TEMÁTICAS
E ENFOQUES TEÓRICOS DA PSICOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO: UMA APROXIMAÇÃO ENTRE
TEORIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA
Miranda, Marília G.
(UFG/ UCG); RESENDE, Anita Cristina A. (UFG/UCG); Silva, Luelí N. D. (UFG); Resende,
Maria do Rosário S. (UFG); Bittar, Mona
(UFG / UCG); Roure, Susie A de (UFG); RIBEIRO, Núbia F. (UFG); GEBRIN,
Virginia Sales (UCG); Faria, Gina
Glaydes Guimarães de (UCG); Silva,
Kellen C. P. (UFG); Oliveira,
Kaithy das C. (UFG); Bastos,
Rachel B. M.(UFG); Vieira, Soraya
(PIBIC- CNPq).
A
influência da psicologia na educação se expressa de várias maneiras: desde a
presença de seus diversos enfoques teóricos/metodológicos na explicação e
na orientação da prática educativa, como também na inspiração de políticas
educacionais, de reformas curriculares e na formação de professores. Enfim,
pode-se afirmar que a psicologia está presente explícita ou implicitamente em
todo aparato teórico e prático que dá sustentação à educação.
Pode-se
afirmar que, ao longo do século XX, há registros sucessivos da recorrência à
psicologia como teoria explicativa predominante na educação. Nos últimos
anos, tem-se assistido a certas tendências que expressam um forte predomínio
do campo psicológico no entendimento da ação educativa, como é o caso da
Teoria das Inteligências Múltiplas, da Psicopedagogia, do Construtivismo e
suas várias denominações, só para citar alguns mais recorrentes. Essas tendências
expressam as manifestações do psicologismo presente na educação contemporânea.
A
aproximação da psicologia com a educação ocorre em condições sociais e
culturais que condicionam não só a educação mas também a própria
psicologia. Por isso, é impossível supor uma situação escolar que preexista
aos preceitos de uma psicologia dos processos de desenvolvimento e de
aprendizagem da criança, da mesma forma que essa psicologia se constitui
ancorada em um conjunto de princípios que orientam sua abordagem do objeto, seu
método e seus fins.
Justifica-se,
assim, a importância de se promover essa discussão sobre a natureza e os fins
da psicologia da educação na atualidade. Não é demais repetir que a crítica
à psicologia da educação não significa assumir a posição extrema de rechaço
à contribuição da psicologia sobre a educação. Ao contrário, implica
sobretudo admitir a grande ingerência da psicologia sobre a educação, fazer a
crítica dessa aproximação entre a psicologia e a educação, reconhecendo as
dificuldades inerentes a uma e a outra. Não se trata, portanto, de negar a
importância da psicologia para a educação, mas aprofundar o estudo da difícil
relação aí estabelecida. E, ainda, trata-se de cuidar para que a psicologia não
seja prescritiva com relação à educação. Mais uma vez mais vale a advertência
da Arendt: “... a função da escola é ensinar como o mundo é, e não instruí-las
(as crianças) na arte de viver”.
Uma
das maneiras de verificar e investigar a problemática da relação psicologia e
educação é proceder à análise rigorosa da produção da área sobre
Psicologia da Educação, tipo estado da arte, particularmente, aquela advinda
de programas de pós-graduação em educação no país.
A
pesquisa “Psicologia e educação: um estado da arte da produção discente
dos Programas de Pós-Graduação em Educação”, financiada pelo CNPq,
coordenada pela Profª Marília Gouvea de Miranda, vem realizando esse estudo
desde 2001.
Em
sua primeira etapa, constituiu-se um banco de dados sobre dissertações de
mestrado que vincularam psicologia da educação nos programas de Pós-Graduação
em Educação no Brasil, tendo sido selecionados quatro programas de Pós-Graduação
em Educação, sendo três da região sudeste, encolhidos por serem os mais
antigos, estruturados e com reconhecida produção na área
(PUC/SP (Programa de Psicologia da Educação), UERJ, UNICAMP) e que também
por possuíssem um banco de dados disponível. Foi incluído também o programa
de Mestrado em Educação da UFG.
