único eixo para
seguir”
Acreditamos que, com sua experiência positiva no processo de
ensino/aprendizagem da Língua Espanhola na Rede Municipal de Educação de Goiânia
a partir da organização em Ciclos de
Desenvolvimento Humano, a profª. Marilda Pinheiro Costa, que trabalha na
Escola Municipal Prof. Percival Xavier Rebelo, possa nos auxiliar a responder
nossa pergunta inicial e, mais ainda, a encontrar respostas para as perguntas da
professora Alessandra Araujo:
“A organização educacional a partir de ciclos é voltada para a formação
integral do ser humano e sua inclusão social. Neste sistema a prática pedagógica
tem o educando como centro do processo educativo, atentando para as suas
diferentes fases de desenvolvimento humano e respeitando-as.
Como professora do Ciclo II (Ciclo da Pré-Adolescência) da Rede
Municipal de ensino desde janeiro de 2000, confesso que os meus primeiros e
maiores desafios foram entender e perceber a função do ensino da Língua
Espanhola neste tipo de organização pedagógica e, por outro lado, descobrir
como poderia desenvolver os conteúdos propostos entrelaçando-os ao Projeto
Pedagógico da Escola. Aliadas a essas indagações vinham tanto a falta de
experiência em lidar com grupos de alunos na faixa etária de 9, 10 e 11 anos,
incluídos respectivamente nas I, II e III etapas do Ciclo II quanto à preocupação
sobre como e o quê ensinar a grupos de alunos tão heterogêneos em relação
ao domínio de conteúdos.
Contando com a ajuda de alguns colegas da escola e com leituras e
participações em cursos e palestras, assim como, em discussões com outros
profissionais envolvidos no apoio pedagógico da Secretaria Municipal de Educação,
comecei a entender a ciclagem e a
projetar constantes interrogações sobre o processo de ensino da língua
espanhola no sistema de ciclos. No entanto, apesar de todas as teorias estudadas
na Faculdade, os estágios e práticas de ensino não me deram a solução tão
almejada; talvez isso se deva a que não existem soluções prontas, o que me
fez buscar, por meio da ação pedagógica, os caminhos para se chegar a um
desenvolvimento da atividade docente coerente com o processo no qual me propus
participar.
Considerando-se esse aspecto processual, realizei, e continuo realizando,
várias propostas de atividades para que minhas aulas de Língua Espanhola sigam
os preceitos do Ciclo. Destarte, o conteúdo de Língua Espanhola a ser estudado
no Bimestre está inteiramente relacionado ao tema do Projeto Didático-Pedagógico
a ser realizado pelo coletivo de professores e às atividades interdisciplinares
e multidisciplinares que se podem desenvolver. A Língua Espanhola, então, se
alia às outras disciplinas para valorizar o conhecimento de mundo do aprendiz,
além de integrar a realidade dos alunos aos conteúdos específicos.
De acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Língua
Estrangeira (1998), a aprendizagem
de uma língua estrangeira proporciona ao indivíduo a oportunidade de vivência
de novas situações, favorecendo um aprofundamento das relações em situações
de comunicação, o qual é importante para a formação integral do aluno. O
ensino de língua estrangeira beneficia o estudo da língua materna porque leva
à conscientização de que existem semelhanças e contrastes entre ambas. Por
outro lado, a importância do papel formativo da língua estrangeira é
enfatizada quando o educando passa a descobrir e valorizar o outro e a si mesmo
em suas relações como ser social. Isso possibilita a compreensão das diferenças
de costumes entre os povos e a aquisição de uma consciência crítica com
vistas a ressaltar sua própria cultura.
Levando em conta que o aluno se desenvolve melhor com experiências que
possibilitem o aperfeiçoamento de sua criatividade e mediante atividades que
favoreçam sua liberdade de expressão, seu desenvolvimento e seu aspecto lúdico,
a língua espanhola passou a fazer parte do dia-a-dia da escola,
desenvolvendo-se em interação com as aulas de Língua Portuguesa, Matemática,
Artes, Geografia, História, Ciências e Educação Física.
