Maria Inácia Lopes*
Este
artigo dá uma visão geral de como o tema Seleção de Conteúdos é tratado entre
os professores, faz uma abordagem teórica sobre conteúdos de ensino com base em
diversos autores nacionais e internacionais, apresenta propostas para
selecionar conteúdos incluindo o enfoque Histórico-Cultural e apresenta recomendações
para que os professores selecionem conteúdos de forma científica, contribuindo
para formar o perfil do futuro profissional.
O mundo atual vive uma época de
grandes transformações. Em todos os setores da vida as mudanças são uma
constante. Não se trata de evitar ou impedir as mudanças mas, sim, de saber
conviver com elas de forma natural, buscando o que trazem de positivo e
diminuindo os aspectos negativos .
A escola tem que estar trabalhando
com o aluno o que acontece à sua volta, preparando-o para uma leitura
científica dos acontecimentos. O ensino conteudista, bancário já não atende as
necessidades e interesses dos alunos que
vivem num meio altamente tecnologizado.
A concepção de uma escola voltada para a construção de uma
cidadania consciente e ativa, oferecendo
aos alunos as bases culturais que lhes permitam identificar e
posicionar-se frente às transformações em curso e incorporar-se na vida
produtiva e sócio-política torna-se cada vez mais necessária. Reforça-se, também, a concepção de professor
como profissional do ensino que tem como principal tarefa cuidar da
aprendizagem dos alunos, respeitando
sua diversidade pessoal, social e cultural e ligando os saberes teóricos
à prática.
É comum ouvir professores comentando que sua matéria tem muito conteúdo
para ser trabalhado, que o tempo disponível não é suficiente para se trabalhar
todo esse conteúdo, que os alunos não são capazes de assimilar tudo que é
trabalhado na disciplina e que não sabem o que fazer para adequar o tempo
disponível ao conteúdo determinado
Conteúdo significa o conjunto de conhecimentos, habilidades,
formas de comportamento e hábitos de estudo relacionados aos objetivos e
organizados pedagógica e didaticamente, visando sua aplicação.
Esses conteúdos podem ser
específicos, correspondendo a conceitos, leis, teorias, axiomas,
procedimentos, métodos e técnicas específicas de uma área do
conhecimento; e
não específicos, abrangendo:
- habilidades, que são procedimentos lógicos,
heurísticos,
algoritmos;
- formas de comportamento, incluindo
atitudes e valores; e
- hábitos de
estudo, levando à busca e processamento de informações, organização e
controle da atividade de estudo,
autopreparação.
Os conteúdos, dentro do processo
ensino-aprendizagem, têm sido objeto de estudos por parte de vários autores e,
às vezes, até se encontram posições antagônicas sobre o seu papel nesse
processo.
Nogueira (2001,p.19) chama os
professores de “conteudistas” por se preocuparem com o cumprimento integral dos
conteúdos selecionados para um determinado ano letivo em detrimento, até, do
processo de aprendizagem. O conteúdo passa a ser o mais importante e a ele se
submetem professor e alunos.
Esse autor fundamentando-se na Ley de
Ordenacion general del sistema educativo - da Espanha – LOGSE e nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino classifica os conteúdos em três
categorias: conceitual, procedimental e atitudinal.
Conteúdo conceitual é o conhecimento
que o professor detém e transmite de forma teórica ao aluno. Não se discute
este tipo de conteúdo mas, sim, o fato de se ficar apenas nessa categoria
tratando-o como fim e não como meio, não o relacionando com o dia-a-dia do
aluno, não o tornando significativo.
Conteúdo procedimental é citado nos
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN-como
procedimentos que expressam um saber
fazer, que envolvem tomar decisões e realizar uma série de ações, de forma
ordenada e não aleatória, para atingir uma meta. Os conteúdos procedimentais
sempre estão presentes nos projetos de ensino pois realizar uma pesquisa,
desenvolver um experimento, fazer um resumo, construir uma maquete são
proposições de ações presentes nas salas de aula. (PCN Apud Nogueira, 2001,p.20)
Os procedimentos devem se constituir
em um objeto no processo de ensino-aprendizagem e complementar a informação
teórica, ou seja, o conteúdo conceitual.
