REFORÇO ESCOLAR COM ALUNOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

 

Zenilda Maria de Sousa Paniago – CAJ-UFG

Orientadora: Profª Laís Leni Lima de Oliveira –CAJ-UFG

 

O presente trabalho trata-se de um relatório, que contém a narrativa e análise de um projeto em andamento,[M1]  voltado para a Educação Infantil, na etapa de alfabetização, especificamente trabalhando com o reforço escolar.

Este projeto está sendo desenvolvido no Centro Educacional Caminho da Luz, no município de Jataí –Go, a mesma foi fundada em 1997 por um grupo de idealistas que acreditavam na educação como uma das formas de transformação do homem.

O interesse em trabalhar com essa abordagem surgiu mediante os estudos realizados na disciplina de Alfabetização, e para cumprir as exigências do Estágio da Disciplina de Didática e Prática de Ensino do curso de Pedagogia.

Estudando alfabetização é possível perceber que esse termo tem mudado muito ao longo dos tempos. Inúmeras são as formas encontradas para definir o termo alfabetização e cada qual  defende pontos de vistas diferentes quanto ao processo de aquisição da linguagem escrita. Ao analisar essa diversidade conceitual, o que se percebe é que as mesmas são geradas em realidades e épocas diferentes, alicerçadas em teorias específicas, de acordo com a cultura e o momento histórico.

Tendências tradicionais acreditam na alfabetização como sinônimo de decifrar código, acreditando também que a criança tem momento certo para aprender a ler e escrever, devendo estar pronta para tal. A língua escrita na concepção tradicional tem sido exposta de uma forma difícil para que a criança entenda, fazendo-o por meio de uma postura hierárquica, fracionando-se a escrita[1] e dificultando o processo de aprendizagem. Esse tipo de prática escolar requer do alfabetizando a memorização de regras gramaticais e exercícios que não deixam o aluno buscar respostas por si mesmos, não permitem o confronto de idéias e fazem com que o educando, geralmente, se sinta um fracassado, podendo fazer com que ele perca o ânimo de aprender.

Assim, os defensores dessa posição consideram como prioridade, no processo de alfabetização, o domínio da mecânica da leitura e da escrita em que o processo mental parte de unidades menores – no caso das letras – em direção a unidades maiores, para compor, gradativamente, sílabas, palavras e frases.  Dá-se ênfase à forma, em detrimento do significado e das funções da linguagem. (ALVES, 1993:20).

 

Abordagens construtivistas, postulam que a alfabetização tem como objetivo a formação do leitor competente, apto a produzir textos que lhe possibilitem o pleno desenvolvimento do exercício da cidadania, reconhecendo o papel da família e escola como subsistemas responsáveis pela mediação da criança e do jovem com a escrita. A escrita (estruturação de um sistema de representação) deve ser uma atividade prazerosa, estimulante, que traz a cada dia ao aluno uma sensação de descoberta do mundo, dando ao aluno a oportunidade de aprender de forma mais satisfatória.

Para conseguir o êxito desse processo a escola precisa trabalhar o uso da escrita nos mais variados espaços de sua utilização envolvendo o aluno com as práticas sociais da escrita nas quais  ele possa estar em contato com textos diversificados, como revistas, jornais, livros literários, bilhetes, anúncios, placas, slogans, diversos cartazes que circulam nos mais variados locais, convites, panfletos dos mais diversos estilos, rótulos de embalagens – produtos de limpeza, remédios, higiene –  e inúmeros outros recursos.

O indivíduo que não se apropria da escrita torna-se um marginalizado em nossa sociedade. Diversos autores norteiam esse estudo, versando sobre as possíveis dificuldades que podem estar relacionadas ao não entendimento desse processo e suas conseqüências para a sociedade.  

É preciso ressaltar a importância da criança ser alfabetizada nas séries iniciais, uma vez que se isso não acontecer ela, provavelmente, aumentará os índices do fracasso escolar[2], evadindo-se da escola.

O fracasso escolar das crianças nas séries iniciais pode estar atrelado a questões emocionais, patológicas e sociais ou a questões internas da escola, como  escassez de recursos, tempo escolar insuficiente, preconceito quanto à linguagem das crianças das camadas populares que não dominam as normas da língua padrão e outros fatores.

Em JOSÉ & COELHO (2002) encontramos alguns desses fatores:

Fatores orgânicos – saúde física deficiente, falta de integridade neurológica (sistema nervoso doentio), alimentação inadequada etc. Fatores psicológicos – inibição, fantasia, ansiedade, angústia, inadequação à realidade, sentimento generalizado de rejeição etc. Fatores ambientais – tipo de educação familiar, o grau de estimulação que a criança recebeu desde os primeiro dias de vida, a influência dos meios de comunicação etc. (p.23)

 

Muitos alunos encontram dificuldades em ampliar os conhecimentos adquiridos no seu ambiente de convívio não obtendo sucesso no seu desenvolvimento escolar. Esta dificuldade em compreender como se estrutura o conhecimento, mais especificamente o código da leitura e da escrita, pode agravar-se se não for realizado pela escola um trabalho específico de acompanhamento individualizado. Geralmente as classes das séries iniciais são numerosas, o que dificulta ao professor oferecer um atendimento individual. Acresce-se a esta questão o fato dessas crianças estarem ainda em processo de construção de sua autonomia, necessitando o auxílio do professor diretamente.

Diante de tal quadro torna-se necessário buscar alternativas que suavizem essa situação. Assim, desenvolvemos esse projeto, na condição de aluna matriculada no terceiro ano de Pedagogia CAJ/UFG para atender as necessidades já enumeradas e, ainda, formalizar o estágio supervisionado que compõe a grade curricular do curso, por compreender que o processo de alfabetização é algo extremamente significante na vida de todo ser humano.