A utilização nas aulas de textos, músicas, filmes e contos infantis em
espanhol, relacionados ao tema proposto no projeto, favorece a assimilação e a
interiorização de elementos de outra cultura, fazendo com que o aluno
participe de seu processo de ensino-aprendizagem.
Nas inúmeras tentativas e buscas de uma ação pedagógica eficaz no
ensino-aprendizagem da Língua Espanhola, dois projetos específicos
proporcionaram grande retorno dos alunos em relação à sua atuação em sala
de aula e inclusive, em alguns casos particulares, fora dela. O primeiro projeto
realizado foi o da Dança Flamenca, projeto este que continua em andamento com
grande integração e participação dos alunos. A idéia principal é abranger
a importância sócio-cultural e afetiva e a visão da aplicabilidade da língua
estrangeira, onde o enfoque é a motivação, a abrangência cultural e o
reconhecimento do corpo e sua relação com o mundo a fim de veicular a
aprendizagem do ponto de vista da variabilidade para a comunicação e expressão.
Nesse projeto, a Dança Flamenca atua como diálogo inicial para a compreensão
do mundo, utilizando novas descobertas e criatividade em situações estruturais
de liberdade e espontaneidade para a prática da oralidade na língua
estrangeira estudada.
Em outro projeto, ainda em fase de introdução, utilizam-se clássicos
infantis em espanhol para trabalhar a compreensão de leitura, auditiva e oral.
Os alunos lêem, escutam, encenam e reescrevem as histórias já conhecidas por
eles na língua materna e “encantadas” na nova língua.
Considerando-se os vários aspectos visados no processo de
ensino-aprendizagem organizado em ciclos, postos em relação com as atividades
lúdicas citadas e outras em desenvolvimento, comprovou-se que é necessário
compreender o aluno como um ser integrado, considerando as suas particularidades
e singularidades, com sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seu
sentido, sua crítica, sua criatividade. Ampliar seus referenciais de mundo e
trabalhar simultaneamente com todos os tipos de linguagens (escrita, sonora,
dramática, cinematográfica, corporal, etc.). Por enquanto, o que se pode
perceber são alunos mais participativos, menos tímidos, com maior facilidade
de expressão e com mais interesse pelas aulas de espanhol, desenvolvendo assim,
seus aspectos: afetivo, físico, social, pessoal, psicológico, simbólico e
verbal dentro de seu ciclo de desenvolvimento humano”.
A professora
Renata de Souza Moraes, que trabalha no Colégio Estadual Pedro Xavier Teixeira,
também nos relata sua experiência positiva e que nos anima a continuar
respondendo as perguntas propostas por Alessandra Araujo.
“Um ensino de qualidade
foi sonhado e transmitido para o papel em forma de PCN cabendo aos professores
colocá-lo em prática. Mas por que é tão difícil seguir as sugestões
contidas nos PCNs em relação ao ensino de língua estrangeira? Sabemos que as
dificuldades encontradas pelos professores nas escolas são muitas e que para
contorná-las é preciso ser “artista” e acima de tudo ser persistentes.
Dizer que não há como desenvolver um trabalho de qualidade porque não há
recursos as vezes se torna mais cômodo do que tentar superar os problemas. Ser
criativo e saber fazer adaptações pode ser um bom começo. Minha experiência
na rede pública começou em 1997 ensinando Inglês e Educação Artística a
alunos do Ensino Fundamental. Naquela época estava cursando o 2º ano do curso
de Letras-Português/Espanhol e o 3º semestre do curso de inglês da Faculdade
de Letras da UFG. Ainda não havia espanhol na grade curricular, portanto
tentava adequar tudo o que aprendia ao ensino de inglês. A resistência era
muito grande e os resultados pouco satisfatórios. Mesmo com as dificuldades eu
seguia uma abordagem comunicativa tentando desenvolver nos alunos as quatro
habilidades lingüísticas: expressão oral e escrita e compreensão oral e de
leitura.
Quando comecei a trabalhar com o espanhol continuei meu projeto que era o
de colocar na prática o que aprendemos na Universidade . Muitos professores por
não estarem fazendo o mesmo estão aumentando ainda mais a aversão à língua
estrangeira por parte dos alunos. No primeiro ano, por ser novidade, eles
demonstraram muito interesse pela língua, já no segundo e terceiro o interesse
diminuiu. Pude perceber que alguns gostam muito de aprender o espanhol, mas como a maioria não quer estudar se
torna um desafio atender a todos . Por mais que se faça atividades
comunicativas não se consegue 100% de atenção, prejudicando o aprendizado
daqueles que querem aprender um pouco mais.