Conteúdo atitudinal é formado pelas
normas e valores que, através da função socializadora e mediadora da escola,
possibilitam ao aluno diferentes leituras e interpretações do mundo em que
vive.
Libâneo ( 1994, p.127) faz uma
abordagem ampla sobre o tema ressaltando sua relevância não só na vida escolar
mas, também, na formação de uma sociedade justa. Critica a forma estática e sem
significado vital para o aluno como muitas vezes os conteúdos são trabalhados,
aspecto apenas conceitual, não valorizando a capacidade e habilidade do aluno
para adquirir conhecimentos, aspecto procedimental e separados das condições
sócio-culturais e individuais do aluno, aspecto atitudinal.
Afirma que o ensino dos conteúdos é um processo dinâmico, uma ação
recíproca entre matéria, ensino e estudo dos alunos. Os conteúdos devem ser
significativos, isto é, interessantes, expressivos, incluir elementos da vida
dos alunos para serem assimilados de forma ativa e consciente. O domínio de
conhecimentos, conteúdos conceituais e
das habilidades, conteúdos procedimentais, visa ao desenvolvimento das funções
intelectuais como o pensamento independente e criativo.
Libâneo define conteúdo de forma abrangente incluindo não só
conhecimentos mas habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de
atuação social visando sempre sua aplicação na vida prática dos alunos.
Conteúdo, para ele, engloba conceitos, idéias, fatos, processos, princípios,
leis científicas, regras, habilidades cognoscitivas, modos de atividade,
métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudo, de trabalho e de
convivência social, valores, convicções, atitudes.
A palavra conteúdo, na tradição das
instituições escolares, significa elementos de disciplina, matérias,
informações diversas, os resumos da cultura acadêmica, reflete a visão dos que
decidem o que ensinar e dos que ensinam, o que se pretende transmitir e o que
deve ser assimilado. Essa concepção é diversa dos resultados dos conteúdos não
específicos que o aluno obtém.
A ampliação da escolaridade alargou a
concepção de conteúdos do currículo, englobando as finalidades da escolaridade
e as aprendizagens que os alunos obtém da escolarização. Conteúdos passam a ser
“todas as aprendizagens que os alunos devem alcançar para progredir nas
direções que marcam os fins da educação numa etapa da escolarização, em
qualquer área ou fora delas, e para tal é necessário estimular comportamentos,
adquirir valores, atitudes e habilidades de pensamento, além de
conhecimentos”. (Sacristán, 1998, p.
150).
No texto “ El desarrollo y la
educacion en America Latina: desafios y
esperanzas” a Doutora Gonzalez (2001)
do CEPES, comenta que atualmente o conteúdo do ensino está voltado para a
assimilação de conhecimentos, habilidades e hábitos e não para o
desenvolvimento da personalidade e das potencialidades do aluno. Esse costume
traz como conseqüência a saturação das matérias escolares, a perda do caráter
integral e sistemático do conteúdo, sua conversão em informações abstratas e
distanciadas da realidade, sobrecarga de conteúdos, perda de interesse do aluno
e diminuição da qualidade dos egressados. Segundo Gonzalez “para o ensino que
requerem os países de nosso continente é mais viável a via da intensificação do
conteúdo, possível de conseguir se se emprega o enfoque baseado no contexto da
atividade”.[1] Esse enfoque se orienta, não só para o
domínio dos conteúdos como, também, aos procedimentos de sua utilização,
relacionando-os com modelos e ações de pensamento que lhe servem de base e
desenvolvendo o potencial criativo de cada aluno. Permite, ainda, superar a
passividade do aluno e o caráter abstrato de conteúdos desligados da realidade
e da atividade.
