A
LÍNGUA ESTRANGEIRA NA UNIVERSIDADE: O REAL E O NECESSÁRIO
Martha Eugênia Castanheiro Rady – Centro de Línguas
Vivas da UCG.
Svetlana Guerreiro Chaves Garrido – Centro de Línguas
Vivas da UCG.
Resumo
Este trabalho está direcionado à discussão
sobre a formação do futuro professor de línguas estrangeiras no Curso de
Letras, no atual contexto da globalização. É fruto de uma pesquisa
desenvolvida por uma docente de língua inglesa e uma docente de língua
espanhola, com vistas a identificar se
realmente o aluno, ao terminar o curso, se sente habilitado para atuar na sala
de aula, bem como as dificuldades vivenciadas e o grau de satisfação do aluno
ao término do curso de graduação.
Introdução
Ao longo de nossa formação, e posteriormente
como professoras de línguas em cursos livres, percebemos que alguns alunos do
Curso de Letras buscam uma complementação da aprendizagem da língua estudada,
fora do âmbito da universidade. Daí, algumas de nossas inquietações: saber
se o número de alunos que procuram tais cursos é significativo ou é
irrelevante dentro do contexto acadêmico. Se relevante, o porquê desta busca.
Se os alunos têm encontrado dificuldades durante a graduação, e como as têm
enfrentado. Como também, se o curso atendeu as suas expectativas.
Para
a realização deste trabalho nos centramos nas disciplinas de Inglês e
Espanhol do Curso de Letras da Universidade Católica de Goiás. Partimos da
premissa de que o aluno do Curso de Letras, em língua estrangeira, deve, na
conclusão do curso, apresentar o domínio das quatro habilidades: a leitura, a
escrita, a audição e a fala. Enfatizamos as necessidades e evidenciamos
dificuldades enfrentadas nesse processo de aprendizagem.
O
interesse maior da nossa pesquisa foi averiguar se realmente o aluno, ao
terminar o curso, se sente habilitado para atuar na sala de aula, bem como as
dificuldades vivenciadas e o grau de satisfação do aluno ao concluir a graduação.
O que se pretendeu foi averiguar, dentro do espaço da universidade, a forma em
que vem sendo produzido o conhecimento, e de que forma vem ocorrendo a aquisição
da língua nesse espaço. Questionamos se o futuro professor se sente preparado,
se adquiriu nesse processo de formação conhecimentos pedagógicos, didáticos
e se desenvolveu competência lingüística que possibilite a transmissão dos
conhecimentos adquiridos.
Os
procedimentos metodológicos utilizados em nossa pesquisa na obtenção de dados
necessários para o desenvolvimento deste trabalho foram trabalho de campo e
levantamento bibliográfico. A pesquisa de campo foi feita através de questionários
aplicados individualmente aos alunos do primeiro e último anos dos cursos de
letras, de espanhol e de inglês das Universidades Católica.
Com este questionário objetivamos verificar dificuldades com as quais os
alunos se depararam no decorrer do curso, como também, as formas de resoluções
encontradas
O
licenciado e a formação do professor.
Nos
últimos tempos, o interesse em estudar uma LE cresceu consideravelmente; isso
em grande parte se deve à globalização, e com ela é inevitável que passe a
existir a necessidade de interação com pessoas de outra língua. Percebermos a
formação do professor de LE não apenas como formação teórica, mas também
como formação prática, já que entendemos que a língua é um instrumento
fundamental nas relações sociais, que possibilita interações, que é através
dela que manifestaremos uma postura sócio-política. O que nos leva a pensar
que o ensino de uma LE tem-se feito imprescindível.
Acreditamos
que será a partir de uma orientação teórica que o professor poderá estar
refletindo de maneira consciente e crítica sobre a sua prática. Entendemos que
a articulação entre a teoria e a prática é indispensável, já que esse pode
ser o caminho que favorecerá não só ao exercício de sua atividade de maneira
eficaz, como também à melhoria da qualidade no ensino. Enfim, as reflexões
sobre prática escolar serão de suma importância para a melhoria do trabalho
docente. De acordo com Alvarenga (1999, p.111)
[...]
uma forte vertente tem se posicionado no cenário de formação de professores
de línguas atribuindo importância à conscientização do professor acerca de
sua prática, conscientização essa possível de ocorrer a partir do processo
de reflexão realizado pelo próprio professor. Essa prática deve ser entendida
de imediato como objeto natural de reflexão constante.
Entendemos
que o futuro professor de língua estrangeira, com um nível teórico na área
de Lingüística Aplicada, deve sempre se questionar e refletir constantemente
sobre os objetivos que ele almeja alcançar, e que métodos seriam os mais
adequados para lograr, de maneira satisfatória e eficaz, esses objetivos dentro
da situação de ensino que ele irá se deparar. Ao mesmo tempo se espera que,
durante sua formação, ele tenha desenvolvido satisfatoriamente as quatro
habilidades que lhe são peculiares, ler, escrever, ouvir e falar.
Se
a formação do professor, em geral, tem sido deficitária, não seria diferente
no que diz respeito à formação do professor de LE, o que pode acarretar
dificuldade no seu desempenho profissional por não se sentir capaz de trabalhar
uma determinada abordagem, de não apresentar um devido preparo com respeito à
fala, compreensão auditiva, aquisição da leitura e a escrita, atividades básicas
no processo ensino-aprendizagem de uma LE.
Acreditamos
que para que o ensino-aprendizagem
de uma LE aconteça de maneira satisfatória,
não se pode separar o ensino de conteúdos específicos, do ensino das
metodologias e das disciplinas pedagógicas.