A
seleção das dissertações que passaram a compor o universo e a amostra da
pesquisa foi realizada, mediante a leitura dos resumos de dissertações
produzidas nas quatro instituições pesquisadas. Em cada programa foram
selecionadas dissertações cujos resumos indicaram claramente uma aproximação
entre psicologia e educação. A partir desses resumos foram verificadas as
seguintes informações: autor, título, ano de defesa, programa, instituição,
palavras-chave, tema principal e secundário, objetivos, área de referência,
enfoque teórico na psicologia, tipo de pesquisa e instrumento de coleta de
dados. Esses dados estão permitindo a criação de um banco de dados, disponível
na internet.
Foram
lidos 1665 resumos de dissertações das instituições selecionadas. Do total
foram selecionados 748 trabalhos cujas temáticas ou enfoques demonstraram algum
indício de aproximação entre psicologia e a educação. Foram selecionados
nos respectivos programas:
PUC/SP (305), UNICAMP (240), UERJ (169), UFG (33).
A
leitura dos resumos das dissertações revelou as limitações já conhecidas (Warde,
1995, Moroz e outros, 1999), relativas à utilização dessa fonte de pesquisa:
a grande incidência de resumos mal elaborados, incompletos, e, portanto,
insuficientes para que se possa identificar com clareza o tema tratado, o
enfoque teórico, os procedimentos metodológicos, além de outras informações
importantes para a compreensão do trabalho. Ainda, assim, entendeu-se que, para
uma apreensão global dos dados da produção na área, seria adequada sua
utilização para um primeiro rastreamento da área, desde que um estudo
posterior fizesse um aprofundamento dos dados obtidos.[1]
Devido
à grande complexidade e variedade das temáticas, os temas das dissertações
foram agrupados de acordo com dois critérios: sua maior recorrência e sua
especificidade. Assim, as temáticas mais freqüentes foram reunidas, assim como
outras menos freqüentes cuja especificidade não permitia que fossem incluídas
em temas mais abrangentes.
Os
temas identificados estão apresentados na Tabela 1:
TABELA
1 - TEMAS DAS DISSERTAÇÕES DE MESTRADO POR PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM EDUCAÇÃO 1971-2000 |
||||||||||
|
||||||||||
|
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|
|
|
|
|
|
|
|
|
TEMAS |
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO |
|||||||||
UNICAMP |
UERJ |
UFG |
PUC/SP |
TOTAL |
||||||
Nº
de |
|
Nº
de |
|
Nº
de |
|
Nº
de |
|
|||
disser- |
% |
disser- |
% |
disser- |
% |
disser- |
% |
|||
tações |
tações |
tações |
tações |
Nº |
% |
|||||
Educação especial |
14 |
5,8 |
71 |
42,0 |
0 |
0,0 |
20 |
6,6 |
105 |
14,0 |
Desenvolvimento |
35 |
14,5 |
12 |
7,1 |
4 |
12,1 |
22 |
7,2 |
73 |
9,8 |
Psicologia |
23 |
9,5 |
0 |
0,0 |
5 |
15,2 |
41 |
13,4 |
69 |
9,2 |
Linguagem, leitura e
escrita |
28 |
11,6 |
8 |
4,7 |
6 |
18,2 |
25 |
8,2 |
67 |
9,0 |
Professor |
11 |
4,6 |
8 |
4,7 |
1 |
3,0 |
24 |
7,9 |
44 |
5,9 |
Aprendizagem |
23 |
9,5 |
1 |
0,6 |
0 |
0,0 |
16 |
5,2 |
40 |
5,3 |
Fracasso escolar |
14 |
5,8 |
8 |
4,7 |
0 |
0,0 |
16 |
5,2 |
38 |
5,1 |
Prática pedagógica |
11 |
4,6 |
6 |
3,6 |
4 |
12,1 |
14 |
4,6 |
35 |
4,7 |
Formação de
professores |
6 |
2,5 |
11 |
6,5 |
2 |
6,1 |
15 |
4,9 |
34 |
4,5 |
Formação moral,
autoridade e disciplina |
16 |
6,6 |
5 |
3,0 |
2 |
6,1 |
10 |
3,3 |
33 |
4,4 |
Educação infantil |
9 |
3,7 |
2 |
1,2 |
1 |
3,0 |
19 |
6,2 |
31 |
4,1 |
Ensino de matemática |
13 |
5,4 |
2 |
1,2 |
3 |
9,1 |
7 |
2,3 |
25 |
3,3 |
Formação profissional |
1 |
0,4 |
5 |
3,0 |
1 |
3,0 |
14 |
4,6 |
21 |
2,8 |
Relação
professor-aluno |
2 |
0,8 |
3 |
1,8 |
1 |
3,0 |
13 |
4,3 |
19 |
