Forma de atividade: pôster – GT 12

 

A INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM CRECHE

 

Universidade Católica de Goiás – UCG, Programa de Mestrado em Psicologia. Grupo de Pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento

Autoras: Psi. Candice Marques de Lima*; Psi. Mercedes Villa Cupolillo**.

*Prof.ª convidada do Departamento de Psicologia da UCG; Mestranda em Psicologia do Desenvolvimento na UCG. E-mail: candicemarques1@hotmail.com

**Drª em Psicologia do Desenvolvimento pela Dundee University, Escócia; Orientadora e Docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UCG. E-mail: vernisage@zipmail.com.br

 

O processo de inclusão escolar teve seu início nos anos de 1990 e atualmente é uma discussão que permeia as práticas educativas/pedagógicas em nossa sociedade.

Num primeiro momento, entende-se por inclusão escolar o processo de inserção de crianças com deficiências provenientes do ensino especial para as escolas comuns de ensino. As pessoas com deficiências físicas, sensoriais ou mentais passaram por vários momentos históricos, segundo Sassaki (1994). No início eram excluídas da sociedade, depois passaram a ser segregadas em instituições como asilos, sanatórios e escolas especiais e posteriormente começaram a ser inseridas nas escolas.

Muitas escolas comuns de ensino tinham salas especiais para que as crianças com necessidades especiais fossem colocadas até que estivessem “preparadas” para serem inseridas nas classes comuns. Este processo, conhecido como integração, ainda não pode ser entendido como o processo de inclusão que, como define Sassaki (1999), é uma via de mão dupla na qual não apenas a pessoa portadora de necessidades especiais deve se incluir, mas a sociedade deve ser receptiva para sua inclusão.

Baseados nessa discussão sobre inclusão, fomos para o campo de pesquisa à procura de uma creche que incluísse tais crianças com deficiências – físicas, mentais ou sensoriais. Em nossa busca nos deparamos com uma questão: as creches não têm crianças com deficiências e não se dizem inclusivas por não receberem tais crianças. Decepcionados com a impossibilidade de fazer a pesquisa com essa proposta de inclusão tradicional, começamos a perceber que muitas crianças inseridas nas creches são excluídas socialmente e, portanto, significadas como crianças com alguma necessidade especial, ainda que não deficientes.

Tais crianças, moradoras de comunidades carentes, filhas de pais analfabetos ou semi-alfabetizados, que sustentam a casa com subempregos e que suas moradias não têm a estrutura necessária para o desenvolvimento de uma criança, se desenvolvem nas creches num processo de inclusão/exclusão. Nesse contexto, muitas vezes são significadas como crianças com alguma dificuldade pelas agentes educativas, por serem originárias de uma clientela pobre/discriminada e se desenvolverem de forma diversa do padrão de normalidade que a sociedade, escolas e creches têm a respeito de suas crianças.

As instituições educacionais em nossa sociedade se constituem e se desenvolvem para atender as crianças que pertencem a um padrão de normalidade proveniente das classes média e alta. As crianças devem se adequar a esse padrão e estarem sempre limpas, bem vestidas e educadas, mesmo aquelas que moram em favelas, invasões e nas periferias das cidades. Esse é o modelo de bom aluno, com o qual as professoras sonham. Com essa representação, muitas professoras vão trabalhar em escolas e creches de periferia e no momento que entram em contato com outra realidade, diversa da sua, ao invés de perceberem a diversidade humana e suas variadas formas de desenvolvimento, procuram impor seu padrão às crianças que pretendem educar.

Dessa forma, a proposta de educação que estas professoras deveriam seguir - partindo do conhecimento e da realidade social nos quais o aluno está inserido - inverte-se e a proposta torna-se a criança se inserir num processo de ensino-aprendizagem da realidade social da professora, que não faz sentido para essa criança, por não fazer parte do meio social que a constitui e é constituído por ela.

Entendemos, portanto, o processo de inclusão/exclusão de crianças com necessidades educacionais especiais como dialético e, portanto, contraditório, no qual estas crianças já estão inseridas nas escolas comuns de ensino e nas creches, mas que são significadas como crianças com alguma necessidade especial, devido ao seu desenvolvimento, vocabulário e comportamento não estarem de acordo com os padrões estabelecidos pelas pessoas que cuidam dos processos de ensino-aprendizagem dessas crianças.

Além disso, acreditamos que as professoras, no seu compromisso com a educação e o desenvolvimento, devem trabalhar com a diversidade em sala de aula, não olhando apenas para o aluno modelo, mas para todas as crianças que estão envolvidas no processo educativo. O educador tem a obrigação de perceber o ser humano como complexo e singular, além de contextualizá-lo num espaço social e histórico.

Nossa pesquisa de campo foi realizada no segundo semestre de 2002, em uma creche administrada pela prefeitura de Goiânia que atende a uma clientela proveniente, em sua maioria, de uma comunidade carente próxima à creche.

Partimos de uma perspectiva histórico-cultural para compreendermos a constituição subjetiva de crianças com necessidades educacionais especiais em processo de inclusão/exclusão. Sendo uma pesquisa qualitativa, se propõe a uma construção interpretativa a respeito das interações no campo de pesquisa. A metodologia utilizada foi a filmagem de cenas cotidianas da creche; vídeo-entrevistas realizadas com as agentes educativas sobre o sentido que elas constroem a respeito dos sujeitos pesquisados durante as filmagens; entrevistas com os pais das crianças pesquisadas.

Os sujeitos pesquisados foram três crianças significadas pelas agentes educativas como crianças com necessidades especiais, que procuramos compreendê-las como sujeitos inseridos num determinado contexto histórico e cultural no qual são constituídos e constituem uma subjetividade social.

Em nossa pesquisa, trabalhamos com a construção de indicadores que são, segundo González Rey (2002, p.112), “elementos que adquirem significação graças à interpretação do pesquisador, ou seja, sua significação não é acessível de forma direta à experiência, nem aparece em sistemas de correlação.”. Construímos os indicadores baseados em nossas observações interativas no campo de pesquisa, de acordo com as zonas de sentido do pesquisador que passam a ter significados que vão além do aparente.

A construção de indicadores em nossa pesquisa é parcial, pois ainda não finalizamos nossos estudos. Percebemos que a comunicação entre a agente educativa e a criança com necessidade especial é fator de inclusão/exclusão desta, pois dependendo da forma como a agente educativa significa essa criança e de como a criança se coloca nesse processo, a mesma será incluída ou excluída das interações que fazem parte deste contexto.

Também pudemos perceber que a criança que tem um papel mais ativo na relação com a agente educativa, isto é, demanda mais cuidados, busca a atenção e é mais afetiva,  torna-se incluída no processo devido à afetividade que desperta na agente.

Por último, a pesquisa mobiliza a agente educativa para os sujeitos pesquisados e assim propicia a inclusão destes nas interações criança-criança, criança-agente educativa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

GONZÁLEZ REY, Fernando. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. 1.ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

 

SASSAKI, Romeo K. Inclusão. Construindo uma sociedade para todos. 3.ed. Rio de Janeiro: WVA, 1994.

 

SASSAKI, Romeo K. Componentes da educação inclusiva. In: CONGRESSO SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3. Anais... Curitiba, PR, 1999,  Natal, RN, 1999.

 

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