TEMÁTICAS E ENFOQUES TEÓRICOS DA PSICOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO: UMA APROXIMAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA

 

Miranda, Marília G. (UFG/ UCG); RESENDE, Anita Cristina A. (UFG/UCG); Silva, Luelí N. D. (UFG); Resende, Maria do Rosário S. (UFG); Bittar, Mona  (UFG / UCG); Roure, Susie A de (UFG); RIBEIRO, Núbia F. (UFG); GEBRIN, Virginia Sales (UCG); Faria,  Gina Glaydes Guimarães de (UCG); Silva, Kellen  C. P. (UFG); Oliveira, Kaithy das C. (UFG); Bastos, Rachel B. M.(UFG); Vieira, Soraya  (PIBIC- CNPq).

 

A influência da psicologia na educação se expressa de várias maneiras: desde a presença de seus diversos enfoques teóricos/metodológicos na explicação e na orientação da prática educativa, como também na inspiração de políticas educacionais, de reformas curriculares e na formação de professores. Enfim, pode-se afirmar que a psicologia está presente explícita ou implicitamente em todo aparato teórico e prático que dá sustentação à educação.

Pode-se afirmar que, ao longo do século XX, há registros sucessivos da recorrência à psicologia como teoria explicativa predominante na educação. Nos últimos anos, tem-se assistido a certas tendências que expressam um forte predomínio do campo psicológico no entendimento da ação educativa, como é o caso da Teoria das Inteligências Múltiplas, da Psicopedagogia, do Construtivismo e suas várias denominações, só para citar alguns mais recorrentes. Essas tendências expressam as manifestações do psicologismo presente na educação contemporânea.

A aproximação da psicologia com a educação ocorre em condições sociais e culturais que condicionam não só a educação mas também a própria psicologia. Por isso, é impossível supor uma situação escolar que preexista aos preceitos de uma psicologia dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem da criança, da mesma forma que essa psicologia se constitui ancorada em um conjunto de princípios que orientam sua abordagem do objeto, seu método e seus fins.

Justifica-se, assim, a importância de se promover essa discussão sobre a natureza e os fins da psicologia da educação na atualidade. Não é demais repetir que a crítica à psicologia da educação não significa assumir a posição extrema de rechaço à contribuição da psicologia sobre a educação. Ao contrário, implica sobretudo admitir a grande ingerência da psicologia sobre a educação, fazer a crítica dessa aproximação entre a psicologia e a educação, reconhecendo as dificuldades inerentes a uma e a outra. Não se trata, portanto, de negar a importância da psicologia para a educação, mas aprofundar o estudo da difícil relação aí estabelecida. E, ainda, trata-se de cuidar para que a psicologia não seja prescritiva com relação à educação. Mais uma vez mais vale a advertência da Arendt: “... a função da escola é ensinar como o mundo é, e não instruí-las (as crianças) na arte de viver”.

Uma das maneiras de verificar e investigar a problemática da relação psicologia e educação é proceder à análise rigorosa da produção da área sobre Psicologia da Educação, tipo estado da arte, particularmente, aquela advinda de programas de pós-graduação em educação no país.

A pesquisa “Psicologia e educação: um estado da arte da produção discente dos Programas de Pós-Graduação em Educação”, financiada pelo CNPq, coordenada pela Profª Marília Gouvea de Miranda, vem realizando esse estudo desde 2001.

Em sua primeira etapa, constituiu-se um banco de dados sobre dissertações de mestrado que vincularam psicologia da educação nos programas de Pós-Graduação em Educação no Brasil, tendo sido selecionados quatro programas de Pós-Graduação em Educação, sendo três da região sudeste, encolhidos por serem os mais antigos, estruturados e com reconhecida produção na área  (PUC/SP (Programa de Psicologia da Educação), UERJ, UNICAMP) e que também por possuíssem um banco de dados disponível. Foi incluído também o programa de Mestrado em Educação da UFG.

