UMA ORIENTAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DOS MÉTODOS DESCRITIVOS.

 

Bráulio Vinícius Ferreira

Universidade Católica de Goiás, Brasil

Departamento de Artes e Arquitetura - Escola Prof. Edgar Albuquerque Graeff.

 

1 . Introdução

A substituição de aulas expositivas por atividades que envolvam os estudantes dentro da sala de aula é, sem dúvida nenhuma, um grande desafio para os professores de disciplinas de desenho técnico. Na Universidade Católica de Goiás, desenvolvemos uma atividade em sala de aula tendo como referência os princípios norteadores da Teoria da Atividade, que tem na escola soviética sua origem. Tendo como referência o conceito de mediação de Vygotsky e o conceito de Atividade desenvolvido por Leontiev e Davydov, a orientação em sala de aula tem como base uma integração entre os conteúdos do método descritivo e uma metodologia que envolva os estudantes em uma atividade coletiva.

O texto está estruturado da seguinte forma: um breve conceito dos princípios norteadores da teoria da atividade, a relação entre a atividade e aprendizagem, a aprendizagem do desenho e finalmente a descrição da orientação em sala de aula.

 

2 . Estrutura da Atividade Humana

O conceito de atividade é fundamental para a psicologia soviética e tem sido uma categoria amplamente pesquisada pelos psicólogos soviéticos contemporâneos. Parece estranho, mas é exatamente por este grande volume de pesquisas que tem sido difícil, para os psicólogos soviéticos definirem claramente o conceito de atividade.

Nos primeiros escritos de Lev Vygotsky pode ser encontrada a origem do conceito de atividade. Ele sugere que a atividade socialmente significativa pode servir como um princípio explanatório em relação à consciência humana e ser considerado como um gerador de consciência humana.

ENGESTRÖN (1999) afirma que a teoria da atividade teve início a partir de um grupo de psicólogos revolucionários russos nos anos vinte e trinta, que estavam determinados a trazer o espírito das teses de Feurbach, de Marx, para uma nova abordagem de compreensão e transformação da vida humana.

O problema da atividade surge nos estudos de Vygotsky , pela primeira vez, em seu artigo “ A consciência como um problema da psicologia do comportamento”. Neste artigo, Vygotsky , objetiva restaurar a legitimidade do conceito de consciência.

Vale a pena fazer um pano de fundo para entendermos as discussões psicológicas em torno da consciência. Existiam basicamente duas correntes: a reflexologia, que reduzia todos os fenômenos psicológicos ao comportamento de tipo reflexo; a mentalista, afirmava que  os estados de consciência são explicados por meio do conceito de consciência. Vygotsky assume uma postura metodológica, metapsicológica e espistemologicamente orientada, diante da discussão do conceito de consciência. Foi essa postura que o ajudou a descobrir uma série de atividades capazes de servir como geradores de consciência.

Desta forma, Vygotsky, encontra aspectos especificamente humanos da experiência individual, tais como  sua historicidade (dívida para com a experiência de gerações anteriores), seu caráter social (experiências partilhadas de outras) e sua dupla natureza, que é a existência de imagens e esquemas mentais prévios à ação concreta.

A construção da consciência de fora para dentro, por meio da relação com os outros é uma das idéias do autor que ganha destaque em suas pesquisas. Ou seja só tenho consciência de mim mesmo na medida que sou um outro para mim, na medida que posso perceber minhas próprias reações novamente, como novos estímulos.

Vygotsky diferenciou duas formas de experiências e consequentemente estabeleceu dois grupos de conceitos diferentes, embora inter-relacionados. O primeiro grupo, tem suas raízes na atividade educacional especializada e operacionalizada, impondo ao aprendiz conceitos cientificamente definidos, por isso designou este grupo de “científico”. O segundo grupo, que compreende conceitos que emergem da reflexão da criança sobre a experiência diária, e por isso foi  designado por Vygotsky de “espontâneo”.

Podemos estabelecer no processo de evolução da Teoria da Atividade três gerações. A primeira está definida em torno de Vygotsky. A grande criação dessa geração foi a idéia de mediação que é um processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. Ver figura 1.

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1: Mediação entre o Sujeito e objeto.

 

A segunda geração da teoria da atividade toma como base o trabalho de Leontiev, que foi um dos colaboradores mais ativos e próximos de Vygotsky. Trabalhou com ele no projeto de construção da “nova psicologia”. Sua teoria da atividade pode ser considerada um desdobramento dos postulados básicos de Vygotsky, principalmente, no que diz respeito à relação homem-mundo enquanto construída historicamente e mediada por instrumentos.