Alguns dos objetivos que pretendemos atingir são o de possibilitar momentos de estudos de acordo com as dificuldades detectadas  em entrevista, bem como contribuir para o debate e a reflexão sobre o papel da escola e do professor na perspectiva transformadora da aquisição da leitura e escrita, e auxiliar o aluno a superar a defasagem do processo de ensino-aprendizagem.

      Para isso, utilizamos metodologias diversificadas, sendo que elas ocupam um lugar significativo em nosso projeto. Procuramos compreendê-las para além das técnicas e procedimentos, isto é, pensamos e as realizamos como articulação entre as teorias estudadas, os objetivos propostos e os resultados ora alcançados. Assim adotamos os seguintes procedimentos metodológicos: entrevista com preenchimento de ficha diagnóstica; realização de ditado mudo; tabulação e análise dos dados por meio de pesquisas teóricas na área; reunião com pais, ou responsável, professores e coordenadores para realização de um diagnóstico mais específico baseado na convivência pai/responsável/professor/aluno; seleção dos conteúdos a serem trabalhados que estejam adequados as necessidades desses alunos; aulas com pequenos grupos de alunos uma vez por semana; visitas constantes à biblioteca da escola; confecção de uma caixa com os mais variados tipos de textos para que os alunos tenham contato constante com esses materiais; visitas a estabelecimentos comerciais; utilização do computador.

 

ALGUNS RESULTADOS

 

Buscamos uma maior aproximação com as pessoas que se relacionam cotidianamente com as crianças como forma de superar as barreiras que eles vêem em trabalhos paralelos a rotina escolar. No primeiro contato com os pais ou responsáveis apresentamos nossa proposta de trabalho, respeitando a experiência de todos os envolvidos. Primeiramente, tivemos um momento de interação por meio do diálogo, o que nos propiciou obter diversas informações que não conseguiríamos somente com os alunos. Também foi tratado com os pais sobre a necessidade de apoiarem os alunos mostrando interesse em suas atividades rotineiras. Afirmamos também que em nossos momentos o aluno é respeitado em suas diferenças e que temos como proposta auxiliá-los a construírem seu próprio conhecimento.

Abrimos espaço para que falassem dos alunos que representavam. A participação foi geral e obtivemos diversos depoimentos[3], que transcreveremos a seguir:  

-             “Fernando é meu sobrinho e mora comigo porque a mãe juntou-se com um homem que o maltratava, é uma criança medrosa e muita reservada, quando o levei para casa tinha diversas marcas rochas pelo corpo, sinais que apanhava de algum adulto”. 

-   “Ricardo no início do ano teve um desenvolvimento muito bom, a professora inclusive disse que ele tinha muita facilidade em aprender e que logo estaria lendo. Adoeci e tive que ir para Goiânia fazer tratamento ele ficou com familiares, seu rendimento na escola caiu muito. Voltei esse mês para casa e espero que ele se recupere.”

- “A professora já tinha me dito que é bem provável que o Luciano tenha que repetir o ano porque ele está com muitas dificuldades, estou até pensando em procurar uma professora particular para ele”.

 - “Meus filhos nunca leram no pré, eu sempre vou as formaturas das crianças e lá vejo todas lendo e os meus filhos nunca lêem nada, o meu sonho é ver a Bárbara ler no dia da formatura, ela é a filha caçula e se não for agora.”.

Esses foram alguns dos depoimentos e que denotam a necessidade da escola em estar auxiliando tanto pais quanto alunos na busca de conhecimentos que os auxiliem na resolução desses conflitos.

Após essa etapa foi possível verificar por meio de entrevista com os alunos que a maioria dos alunos estão na faixa etária adequada para a série conforme previsto em lei e estão  matriculados em escola formal pela primeira vez; grande parte reconhece as letras do alfabeto e as escritas variam de níveis (silábicas e alfabéticas). Quando perguntados para que gostariam de aprender a ler e a escrever deram as seguintes respostas: “Quero aprender a ler e escrever para estudar”, “ler as palavras”, “ensinar meus filhos para fazer as tarefas de casa”, “estudar para a prova”, “quando crescer tirar carteira de motorista e conseguir emprego”, “aprender”, “ler os nomes dos animais e pessoas”, “escrever o nome dos objetos”, “aprender a estudar”, “quando minha professora pedir para escrever eu dar conta”, “ficar inteligente”, “ficar melhor ainda, nada de briga, é só aprender”, “ler qualquer coisa”, “passar para a 1ª série”.

Essas respostas denotam que a aquisição do processo da leitura e escrita está distante de sua função social, estando presente a função modelizadora da escola.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALVES, Maria Freire. Passos e (des)compassos da alfabetização. Goiânia: UFG, 1993. 116p.

 

JOSÉ, Elisabete da Assunção; COELHO, Maria Tereza. Problemas de aprendizagem. 12ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2002.

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Guia para apresentação de trabalhos monográficos na UFG. Goiânia: Ed. UFG, 2001.

 

Apresentação.ppt

 

 

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[1] Primeiramente apresenta-se o alfabeto, separando-o em vogais e consoantes, depois forma-se sílabas isoladas, para que em seguida sejam formadas palavras e somente depois é que se apresenta frases. Nesta seqüência a criança fica “perdida” e a cada nova etapa o professor alfabetizador tem que sistematizar tal  seqüência novamente.   

 

[2] Hoje vivenciamos uma nova realidade na qual os índices de repetência são quase inexistentes, porém a criança é aprovada sem que haja aprendizado verdadeiro, ou seja, há uma camuflagem dos índices, mas o fracasso escolar persiste.

[3]  Para preservar a identidade dos envolvidos no projeto serão utilizados nomes fictícios.

 


 [M1]