A seleção das dissertações que passaram a compor o universo e a amostra da pesquisa foi realizada, mediante a leitura dos resumos de dissertações produzidas nas quatro instituições pesquisadas. Em cada programa foram selecionadas dissertações cujos resumos indicaram claramente uma aproximação entre psicologia e educação. A partir desses resumos foram verificadas as seguintes informações: autor, título, ano de defesa, programa, instituição, palavras-chave, tema principal e secundário, objetivos, área de referência, enfoque teórico na psicologia, tipo de pesquisa e instrumento de coleta de dados. Esses dados estão permitindo a criação de um banco de dados, disponível na internet.

Foram lidos 1665 resumos de dissertações das instituições selecionadas. Do total foram selecionados 748 trabalhos cujas temáticas ou enfoques demonstraram algum indício de aproximação entre psicologia e a educação. Foram selecionados nos respectivos  programas:  PUC/SP (305), UNICAMP (240), UERJ (169), UFG (33).

A leitura dos resumos das dissertações revelou as limitações já conhecidas (Warde, 1995, Moroz e outros, 1999), relativas à utilização dessa fonte de pesquisa: a grande incidência de resumos mal elaborados, incompletos, e, portanto, insuficientes para que se possa identificar com clareza o tema tratado, o enfoque teórico, os procedimentos metodológicos, além de outras informações importantes para a compreensão do trabalho. Ainda, assim, entendeu-se que, para uma apreensão global dos dados da produção na área, seria adequada sua utilização para um primeiro rastreamento da área, desde que um estudo posterior fizesse um aprofundamento dos dados obtidos.[1]

 

1 – As temáticas predominantes

Devido à grande complexidade e variedade das temáticas, os temas das dissertações foram agrupados de acordo com dois critérios: sua maior recorrência e sua especificidade. Assim, as temáticas mais freqüentes foram reunidas, assim como outras menos freqüentes cuja especificidade não permitia que fossem incluídas em temas mais abrangentes.

Os temas identificados estão apresentados na Tabela 1:

 

TABELA 1 - TEMAS DAS DISSERTAÇÕES DE MESTRADO POR PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO 1971-2000

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TEMAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

UNICAMP

UERJ

UFG

PUC/SP

TOTAL

Nº de

 

Nº de

 

Nº de

 

Nº de

 

disser-

%

disser-

%

disser-

%

disser-

%

tações

tações

tações

tações

%

Educação especial

14

5,8

71

42,0

0

0,0

20

6,6

105

14,0

Desenvolvimento

35

14,5

12

7,1

4

12,1

22

7,2

73

9,8

Psicologia

23

9,5

0

0,0

5

15,2

41

13,4

69

9,2

Linguagem, leitura e escrita

28

11,6

8

4,7

6

18,2

25

8,2

67

9,0

Professor

11

4,6

8

4,7

1

3,0

24

7,9

44

5,9

Aprendizagem

23

9,5

1

0,6

0

0,0

16

5,2

40

5,3

Fracasso escolar

14

5,8

8

4,7

0

0,0

16

5,2

38

5,1

Prática pedagógica

11

4,6

6

3,6

4

12,1

14

4,6

35

4,7

Formação de professores

6

2,5

11

6,5

2

6,1

15

4,9

34

4,5

Formação moral, autoridade e disciplina

16

6,6

5

3,0

2

6,1

10

3,3

33

4,4

Educação infantil

9

3,7

2

1,2

1

3,0

19

6,2

31

4,1

Ensino de matemática

13

5,4

2

1,2

3

9,1

7

2,3

25

3,3

Formação profissional

1

0,4

5

3,0

1

3,0

14

4,6

21

2,8

Relação professor-aluno

2

0,8

3

1,8

1

3,0

13

4,3

19

2,5

Avaliação

3

1,2

10

5,9

0

0,0

6

2,0

19

2,5

Aluno

5

2,1

1

0,6

0

0,0

11

3,6

17

2,3

Novas tecnologias e educação

3

1,2

7

4,1

0

0,0

5

1,6

15

2,0

Família

4

1,7

1

0,6

2

6,1

7

2,3

14

1,9

Criança e jovem em situação de risco

3

1,2

3

1,8

1

3,0

6

2,0

13

1,7

Outros

17

7,1

5

3,0

0

0,0

14

4,6

36

4,8

TOTAL

241

100,0

169

100,0

33

100,0

305

100,0

748

100,0

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FONTE: Pesquisa bibliográfica - UNICAMP, UERJ, PUC/SP, UFG