Já a terceira geração da teoria da atividade, tem como referência as pesquisas de Davydov relacionando a teoria com a atividade de aprendizagem.

Para Leontiev as atividades humanas são consideradas como formas de relação do homem com o mundo, dirigidas por motivos, por fins a serem alcançados. A idéia de atividade envolve a noção de que o homem é orientado por objetivos, agindo de forma intencional, por meio de ações planejadas. Segundo Leontiev, a capacidade consciente de formular e alcançar objetivos é um traço que distingue o homem dos outros animais.

Leontiev afirma que a atividade humana ocorre num sistema de relações sociais e de vida social, onde o trabalho tem posição central. Ele afirma que a atividade psicológica interna do indivíduo tem sua origem na atividade externa. Segundo ele os processos mentais humanos adquirem uma estrutura necessariamente ligada aos meios e métodos sócio-historicamente formados e transmitidos pelo processo de trabalho cooperativo de interação social. Leontiev analisa a estrutura da atividade humana, destacando três níveis de funcionamento: a atividade propriamente dita, as ações e as operações. Um exemplo dado por Leontiev, citado por OLIVEIRA (1999) esclarece os níveis de funcionamento:

[...] Quando um membro de um grupo realiza sua atividade de trabalho ele o faz para satisfazer uma de suas necessidades. Um batedor, por exemplo, que toma parte de uma caçada coletiva primitiva, foi estimulado pela necessidade de alimento, ou talvez, pela necessidade de vestimenta, que a pele do animal morto satisfaria para ele. Mas a que sua atividade estava diretamente orientada? Poderia estar orientada, por exemplo , para afugentar um bando de animais e encaminhá-los na direção de outros caçadores tocaiados. Isso, na verdade, é o resultado da atividade desse homem. E a atividade desse membro individual da caçada termina aí. O restante é completado pelos outros membros. Por si só, esse resultado – a fuga da caça etc. – não leva, e não pode levar, à satisfação da necessidade de comida ou de vestimenta. Consequentemente, os processos da atividade do batedor estavam direcionados a algo que não coincidia com o que os estimulou, isto é, não coincidia com o motivo de sua atividade; os dois estavam separados nesse exemplo. Aos processos cujo objeto e motivo não coincidem chamaremos ações. Podemos dizer, por exemplo, que a atividade do batedor é a caçada, mas afugentar o animal, sua ação. [...] (Oliveira, 1997, p.46)

 

No exemplo dado acima, podemos observar como a atividade é uma forma complexa de relação homem-mundo envolvendo finalidades conscientes e atuação coletiva e cooperativa. A atividade, portanto é realizada por meio de ações orientadas por metas, desempenhadas pelos diversos indivíduos envolvidos na atividade. O resultado da atividade, no seu conjunto, satisfaz à necessidade do grupo e também às necessidades de cada indivíduo, mesmo que cada um tenha se dedicado apenas a uma parte específica da tarefa em questão.

Para Leontiev, o terceiro nível da atividade humana é o das operações. As operações são os modos de se desempenhar uma ação. Este nível tem relação com os aspectos práticos da realização das ações, as condições em que são efetivadas e os procedimentos paras realizá-las.

Uma mesma atividade pode ser executada por meio de diferentes cadeias de ações, por exemplo, a atividade da caça pode envolver as ações de afugentar os animais e emboscá-los, ou ações de construção de armadilhas e posterior matança dos animais que nelas caem. Do mesmo modo uma ação pode ser desempenhada por meio de diferentes operações: o abate do animal pode ser realizado por golpes, flechas ou tiros de armas de fogo. Desta forma, Leontiev estrutura a atividade em três níveis. A atividade propriamente dita impulsionada por um motivo, gera as ações, que são determinadas pelas metas, e as operações são as maneiras de se atingir o objetivo proposto da ação. Conforme figura 2.

A atividade humana  é considerada como a unidade de análise mais adequada para a compreensão dos processos psicológicos porque inclui tanto o indivíduo como seu ambiente, culturalmente definido. A ação individual em si é insuficiente como unidade de análise. Deve-se tomar o sistema coletivo de atividade, pois a ação individual fica destituída de significado.  Voltando ao exemplo da  caça, o batedor que afugenta a caça, olhado individualmente, parece estar realizando uma ação sem sentido, se consideramos que seu objetivo é obter alimento. Contudo, sua ação passa a ter um significado quando analisada como parte integrante de uma atividade coletiva, com função definida num sistema de cooperação social que conduz à obtenção

daquele resultado.