De
acordo com Moreira (2002), “formar
um professor técnica e politicamente competente significa formar um professor
que integre, em sua atuação, conhecimentos, habilidades, crenças, valores,
emoções e comprometimentos”. O professor deve fazer uso de suas habilidades
para enfrentar os desafios do cotidiano escolar; deve encontrar motivação na
realidade que vivencia e incorporá-la
às atividades do cotidiano, possibilitando assim uma melhoria na qualidade do
trabalho docente. Segundo Almeida Filho (1993 apud Alvarenga 1999, p.
113), o futuro professor de língua estrangeira deve desenvolver certas competências.
A
competência lingüístico-comunicativa permite que o professor produza sentidos
na língua-alvo via experiências válidas de comunicação; a competência
aplicada, que engloba a competência teórica, consiste em viver aquilo que se
sabe teoricamente na prática de sala de aula; a competência profissional, que
permeia todas as outras competências, se caracteriza pela consciência do
professor sobre seus papéis de educador e criador de oportunidades e climas.
Dentro
do processo de formação do futuro professor de línguas, entendemos que é
importante buscar a compreensão de certos mitos, crenças e pressupostos
culturais existentes sobre a aprendizagem de LE entre alunos de Letras. Alguns
alunos acreditam que viver no país da língua a ser aprendida é
suficiente para sua aquisição e que a vivência possibilita o
aprendizado total da LE sem a
necessidade do estudo das estruturas gramaticais.
Outros
pensam que aqui só se aprende a base, gramática e grafia, que a pronúncia e
fluência só podem ser adquiridos fora. Outros acreditam que é de suma importância
que os alunos falem sem sotaque, de maneira semelhante aos falantes nativos.
Segundo Barcelos (1999) é importante oferecer oportunidades para que o aluno
possa tomar consciência das suas crenças sobre a aprendizagem de línguas.
Essa
conscientização e a possível desmistificação de algumas crenças fazem com
que o professor se torne mais crítico na tarefa de ajudar outras pessoas a
aprender uma língua estrangeira. Félix (1999, p. 96) mostra no texto abaixo a
necessidade de que tais conceitos sejam repensados:
A
formação do professor deve ser algo contínuo. Quanto mais básica ela for,
maior a probabilidade de ele agir em sala de aula e cobrar atitudes de seus
alunos orientando por uma competência constituída de intuições, crenças,
experiências pessoais de como foram ensinados ou como aprenderam a LE. Por
outro lado, se o professor aprimora seu conhecimento, estando em constante
crescimento profissional, ele é capaz de sair do nível da intuição e das
crenças e passar a explicar com explicitude e articulação porque ensina da
maneira que ensina e porque obtém os resultados que obtém.
Os
Cursos de Letras na UCG
Antes
de partirmos para a análise dos questionários aplicados aos alunos do Curso de
Letras, faremos um breve comentário sobre a proposta curricular do departamento
de letras da UCG (1992), que tem como objetivo
[...]
tornar o Curso de Letras da UCG mais atual, mais competitivo, de tal forma que
aqui possa ser realizado um trabalho que considere o avanço atualmente
verificado na área das ciências da linguagem, formando profissionais capazes
de se integrar na estrutura contemporânea do desenvolvimento sócio cultural e
técnico cientifico, porque, no presente estágio, constata-se que os diversos
setores do universo ocupacionais vêm se alterando enormemente, em razão desse
desenvolvimento.
Assim,
inicia-se a proposta curricular do Curso de Letras da UCG-1992, justificando a
necessidade de uma reavaliação permanente no setor educacional em função do
aumento do ”número de ocupações
existentes” no mercado de trabalho. Nesta proposta são
ressaltadas as variáveis de ocupações no mercado, oportunizando
trabalho diversificado na área de letras, de forma ampla e promissora, tais
como: magistério, redação oficial, revisão textual, tradução e interpretação,
entre outras.
Daí,
justificar a mudança de currículo ”procurando
viabilizar uma prática integradora da ação educativa com o setor
ocupacional” na tentativa de atender a um número maior de opções que
encontrarão os futuros profissionais formados neste departamento.
Os
Sujeitos: dados gerais
Apesar de que o primeiro contato com os professores das turmas em que
aplicamos os questionários, tenha sido satisfatório, em um segundo momento
encontramos uma certa resistência por parte de um professor para aplicarmos o
questionário em sua turma, o que fez com que tivéssemos que voltar por várias
vezes à Universidade. Embora esse fato não tenha relevância na conclusão do
nosso trabalho, o mencionamos aqui porque de certa forma atrasou o andamento do
mesmo, nos levando a exceder o
tempo por nós previsto para sua conclusão e evidenciar uma relativa indisposição
do professor com o processo de pesquisa.
Considerando os dados analisados, encontramos alunos com uma faixa etária
diversificada, bem como a presença de ambos os sexos. Estas variáveis constam
aqui, apenas para efeito de registro de dados dos sujeitos que participaram
neste trabalho. No entanto, não deixa de ser uma amostra que nos possibilitou
uma leitura dos dados sob olhares diversos, tanto de alunos com mais idade, que
têm uma experiência de vida maior, quanto dos mais jovens, já que ambas as línguas
apresentaram um grupo bastante heterogêneo. A maior concentração de alunos,
no que diz respeito à língua espanhola, se deu na faixa etária de 26 a 30
anos, e de 36 a 40 anos na a língua inglesa. Porém, encontramos alunos em
todas as faixas etárias. Estes dados nos fazem perceber que apesar de uma
concentração em uma determinada faixa etária, averiguamos que o interesse de
estudo de uma LE está presente desde os mais jovens até os indivíduos de
maior idade, já que encontramos alunos na faixa de 15 a 20 anos, bem como de 46
a 50 anos.
Já no que diz respeito ao sexo, se nota claramente que o número de
mulheres no Curso de Letras supera significativamente o número de homens que
estudam línguas. Entretanto, vimos que a língua espanhola tem despertado maior
interesse de estudo no sexo
masculino do que a língua inglesa.