Diante destas dificuldades, procurei trabalhar com o que eles gostam, ou
seja, jogos, brincadeiras e música. Realizamos um concurso intitulado de
El mejor cantante español com
premiações e uma exposição na semana do folclore trabalhando comidas típicas,
festas, danças, provérbios e expressões em espanhol. Na Semana Cultural que
acontece todo ano na escola os alunos cantaram e dançaram músicas em espanhol,
traduziram e recitaram poemas e fizeram inclusive um filme. Como o tema da
Semana era Ler é bom demais,
levei vários livros paradidáticos onde cada um leu e contou,
resumidamente a história tentando falar em espanhol. Um dos grupos do segundo
ano conseguiu, dentro de suas possibilidades, fazer o filme do livro El
banco de piedra (ed. Ática).
Foi
muito bom ver a participação da maioria dos alunos.
A conclusão que chegamos é que quando o professor motiva os alunos é
possível realizar algumas atividades, mesmo com adaptações, o importante é
que haja aprendizado. O Governo quer um ensino de qualidade e professores
qualificados mas não oferece condições verdadeiras para que isso aconteça. O
investimento dedicado à educação pública ainda está muito distante da
realidade das escolas. Os recursos
requerem bons educadores para que o resultado, ou seja, a aprendizagem seja
satisfatória. É preciso deixar a falta de vontade de lado e tentar resgatar a
auto-estima de nossos alunos. “Para que um sonho se torne realidade é preciso
antes acreditar nele...”
A partir dos PCN
(1998) que regulamentam o ensino de Línguas encontramos que, a aprendizagem de
Línguas Estrangeiras (LE) é uma possibilidade de auto-percepção e
engajamento discursivo do aprendiz, ou seja, aumenta a capacidade de engajar-se
e engajar outros no discurso de modo a poder agir no mundo globalizado. Ainda
nestas concepções, é fundamental que o ensino de LE seja balizado pela função
social, tal função está, principalmente, relacionada à leitura, à uma política
de pluralismo lingüístico, às condições pragmáticas que apontam a
necessidade de se considerar três fatores de orientação de ensino: a história,
as comunidades lingüísticas e a tradição cultural (PCN,1998).
Para concretizar a
função social da LE na sociedade brasileira, dentro das condições de
aprendizagem existentes e das necessidades sociais mais emergentes, foram
estabelecidos objetivos e propostos conteúdos em relação aos conhecimentos de
mundo, de tipos de texto, sistêmicos e atitudinais. Os PCN (1999, p. 46-153),
de uma maneira resumida nos informam as várias competências e habilidades a
serem. A preocupação com a preparação para o mercado de trabalho é
evidenciada em “(...) Evidentemente, é fundamental atentar para a realidade:
o ensino médio possui, entre suas funções, um compromisso com a educação
para o trabalho” (p.149). A proposta de trabalho é a interdisciplinar que
viabiliza o trabalho com os temas transversais: meio ambiente, trabalho e
consumo, pluralidade lingüística, orientação sexual, ética, saúde,
cidadania e organização política na sociedade.
Esta prática pedagógica é destacada
pelo Artigo 2º da atual LDB dispõe que: “A educação, dever da família e
do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. O novo
paradigma para a educação do século XXI, também, propõe a
interdisciplinaridade que segundo Santomé (1998) “(...) é a junção de
estudos complementares de diversos especialistas em um contexto de estudo de âmbito
mais coletivo (...)” E de acordo com Petraglia (2001)
(...) É a comunicação
entre as disciplinas, guardadas as especificidades e particularidades de cada
uma. É de extrema importância as relações que existem entre os conteúdos de
uma disciplina, entre as várias disciplinas de uma determinada grade curricular
e o curso a que se referem, entre as disciplinas e a vida, e assim
sucessivamente, a fim de não se estimular a elaboração de conhecimentos
parcelados, advindos do pensamento linear, mas promovendo-se a construção de
um saber uno, com visão conjunta e de um todo composto por muitos aspectos
(...)