Figura 2: Estrutura da Atividade Proposta por Leontiev.

 

A atividade humana, resultado do desenvolvimento sócio-histórico, é internalizada pelo indivíduo constituindo sua consciência, seus modos de agir, sua percepção do mundo real, a compreensão do contexto cultural no qual a atividade  ocorre é essencial para a compreensão dos processos psicológicos.

Portanto a idéia da atividade baseia-se na concepção do ser humano como sendo capaz de agir de forma voluntária sobre o mundo, intencionalmente buscando atingir determinados fins. Ou seja a atividade é um modo de agir orientado para um determinado objetivo. O motivo da existência de uma atividade é o de transformar um objetivo em um resultado.

 

3 Atividade e Aprendizagem

Segundo Sacristán (2000) os processos de ensino-aprendizagem na instituição escolar são o centro da investigação e da prática didáticas.

Sacristán (2000) afirma que o conceito de aprendizagem é fundamental para qualquer elaboração teórica sobre ensino. Mas qual seria o conceito mais apropriado para a aprendizagem. Parece-nos mais coerente aquele que a considera a aprendizagem como um processo de conhecimento, de desenvolvimento e  compreensão.

Segundo Sacristán (2000) a aprendizagem é um processo de conhecimento, de compreensão de relações que as condições externas atuam mediadas pelas condições internas.[...] Para a psicologia soviética a aprendizagem está em função da comunicação e do desenvolvimento. Do mesmo modo, este último não é um simples desdobramento de caracteres pré-formados na estrutura biológica dos genes, mas o resultado do intercâmbio entre informação genética e o contato experimental com as circunstâncias reais de um meio historicamente constituído.[...] (Sacristán, 2000, p.30)

Sacristán (2000) afirma que a aprendizagem escolar é um tipo de aprendizagem peculiar, por se produzir dentro de uma instituição com uma clara função social, onde  a aprendizagem dos conteúdos do currículo transforma-se no fim específico da vida e das relações entre os indivíduos.

Segundo Engeströn (2002), entre as várias abordagens modernas do ensino e da aprendizagem, a teoria de V. V. Davydov se destaca tanto pelo arcabouço epistemológico e conceitual elaborado de forma excepcional, quanto pelo amplo volume de pesquisa experimental acumulado com base na teoria, tanto na União Soviética como em outro lugares.

Engeströn afirma que o núcleo da teoria de Davydov é o método de ascender do abstrato para o concreto, afirma também que esta é uma abordagem epistemológica geral, usada por Karl Marx em O Capital para derivar uma teoria abrangente e concreta do capitalismo com base na “célula germinativa” ou “germe” abstrato e simples da mercadoria como unidade contraditória de valor de uso e valor de troca.

Davydov esclarece como este método pode ser transformado numa poderosa estratégia de aprendizagem e ensino.

[...] Quando se movem rumo à aquisição de qualquer assunto acadêmico, os alunos, com a ajuda do professor, analisam o conteúdo do material curricular e identificam a relação primária geral nele, fazendo ao mesmo tempo a descoberta de que esta relação é manifesta em várias outras relações particulares encontradas no dado material. Registrando de alguma forma referencial a relação geral primária que foi identificada, os alunos com ela constroem uma abstração substantiva do assunto em estudo. Continuando sua análise do material curricular, eles detectam o vínculo governado por regras que há entre essa relação primária e suas diversas manifestações, e com isso obtêm uma generalização substantiva do assunto em estudo.

As crianças utilizam consistentemente abstração e generalização substantivas para deduzir (de novo com a ajuda do professor) outras abstrações mais particulares e uni-las num assunto acadêmico integral (concreto). Quando os alunos começam a fazer uso da abstração primária e da generalização primária como meio de deduzir e unificar outras abstrações, eles transformam a formação mental primária num conceito que registra o “germe” do assunto acadêmico. Esse “germe” subseqüentemente serve às crianças como princípio geral por meio do qual podem se orientar na inteira multiplicidade do material curricular factual que têm de assimilar em forma conceitual por meio de uma ascensão do abstrato para o concreto.[...] “ (Davydov, 1988, parte 2 in: DANIELS)

A teoria de Davydov, integra vários temas como:  atividade,  consciência, criatividade, imaginação e pensamento. Para Davydov, a aprendizagem precede e estimula o desenvolvimento. Isso levou o autor a desenvolver a noção de ensino como experimentação formativa, implicando que o professor desenvolva pesquisa ao mesmo tempo que está ensinando.