 

 

 

 

 

 

 

NOTA: Dados trabalhados pelas autoras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dos 20 temas listados para as quatro instituições, do ponto de vista quantitativo, destacam-se sete: “educação especial” (14,0%): “desenvolvimento” (9,8%); “psicologia” (9,2%); “linguagem, leitura e escrita” (9,0%); “professor” (5,95); “aprendizagem” (5,3%) e “fracasso escolar” (5,1%), que podem ser descritos como se segue.

Educação especial – este tema agrupa estudos que abordam procedimentos metodológicos para se ensinar o aluno especial, programas que incentivam o desenvolvimento da linguagem e da interação social, a inserção do deficiente na prática social da escolaridade, a identificação de alunos talentosos/superdotados e, especialmente, a estimulação e o desenvolvimento da linguagem oral e escrita.

 Aprendizagem – estudos que abordam a aprendizagem de frações, conceitos, subtração, multiplicação, de resolução de problemas e da aprendizagem dos possíveis. Alguns com vistas a avaliar e analisar essas aprendizagens e outros analisar processos de intervenção, bem como as possibilidades de intervenção.

Desenvolvimento – dissertações que enfocam o desenvolvimento cognitivo, a sexualidade, desenvolvimento motor, desenvolvimento de processos psíquicos, desenvolvimento de atitudes e atividades lúdicas. 

Professor – aborda estudos que enfocam concepções sobre o papel do professor, características do professor, representação do professor, competências básicas do professor, atitudes, satisfação e insatisfação do trabalho docente e concepções de alunos sobre o professor.  

Linguagem, leitura e escrita – refere-se a estudos que abordam o processo de aquisição da escrita, o processo de alfabetização, formação do leitor, a relação sujeito e escrita, processo cognitivo da aquisição da escrita, o processo simbólico e a produção de textos.

Psicologia – estudos que referem-se a historiografia da psicologia, formação profissional, atuação do psicólogo, a análise de conceitos de teorias psicológicas, como: concepção de zona de desenvolvimento proximal, de aparelho psíquico, entre outros e estudos sobre teorias ou teóricos da psicologia.

Fracasso escolar – estudos  sobre as causas do fracasso escolar das crianças das séries iniciais, especialmente de origem sócio-econômica desfavorecida; enfocando fatores sócio-culturais. Muitos desses estudos sendo realizados na própria escola. Abrange, ainda, estudos sobre evasão escolar e de representação sobre fracasso escolar.

Os dados da Tabela I permitem constatar que há grande dispersão temática; apesar de se ter procurado agrupar os temas, a quantidade permaneceu significativa (20). Essa dispersão temática já foi anteriormente enfocada em outros estudos sobre a produção discente nos Programas de Pós-Graduação em Educação (Sonzogno, 1982; Gatti, 1983; Warde, 1993; Moroz et alii, 1999). A determinação da temática parece ser resultante da preocupação ou de problemáticas particulares de alunos e, não, a especificidade do Programa. Essa constatação pode indicar a ausência de grupos ou de linhas de pesquisas estruturadas e consolidadas nesses programas, em determinados períodos.

As variações em relação aos temas podem ser atribuídas à existência de grupos de pesquisas já consolidados, estruturados e fundamentados em determinadas áreas ou enfoques. Por exemplo, o único programa destes quatro selecionados que possui uma área de concentração em educação especial é o programa da UERJ, conseqüentemente essa temática aparece nessa instituição com elevada incidência (42,0%). Outro caso interessante é a predominância do agrupamento temático “psicologia” no Programa  de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da PUC/SP (13,4%), visto que este apresenta grupos de pesquisa consolidados em determinadas abordagens. O mesmo pode-se afirmar sobre grupos de pesquisas estruturados em teóricos da psicologia do desenvolvimento e aquisição e desenvolvimento da linguagem na UNICAMP, assim, a grande incidência de agrupamentos temáticos no item “desenvolvimento” (14,5%) e “linguagem, leitura e escrita” (11,6%).