É importante destacar que na apresentação dos resultados de nosso
trabalho não identificaremos os alunos que nele participaram. Resguardar a
identidade dos mesmos é um procedimento ético e os entrevistados em nenhum
momento manifestaram o desejo ou não de que seus nomes fossem divulgados. Nossa
amostra foi selecionada casualmente e apresenta o mesmo número de alunos de
ambas as línguas, os números são iguais tanto para os alunos do primeiro período,
como também para os alunos do sétimo período.
A visão dos calouros
Apesar de termos apresentado até este momento dados gerais do curso no
que se refere a faixa etária e sexo dos alunos, a partir de agora nos
limitaremos a apresentar apenas os resultados obtidos junto aos alunos do
primeiro período. Pela variedade de formas de expressar sentimentos parecidos,
criaremos categoria para apresentar os resultados.
Verificamos que os motivos que levaram estes alunos a escolherem o curso
coincidem no que diz respeito às respostas; no entanto, no
tocante ao número, há uma divergência. As respostas foram agrupadas em
três categorias, afinidade, formação profissional e outros. Agrupamos na
categoria, afinidade e formação
profissional, respostas como:
...gosto das músicas...,
...porque acho bonito
o idioma e sempre tive vontade de aprender...,
...porque eu gosto de
estudar línguas..,
...Porque o inglês é
uma língua mundial...,
...porque es una língua
muy comercial e importante..
... por que quero ser
professora...
Constatamos que os alunos de inglês apresentaram um certo equilíbrio
quanto à afinidade com a língua e formação profissional 46,7% e 40%
respectivamente, entretanto os alunos de espanhol atribuíram 64%
à afinidade e 21,6% à formação profissional.
Portanto, entendemos que a afinidade com a LE é o motivo principal que
levam o aluno do primeiro período a buscar o Curso de Letras; no entanto no que
diz respeito à formação profissional, como mencionamos anteriormente, podemos
justificar esta escolha pelo papel que a língua inglesa desempenha atualmente no
ensino, que se dá em grande parte em função do poder e da influência da
economia norte-americana no mundo, por ser uma língua universal do mundo dos
negócios. O que não acontece na mesma dimensão com o espanhol, apesar de que
as relações econômicas entre os países da América do sul tenham expandido
através do MERCOSUL, e que este seja um fator de influência para a divulgação
do idioma, o número de alunos da língua espanhola que manifestaram um
interesse em uma formação profissional no início do curso, foi inferior ao do
inglês.
Uma
de nossas maiores inquietações neste trabalho foi averiguar se o aluno do
Curso de Letras havia estudado ou estava estudando uma LE em escolas específicas,
bem como em que proporção os alunos terminariam o Curso de Letras e
apresentariam o conhecimento da LE. Nas
respostas colhidas junto aos alunos iniciantes do inglês, encontramos que a
maioria dos alunos (58%) estudaram ou estão estudando a língua em escolas
específicas. O menor tempo estudado mencionado foi de 3 meses, e o maior de 4
anos. Fizemos uma média das respostas e obtivemos um resultado para o inglês
de 2 anos de estudo por parte desses alunos.
Com
relação ao espanhol, apenas 30% dos alunos estudaram a língua fora da graduação,
todos os que responderam sim a esta questão, estudaram a língua antes de
entrar na Universidade e coincidentemente pelo mesmo tempo: 1 ano. Isso faz com
que o espanhol apresente não só um número menor de alunos que estudaram fora
da graduação, bem como apresente uma média inferior ao tempo estudado, apenas
1 anos, contra os 2 anos do inglês.
Acreditamos
que esta relação é bastante complexa, que seria tema para uma nova pesquisa.
Nos centraremos aqui, apesar de apresentar dados em separado dos dois cursos, em
apresentar uma visão geral do processo de aprendizagem de uma LE.
Entendemos que o ensino de uma língua acontece dentro de processos
semelhantes. No entanto, não podemos descartar as particularidades que cada uma
possa apresentar. Daí nos permitirmos tecer alguns comentários que nos fizeram
refletir a respeito dos dados aqui apresentados.
Sabemos
que o mito da aparente facilidade na aprendizagem do espanhol pelos falantes da
língua portuguesa está presente em nossa cultura. Devemos considerar que o
fato de que as duas línguas sejam inteligíveis favorece de alguma forma seu
aprendizado, já que o aluno possui conhecimentos e habilidades comuns às duas
línguas, o que não acontece com relação ao inglês.
Por
outro lado é interessante mencionar que o mesmo fato que possibilita uma maior
aprendizagem da língua pode ao mesmo tempo influenciar nos erros cometidos
pelos aprendizes.
De
acordo com Almeida Filho, (1995 apud Ferreira, 1997) o elevado grau de
compreensibilidade da língua-alvo, neste caso a língua espanhola, pode
permitir ao falante da língua portuguesa mais segurança, bem como maior
capacidade de risco. Sendo assim, entendemos que há uma propensão natural a
considerarmos a semelhança entre as línguas como um elemento favorável em sua
aquisição. Segundo Ferreira (1997, p.143) “...é quando se percebe a
primeira grande contradição, porque se por um lado a semelhança facilita o
entendimento, por outro lado, não deixa que o falante se comunique sem as
constantes interferências de sua língua materna”.
A
proximidade do espanhol ao português faz com que os falantes percebam mais
facilmente as semelhanças do que as diferenças, o que faz que falem uma
mistura das duas línguas, mas muitas vezes achando que realmente estão falando
a língua-alvo. E é esta situação que provoca o surgimento de uma interlíngua
comumente chamada portunhol.
Partindo
da nossa própria experiência como professora em um Centro Línguas,
constatamos que a média de estudo para a obtenção de um conhecimento básico
na língua espanhola é de dois anos e meio, e da língua inglesa é de 5 anos.