O objetivo da atividade de aprender é a própria aprendizagem.

Para Davydov, os conceitos teóricos devem constituir o principal objetivo da formação do pensamento teórico da criança; Davydov, defende duas formas de conhecimento, apoiando-se nesta tese:

1.      empírico

2.      teórico

O conhecimento empírico lida com diferenças e semelhanças e emerge pela observação e comparação deste. O objeto do conhecimento empírico é individual e funciona como uma realidade independente.

O conhecimento teórico lida com um sistema integrado de fenômenos e não com o fenômeno individual isolado. Emerge pelo desenvolvimento de métodos para a solução das contradições surgidas societariamente no âmbito de uma situação problema, desenvolvendo um entendimento das origens das relações e das dinâmicas do fenômeno. Esse conhecimento é comunicado por meio de modelos.

A idéia de modelos está associada aos esforços dos professores em provar os meios da auto-sócio-construção do conhecimento pelos alunos; em que eles desenvolvem, por si próprios, procedimentos e alternativas de aprendizagem ou modo de pensar.

Para Davydov uma tarefa de aprendizagem consiste em aprender como encontrar soluções gerais para problemas específicos básicos. A motivação neste caso é pelo como resolver.

A  tarefa da aprendizagem depende fortemente da estrutura da atividade de aprender e da plena realização de todos os seus componentes necessários na prática educativa. Os principais elementos dessa estruturação são:

1.      Tarefa de Aprendizagem;

2.      Ações de Aprendizagem;

3.      Ações como Controle e Avaliação;

Davydov, estabelece seis passos da atividade de aprendizagem:

1.      Mudança ou produção de um problema de modo que as relações gerais fiquem claramente visíveis;

2.      Modelagem dessas relações;

3.      Transformação do modelo para que a conexão seja clara;

4.      Criação de novos problemas e tarefas a partir do modelo;

5.      Controle das próprias ações de aprendizagem

6.      Avaliação da esfera de modelos de aplicação.

 

4. Aprendizagem no Desenho

O desenho é a linguagem de comunicação e expressão do arquiteto e urbanista. Mais que as palavras, as idéias do arquiteto e urbanista, são comunicadas através do desenho.

Não é somente para o arquiteto ou para o artista que o desenho assume um papel de linguagem na comunicação e expressão humana. Nossos ancestrais já dominavam a linguagem gráfica antes mesmo da falada e escrita. Neste sentido Putnoki afirma:

“[...] Como linguagem de comunicação e expressão, a arte do desenho antecede em muito a da escrita. O que é a escrita se não a combinação de símbolos desenhados? Através de gravuras traçadas nas paredes das cavernas, o homem pré-histórico registrou fatos relacionados com o seu cotidiano, deixando indicadores importantes para os pesquisadores modernos estudarem os ancestrais de nossa espécie. Enfim, a arte do desenho é algo inerente ao homem.” (Putnoki, 1989, p. 11)

 

O desenho é a ciência e a arte de representar, graficamente objetos e idéias através de linhas, cores e formas à mão livre ou com instrumentos. É a expressão gráfica da forma. O desenho, também pode ser compreendido como sendo uma descrição gráfica que nos fornece, mediante linhas a imagem de um objeto que dificilmente poderia ser explicado com palavras.

O desenho comunica primeiro aos olhos, é uma linguagem diferente da falada ou escrita.

[...] Desenhar é um meio natural de expressão que cria um mundo separado, mas paralelo, de imagens que falam para os olhos [...] Na essência de todos os desenhos, existe um processo interativo de ver, imaginar e representar imagens.[...] Os desenhos são imagens que criamos no papel para expressar e comunicar nossos pensamentos e percepções.[...] Desenhar é portanto, mais que uma habilidade manual, já que envolve a construção de imagens visuais, que estimulam a imaginação enquanto esta fornece o ímpeto de desenhar. [...] (Ching, 2001,p.3)

 

Um projeto de um edifício ou de uma cidade não é apenas um pensamento, é uma percepção da realidade e do mundo em seu contexto histórico e cultural. A imaginação, portanto, dá ao desenho um caráter construtivo, não só do significado que se quer construir através do desenho, mas também da linguagem de comunicação.