2,5 |
Avaliação |
3 |
1,2 |
10 |
5,9 |
0 |
0,0 |
6 |
2,0 |
19 |
2,5 |
Aluno |
5 |
2,1 |
1 |
0,6 |
0 |
0,0 |
11 |
3,6 |
17 |
2,3 |
Novas tecnologias e
educação |
3 |
1,2 |
7 |
4,1 |
0 |
0,0 |
5 |
1,6 |
15 |
2,0 |
Família |
4 |
1,7 |
1 |
0,6 |
2 |
6,1 |
7 |
2,3 |
14 |
1,9 |
Criança e jovem em
situação de risco |
3 |
1,2 |
3 |
1,8 |
1 |
3,0 |
6 |
2,0 |
13 |
1,7 |
Outros |
17 |
7,1 |
5 |
3,0 |
0 |
0,0 |
14 |
4,6 |
36 |
4,8 |
TOTAL |
241 |
100,0 |
169 |
100,0 |
33 |
100,0 |
305 |
100,0 |
748 |
100,0 |
|
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|
FONTE: Pesquisa
bibliográfica - UNICAMP, UERJ, PUC/SP, UFG |
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NOTA: Dados trabalhados
pelas autoras |
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Dos
20 temas listados para as quatro instituições, do ponto de vista quantitativo,
destacam-se sete: “educação especial” (14,0%): “desenvolvimento”
(9,8%); “psicologia” (9,2%); “linguagem, leitura e escrita” (9,0%);
“professor” (5,95); “aprendizagem” (5,3%) e “fracasso escolar”
(5,1%), que podem ser descritos como se segue.
Educação especial
– este tema
agrupa estudos que abordam procedimentos metodológicos para se ensinar o aluno
especial, programas que incentivam o desenvolvimento da linguagem e da interação
social, a inserção do deficiente na prática social da escolaridade, a
identificação de alunos talentosos/superdotados e, especialmente, a estimulação
e o desenvolvimento da linguagem oral e escrita.
Aprendizagem – estudos que abordam a aprendizagem de frações, conceitos, subtração, multiplicação, de resolução de problemas e da aprendizagem dos possíveis. Alguns com vistas a avaliar e analisar essas aprendizagens e outros analisar processos de intervenção, bem como as possibilidades de intervenção.
Professor
– aborda
estudos que enfocam concepções sobre o papel do professor, características do
professor, representação do professor, competências básicas do professor,
atitudes, satisfação e insatisfação do trabalho docente e concepções de
alunos sobre o professor.
Linguagem,
leitura e escrita – refere-se
a estudos que abordam o processo de aquisição da escrita, o processo de
alfabetização, formação do leitor, a relação sujeito e escrita, processo
cognitivo da aquisição da escrita, o processo simbólico e a produção de
textos.
Psicologia
– estudos que referem-se a historiografia da psicologia, formação
profissional, atuação do psicólogo, a análise de conceitos de teorias psicológicas,
como: concepção de zona de desenvolvimento proximal, de aparelho psíquico,
entre outros e estudos sobre teorias ou teóricos da psicologia.
Fracasso
escolar – estudos
sobre as causas do fracasso escolar das crianças das séries iniciais,
especialmente de origem sócio-econômica desfavorecida; enfocando fatores sócio-culturais.
Muitos desses estudos sendo realizados na própria escola. Abrange, ainda,
estudos sobre evasão escolar e de representação sobre fracasso escolar.
Os
dados da Tabela I permitem constatar que há grande dispersão temática; apesar
de se ter procurado agrupar os temas, a quantidade permaneceu significativa
(20). Essa dispersão temática já foi anteriormente enfocada em outros estudos
sobre a produção discente nos Programas de Pós-Graduação em Educação (Sonzogno,
1982; Gatti, 1983; Warde, 1993; Moroz et alii, 1999). A determinação da temática
parece ser resultante da preocupação ou de problemáticas particulares de
alunos e, não, a especificidade do Programa. Essa constatação pode indicar a
ausência de grupos ou de linhas de pesquisas estruturadas e consolidadas nesses
programas, em determinados períodos.