As várias teorias da educação assumem
posições diferentes sobre a questão dos conteúdos escolares. A Escola
Tradicional enfatiza a transmissão de conhecimento sistematizado e organizado
como verdades sobre a sociedade e o indivíduo. A cultura acumulada pela
humanidade deve ser aprendida.
A Pedagogia Libertadora de Paulo
Freire propõe o conteúdo programático a partir da investigação interdisciplinar
e de um mínimo de conhecimentos da realidade; os conteúdos não devem ser
impostos aos estudantes mas partir de suas experiências e necessidades. Freire
considera a prática educativa como uma totalidade e por isso não separa
conteúdo de método, professor de aluno, dizendo que o professor progressista se
preocupa com a totalidade da prática educativa procurando descobrir os momentos
parciais que compõem essa totalidade.
Na teoria construtivista os conteúdos
selecionados por especialistas não são muito valorizados uma vez que é o aluno
que determina o que tem sentido no contexto em que está operando e que
problemas são importantes para ele.
Para a teoria do enfoque
histórico-cultural o ensino e a educação são formas universais e necessárias do
processo de desenvolvimento psíquico e da apropriação, pelo homem, da cultura e
da experiência histórico-social da humanidade. O ensino não tem um conteúdo estável
mas variável, uma vez que é determinado historicamente e o desenvolvimento
psíquico da criança também tem um caráter histórico-concreto de acordo com o
nível de desenvolvimento da sociedade e das condições da educação.
Nogueira apresenta algumas questões
que ajudam o professor a selecionar conteúdos tornando-os exeqüíveis,
significativos, contextualizados e dotando-os de uma roupagem didática:
-
para
que é importante esse tópico?
-
Qual é
a relação dessa unidade com as anteriores e com as próximas ?
-
Como
contextualizar esse conteúdo no cotidiano de meu aluno?
-
Como
posso trabalhar essa unidade de forma procedimental e atitudinal ?
-
O que
aconteceria para o aluno se eu não ministrasse essa unidade ?
A essas questões pode-se acrescentar
outras:
-
O que
pretendo atingir trabalhando esse conteúdo?
-
Que
habilidades e atitudes pretendo formar em meus alunos trabalhando esse
conteúdo?
-
Que
valores posso ajudá-los a desenvolver estudando esse conteúdo?
Uma reflexão sobre essas perguntas
leva o professor a repensar a forma como tem selecionado os conteúdos e a
importância deles para o aluno, para sua formação como cidadão e como
profissional. Um conteúdo que não é trabalhado procedimentalmente e
atitudinalmente, que não tem significado para a vida do aluno deve ser questionado
quanto a sua relevância e, talvez, nem sequer fazer parte do Plano do
professor.
O professor, ao selecionar os
conteúdos, torna-se o mediador que vai possibilitar ao aluno apropriar-se do
patrimônio cultural e científico da sociedade.
O princípio básico para selecionar o
conteúdo são os conhecimentos e modos de ação que surgem da prática social e
histórica dos homens revelando um vínculo entre o aluno, sujeito do
conhecimento, e sua prática social de vida.
Para se selecionar um conteúdo é
necessário considerar a herança cultural, a experiência da prática social e do
contexto em que o aluno vive e a perspectiva de futuro, tendo em vista a
construção de uma sociedade humanizada.
Como a herança cultural é rica e
complexa cabe à escola selecionar o que deve ser objeto de estudo, isto é, o
conteúdo a ser trabalhado pelo aluno. Este conteúdo, segundo Libâneo, é
composto por quatro elementos:
- conhecimentos sistematizados; habilidades; atitudes; e
convicções.
É interessante notar que Libâneo ressalta muito o caráter social dos
conteúdos e a participação na prática social, o que vai exigir do aluno o
domínio de conhecimentos básicos e habilidades intelectuais e, do professor,
uma seleção de assuntos vivos e significativos e a consideração das condições
de rendimento escolar dos alunos.