A
interdisciplinaridade não é negação de especialidades, mas sim a articulação
entre elas, pois representa a integração que leva ao entrosamento e à
articulação de diferentes saberes. Assim, o professor tem a necessidade de
articular a Língua Estrangeira que ensina com outras disciplinas da grade
curricular do curso onde atua. A Interdisciplinaridade na formação de alunos e
professores reflexivos e críticos. O quê significa ser crítico e reflexivo
nos dias atuais? Por quê? É saber reconhecer e conhecer a constante informação
de saberes diversos, o que é facilitado pelo avanço tecnológico. O dever do
professor é trabalhar a Interdisciplinaridade e preocupar-se com o preparo do
aluno para o mercado de trabalho, fazendo a aplicabilidade de conteúdos.
Comentaremos, a partir de dois relatos, os objetivos e necessidades das
aulas de espanhol que fazem parte dos programas de cursos universitários com
finalidades específicas, bem como a produção e/ou seleção de materiais,
procedimentos para experienciar a L-alvo (técnicas e recursos) e a avaliação
do rendimento dos alunos.
A professora Ana Paula Martins Oliveira,
que trabalha na ALFA e LET/UCG nos conta sua prática diária:
“Antes de relatar nossa prática docente no curso de
turismo, gostaríamos de abordar um tema muito discutido atualmente: língua
estrangeira instrumental. A maioria dos estudantes e muitos professores associam
a língua estrangeira instrumental à leitura, devido ao fato de um dos
primeiros cursos de inglês instrumental no Brasil, ministrado a alunos do curso
de direito, ter sido direcionado à essa habilidade.
Na faculdade onde lecionamos a disciplina se
intitula” Língua Espanhola Instrumental”, por essa razão, logo no primeiro
dia de aula após a entrega do plano de curso, os alunos se mostram
surpreendidos pois acreditavam que o curso seria voltado à leitura de textos
especifícos da área de turismo. Ao planejar o curso, decidimos trabalhar,
amparados teoricamente pela abordagem comunicativa, com as quatro habilidades
tendo em vista que o profissional do turismo fará uso, principalmente, da língua
oral para desenvolver o seu trabalho. Assim, durante o curso de espanhol,
pretendemos que o aluno se aproxime da realidade sociolinguística espanhola e
hispano-americana e seja capaz de compreender mensagens escritas e orais das
situações básicas de cotidiano como também fazer-se entender verbalmente
nestas mesmas situações.
O curso de espanhol nessa instituição é ministrado
no 4º período, a carga horária é de 68 h/a, o que nos permite desenvolver
apenas os tópicos mais relevantes, técnicas básicas para a compreensão da língua
espanhola através da prática de estruturas linguísticas de maior uso, ou
seja, uma breve introdução às habilidade iniciais na comunicação em
espanhol, noções básicas de gramática, vocabulário técnico básico e
interpretação de texto. Finalmente, nosso objetivo é, também, mostrar ao
aluno a extrema importância do conhecimento da língua espanhola para o
desenvolvimento de seu trabalho. Para finalizar, gostaríamos de enfatizar o
entusiasmo e receptividade
A mestre Cleidimar A. e Silva nos conta sua experiência
com os cursos de espanhol com fins específicos, tão procurados na atualidade:
“Sou professora
de Didática e Prática de língua espanhola na UCG e também ministro aulas de
espanhol instrumental na Faculdade Cambury, para os cursos de Comércio Exterior
e Turismo. Relatarei brevemente algumas adaptações metodológicas que tive de
fazer para trabalhar a partir da abordagem instrumental do espanhol no curso de
Turismo. Para Costa (2000), o termo “língua instrumental” enfatiza a
comunicação e a técnica relacionadas ao ensino da leitura de textos
especializados e tem como suporte o texto específico de uma ou mais áreas do
conhecimento. Entretanto, sabemos que um prestador de serviços na área de
turismo (supervisor, consultor, gerente, assessor, guia turístico,
recepcionista, entre outros) está em contato direto ou indireto com turistas
internacionais. Portanto, é necessário que se expresse oralmente, ainda que de
maneira superficial, em uma língua estrangeira. Dessa forma, somente o domínio
da compreensão de textos específicos da área não é suficiente para a
adequada formação deste profissional. É preciso enfatizar a prática oral em
situações específicas do turismo.