Como justificaríamos que dentro da universidade o tempo destinado à
aprendizagem das duas Línguas seja equivalente: sete semestre para os dois
cursos. Seria este o motivo dos números aqui apresentados com respeito aos
alunos que estudam uma LE fora da universidade?
Neste
início de curso apenas um pequeno número de alunos de inglês respondeu que já
havia trabalhado fazendo uso da língua estudada, 83,3% dos alunos de inglês e
100% dos alunos de espanhol ainda não. O que nos parece bastante natural, já
que estão no principio de uma formação. Os alunos de inglês que responderam
sim, 17,7%, trabalharam em escolas primárias, dando aula de 1ª a 4ª série ou
dando aulas particulares para alunos do ensino fundamental.
O
que nos chamou a atenção neste aspecto, foi o fato de que as pessoas que
responderam sim a esta pergunta estudaram menos de um ano e meio de inglês, o
que faz com que estes se encontrem abaixo da média dos 2 anos que apresentamos
anteriormente.
Acreditamos
que estes alunos ainda não desenvolveram as competências lingüístico-comunicativas
e competência teórica para estarem atuando como professores de uma língua
estrangeira, aspectos que segundo Almeida Filho (2002) favorece a qualidade do trabalho docente.
Dificuldades
encontradas pelos alunos no início da graduação.
As
dificuldades encontradas pelos alunos neste início de curso são
diversificadas, já que cada aluno tem suas próprias particularidades no que se
refere ao estudo de uma língua. Para obtermos uma visão geral, apresentamos
aqui neste quadro o resumo destas dificuldades.
Quadro
01: Dificuldades encontradas pelos alunos no início do curso
|
Percentagem |
Dificuldades |
Inglês |
27%
27%
9%
9%
9%
9% |
Não
dispor de tempo para uma
maior dedicação ao curso. Compreensão
da língua (em geral). Escrita Fala Metodologia
utilizada pelo professor. Se
encontrar em nível mais avançado que seus colegas. |
Espanhol |
30%
20%
10%
10%
10%
20% |
Comunicar-se
na língua estudada. Teme
falar e ser criticado. Escrita. Fala Vocabulário Não
estão encontrando dificuldades.
|
Nos
parece interessante ressaltar os 20% dos alunos de espanhol que se manifestaram
não estar encontrando nenhuma dificuldade neste inicio de curso, quando nenhum
aluno de inglês fez esta referência, o que poderia confirmar
que a língua espanhola em um primeiro contato, por ter semelhanças ao
português, favoreça um maior entendimento, fato este
que não acontece com a mesma intensidade com a língua inglesa, mesmo
estando o inglês inserido no nosso dia a dia,
fazendo parte da nossa convivência diária através de expressões
que foram naturalmente incorporadas a nossa língua.
Se
continuarmos analisando as respostas, encontraremos 30% dos alunos de espanhol
que dizem ter dificuldades em se comunicar
na língua estudada, o que nos parece não poder ser diferente. Eles
ainda não adquiriram uma estrutura suficiente para apresentar uma comunicação
através do idioma, não adquiriram a competência lingüística para se
expressar e, desta forma, produzir uma comunicação. Já 27% dos alunos de inglês
manifestam uma dificuldade geral no que diz respeito à compreensão da língua,
que engloba compreensão auditiva, aquisição de vocabulário e pronúncia.
Esses
dois fatos nos parecem naturais, pois para a
maioria deles esse está sendo o primeiro contato que estão tendo com o
idioma. Atentamos que o aluno de
inglês fala de uma dificuldade geral, no
entanto, os alunos de espanhol se centram na comunicação;
querem falar a língua em um primeiro momento, o que nos faz retornar à
teoria de que os alunos do espanhol esperam um resultado mais imediato.
Vemos
aqui, no processo de aprendizagem, uma certa ansiedade,
que alguns autores como Howitz (1991 apud, Mastrella, 2000) se referem
como “a ansiedade lingüística” De
acordo com Barcelos (1999) quando comenta Wenden, muitos alunos se esquecem que
aprender uma língua leva tempo, e se os aprendizes conseguissem enxergar isso,
talvez se sentissem menos frustrados e mais pacientes com algumas tarefas da
aprendizagem da língua e teriam objetivos mais claros.
Por
parte dos alunos de inglês houve uma manifestação que nos pareceu bastante
pertinente quanto ao tempo de dedicação à aquisição de LE, 27% dos alunos
manifestaram não ter tempo suficiente para uma dedicação ao curso, o que nos parece primordial, pois acreditamos que quanto
maior o contato com a LE, quanto maior o tempo que dedicarmos a ela, quanto mais
meios fizermos uso para aproximarmos a ela, mais rápido poderemos desenvolver
um aprendizado.
Outro
dado que nos chamou a atenção, foi o fato de que 20% dos alunos de espanhol
tenham mencionado como uma da suas maiores dificuldades, o medo de ser
criticados na produção oral, vemos aqui um receio a exposição. Há uma
postura negativa em relação aos possíveis erros que possam cometer.
Acreditamos
que é necessário que esses alunos entendam que o erro faz parte do processo de
ensino-aprendizagem de uma segunda língua . O que a psicologia pode explicar
associando a auto-estima. Segundo Coopersmith (apud Lago, 2000), a auto-estima
é o julgamento que o individuo faz de seu valor pessoal, essa pode estar
associada a uma escala das experiências negativas ou positivas, que ele tem em
seu ambiente, e da forma com que ele é visto pelos demais, neste caso
especifico, professores e colegas.
Estamos
de acordo com Oxford (apud Borges 2002, p.12) ao mencionar que quando estudamos
uma LE,
[...] é necessário superar certas inibições e aprender a
arriscar sabiamente, para se ter sucesso, deduzindo significados de palavras
novas em um determinado contexto ou participando de conversações, ainda que
exista uma maior probabilidade de cometer erros.