Contudo, pode-se sinalizar alguns agrupamentos temáticos que estão presentes nas listas dos 7 temas mais abordados nas quatro instituições, como: “linguagem, leitura e escrita” e “desenvolvimento”. Os temas “psicologia” e “educação especial” aparecem em três instituições, sendo que não há nenhum trabalho sobre “psicologia” na UERJ e nenhum sobre “educação especial” na UFG. O que pode indicar a ausência de professores ou de grupo de professores que realizam estudos e pesquisas que abordam tais campos temáticos.

A temática da "linguagem, leitura e escrita" aparece em segundo lugar na PUC/SP  com (8,2%) e na UNICAMP (11,6%), em quinto na UERJ com (4,7%) e em primeiro lugar na UFG com (18,2%). Em relação a UERJ, pode-se destacar que essa temática aparece contemplada, de modo significativo, no tema de educação especial, na medida em que muitas dissertações abordam a questão de linguagem, bem como discuti e reflete sobre a aquisição e o desenvolvimento de linguagem oral e escrita em crianças com deficiências. 

O agrupamento “desenvolvimento” localiza-se em quarto lugar na PUC/SP (7,5%), quarto lugar na UFG (9,4%), segundo lugar na UERJ (7,1%) e em primeiro lugar na UNICAMP (14,5%).

O grupo temático “psicologia” aparece em quarto lugar na UNICAMP (9,5%), em segundo lugar na UFG (15,5%) e em primeiro lugar na PUC/SP (13,4%).

O tema da “educação especial” aparece em primeiro lugar na UERJ (42,0%), em sétimo na UNICAMP (5,8%) e quinto na PUC/SP (6,5%).

2 – O enfoque teórico psicológico

Para que fosse possível identificar as abordagens teóricas adotadas pelas dissertações, tomou-se como parâmetro as referências teóricas adotadas no campo da psicologia, tendo como critérios: (1)a auto nomeação, ou seja, a identificação de uma determinada teoria ou seu autor a partir da referência do próprio autor da dissertação, ou (2) a identificação indireta mediante pressupostos ou conceitos específicos apresentados. As dissertações que não se enquadraram nestes critérios foram classificadas no item “outros”.

Das 748 dissertações, 431 não permitem a identificação dos enfoques teóricos adotados, conforme já constatado em estudos anteriores, como Tomanik (1992), Warde (1993), Moroz e et alii (1999). Assim, a análise dos recortes teóricos adotados pautou-se em 317 trabalhos que claramente os identifica.

 Os enfoques teóricos da psicologia foram classificados em: psicologia genética de Jean Piaget, psicologia genética de Lev S. Vygotsky, psicologia genética de Henri Wallon, psicanálise, psicologia humanista, psicologia behaviorista, estudos sobre representação social, psicologia cognitivista, psicologia fenomenológica, psicometria, psicodrama, psicomotricidade, abordagens associadas e outros.

Em relação a classificação adotada, se faz necessário esclarecer alguns itens, como:

Psicologia genética de Jean Piaget – trata-se de trabalhos que recorrem à teoria piagetiana como fundamentação teórica. Contempla também estudos de autores que se fundamentam e se apresentam associados a Piaget, como Ferreiro e Kolberg. Neste item, encontram-se incluído, ainda, os estudos que se fundamentam nos pressupostos construtivistas.Os estudos abordados referem-se a aprendizagem de conceitos matemáticos, sobre desenvolvimento da linguagem escrita, formação moral, autoridade e disciplina e sobre educação infantil.

Psicologia genética de L. S. Vygotsky – este recorte teórico apresenta uma polissemia lingüística, na medida em que aparece denominado de “abordagem sócio-histórica”, “abordagem sócio-cultural”, “interacionismo”, “sócio-interacionismo” e “psicologia soviética”.  Vygotsky  aparece, em muitos estudos, associado a seus colaboradores e seguidores, como Leontiev e Elkonin. Refere-se a estudos voltados para questões referentes ao desenvolvimento, a linguagem e a educação especial.