O enfoque histórico cultural concebe
a relação ou correspondência entre objetivos e conteúdos como um movimento
dialético através do qual os conteúdos se ajustam aos objetivos ou estes
àqueles, como no esquema a seguir:[2]
MODELO DOS OBJETIVOS
Componentes do objetivo:
- ação
- objeto sobre o qual recai a
ação(conhecimento)
-
condições de realização da ação
-
indicador de qualidade
MODELO
DOS CONTEÚDOS
Conteúdo específico Conteúdo não específico
-
conceitos
- habilidades
-
leis -
valores
-
teorias
- habilidades de estudo
-
procedimentos
específicos
Ao selecionar o conteúdo deve-se
considerar sua relevância para o exercício
profissional privilegiando a pessoa e o cidadão.
A Doutora Hermínia Hernández
Fernández (2001 a) considera que os conteúdos devem agrupar três tipos de
atividades no processo docente que são a atividade acadêmica, a atividade
trabalhista e a atividade de pesquisa.
A atividade acadêmica desenvolve os
conteúdos necessários para treinar o estudante na resolução de problemas
profissionais e os conteúdos que possibilitarão ao aluno adquirir métodos de
pesquisa. Nesta atividade os conteúdos vão se relacionar diretamente com o
exercício profissional, proporcionar métodos, procedimentos e meios que serão
utilizados na profissão escolhida pelo aluno e garantir a formação básica para
assimilar os conteúdos anteriores. Essa atividade acadêmica é orientadora e
formativa e se desenvolve no contexto
da sala de aula e requer a orientação do professor. É complementada pelas outras
atividades que, juntas, promovem a formação do homem, do cidadão e do
profissional.
Os conteúdos estão ligados aos
objetivos que se deseja alcançar e aos métodos de ensino que possibilitarão
atingir tais objetivos. Devem preparar os alunos para solucionar problemas e
trabalhar em equipes, comunicar-se, emitir juízos de valor, assumir posição de
líder e de subordinado, desenvolver valores e qualidades de personalidade e
desenvolver uma cultura científica, ética profissional e responsabilidade
social.
Corral y Nuñes, citados por Hernández
(2001 b) estabelecem três tipos de correspondência entre conteúdos e objetivos
do perfil:
-
conteúdos
selecionados pela lógica da profissão: que modelam a tarefa profissional.
Seria o caso da disciplina Metodologia do Ensino Fundamental modeladora do perfil do pedagogo;
-
conteúdos
selecionados pela lógica do instrumento ou etapa de realização de uma tarefa
profissional: funcionam como meios de realização de uma ação componente da
tarefa profissional, têm caráter instrumental, são comuns a diferentes tarefas
profissionais e suas funções são determinadas pelos objetivos de uma tarefa
concreta. No curso de Pedagogia seriam os conteúdos da disciplina Psicologia da
Aprendizagem, modeladora da função, que devem orientar o futuro pedagogo sobre
as diferenças apresentadas pelos alunos nas diversas fases de idade e ajudá-lo
a selecionar a metodologia adequada para se chegar à aprendizagem; e
- conteúdos selecionados pela lógica das ciências historicamente constituídas e sistematizadas na
prática pedagógica: constituem a linguagem da profissão, os símbolos que moldam
e expressam os objetivos da profissão. Para o pedagogo seriam os conteúdos das
disciplinas modeladoras da linguagem como Língua Portuguesa, Introdução à
Filosofia, Estatística
Ao selecionar os conteúdos em função
dos objetivos a trabalhar no curso, é
de vital importância vinculá-los com a profissão e seus aspectos éticos. Não
conceber uma programação rígida dos conteúdos mas trabalhá-los de maneira
flexível, considerando a conveniência de que os estudantes possam propor seus
interesses na inclusão de novos temas. Estimular no aluno o interesse pela
profissão e seus problemas, de modo que possam trazer para a sala de aula suas
inquietações, tanto técnicas e científicas como éticas acerca do mundo
profissional para o qual se estão formando
desenvolvendo, assim, seu espírito crítico e sensibilidade social frente
à profissão.(Ojalvo, 2001, p. 224)
Para Vigotsky e seus seguidores o
processo de ensino-aprendizagem se organiza a partir da formulação dos
objetivos ligados às ações que o aluno deve desenvolver e ao perfil que deve
apresentar no final de um grau de estudos. Os conteúdos devem ser selecionados de forma a garantir a formação
de conhecimentos e características da personalidade necessárias para a
realização de diferentes tipos de atividade. Esses conteúdos devem ser
estruturados de forma sistêmica. O processo de ensino-aprendizagem precisa
considerar os componentes funcionais da atividade que são a orientação, a
execução e o controle; a relação professor-aluno assume uma nova característica
cabendo ao professor orientar e guiar o processo de aprendizagem considerando
os interesses do aluno e suas possibilidades de desenvolvimento.