Segundo
essa autora, as estratégias de auto-encorajamento são meios em potencial para
melhorar as atitudes do aprendiz, e são essas atitudes mediante afirmações
positivas, que podem mudar os sentimentos e atitudes do aprendiz, o que leva a
redução da ansiedade, fator negativo na aprendizagem de LE.
No
que diz respeito a metodologia adotada pelos professores, há um certo
descontentamento por parte dos alunos do inglês, 9% deles se manifestaram neste
sentido. Para entendermos a posição destes alunos, seria necessário entender
o que o eles esperam do ensino, já que pode haver discrepância no que eles estão
esperando encontrar dentro da faculdade, com o que o professor pode estar
esperando por parte desses alunos.
Para
Patrocínio (1997, p. 60) metodologia é entendida como as idéias que norteiam
a elaboração das experiências, e a construção de cada método. Entendemos
por método as experiências que o professor promove em sala, que no ensino de língua
vai se constituir na forma que essa é vivenciada em sala, da forma como contata
com uma LE enquanto a comunicação é experimentada. Dentro dessa perspectiva
do ensinar, o método poderia ser visto como o planejamento deste processo de
aprendizado.
Sendo
assim, poderíamos referir ao método como o próprio material utilizado, poderíamos
relacioná-lo a um conjunto de técnicas ou recursos utilizados no processo da
aprendizagem, como também, vinculá-lo ao conjunto de experiências, auxiliadas
ou não por recursos audiovisuais, criadas e vivenciadas com o intuito de
desenvolver no aprendiz competência lingüístico-comunicativa.
Alguns
alunos de inglês, 9% deles, manifestaram uma insatisfação com respeito ao nível
diferenciado que se encontram com relação aos demais alunos do grupo, já que
acreditam que se encontram em um nível mais avançado que seus colegas. Alegam
que não foram orientados quanto ao teste de nivelamento existente na faculdade,
teste este que encaminha o aluno de LE para o nível que melhor se enquadrem,
evitando que alunos que já possuem conhecimento do idioma tenham que começar a
estudar a língua desde o primeiro nível. Isso faz com que se sintam
prejudicados.
Por
fim, uma pequena porcentagem entre os dois cursos apresenta dificuldades
distribuídas. Uns apresentaram dificuldade apenas com o
vocabulário, outros com a escrita e outros com fala. Algo que nos parece
natural, já que cada aluno pode apresentar afinidade maior com uma das
habilidades.
Quanto
à forma de superar as dificuldades apresentadas neste início de curso um número
significativo 40% (inglês) e 30% (espanhol) manifestaram que isso
seria possível através do próprio esforço, assumindo assim toda a
responsabilidade quanto ao aprendizado, e assim eximindo o curso, em seu sentido
amplo, programa, metodologia, etc. de qualquer participação neste esforço.
Já
40% dos alunos de espanhol acreditam que com a prática, com o decorrer do curso
essas dificuldades serão superadas. Outros 40% do inglês e 20% de espanhol,
acham necessário buscar ajuda em cursos específicos. Os demais acreditam que a
leitura, a perda do medo em
se expressar, será a forma para sobrelevar essas dificuldades.
Quanto
a trabalhar com a língua estudada, vemos que 100% se manifestaram positivamente
nesse sentido. Os motivos de certa forma coincidem
com os que levaram esses alunos a buscar o Curso de Letras e se aproximam em
percentagem. Um número de 58% (inglês) e 50% (espanhol) tem interesse em
trabalhar pela afinidade com o idioma, o que expressam de formas diversas como: “...paixão pelo idioma...”, “...prazer em ensinar...”,
já 25% e 37%, respectivamente, por
interesse profissional, onde os alunos de espanhol manifestaram como atrativo o
fato de que ainda há poucos profissionais na área.
Os
formandos: fim da linha?
O procedimento na coleta dos dados destes alunos foi o mesmo utilizado
junto aos alunos iniciantes. Ao analisar os dados coletados quanto aos motivos
que levaram os alunos a buscarem uma formação em LE, utilizamos o mesmo
procedimento dado às respostas dos alunos iniciantes, as agrupamos nas
categorias, afinidade, formação profissional e outros.
Encontramos aqui uma pequena divergência em relação aos números
apresentados anteriormente. No entanto o que prevaleceu em ambos foi a busca
levada pela afinidade. Conforme os dados coletados, temos 50% dos alunos de inglês
e 42% de espanhol que escolheram o curso por afinidade.
Houve uma pequena inversão, já que o número de alunos de espanhol
baixou, e o do inglês aumentou, mas nos dois casos foi apenas uma pequena
alteração, prevalecendo afinidade como o principal motivo da escolha do curso.
Se apresentarmos aqui uma média dos resultados apresentados pelos
alunos iniciantes, e pelo que estão finalizando o curso, teríamos um total de
51% para busca pela afinidade, 35% para formação profissional, e 13% para
outros. Esse resultado nos parece satisfatório, já que consideramos que a
afinidade com a língua estudada é um aspecto relevante no processo de
aprendizagem.
Entendemos que a afinidade favorece uma atitude positiva como relação
à LE por parte dos alunos, pois instiga a participação e interação em sala
de aula, o que facilitará sua motivação nesse processo. Sabemos que
independente do uso que o aluno dará a língua estudada, bem como os motivos
que o levou a aprender uma LE, todos têm como objetivo comunicar-se na LE; é
com esta expectativa que o aluno chega à universidade.
De acordo com Almeida Filho (2002) aprender uma LE na maioria das vezes
costuma ser uma experiência intensa, uma experiência mágica, e o professor
das disciplinas iniciais na universidade ou nas escolas de línguas carrega uma
grande responsabilidade no sentido de não aniquilar, nos estágios iniciais,
essa expectativa de adentrar a uma
nova comunidade de usuários dessa língua-alvo.