As
variações em relação aos temas podem ser atribuídas à existência de
grupos de pesquisas já consolidados, estruturados e fundamentados em
determinadas áreas ou enfoques. Por exemplo, o único programa destes quatro
selecionados que possui uma área de concentração em educação especial é o
programa da UERJ, conseqüentemente essa temática aparece nessa instituição
com elevada incidência (42,0%). Outro caso interessante é a predominância do
agrupamento temático “psicologia” no Programa
de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da PUC/SP (13,4%), visto
que este apresenta grupos de pesquisa consolidados em determinadas abordagens. O
mesmo pode-se afirmar sobre grupos de pesquisas estruturados em teóricos da
psicologia do desenvolvimento e aquisição e desenvolvimento da linguagem na
UNICAMP, assim, a grande incidência de agrupamentos temáticos no item
“desenvolvimento” (14,5%) e “linguagem, leitura e escrita” (11,6%).
Contudo,
pode-se sinalizar alguns agrupamentos temáticos que estão presentes nas listas
dos 7 temas mais abordados nas quatro instituições, como: “linguagem,
leitura e escrita” e “desenvolvimento”. Os temas “psicologia” e
“educação especial” aparecem em três instituições, sendo que não há
nenhum trabalho sobre “psicologia” na UERJ e nenhum sobre “educação
especial” na UFG. O que pode indicar a ausência de professores ou de grupo de
professores que realizam estudos e pesquisas que abordam tais campos temáticos.
A
temática da "linguagem, leitura e escrita" aparece em segundo lugar
na PUC/SP com (8,2%) e na UNICAMP
(11,6%), em quinto na UERJ com (4,7%) e em primeiro lugar na UFG com (18,2%). Em
relação a UERJ, pode-se destacar que essa temática aparece contemplada, de
modo significativo, no tema de educação especial, na medida em que muitas
dissertações abordam a questão de linguagem, bem como discuti e reflete sobre
a aquisição e o desenvolvimento de linguagem oral e escrita em crianças com
deficiências.
O agrupamento “desenvolvimento” localiza-se em quarto lugar na PUC/SP (7,5%), quarto lugar na UFG (9,4%), segundo lugar na UERJ (7,1%) e em primeiro lugar na UNICAMP (14,5%).
O grupo temático “psicologia” aparece em quarto lugar na UNICAMP (9,5%), em segundo lugar na UFG (15,5%) e em primeiro lugar na PUC/SP (13,4%).
O
tema da “educação especial” aparece em primeiro lugar na UERJ (42,0%), em
sétimo na UNICAMP (5,8%) e quinto na PUC/SP (6,5%).
2
– O enfoque teórico psicológico
Para
que fosse possível identificar as abordagens teóricas adotadas pelas dissertações,
tomou-se como parâmetro as referências teóricas adotadas no campo da
psicologia, tendo como critérios: (1)a auto nomeação, ou seja, a identificação
de uma determinada teoria ou seu autor a partir da referência do próprio autor
da dissertação, ou (2) a identificação indireta mediante pressupostos ou
conceitos específicos apresentados. As dissertações que não se enquadraram
nestes critérios foram classificadas no item “outros”.
Das 748 dissertações, 431 não permitem a identificação dos enfoques teóricos adotados, conforme já constatado em estudos anteriores, como Tomanik (1992), Warde (1993), Moroz e et alii (1999). Assim, a análise dos recortes teóricos adotados pautou-se em 317 trabalhos que claramente os identifica.
Os
enfoques teóricos da psicologia foram classificados em: psicologia genética de
Jean Piaget, psicologia genética de Lev S. Vygotsky, psicologia genética de
Henri Wallon, psicanálise, psicologia humanista, psicologia behaviorista,
estudos sobre representação social, psicologia cognitivista, psicologia
fenomenológica, psicometria, psicodrama, psicomotricidade, abordagens
associadas e outros.
Em
relação a classificação adotada, se faz necessário esclarecer alguns itens,
como:
Psicologia
genética de Jean Piaget – trata-se
de trabalhos que recorrem à teoria piagetiana como fundamentação teórica.
Contempla também estudos de autores que se fundamentam e se apresentam
associados a Piaget, como Ferreiro e Kolberg. Neste item, encontram-se incluído,
ainda, os estudos que se fundamentam nos pressupostos construtivistas.Os estudos
abordados referem-se a aprendizagem de conceitos matemáticos, sobre
desenvolvimento da linguagem escrita, formação moral, autoridade e disciplina
e sobre educação infantil.