Psicologia genética de Wallon – estudos referentes aos pressupostos teóricos de sua teoria do desenvolvimento.

Psicomotricidade – neste item, estão agrupados estudos que buscam investigar a psicomotricidade, em suas expressões na psicologia comportamental, exercícios psicomotores de Le Boulch, psicomotricidade relacional e teoria Lapierre.

Psicodrama – refere-se a estudos fundamentados, especialmente teoria psicodramática de J.L. Moreno, com ênfase na abordagem sociodramática.

Psicometria – estão enquadrados, neste item, trabalhos que abordam os testes psicológicos, sobretudo no meio escolar.

Psicologia Humanista – neste recorte teórico estão cadastrados trabalhos que adotam como referência teórica, especialmente os estudos de Carl Rogers. Mas, contempla também estudos de David Aspy, Flora Roebuck, Thomas Gordon e Abrahan H. Maslow.

Psicanálise – os trabalhos relacionados a esse enfoque teórico estão fundamentados na psicanálise de Sigmund Freud e seguidores como Lacan.

Psicologia behaviorista – neste grupo teórico, os trabalhos referem-se a análise comportamental e abordam, especialmente temas da aprendizagem, da linguagem e da prática pedagógica.

Psicologia cognitivista estão enquadradas, neste item, os teóricos que abordam a construção do conhecimento, discutem armazenamento, processamento e utilização de informações. Apesar de Piaget, ser considerado como o maior representante desta psicologia, foi enquadrado no item psicologia genética de Jean Piaget pela grande quantidade de trabalhos que o tomam como referência de apoio.

Psicologia fenomenológica – neste item, encontram-se estudos que discutem a fenomenologia existencial, estrutural e a hermenêutica.

Abordagens associadas – estão colocados, neste item, trabalhos que afirmam recorrerem a mais de uma teoria psicológica da lista do enfoque teórico, como por exemplo: Vygotsky e Bakhtin, Freud e Lacan, entre outros.

Estudos sobre representação social – aborda estudos que tem como objetivo saber as representações, as concepções, as percepções, as atitudes das pessoas, de modo geral, sobre os mais diversos temas.

Outros – neste item, encontram-se trabalhos que abordam teorias psicológicas ou teóricos que não estão relacionados na listagem de classificação do enfoque teórico, e, que a quantidade de dissertações que se fundamentam em tais referenciais não são um conjunto significativo, como psicanálise de Reich, psicologia ecológica, entre outros.

A Tabela 2 apresenta o enfoque teórico na psicologia e sua incidência em cada uma das quatro instituições pesquisadas e respectivas análise e resultado dos dados obtidos.

 

Tabela 2: Enfoque teórico na Psicologia das dissertações dos Programas de Pós-graduação em

 

Educação ( UNICAMP, UERJ, UFG, PUC/SP) - 1971-2000

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Enfoque teórico

UNICAMP

UERJ

UFG

PUC/SP

TOTAL

%

 

Psicologia genética de J. Piaget

56

3

0

15

74

23,3

 

Abordagens associadas

17

7

10

8

42

13,2

 

Psicologia genética de L. Vygotsky

21

1

1

19

42

13,2

Estudos sobre representação social

1

13

4

16

34

10,7

 

 

Psicologia Cognitivista

8

2

0

7

17

5,3

 

Psicologia genética de H. Wallon

0

1

0

14

15

4,7

 

Psicologia Behaviorista

5

1

0

9

15

4,7

 

Psicologia Humanista

2

1

0

9

12

3,7

 

Psicologia Fenomenológica

2

0

0

10

12

3,7

 

Psicodrama

5

0

1

5

11

3,4

 

Psicomotricidade

3

4

0

3

10

3,1

 

Psicometria

3

0

0

1

4

1,2

 

Psicanálise

2

0

1

1

4

1,2

 

Outros

8

3

0

14

25

7,9

 

TOTAL

133

36

17

131

317

100,00

 

FONTE: Pesquisa bibliográfica – UFG

NOTA: Dados trabalhados pelas autoras

 

 

 

 

 

 

 

Pode-se observar, na Tabela 2, que os referenciais de apoio da psicologia predominantes nas dissertações de mestrado de mestrado dos Programas de Pós-graduação em Educação de 1971 a 2000, são: Psicologia Genética de J. Piaget, Psicologia Genética de L. S. Vygotsky, abordagens associadas, estudos sobre representação social, outros e psicologia cognitivista.