Estudo
da Língua Estrangeira fora da graduação.
Sabíamos
por nossa prática como professora de um centro de LE que há um número de
alunos do Curso de Letras que busca em escolas especificas reforçar a
aprendizagem recebida dentro da universidade, já que há um fluxo desses alunos
no centro onde trabalhamos. No entanto esse fato não é suficiente para
entendermos em que proporção isso acontece. Verificamos no decorrer de nosso
trabalho que há um número significativo de alunos que buscam esse complemento.
Os
dados encontrados mostram um aumento com relação aos mencionados pelos alunos
iniciantes, onde tivemos 60% dos alunos de inglês e 38% dos alunos de espanhol
que estudaram/estudam o idioma fora da graduação. Com os alunos que estão
finalizando, também prevalece uma maior busca, de reforço da LE, por dos
alunos de inglês que pelos alunos de espanhol. Como vimos anteriormente, isso
nos leva a pensar que há uma maior complexidade na aquisição da língua por
parte do inglês que do espanhol. A média de anos estudados em cursos específicos
pelos alunos de inglês é de cinco anos, e de espanhol, um ano.
Por
conseguinte temos como resultado total de nossa pesquisa 60% para o curso de
inglês, e 34% para o curso de espanhol, de alunos que estudaram a LE fora da
Universidade. Um número considerável, já que entendemos que cabe à
universidade o desenvolvimento das habilidades lingüísticas na língua de opção
dos alunos de Letras, dado que a língua é objeto de estudo do curso.
Os
alunos que estudaram fora da graduação alegam que em escolas de línguas o
ensino é mais eficaz. O que podemos comprovar diante de declarações tais
como:
...fora da universidade os cursos de línguas são
mais objetivos, focados e de rápido aprendizado...,
...busquei para complementar e praticar a língua...,
...eu sempre fiz inglês fora da graduação, porque
é mais direcionado e aprende mais que na universidade...,
...busquei porque pensava que apenas na universidade
iria obter bons resultados...
Se
ao iniciar o curso apenas 17,7% dos alunos de inglês haviam trabalhado com a língua
estudada, verificamos que há uma mudança significativa nesse número.
Terminando a graduação, vemos que 50% dos alunos de ambos os cursos já estão
trabalhando. O que pode ser justificado pelo fato de que esses alunos estão na
última etapa de sua formação pedagógica e de aquisição das competências
lingüístico-comunicativas. Segundo Costa (1987), nesse momento a capacidade de
resolver situações deve sobrepor a facilidade em produzir enunciados
ensaiados, ou seja, o aluno deve apresentar habilidade para pôr o discurso em ação
e explorar o conhecimento de regras.
Os
resultados mostram que os alunos que estão dando aulas de inglês são os que
estudaram mais tempo em escolas de línguas, uma média de 8 anos. Desses
alunos, 25% estão atuando em escolas particulares de ensino médio, e 75% em
escolas de línguas. Quanto aos alunos de espanhol, que já estão trabalhando,
todos estudaram fora da graduação uma média de nove meses; 35% estão dando
aulas particulares, e 65% trabalham em escolas estaduais. Isso nos leva a pensar
que não só o fato de estudar fora da graduação, bem como o tempo estudado,
pode ser considerado no ingresso desse profissional no mercado de trabalho.
Dificuldades
encontradas pelos alunos no decorrer do curso.
As
dificuldades aqui encontradas, como as do inicio do curso, são diversificadas,
coincidindo em alguns aspectos e apresentando novos.
Quadro
2: Dificuldades encontradas pelos alunos no decorrer do curso.
|
Percentagem |
Dificuldades |
Inglês |
26%
13%
13%
12%
12%
6%
6%
6%
6% |
Nível
diferenciado apresentado pelos alunos. Compreensão
da língua (geral). Gramática. Metodologia
utilizada pelo professor. Contato
com a língua apenas na faculdade. Ausência
de Laboratório. Tempo
reduzido do curso. Nível
ensino-aprendizado fraco. Nenhuma. |
Espanhol |
20%
20%
10%
10%
10%
10%
10% |
Falta
de material áudio visual. Expressão
Oral. Ausência
de aulas práticas. Nível
diferenciado apresentado pelos alunos. Gramática. Contato
com a língua apenas na faculdade. Falta
de dinâmica por parte do professores. |
O
nível diferenciado de conhecimento da língua foi algo que dificultou a
aprendizagem, segundo 26% dos alunos de inglês e 10% de espanhol. Esses
consideram que a desigualdade apresentada pode ser um freio na aquisição e prática
da LE, o que podemos ilustrar com o seguinte comentário:...as
classes são muito heterogêneas, o que leva a uma certa perda de tempo e de
conteúdo... Todos os alunos que fizeram referência a essa questão
estudaram em escolas de idiomas, o que pode ser entendido como um maior
conhecimento da língua por parte deles. Os alunos de inglês que manifestaram
ter dificuldades na compreensão do idioma são alunos que apenas estudaram na
graduação, ou se estudaram fora, foi um período inferior a um ano.
A
dificuldade com respeito à gramática foi citada pelos alunos de ambas as línguas,
tanto do primeiro período quanto do último. De acordo com Almeida Filho
(2002), na aprendizagem formal da língua, independentemente que seja materna ou
estrangeira, se dá ênfase na norma gramatical e não no seu uso como
ferramenta de comunicação. Para ele, em uma aula comunicativa regras
gramaticais podem estar incluídas, desde que não seja a tônica das ações em
sala. A seleção de estruturas gramaticais é necessária sim, mas insuficiente
em qualquer operação de ensino de línguas.
Fontão
(apud Mello, 2000) segue a mesma linha de pensamento, já que considera que o
melhor momento para se trabalhar a gramática será no decorrer das experiências
comunicativas do aluno, onde as atividades gramaticais deveriam aparecer em
determinados momentos de sistematização, para servir de suporte no uso efetivo
da língua.