Psicologia
genética de L. S. Vygotsky
– este recorte teórico apresenta uma polissemia lingüística, na medida em
que aparece denominado de “abordagem sócio-histórica”, “abordagem sócio-cultural”,
“interacionismo”, “sócio-interacionismo” e “psicologia soviética”.
Vygotsky aparece, em muitos
estudos, associado a seus colaboradores e seguidores, como Leontiev e Elkonin.
Refere-se a estudos voltados para questões referentes ao desenvolvimento, a
linguagem e a educação especial.
Psicologia
genética de Wallon
– estudos referentes aos pressupostos teóricos de sua teoria do
desenvolvimento.
Psicomotricidade
– neste item,
estão agrupados estudos que buscam investigar a psicomotricidade, em suas
expressões na psicologia comportamental, exercícios psicomotores de Le Boulch,
psicomotricidade relacional e teoria Lapierre.
Psicodrama
– refere-se a
estudos fundamentados, especialmente teoria psicodramática de J.L. Moreno, com
ênfase na abordagem sociodramática.
Psicometria
– estão
enquadrados, neste item, trabalhos que abordam os testes psicológicos,
sobretudo no meio escolar.
Psicologia
Humanista – neste
recorte teórico estão cadastrados trabalhos que adotam como referência teórica,
especialmente os estudos de Carl Rogers. Mas, contempla também estudos de David
Aspy, Flora Roebuck, Thomas Gordon e Abrahan H. Maslow.
Psicanálise
– os
trabalhos relacionados a esse enfoque teórico estão fundamentados na psicanálise
de Sigmund Freud e seguidores como Lacan.
Psicologia
behaviorista –
neste grupo teórico, os trabalhos referem-se a análise comportamental e
abordam, especialmente temas da aprendizagem, da linguagem e da prática pedagógica.
Psicologia
cognitivista –
estão enquadradas, neste item, os teóricos que abordam a construção do
conhecimento, discutem armazenamento, processamento e utilização de informações.
Apesar de Piaget, ser considerado como o maior representante desta psicologia,
foi enquadrado no item psicologia genética de Jean Piaget pela grande
quantidade de trabalhos que o tomam como referência de apoio.
Psicologia
fenomenológica – neste
item, encontram-se estudos que discutem a fenomenologia existencial, estrutural
e a hermenêutica.
Abordagens
associadas – estão
colocados, neste item, trabalhos que afirmam recorrerem a mais de uma teoria
psicológica da lista do enfoque teórico, como por exemplo: Vygotsky e Bakhtin,
Freud e Lacan, entre outros.
Estudos
sobre representação social – aborda
estudos que tem como objetivo saber as representações, as concepções, as
percepções, as atitudes das pessoas, de modo geral, sobre os mais diversos
temas.
Outros
– neste item,
encontram-se trabalhos que abordam teorias psicológicas ou teóricos que não
estão relacionados na listagem de classificação do enfoque teórico, e, que a
quantidade de dissertações que se fundamentam em tais referenciais não são
um conjunto significativo, como psicanálise de Reich, psicologia ecológica,
entre outros.
A
Tabela 2 apresenta o enfoque teórico na psicologia e sua incidência em cada
uma das quatro instituições pesquisadas e respectivas análise e resultado dos
dados obtidos.