Ainda segundo Costa (2000), o ensino de línguas com fins específicos
enfatiza mais os objetivos a serem alcançados que a metodologia a ser
utilizada. Assim, procuramos que
o
curso de espanhol possa: oferecer aos alunos conhecimentos lingüísticos básicos
para que se comuniquem escrita e oralmente no âmbito dos serviços turísticos;
capacitar os alunos, oferecendo-lhes, através da língua espanhola, um
instrumento de trabalho útil para a sua vida profissional; satisfazer as
necessidades mais gerais de comunicação dos profissionais de turismo.Buscando
integrar as disciplinas de cada período, numa perspectiva interdisciplinar, os
professores, a partir de uma visita técnica realizada a uma cidade do estado de
Goiás ou à uma de outro estado, procura solicitar algo relacionado à sua
disciplina. Em língua espanhola, os alunos elaboram um folder turístico bilíngüe
(português/ espanhol), informando sobre a localização da cidade, as vias de
acesso, a origem histórica da cidade, os principais atrativos turísticos,
alojamentos, restaurantes, e demais informações úteis ao cliente.
De acordo com
Giovannini et al. (1996, p. 49), “o ensino da expressão oral tem por objetivo
geral desenvolver a capacidade do aluno para expressar oralmente o conteúdo de
uma mensagem e manter uma conversação”. Endossando essa idéia, acreditamos
que é fundamental que um aluno de Turismo consiga estabelecer um diálogo, com
turistas estrangeiros, nas mais diversas situações comunicativas.
Dessa maneira, a
interação oral em sala se intensifica mais a partir do segundo período de língua.
Os estudantes são expostos a várias atividades para promover o desenvolvimento
da expressão oral. Dentre elas, destacamos os diálogos a partir de situações
da vida laboral do profissional de turismo, como: no aeroporto, no hotel, num
bar, ou apresentando seminários sobre os principais pontos turísticos das
comunidades autônomas da Espanha ou dos países hispano-americanos.
Nos dois semestres
de língua epanhola do curso de Turismo, usamos o livro Español sin Fronteras, nível elementar, dos autores Jesús Sánchez
Lobato, Concha Moreno García e Isabel Santos Gargallo. Além do livro Español
por profesiones: servicios turísticos, da autora Concha Moreno, para dar um
suporte de língua e ao mesmo tempo trazer situações específicas do turismo
para a sala de aula.
A modo de conclusão, podemos afirmar que a abordagem instrumental de línguas
estrangeiras adquire a cada dia novo impulso, integrando os currículos de
cursos como: Comércio Exterior, Administração, Marketing, Finanças,
Jornalismo, entre outros. Portanto, é necessário que as instituições
formadoras de professores de espanhol como língua estrangeira habilitem seus
profissionais para o pleno exercício da abordagem instrumental dessa língua,
haja vista a crescente demanda neste setor.”
A professora Iris Oliveira de Carvalho, que trabalha na Faculdade Cambury
e no LET-UCG nos comenta que
“De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensino caracteriza-se
pela combinação de atividades do professor e dos alunos. A eficiência desse
processo depende do planejamento, o qual conjuga objetivos, conteúdo, método e
formas de ensino. Os métodos são determinados pela relação objetivo-conteúdo.
Segundo este autor, método pode ser entendido como o caminho para atingir um
objetivo, ou uma seqüência de ações para atingi-lo, ou seja, meios adequados
para a sua realização. O professor, por sua vez, utiliza um conjunto de ações,
ou procedimentos para conduzir e estimular o processo de ensino. O método de
ensino expressa a relação entre o conteúdo determinado e o objetivo de
estudo. Essa inter-relação é expressa no sentido em que o conteúdo determina
o método, pois ele é ferramenta para atingir o ou os objetivos de estudo.