Mais
uma vez, a metodologia apresentada pelo professor é vista por alguns alunos de
inglês como um empecilho para a aquisição da LE. Entendemos que a forma de
ensinar de um professor nem sempre é compatível com o que espera o aluno, e
esse desencontro pode gerar dificuldades e desânimo no processo de
ensino-aprendizagem. Pode tanto motivar o aluno, quanto impedi-lo de interagir
em sala.
O
contato com a língua apenas na faculdade, foi mencionado como uma dificuldade a
mais encontrada pelos alunos. Almeida Filho (2002) diz que:
“O
ensino comunicativo de LE é aquele que organiza as experiências de aprender em
termos de atividades/tarefas de real interesse e/ou necessidade do aluno para
que ele se capacite a usar a L-alvo para realizar ações de verdade na interação
com outros falantes-usuários dessa língua.”
Portanto,
entendemos que através das oportunidades dadas aos alunos de uso efetivo da língua
enquanto instrumento de comunicação, do uso da língua em situações reais, a
aprendizagem poderá se tornar mais eficaz.
Uma
das questões respondidas pelos alunos referia a seu desempenho nas quatro
habilidades da LE, compreensão de texto, compreensão auditiva, produção oral
e escrita. Eles deveriam se atribuir notas de 1 a 10. A menor nota conferida
para o inglês foi 4, a maior 10. Para o espanhol a menor 6, maior 9.
A
média alcançada pelos alunos de espanhol foi superior em todas as habilidades.
A menor média apresentada por ambos foi quanto à produção oral. A maior foi
dada à compreensão de texto pelos alunos de espanhol, e na produção da
escrita pelos de inglês.Como vimos anteriormente, aqui comprovamos que
desempenho do aluno está relacionado a um reforço fora da universidade, já
que as maiores médias alcançadas nesta auto-avaliação foram as dos alunos
que não estudaram apenas na universidade.
As
expectativas apresentadas pelos alunos ao iniciarem o curso giram em torno do
domínio das 4 habilidades da LE. Os dados mostram que apenas 30% dos alunos de
inglês consideram que as expectativas apresentadas, ao ingressar a
universidade, foram atendidas, quanto aos alunos de espanhol o número
apresentado foi de 57%.
Alguns
alunos que responderam positivamente acreditam que: a universidade, dentro da
grade curricular proposta, conseguiu desempenhar seu papel. Outros consideram
que, apesar de algumas deficiências apresentadas pelo curso, conseguiram se
desenvolver as habilidades lingüísticas.
Já
os alunos que responderam negativamente, alegam que é necessário que a produção
oral seja priorizada. O que pode justificar que a menor média por eles atribuída
na auto-avaliação diz respeito à produção oral. Outros consideram que tanto
à compreensão auditiva como à leitura não foi dada a devida atenção. Há
alunos que acreditam que alguns professores não estão habilitados para
trabalhar com a LE, outros acham que há pouco material didático para ser
explorado e alguns crêem o tempo não é suficiente para um maior contato com a
LE.
O
Curso de Letras da Universidade, em geral, foi tido como bom, apresentando uma
maior satisfação por parte dos alunos de espanhol. Foram dadas a eles as
seguintes opções para a avaliação do curso: fraco, regular, bom, ótimo. Nos
resultados coletados averiguamos que 75% dos alunos de espanhol e 60% do inglês
acreditam que o curso da universidade é bom, 25% dos alunos de espanhol e 30%
dos de inglês avaliaram o curso como regular, 10% dos alunos de inglês
alegaram que o curso é fraco.
Alguns
alunos justificaram suas respostas com depoimentos tais como:
...bom, no geral o curso está bem estruturado, mas
sempre existe alguma coisa a ser feita que pode melhorar a qualidade...,
...aprendi muito com o curso...,
... acredito que seria necessário mais recurso
audiovisual...,
Vemos
que apesar de considerarem o curso como bom, eles também mencionam pontos a ser
melhorados. Os que avaliaram como regular alegam que:
...falta incentivar os alunos a realizar
pesquisas...,
...há uma deficiência na área de métodos e técnicas
de pesquisa...,
...as aulas são muito teóricas, escreve-se e
fala-se pouco, não há oportunidade de expressar..., .
..a oralidade deve ser enriquecida...,
...o curso não prepara um profissional para o
mercado de trabalho...
Os
que acham que o curso é fraco, alegam uma falta de motivação por parte dos
professores e da universidade. Consideram que o conhecimento da língua é
adquirido fora da universidade.
Destes
alunos, grande parte pretende trabalhar com a língua estudada; apenas 22% dos
alunos de inglês não têm a mesma intenção.
Os
motivos que levaram esses alunos a
desejarem trabalhar com a LE não foram outros além de gostar do idioma e
acreditar que o fato de estar em contato com a língua irá ajudar-lhes a dar
continuidade ao aprendizado. Os que
responderam não pretender trabalhar com a língua, dizem não sentir
habilitados para atuar em sala de aula, já que consideram não haver
desenvolvido as habilidades lingüísticas necessárias para tal.
No
entanto, nem todos que manifestaram o interesse em trabalhar com o idioma, se
sentem habilitados. Dos alunos de
espanhol que pretendem trabalhar com a LE, 65% acreditam estar habilitados, e do
inglês apenas 44%.
Os
motivos de não se sentirem preparados são variados. Alguns alegam que lhes
faltam didática, outros dizem que não dominam o idioma e que para isso terão
de fazer um curso especifico. Enfim, declararam que o aprendizado dentro da
universidade não foi o suficiente para que se sintam habilitados, que não
receberam uma base sólida. Alguns alunos acreditam que apesar de não se
sentirem habilitados, será com a prática que conseguirão desenvolver-se.