|
Tabela
2: Enfoque teórico na Psicologia das dissertações dos Programas de Pós-graduação
em |
||||||||||||||||
|
Educação
( UNICAMP, UERJ, UFG, PUC/SP) - 1971-2000 |
|
|||||||||||||||
|
|
|
|
|
|
|
|
||||||||||
|
Enfoque
teórico |
UNICAMP |
UERJ |
UFG |
PUC/SP |
TOTAL |
% |
||||||||||
|
Psicologia genética
de J. Piaget
|
56 |
3 |
0 |
15 |
74 |
23,3 |
||||||||||
|
Abordagens
associadas |
17 |
7 |
10 |
8 |
42 |
13,2 |
||||||||||
|
Psicologia
genética de L. Vygotsky |
21 |
1 |
1 |
19 |
42 |
13,2 |
||||||||||
Estudos
sobre representação social |
1 |
13 |
4 |
16 |
34 |
10,7 |
|
||||||||||
|
Psicologia
Cognitivista |
8 |
2 |
0 |
7 |
17 |
5,3 |
||||||||||
|
Psicologia
genética de H. Wallon |
0 |
1 |
0 |
14 |
15 |
4,7 |
||||||||||
|
Psicologia
Behaviorista |
5 |
1 |
0 |
9 |
15 |
4,7 |
||||||||||
|
Psicologia
Humanista |
2 |
1 |
0 |
9 |
12 |
3,7 |
||||||||||
|
Psicologia
Fenomenológica |
2 |
0 |
0 |
10 |
12 |
3,7 |
||||||||||
|
Psicodrama |
5 |
0 |
1 |
5 |
11 |
3,4 |
||||||||||
|
Psicomotricidade |
3 |
4 |
0 |
3 |
10 |
3,1 |
||||||||||
|
Psicometria |
3 |
0 |
0 |
1 |
4 |
1,2 |
||||||||||
|
Psicanálise |
2 |
0 |
1 |
1 |
4 |
1,2 |
||||||||||
|
Outros |
8 |
3 |
0 |
14 |
25 |
7,9 |
||||||||||
|
TOTAL |
133 |
36 |
17 |
131 |
317 |
100,00 |
||||||||||
|
|
|
|
|
|
|
|
||||||||||
|
|||||||||||||||||
Pode-se observar, na Tabela 2, que os referenciais de apoio da psicologia predominantes nas dissertações de mestrado de mestrado dos Programas de Pós-graduação em Educação de 1971 a 2000, são: Psicologia Genética de J. Piaget, Psicologia Genética de L. S. Vygotsky, abordagens associadas, estudos sobre representação social, outros e psicologia cognitivista.
Os dados reforçam as constatações de Warde (1993), relativas a diminuição da incidência da teoria behaviorista (4,7%) como referencial de apoio significativo nas dissertações. Como também chama atenção a ausência de trabalhos que recorrem à psicanálise como fundamentação teórica ou como objeto de estudo. Os dados permitem, ainda, constatar o crescente e elevado predomínio das teorias do desenvolvimento e da aprendizagem, caracterizado pela alta incidência da teoria de Piaget (23,3%), da teoria de Vygotsky (13,2%) e da teoria de Wallon (4,7%).
É significativa a quantidade de trabalhos que se fundamentam na psicologia cognitivista. Esse fato merece destaque a medida em que se agrupa os dados obtidos pela teoria piagetiana com os da psicologia cognitivista, perfazendo um total de 28,6% de dissertações. E, se torna mais interessante se acrescentar os dados relativos à teoria vygotskyana, alcançando um percentual de 41,8% de trabalhos que adotam o referencial da psicologia cognitivista.
Esse dado também está em consonância com os trabalhos anteriores sobre a produção discente nos Programas de Pós-Graduação em Educação realizados por Warde (1993) e Moroz et alii (1999) que apontam a concentração acentuada de estudos sobre o desenvolvimento da inteligência e da cognição. Confirma-se, assim, a forte influência da psicologia sobre a educação na contemporaneidade, tendo como referencial de apoio teorias cognitivistas, especialmente a psicologia genética de Jean Piaget.
Coll, Palácios e Marchesi (1996, p. 10), ao discutirem as relações históricas entre a psicologia e a educação, referem-se ao auge crescente da Psicologia Cognitiva no campo da psicologia da educação, a partir dos anos setenta, e, afirmam que se verifica, pelo menos em parte, uma “identificação entre a psicologia da educação com a psicologia da instrução, e pela confluência desta última com a psicologia cognitiva”. O que expressaria uma tendência da psicologia da educação de limitar-se ao âmbito da educação escolar e, conseqüentemente ao tratamento da aprendizagem das matérias escolares e dos fatores que incidem sobre o mesmo.
Em relação aos dados do enfoque teórico, pode-se destacar, ainda, a significativa incidência de trabalhos que fundamentam nas “abordagens associadas”. O que reforça, ainda mais, os dados referentes a alta incidência da psicologia cognitivista, visto que os teóricos mais citados nestes agrupamentos são: Piaget e Ferreiro, Vygotsky e Bakhtin, com menor incidência para Freud e Lacan.
Quanto
ao “estudos sobre representação social”, enfoque predominante na UERJ
(37,1%) e na PUC/SP (12,9%), os dados expressam uma grande quantidade de
trabalhos que se fundamentam em estudos exploratórios sobre a concepção, a
percepção, a representação, a opinião seja de professores, alunos, pessoas
comuns ou especialistas sobre determinado assunto. Sendo interessante
destacar que grande parte destes estudos não faz nenhuma referência a uma
teoria ou teórico da representação social. O que torna esse recorte teórico
problemático do ponto de vista do rigor teórico e metodológico.