Os dados reforçam as constatações de Warde (1993), relativas a diminuição da incidência da teoria behaviorista (4,7%) como referencial de apoio significativo nas dissertações. Como também chama atenção a ausência de trabalhos que recorrem à psicanálise como fundamentação teórica ou como objeto de estudo. Os dados permitem, ainda, constatar o crescente e elevado predomínio das teorias do desenvolvimento e da aprendizagem, caracterizado pela alta incidência da teoria de Piaget (23,3%), da teoria de Vygotsky (13,2%) e da teoria de Wallon (4,7%).

É significativa a quantidade de trabalhos que se fundamentam na psicologia cognitivista. Esse fato merece destaque a medida em que se agrupa os dados obtidos pela teoria piagetiana com os da psicologia cognitivista, perfazendo um total de 28,6% de dissertações. E, se torna mais interessante se acrescentar os dados relativos à teoria vygotskyana, alcançando um percentual de 41,8% de trabalhos que adotam o referencial da psicologia cognitivista.

Esse dado também está em consonância com os trabalhos anteriores sobre a produção discente nos Programas de Pós-Graduação em Educação realizados por Warde (1993) e Moroz et alii (1999) que apontam a concentração acentuada de estudos sobre o desenvolvimento da inteligência e da cognição. Confirma-se, assim, a forte influência da psicologia sobre a educação na contemporaneidade, tendo como referencial de apoio teorias cognitivistas, especialmente a psicologia genética de Jean Piaget.

Coll, Palácios e Marchesi (1996, p. 10), ao discutirem as relações históricas entre a psicologia e a educação, referem-se ao auge crescente da Psicologia Cognitiva no campo da psicologia da educação, a partir dos anos setenta, e, afirmam que se verifica, pelo menos em parte, uma “identificação entre a psicologia da educação com a psicologia da instrução, e pela confluência desta última com a psicologia cognitiva”. O que expressaria uma tendência da psicologia da educação de limitar-se ao âmbito da educação escolar e, conseqüentemente ao tratamento da aprendizagem das matérias escolares e dos fatores que incidem sobre o mesmo.

Em relação aos dados do enfoque teórico, pode-se destacar, ainda, a significativa incidência de trabalhos que fundamentam nas “abordagens associadas”. O que reforça, ainda mais, os dados referentes a alta incidência da psicologia cognitivista, visto que os teóricos mais citados nestes agrupamentos são: Piaget e Ferreiro, Vygotsky e Bakhtin, com menor incidência para Freud e Lacan.

Quanto ao “estudos sobre representação social”, enfoque predominante na UERJ (37,1%) e na PUC/SP (12,9%), os dados expressam uma grande quantidade de trabalhos que se fundamentam em estudos exploratórios sobre a concepção, a percepção, a representação, a opinião seja de professores, alunos, pessoas comuns ou especialistas sobre determinado assunto. Sendo interessante destacar que grande parte destes estudos não faz nenhuma referência a uma teoria ou teórico da representação social. O que torna esse recorte teórico problemático do ponto de vista do rigor teórico e metodológico.

Em relação ao enfoque teórico nas dissertações de mestrado por instituição, pode-se verificar que o referencial teórico que se faz presente nas quatro instituições é a psicologia genética de Vygotsky, sendo: PUC/SP (14,9%), UNICAMP (14,2%), UFG (5,9%) e UERJ (5,7%). Constata-se, ainda, enfoques teóricos encontrados, em pelo menos três das instituições, sendo:

·        psicologia genética de Piaget: PUC/SP (8,7%), UNICAMP (44,8%) e UERJ (5,7%).