De acordo com a teoria da atividade,
para se formar profissionais faz-se necessário vincular os conteúdos
programáticos com a realidade em que o aluno irá atuar através da análise da
atividade profissional A atividade é
entendida como um processo que possibilita ao homem, sujeito, relacionar-se
com o objeto da realidade. É
constituída por:
-
sujeito
ou agente da atividade;
-
objeto
que, sob a ação do sujeito, se transforma no produto final;
-
os
meios materiais ou ideais usados pelo sujeito para chegar ao produto final; e
-
objetivos
da ação que estabelecem uma relação entre os componentes da atividade, levando-a ao resultado final.
A análise da atividade possibilita
determinar os objetivos gerais do perfil profissional e delimitar os conteúdos
disciplinares necessários para a sua formação através:
-
da
determinação dos conteúdos gerais fundamentais para o desempenho profissional
numa época e contexto social considerando as perspectivas futuras e os
objetivos gerais que o profissional deve conseguir;
-
dos
conteúdos gerais essenciais a partir dos quais se pode integrar e explicar outros
particulares;
-
da reconstituição dos vínculos entre as
disciplinas construindo um caminho
para a interdisciplinaridade.
Pelo exposto vê-se que selecionar
conteúdos não é tarefa simples, requer do professor, além de vasto
conhecimento, noção clara do tipo de homem e profissional que sua disciplina
ajuda a formar e a orientação de uma linha de pensamento ou corrente
pedagógica.
O Grupo do CEPES (1994) apresenta
para a estruturação do conteúdo em um programa docente as seguintes premissas:
-
partir
dos objetivos gerais do perfil e, a partir deles, determinar o papel que a
disciplina desempenha na formação profissional, identificar os conceitos e
procedimentos gerais e específicos da profissão que essa disciplina deve ajudar
a formar;
-
outras
disciplinas com as quais a que está em questão se vincula e pode contribuir e o
conjunto de conhecimentos e procedimentos que requerem; e
-
a
lógica da própria ciência que contém um corpo de conhecimentos e métodos
concatenados logicamente. Isto faz incluir conhecimentos e procedimentos que,
embora não estejam ligados diretamente ao perfil ou a outras disciplinas do
plano de estudos, são necessários para a compreensão de outros conteúdos ou
para a cultura da disciplina.
Talízina (1984) propõe que o planejamento curricular deve considerar duas premissas fundamentais: as exigências da teoria geral da direção e as regularidades do processo de assimilação dos conhecimentos durante a atividade de ensino-aprendizagem.
Essas exigências levaram à elaboração de três modelos de organização do processo docente:
- modelo dos objetivos do ensino – para que ensinar
- modelo dos conteúdos do ensino – que ensinar
-
modelo do processo de assimilação – como ensinar.
O modelo dos objetivos pode estar presente em diferente níveis como:
- nos objetivos finais da educação superior representando o perfil profissional do egressado;
- nos objetivos parciais, referentes a períodos de formação ou disciplinas; e
- nos objetivos específicos de uma aula ou atividade docente.
Na formulação dos objetivos finais ou parciais devem estar presentes os elementos:
- habilidade ou ação, que o estudante deve realizar;
- o conhecimento, que é o objeto sobre o qual se realiza a ação;
- as condições, sob as quais o estudante deve realizar a ação; e
- as características ou indicadores qualitativos que deve ter a habilidade a ser
formada.