Em relação ao enfoque teórico nas dissertações de mestrado por instituição, pode-se verificar que o referencial teórico que se faz presente nas quatro instituições é a psicologia genética de Vygotsky, sendo: PUC/SP (14,9%), UNICAMP (14,2%), UFG (5,9%) e UERJ (5,7%). Constata-se, ainda, enfoques teóricos encontrados, em pelo menos três das instituições, sendo:
· psicologia genética de Piaget: PUC/SP (8,7%), UNICAMP (44,8%) e UERJ (5,7%).
· estudos sobre representação social : PUC/SP (12,9%), UERJ (37,1%) e UFG (23,3%).
· abordagens associadas : UNICAMP (11,9%), UERJ (17,2%) e UFG (58,0%).
Esses
dados relativos ao enfoque teórico por instituição também parecem indicar a
ausência ou a consolidação de grupos e de linhas de pesquisas em determinadas
abordagens teóricas, como por exemplo, a grande incidência de trabalhos que
adotam o referencial piagetiano na UNICAMP (44,8) e a presença significativa da
psicologia genética de Wallon na PUC/SP (11,0%).
Esse conjunto de dados, relativos a temática e ao enfoque teórico, expressam a incidência desses aspectos na produção discente dos Programas de Pós-Graduação em Educação no período de 1971 a 2000, bem como permitem uma apreensão da concepção de psicologia que vem orientando essa produção no período estudado e apreender a natureza da relação psicologia e educação que esses trabalhos referendam. Essa tarefa é que se impõe na análise do cruzamento entre temas e enfoque teórico, que se segue.
3 – Temas e enfoques teóricos predominantes
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Os estudos piagetianos abordam prioritariamente os seguintes grupos temáticos: “aprendizagem” (14 dissertações), “desenvolvimento” (12), “linguagem, leitura e escrita” (11), “formação moral, autoridade e disciplina” (11) e “educação infantil” (8).
As “abordagens associadas” concentram estudos, de modo significativo, na temática “lInguagem, leitura e escrita” (12 dissertações), seguida de uma grande dispersão dos temas subseqüentes como “psicologia” (6), “educação especial” (3), desenvolvimento (3) e “formação moral, autoridade e disciplina” (3).
Dentre as dissertações com o enfoque na psicologia de Vygotsky, os temas predominantes são “desenvolvimento” (9 dissertações), “educação especial” (8), “linguagem, leitura e escrita” (7) e “psicologia” (5).
Das dissertações que apresentam o enfoque das “representações sociais”, “desenvolvimento” (5) é o tema que tem predominância, seguido de “professor” (4), “outro”(4), “educação especial” (3), “avaliação”(3) e “aluno” (3).
A Psicologia Cognitivista apresenta prioritariamente o tema “aprendizagem” (6), seguido de uma elevada variação das temáticas subseqüentes : “desenvolvimento” (2), “psicologia” (2), “fracasso escolar” (2) e “ensino de matemática” (2).
O
estudo tem confirmado padrões já descritos em estudos anteriores, qual seja de
uma psicologia que aparece relacionada aos processos de aprendizagem e
desenvolvimento, orientadas para as práticas pedagógicas, fundamentando
principalmente a ação docente. São poucos os estudos que efetivamente
produzem um campo de investigação, que revisitam as teorias. Ainda que não
prevaleça a antiga fórmula de uma ciência aplicada ao campo da educação,
verifica-se uma psicologia reiterativa das práticas e das concepções
predominantes em cada momento, com forte ênfase nos processos individuais de
aprendizagem.
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_______________
. Psicologia e educação: a produção discente na pós-graduação em educação
no Brasil (1981-1991). Psicologia da Educação. São Paulo, n.1, nov.
1995.
[1]
Deste modo, um estudo mais aprofundado dessas dissertações está sendo
feito na presente etapa. Para
tanto, foi selecionada uma amostra
de trabalhos cuja leitura deverá ser realizada na íntegra: aproximadamente
15% das dissertações, obedecendo um critério de estratificação por
instituição e período. A amostra ficou assim constituída: PUC/SP (46
dissertações), UNICAMP (35), UERJ (26) e UFG (4). Em seguida, haverá a análise
e discussão dos dados e a redação do relatório final.