O EDUCADOR COMO DESENVOLVEDOR DE SOFTWARE PARA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

 

Estevão Keglevich

Keglevic@netgo.com.br

 

            No passado as pessoas possuíam menor qualificação profissional por não terem acesso à educação em suas cidades de origem, este fato ainda é muito comum. As instituições, sejam elas governamentais ou não, possuem dificuldades financeiras e estruturais para ministrarem cursos, numa localidade distante, com a finalidade de qualificar um número reduzido de alunos.

            A educação é em qualquer tempo, caminho fundamental para o desenvolvimento pessoal, humano, econômico e político do indivíduo, gerando oportunidades sociais. O desenvolvimento de uma sociedade é analisado pelo tipo de educação que oferece.

            Quanto ao desenvolvimento de competências PERRENOUD,2000 afirma: “Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los” Desta forma não havia o acesso à informática nem à Internet; a própria energia elétrica era muito limitada em algumas localidades e os satélites não tinham tecnologia de ponta  como na contemporaneidade.

            Existe uma carência de profissionais para o setor e principalmente de softwares e métodos educacionais adequados e eficientes. Esta barreira apenas conseguirá ser ultrapassada com a utilização da criatividade. Não a criatividade existente em cada indivíduo e sim aquela inerente ao educador que é capaz de antever processos e situações de construção do conhecimento.

            O educador que pretende atuar com o uso de softwares educacionais em Educação à Distância, deve também possuir conhecimentos de informática e preferencialmente habilidade em uma linguagem de programação em ambientes amplamente utilizados pelos usuários do sistema a ser desenvolvido, como o Windows e o Linux.

            Hoje este tipo de educador, criativo e capaz de criar softwares educacionais é surreal; porém deve ser o objetivo daqueles que desejem fazer uma educação à Distância de qualidade, proporcionando a construção do conhecimento por parte do aluno.  Demo (2002, p.14) afirma:  “... a competência do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade humana. É condição básica da participação. Dirige-se a fins, valores e conteúdos. É naturalmente ideológica, porque definição política é sua marca, perdendo qualidade, se ideológica se reduzir à justificação desumanas e a partidarismos obtusos. Inclui ética na política.”  Isto nos impulsiona a debater, questionar, sugerir; criar a situação do melhoramento a partir da análise.

            Devemos questionar a respeito dos investimentos que são aplicados na produção de softwares educacionais no Brasil, que deixam a desejar em detrimento da demanda:

-         Os governos estaduais e federal possuem pouca ou nenhuma disponibilidade de recursos financeiros para estes projetos.

-         As empresas particulares objetivam principalmente o aspecto comercial do produto.

- O MEC lançou o PAPED - Programa de Apoio à Pesquisa em Educação a Distância, do qual podem candidatar-se apenas  estudantes de mestrado e doutorado, regularmente matriculados em cursos de pós-graduação stricto sensu que sejam credenciados pela CAPES (Conceito mínimo 3); Este fato afunila, atuando de forma exclusiva, a maioria das iniciativas do setor. Os recursos financeiros para os projetos são de R$ 27.500,00 destinados aos trabalhos de doutorado e R$ 20.000,00 aos de mestrado. Como serão selecionados até cinco de cada nível, teremos projetos que terão de ser executados com valores da ordem de R$ 4.000,00. É risível.

Para darmos um salto de qualidade na construção de softwares educacionais, deveriam ser criadas equipes multidisciplinares, com profissionais de várias áreas, recursos financeiros suficientes para remunerar estes profissionais, equipamentos diversos e local para realizar reuniões e debates entre os membros da equipe.

Este trabalho poderia também ser realizado à distância, porém durante as análises de aplicação do software, toda a equipe deve estar presente. Isto porque cada membro da equipe elaboradora possui uma ótica diferenciada a respeito do produto. Para o educador, por exemplo, uma simples “cara feia” do aluno pode desencadear uma grande revisão na qualidade pedagógica, interativa do software. Para o programador, um equipamento de informática que encontrou dificuldade na execução do software  provoca uma revisão na utilização de arquivos do sistema operacional, protocolos avançados, armazenamento de mídia, etc.  Devemos pensar que os horários, espaço físico e tantos outros fatores de cada localidade são bastante heterogêneos. Algo que funcionou perfeitamente num determinado local, com certa clientela, pode encontrar grandes dificuldades em outro contexto.

Isto nos retorna à questão do Educador Desenvolvedor, que possui competência e habilidades tecnológicas e técnicas de programação visual como indivíduo capaz de elaborar e desenvolver um projeto isoladamente ou participando de uma equipe bastante reduzida.

SOUZA, 2003,  estimula a ideologia da criatividade:  “A partir da compreensão da representação dos significados, as tecnologias passam a ser vistas como Linguagem e suas utilizações não se restringem aos recursos instrumentais, mas às novas propostas de pensar que se tornam possíveis”.

As vantagens do desenvolvimento de software pelo próprio educador são inúmeras, dentre elas destaco:       

-         Rápido feed-back Utilização-Análise-Aperfeiçoamento-Utilização.

-         Custos muito menores que o trabalho em grandes equipes.

-         Opiniões mais centralizadas na ação prática.

-         Independência burocrática, filosófica e por vezes institucional.

-         Otimização do tempo aplicado ao projeto.

-         Criação de ações educacionais independentes, possibilitando grande diversidade.

 

Neste contexto o educador abre para si um enorme leque de possibilidades na Educação a Distância, podendo ser  ele, o responsável pelo desenvolvimento educacional de centenas de alunos simultaneamente. Quanto a isto PERRENOUD,2000 sinaliza: “Os professores devem parar de pensar que dar o curso é o cerne da profissão.  Ensinar hoje, deveria ser  conceber, encaixar e regular situações de aprendizagem, seguindo os princípios pedagógicos ativos construtivistas.“ Felizmente a educação prepara-se para dar um importante e grande passo. A pergunta é se os educadores estão dispostos a acompanhar esta mudança.

SANTOS, 2002  afirma que: “Já é bastante evidente que o desenvolvimento da informática educativa no Brasil ainda é um problema crucial, que precisa de soluções de peso, na medida em que a democratização do acesso as novas tecnologias de comunicação e informação é condição incontornável para garantir o ingresso e a permanência do país na chamada Sociedade da Informação”.

Observamos que o indivíduo nunca será possuidor de criatividade se não utilizar meios de aplicação da mesma. Quem pode considerar-se  um educador de capacidade e ao mesmo tempo negar-se ao uso das novas tecnologias ? É possível educar fora do contexto atual ?

 

Referências bibliográficas:

 

DEMO, Pedro. Educação e Qualidade. São Paulo. Cortez:  2002, p. 14.

 

PERRENOUD, Philippe, Revista Nova Escola, Set. 2000, p. 20

 SANTOS, Gilberto Lacerda. O software educativo e a promoção da aprendizagem significativa? Utopia ou realidade. Disponível em: <http://www.anped.org.br/25/minicurso/roteirogt16.doc> Acesso em: nov/2002.

 

SOUZA. Maria Carolina Santos de. A Tecnologia da Informação enquanto construção social- histórica e seu significado na sociedade contemporânea. Disponível em:

<http://www.projetoeducar.com.br/informatica-educativa/relato3.htm>. Acesso em: fev/2003.

 

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