·        estudos sobre representação social : PUC/SP (12,9%), UERJ (37,1%)  e UFG (23,3%).

·         abordagens associadas : UNICAMP (11,9%), UERJ (17,2%) e UFG (58,0%).

Esses dados relativos ao enfoque teórico por instituição também parecem indicar a ausência ou a consolidação de grupos e de linhas de pesquisas em determinadas abordagens teóricas, como por exemplo, a grande incidência de trabalhos que adotam o referencial piagetiano na UNICAMP (44,8) e a presença significativa da psicologia genética de Wallon na PUC/SP (11,0%).

 Esse conjunto de dados, relativos a temática e ao enfoque teórico, expressam a incidência desses aspectos na produção discente dos Programas de Pós-Graduação em Educação no período de 1971 a 2000, bem como permitem uma apreensão da concepção de psicologia que vem orientando essa produção no período estudado e apreender a natureza da relação psicologia e educação que esses trabalhos referendam. Essa tarefa é que se impõe na análise do cruzamento entre temas e enfoque teórico, que se segue.

 3 – Temas e enfoques teóricos predominantes                     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tabela 3: Temas das dissertações de Mestrado dos Programas de Pós-graduação em Educação ( UNICAMP, UERJ, UFG E PUC/SP) e  Enfoque Teórico na Psicologia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Relação dos temas

Enfoque teórico

Piaget

Associadas

Vygotsky

Representações

Cognitivista

Wallon

Behaviorista

Humanista

Fenomenológica

Psicodrama

Psicomotricidade

Psicometria

Psicanálise

Outros

Total

 

Educação especial

1

3

8

3

0

2

1

0

1

0

2

0

0

2

23

 

Desenvolvimento

12

3

9

5

2

3

0

0

1

0

5

0

0

2

42

 

Psicologia

3

6

5

1

2

0

2

5

0

3

0

1

2

5

35

 

Linguagem, leitura e escrita

11

12

7

0

0

0

2

0

0

0

3

0

1

0

36

 

Professor

0

2

0

4

0

2

1

2

0

0

0

0

0

2

13

 

Aprendizagem

14

0

1

0

6

0

3

1

1

1

0

0

0

1

28

 

Fracasso escolar

0

0

0

0

2

1

1

0

1

0

0

1

0

2

8

 

Prática pedagógica

5

2

0

1

1

0

2

0

0

0

0

0

0

0

11

 

Formação de professores

0

1

1

1

1

0

0

1

0

1

0

0

0

1

7

 

Formação moral, autoridade e disciplina

11

3

1

0

0

1

0

0

0

1

0

0

0

0

17

 

Educação infantil

8

0

1

2

0

4

1

0

0

0

0

0

0

3

19

 

Ensino de matemática

5

2

2

0

2

0

0

0

0

0

0

0

0

0

11

 

Formação profissional

0

0

1

2

0

0

0

0

1

0

0

0

0

1

5

 

Relação professor - aluno

0

1

2

2

0

1

0

1

0

1

0

0

0

1

9

 

Avaliação

2

0

0

3

0

0

1

0

1

0

0

0

0

0

7

 

Aluno

0

1

2

3

0

1

1

1

0

0

0

0

0

1

10

 

Novas tecnologias e educação

1

2

0

0

1

0

0

0

1

0

0

0

0

1

6

 

Família

0

2

1

2

0

0

0

0

0

1

1

0

0

0

7

 

Criança e jovem em situação de risco

0

0

0

1

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

2

Outro

1

2

1

4

0

0

0

1

4

3

0

2

1

2

21

Total

74

42

42

34

17

15

15

12

12

11

11

4

4

24

317

Fonte: Pesquisa bibliográfica - UFG

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nota: Dados trabalhados pelas autoras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Os estudos piagetianos abordam prioritariamente os seguintes grupos temáticos: “aprendizagem” (14 dissertações), “desenvolvimento” (12), “linguagem, leitura e escrita” (11), “formação moral, autoridade e disciplina” (11) e “educação infantil” (8).