O ensino de E/LE tem-se nutrido de propostas metodológicas desenvolvidas
a partir de objetivos específicos de aprendizagem. Os princípios teóricos e a
natureza da aprendizagem são expressas pelo material didático através do
conteúdo e método utilizados. É crescente o número de cursos universitários
que incluem o espanhol em seus currículos. Para cada curso o espanhol é
ensinado com um determinado fim.
Concomitantemente a essa demanda dos cursos de espanhol deveriam estar os
materiais didáticos. As dificuldades de se ensinar espanhol com fins específicos
vão desde a má formação de profissionais, falta de infra-estrutura nas
universidades, até a mais completa ausência de material em certas áreas ou os
altos preços. Fazendo com que o professor fique restrito a aulas de leitura
instrumental sobre o tema. Outra limitação é com relação aos alunos que
muitas vezes não demandam dedicação e interesse suficientes para um bom
aprendizado. Embora a maioria admita que o espanhol é um idioma interessante
para se aprender, “mais fácil” em comparação com outros, o que se nota é
o não comprometimento com o process
Acreditamos que, realmente, seja muito difícil, para não dizer impossível, organizar un curso e seleccionar materiais que incluem todos os conteúdos lingüísticos e funcionais que devem ser trabalhados para o desenvolvimento da competência comunicativa, somente com duas aulas semanais. De maneira que seria menos complicado, assim acreditamos, e talvez seja uma possível solução, se os professores estivessem bem formados, isto é, sendo um falante (nativo ou não), com um excelente nível de competênica lingüístico-comunicativo, teórica e aplicada, além da metacompetência profissional e que saiba reconhecer, criticamente, sua competência implícita (Almeida Filho, 1998, p.22). Assim estarão preparados psicopedagogicamente para saber reconhecer as dificuldades específicas dos alunos brasileiros e preparar as aulas de acuerdo com as mesmas, e não somente “deixar-se levar” pelas propostas aparentemente comunicativas encontradas em alguns programas, projetos e livros didáticos que, de fato são mais uma intenção que uma realidade. De maneira que nos apoiamos, uma vez mais, em Almeida Filho (1995, p.17-19) para defender a necessidade de uma “metodologia portadora de algumas especificidades” a partir da lingüística contrastiva que deve incluir tanto a fonologia, a sintaxe, bem como a pragmática, evitando as armadilhas da enganosa facilidade, pois “a familiaridade inerente à proximidade das línguas [portuguesa e espanhola] está a favor de uma progressão de experiências de conteúdo e de processo mais ágil, possibilitando experiências com áreas de uso comunicativo”.
Também, fazemos nossas, as palavras de Talia Bugel (1998, p.194) apresentadas nas conclusões de sua dissertação de mestrado que resume nossa preocupação e que impulsionam nosso trabalho:
“no contexto da perspectiva atual do ensino de espanhol no Brasil, pode-se dizer que o caminho somente está começando a ser percorrido e o futuro surge promissor em termos de oportunidades de novos e empreendedores projetos de pesquisa e de desenvolvimento de materiais didáticos”.
ALMEIDA
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A organização da educação na Rede Municipal de Goiânia a partir dos ciclos
de desenvolvimento Humano. (Documento produzido pela equipe de apoio pedagógico
da Secretaria Municipal de Educação).
[1] A profª Lucielena M. de Lima é professora de didática e prática de ensino de espanhol da Fac. de Letras da UFG desde 1998, quando se graduou a primeira turma, sendo duas das licenciadas Cleidimar A. M. e Silva e Alessandra Araújo; em 1999, se licenciaram as professoras Ana Paula M. Oliveira, Iris Oliveira de Carvalho e Marilda Pinheiro Costa, e em 2000, Renata Souza Moraes.
[2]
Em l998, foi implantado o projeto de Ciclos (a organização em ciclos busca
respeitar as fases de desenvolvimento humano: ciclo da infância, da pré-adolescência
e da adolescência) em 39 escolas do município de Goiânia que se propunham
a trabalhar o Ciclo I, II e III.
[3]
Esta citação de Krug está escrita no texto que foi distribuído nas
escolas para que os professores o estude, se intitula “Considerações
preliminares acerca da organização curricular a partir dos Ciclos de Formação
e Desenvolvimento Humano.