É evidente a importância que o desenho tem para o arquiteto e urbanista, pois desenhar é a natural e necessária extensão do pensamento visual. O desenho influencia o pensamento, já que é um meio de expressão, e o pensamento dirige o desenho, o que reforça o sentido de criação e de imaginação do desenho. O desenho, não pode ser visto como uma ferramenta de representação de idéias, ele é a idéia em essência.

Desta forma desenhar é um ato de comunicação de idéias, e no caso do arquiteto e urbanista de idéias tridimensionais. Temos então uma estreita ligação com o desenvolvimento da percepção visual, ou seja a capacidade de abstrair representações gráficas de um objeto tridimensional existente ou mesmo de um objeto que está sendo criado. À esta capacidade damos o nome de visualização espacial.

Mas como desenvolver tarefas, ou atividades que aprimorem a capacidade de visualização espacial? Quais seriam as ações que poderiam conduzir a uma aprendizagem efetiva ?

 

5  Uma orientação didático-pedagógica

Na Geometria Descritiva, ou no Desenho Arquitetônico existem problemas que só podem ser solucionados quando determinados elementos ocupam posição particular em relação aos planos de projeção. É necessário, portanto, alterar a posição, quer modificando o sistema de projeção quer modificando a posição do objeto. Para essa alteração empregam-se processos que são chamados de Métodos Descritivos, ou Métodos auxiliares, que tem como função alterar o sistema de representação ou a posição do objeto.

Quando se modifica o sistema de representação, o objeto permanece imóvel e o plano de projeção é que sofre a modificação e por isso o método é denominado de “Método das mudanças de planos de projeção”. Quando os planos permanecem imóveis, isto é, inalterado o sistema de representação e o objeto se desloca, o método é denominado de “Método das rotações”, pois o deslocamento do objeto é feito girando-o em torno de um eixo escolhido de forma coerente com a posição do objeto. Existe ainda um terceiro método, denominado “Rebatimento” que é um caso particular da rotação.

Os conteúdos acima descritos eram, anteriormente, ensinados mediante aulas expositivas, utilizando recursos visuais, como a transparência, o quadro e os sólidos tridimensionais, portanto , através de uma exposição sistemática e tradicional os conteúdos eram expostos um a um, seguidos de exercícios práticos e avaliações.

Tendo como princípio a idéia da mediação da teoria histórico cultural da atividade idealizada por Vygotsky, bem como a importância do grupo para a construção de conhecimentos, lançamos mão de uma atividade que fosse coletiva e envolvesse a participação efetiva dos estudantes, proporcionando assim uma maior interação social no ambiente da sala de aula.

A atividade proposta, tendo como referência os seis passos da atividade de aprendizagem, estabelecidos por Davydov, recebeu o nome de “Desafio da Verdadeira Grandeza”. Para a realização da mesma os estudantes foram divididos em dois grupos. Cada grupo tem que responder às perguntas lançadas pelo professor. É oferecido um prêmio para o grupo vencedor, o que dá à dinâmica uma motivação extra e uma certa competitividade entre os grupos.

O objetivo do desafio é descobrir a verdadeira grandeza da face de um prisma que denominamos de parede de um edifício.

É apresentado ao grupo de estudantes um modelo tridimensional, que eles podem manipular. Os grupos deverão responder a cinco desafios e ao final os estudantes devem registrar a resposta através de desenhos esquemáticos.

Primeiro Desafio:

Encontre a verdadeira grandeza da face ABCD, sabendo que todos os elementos são fixos: o observador, o prisma, os planos de projeção.


Rapidamente os estudantes chegam à conclusão de que o problema proposto não tem solução, pois a face está inclinada em relação aos três planos de projeção.


 


Foto 1: Grupo de estudantes                               Foto 2: Registro e Desenho das respostas.

 

Segundo Desafio: Encontre a verdadeira grandeza da face ABCD sabendo que somente o observador pode mudar de posição.

 Neste momento os estudantes descobrem que não basta o observador mudar de posição. Alguns alunos se levantam, vão até o modelo tridimensional, conferem, discutem entre si.

Terceiro Desafio: Encontre a verdadeira grandeza da face ABCD sabendo que o observador e os planos de projeção podem mudar de posição.

 O objetivo deste desafio é proporcionar o entendimento do método da mudança de planos. Ao final do desafio os estudantes conseguem visualizar como é feita a mudança dos planos de projeção.