As “abordagens associadas” concentram estudos, de modo significativo, na temática “lInguagem, leitura e escrita” (12 dissertações), seguida de uma grande dispersão dos  temas subseqüentes como “psicologia” (6), “educação especial” (3), desenvolvimento (3) e “formação moral, autoridade e disciplina” (3).

Dentre as dissertações com o enfoque na psicologia de Vygotsky, os temas predominantes são “desenvolvimento” (9 dissertações), “educação especial” (8), “linguagem, leitura e escrita” (7) e “psicologia” (5).

Das dissertações que apresentam o enfoque das “representações sociais”, “desenvolvimento” (5) é o tema que tem predominância, seguido de “professor” (4), “outro”(4), “educação especial” (3), “avaliação”(3) e “aluno” (3).

A Psicologia Cognitivista apresenta prioritariamente o tema “aprendizagem” (6), seguido de uma elevada variação das temáticas subseqüentes : “desenvolvimento” (2), “psicologia” (2), “fracasso escolar” (2) e “ensino de matemática” (2).

O estudo tem confirmado padrões já descritos em estudos anteriores, qual seja de uma psicologia que aparece relacionada aos processos de aprendizagem e desenvolvimento, orientadas para as práticas pedagógicas, fundamentando principalmente a ação docente. São poucos os estudos que efetivamente produzem um campo de investigação, que revisitam as teorias. Ainda que não prevaleça a antiga fórmula de uma ciência aplicada ao campo da educação, verifica-se uma psicologia reiterativa das práticas e das concepções predominantes em cada momento, com forte ênfase nos processos individuais de aprendizagem.

Bibliografia

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GATTI, Bernadete  A. Pesquisa em educação: um tema em debate. Cadernos de pesquisa  São Paulo: n. 80, p. 106-111, fev. 1992

______ .  Pós-graduação e pesquisa em educação no Brasil. Cadernos de pesquisa  São Paulo: n. 4,  p. 4, fev. 1983.

MIRANDA, Marília Gouvea de. A psicologia dos psicólogos e a psicologia dos educadores. Cadernos de Pesquisa. São Paulo,  v.83, 1992, p.71-74

______ . Trabalho, educação e construtivismo: a redefinição da inteligência em termos de mudanças tecnológicas. Educação e sociedade, Campinas, n.51, 1995, p. 324-337.

______ . Psicologia e educação: a produção discente na pós-graduação em educação no Brasil (1982-1991). Psicologia da Educação. São Paulo, n.1, nov.1995.

MOROZ, Melania et alii. Psicologia da Educação: retratando 25 anos de produção de um programa de pós-graduação. Psicologia da Educação. São Paulo, n. 9, 2º sem. 1999.

SONZOGNO, M. C.  Aspectos da produção científica da Psicologia da Educação no Brasil, no período de 1970-1982. São Paulo, PUC-SP, 1982. (tese de doutoramento)

TOMANIK, E. A . Ser e não ser: a pesquisa em Psicologia no Brasil e a questão da cientificidade. Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social da PUC-SP, 1992. (tese de doutorado)

WARDE, Mirian J. A produção discente dos programas de pós-graduação em educação no Brasil (1982 - 1991): avaliação e perspectivas. ANPEd, Avaliação e perspectivas na área da educação. 1981 -1991. Porto Alegre, set., 1993, p. 51-81.

_______________ . Psicologia e educação: a produção discente na pós-graduação em educação no Brasil (1981-1991). Psicologia da Educação. São Paulo, n.1, nov. 1995.    

 

[1] Deste modo, um estudo mais aprofundado dessas dissertações está sendo feito na presente etapa. Para tanto, foi selecionada uma amostra de trabalhos cuja leitura deverá ser realizada na íntegra: aproximadamente 15% das dissertações, obedecendo um critério de estratificação por instituição e período. A amostra ficou assim constituída: PUC/SP (46 dissertações), UNICAMP (35), UERJ (26) e UFG (4). Em seguida, haverá a análise e discussão dos dados e a redação do relatório final.

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