Os
que declararam se sentir habilitados para atuar em sala de aula, são os que já
estão dentro de sala, e coincidentemente ou não, estes alunos estudaram foram
da universidade.
Portanto
percebemos que os alunos citaram dificuldades por causas diversificadas, no
entanto os alunos que manifestaram dificuldades nas habilidades de produção e
compreensão da língua, foram alunos que não estudaram em cursos livres.
Conclusão
Podemos
constatar com nossa pesquisa que a universidade visa formar profissionais
habilitados para integrar-se na estrutura e no processo de desenvolvimento sóciocultural,
bem como técnico científico. Fala-se de ajuste do curso à realidade atual, à
realidade do mercado de trabalho, no entanto há uma preocupação em não
deixar de favorecer ao discente uma visão crítica e atual direcionada a esta
realidade. Isso nos leva a crer que é difícil pensar em uma formação acadêmica
sem relacioná-la à internacionalização da economia, bem como as inovações
tecnológicas e científicas, que como sabemos, vem acarretando mudanças no
perfil profissional.
Dentro
desse processo de internacionalização da economia, a necessidade de uma
comunicação através de uma LE se vê ampliada. Em conseqüência, se expande
o interesse pelo estudo de línguas. O que conseqüentemente exige um maior número
de profissionais nessa área.
Podemos
constatar após a análise dos dados da pesquisa, que o aluno do Curso de
Letras, em sua grande maioria, deseja trabalhar com a língua estudada. As
expectativas apresentadas por esses alunos ao iniciar o curso, vão de encontro
com o domínio das habilidades lingüísticas. No entanto averiguamos que, ao
finalizar o curso, um número inferior à 50% dos alunos manifestaram ter suas
expectativas atendidas, principalmente no que diz respeito à produção oral, o
que nos parece um número significativo se considerarmos que a
LE será o “meio de comunicação”
desse profissional.
Verificamos
que diante da insatisfação apresentada quanto à aquisição da LE, alguns
alunos, em grande parte os alunos da língua inglesa, buscaram em escolas específicas
de língua complementar o estudo recebido no Curso de Letras, justificando que
encontraram um ensino mais direcionado,
o que segundo eles, proporciona um resultado eficaz.
Se
por um lado verificamos que no Curso de Letras o número de alunos que
apresentaram um descontentamento durante sua formação foi elevado, por outro
averiguamos que o curso, avaliado por estes mesmos alunos, foi tido como bom. O
que nos leva a pensar que a universidade, em geral, atende a seus propósitos,
mas ela deve repensar alguns pontos desse processo de formação. Ela deve
refletir quanto à política educacional assumida na formação do professor, e
facilitar a esses, meios que favoreçam o desempenho de sua profissão. Adotando uma política eficaz na formação do professor,
proporcionando aos alunos condições que possam auxiliar em seu aprendizado,
como instalações adequadas para a realização de um trabalho de qualidade,
bibliotecas atualizadas, laboratórios, etc. Enfim, dar a esse futuro
profissional, através de projetos político-pedagógicos,
condições que venham favorecer o desempenho em seu ofício.
Referência
Bibliográfia
ALMEIDA FILHO, J.C.P. (Org.). Análise de abordagem
como procedimento fundador de autoconhecimento e mudança para o professor de língua
estrangeira. In ________. O professor de língua
estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999. p. 11-27.
__________ . Dimensões
comunicativas no ensino de línguas. Campinas, SP, Pontes,
3ª edição, 2002.
ALVARENGA, M. B. Configuração da
abordagem de ensinar de um professor com reconhecido nível teórico em Lingüística
Aplicada. In: ALMEIDA FILHO, J. C. P.
(Org.). O professor de língua estrangeira
em formação. Campinas: Pontes, 1999. p. 111-125.
BARCELOS, A. M. F. A cultura de aprender línguas
(inglês) de alunos no Curso de Letras. In: ALMEIDA
FILHO, J. C. P. (Org.) O professor de língua
estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999. p. 157-155.
BORGES, Hermes Alves. A influência das estratégias
afetivas no processo de ensino-aprendizagem de línguas. DUQUEVIZS, Bárbara
Cristina et. Al. (Org.) Revista dos
mestrandos em Lnguistica Aplicada da UnB. Brasília-DF, 2000, Ano 1, Nº 1,
p. 07-17, novembro 2002.
FELIX, A. Crenças
de duas professoras de uma escola pública sobres o processo de aprender língua
estrangeira. In: ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.) O
professor de língua estrangeira em formação. Campinas: Pontes, 1999.
p.93-110.
FERREIRA, I. A. Interface português/espanhol.
In: ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.) Parâmentros
atuais para o ensino de português língua estrangeira. Campinas:
Pontes, 1997. p. 141-151.
LAGO, S. N. A. Explorando a auto-estima
na aquisição de segunda língua. In:
MELLO, Heloisa Augusta Brito de e DALACORTE, Maria Cristina Faria (Org.).
A sala de aula de Língua Estrangeira. Goiânia: Editora da UFG, 2000. p.
83-100.
MASTRELLA, M. R. A ansiedade e as crenças
dos aprendizes. In: MELLO, Heloisa
Augusta Brito de e DALACORTE, Maria Cristina Faria (Org.)
A sala de aula de Língua Estrangeira. Goiânia: Editora da UFG, 2000. p.
101-110.
MOREIRA, A. F. B. A formação de professores e o
aluno das camadas populares: subsídios para debate. In: ALVES, Nilsa (Org.) Formação
de Professores: Pensar e Fazer. São Paulo: Editora Cortez, 2002. p. 37-52.
PATROCÍNIO,
E. M. F. Método no ensino de português língua
estrangeira. In: ALMEIDA F
FILHO, J. C. P. (Org.) Parâmentros
atuais para o ensino de português língua estrangeira.
Campinas: Pontes, 1997. p. 59-73.