Quarto Desafio: Encontre a verdadeira grandeza da face ABCD sabendo que somente o sólido poderá mudar de posição através de um movimento de rotação em torno de um eixo.

O objetivo deste desafio é proporcionar o entendimento dos conceitos iniciais do método rotação. Ao final do desafio os estudantes conseguem compreender como é feita a rotação.

Quinto Desafio: Encontre a verdadeira grandeza da face ABCD sabendo que a face em questão pode ser removida da posição original no sólido.

O objetivo deste desafio é proporcionar o entendimento do método do rebatimento. Ao final do desafio os estudantes conseguem visualizar como é executado o rebatimento.

Entre os desafios os estudantes são estimulados a participar efetivamente da aula, fazendo intervenções no modelo, desenhando no quadro e explicando para o outro grupo, os resultados encontrados na discussão do seu grupo.

Assim em um primeiro momento quem faz o papel da mediação entre os estudantes e o conteúdo, é o professor. O professor apresenta os desafios para os estudantes e faz algumas considerações em relação ao conteúdo específico.

Em um segundo momento a mediação é feita pelo próprios estudantes em discussão no grupo. Assim que o desafio é lançado, os estudantes conversam entre si, trocam informações e fazem desenhos. Há uma mediação feita entre aqueles que, por condições diversas, apresentam uma facilidade de interpretação e visualização espacial.

Em um terceiro momento um grupo faz a mediação para o outro. As respostas para cada desafio são dadas de forma alternada. Ora o grupo 1 responde o desafio, explicando a resposta para o grupo 2, ora o grupo 2 responde o desafio e explica a resposta para o grupo 1.


 


Figura 3: Mediação na sala de Aula – Entre os grupos.

 

No momento final da resposta do desafio o professor volta a fazer a mediação entre o conteúdo e os grupos de estudantes.

 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos com a aplicação desta orientação didático-pedagógica são consideravelmente superiores à uma aula expositiva no modelo tradicional, pois os alunos participam efetivamente das discussões buscando a compreensão do método de forma efetiva.

A discussão nos grupos para construir o conhecimento, proporciona o raciocínio espacial, contrapondo com o comportamento da passividade de uma aula expositiva tradicional. O estudante não ouve simplesmente a exposição de uma aula, ele constrói o conhecimento através da discussão no grupo. As considerações e os desenhos de cada estudante são analisados por todo grupo gerando a construção do conhecimento de forma coletiva. Desta forma a integração de uma atividade coletiva e os conteúdos do método descritivo acontecem de maneira efetiva.

A atividade deixa de ser individual e passa a ser coletiva. Pode-se perceber a estrutura da atividade de acordo com a proposta de Leontiev.

Através desta orientação didática a teoria da atividade deixa de ser uma referência exclusivamente teórica, revelando um conceito prático, portanto novas orientações podem ser criadas, novos caminhos podem ser encontrados buscando sempre uma aprendizagem efetiva por parte daqueles que buscam o conhecimento.

A mediação entre o conteúdo abordado e os estudantes deixa de ser exclusividade do professor e passa a ser papel também dos colegas criando uma ambiente social adequado para a discussão e a construção do conhecimento.

 


Figura 8: Interpretação da Estrutura da Atividade proposta por Leontiev.

 


7   REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHING, Francis D. K.;  JUROSZEK P. Steven. Representação Gráfica para Desenho e Projeto. Barcelona – Espanha: Gustavo Gili, 2001.

DANIELS, Harry (Org.) Uma Introdução à Vygotsky. São Paulo: Loyola, 2002.

DAVYDOV, V. V. Tipos de generalización en la enseñanza. Habana, Editorial Pueblo y Educación, 1982.

ENGESTRÖN, Yrjö; Como superar a encapsulação da aprendizagem escolar. In: DANIELS, Harry (Org.) Uma Introdução à Vygotsky. São Paulo: Loyola, 2002. p.175-197.

OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.

PRÍNCIPE JÚNIOR, Alfredo dos Reis. Noções de Geometria Descritiva. São Paulo: Nobel, 1990.

PUTNOKI, José Carlos. Elementos de Geometria e Desenho Geométrico. Volume 1. São Paulo: Scipione, 1990.

SACRISTÁN, J. Gimeno; GOMÉZ, A L. Pérez. Compreender e Transformar o Ensino. Tradução de Ernani F. da Fonseca Rosa. 4ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

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