Os objetivos determinam a seleção dos conteúdos de ensino em cada nível e, com o modelo do processo de assimilação, determinam os métodos de ensino.
A ênfase no modelo dos objetivos suscita um conjunto de necessidades que se deve satisfazer através desses objetivos como:
- um diagnóstico de necessidades sociais (perfil profissional); e
- o modelo ideal proposto como fim da educação.
A elaboração do perfil do profissional é o início da consecução do plano de estudo e de todo o planejamento do processo educativo.
A determinação dos objetivos finais do perfil profissional deve vincular o ensino com a vida refletindo as condições sociais históricas nas quais transcorre a atividade profissional. O modelo de objetivos formulado em termos de tarefas profissionais permite elaborar o plano de estudo de uma carreira visando formar o sistema de capacidades e valores que possibilitem a realização de uma atividade profissional com sucesso.
Segundo Talízina a elaboração do plano de estudo supõe resolver três tarefas:
- seleção dos conteúdos;
- estruturação dos conteúdos; e
- determinação do tempo disponível
A seleção dos conteúdos é um momento fundamental da elaboração do plano de estudo.
Na medida em que se definem os conteúdos vinculados aos objetivos terminais se conformam os objetivos parciais que uma determinada seleção e estruturação de conteúdos deve cumprir, de acordo com a relação que tenha com os terminais, o tipo de estruturação e distribuição no tempo e as características concretas do processo docente e, incluso, as peculiaridades de estudantes e professores. Os objetivos intermediários têm um caráter docente e são definidos nesse contexto. (Coletivo de Autores, CEPES, 1994, p. 156).
A correspondência entre objetivos terminais e conteúdo pode apresentar-se de três formas denominadas lógicas:
1. Conteúdos selecionados pela lógica da profissão;
2.
conteúdos
selecionados pela lógica do instrumento ou etapa de realização de uma tarefa
profissional; e
3.
conteúdos
selecionados pela lógica das ciências historicamente constituídas e
sistematizadas na prática pedagógica.
O modelo dos conteúdos de ensino
apresenta dois grandes blocos que são os conteúdos
específicos e os não específicos
Tanto os conteúdos específicos como
os não específicos são trabalhados relacionados com os objetivos da carreira,
do curso, da disciplina.
O conteúdo específico e o não específico
são trabalhados concomitantemente, de forma global, entrelaçando conhecimentos
com habilidades e formas de comportamento, visando a formação integral do
aluno.
Na relação entre objetivo e tarefa
está a principal diferença entre a Teoria da Atividade e as demais teorias. É
essa relação que faz com que os conteúdos sejam trabalhados de forma
interligada e voltados para a atividade que será desenvolvida no futuro.
Os modelos de objetivos e de
conteúdos não são excludentes, uma vez que definidos o perfil e os objetivos
finais e intermediários os conteúdos selecionados para atingí-los podem ser
trabalhados no aspecto específico e não específico, suscitando, também,
objetivos que podem contribuir para a formação do perfil.
Partindo de uma análise reflexiva sobre a proposta de conteúdos apresentada pela LOGSE e seus seguidores e o enfoque Histórico-Cultural, apresentamos nossa proposta baseada neste enfoque, adotando o Modelo dos Conteúdos, apresentado por Talízina, por considerar que permite conciliar os objetivos com os conteúdos e trabalhar, de maneira integrada, como um todo, os conteúdos específicos e não específicos, tornando as aulas dinâmicas e significativas através das tarefas que os alunos executam, ligadas à atividade profissional para a qual estão se preparando e possibilitando formar o homem, o cidadão e o profissional .
Assim, propomos os seguintes passos para selecionar conteúdos :
1. Analisar a atividade profissional que será desempenhada pelo aluno, identificando sua relação com os objetivos terminais e parciais do curso;
2. Considerar os critérios didáticos e psicopedagógicos da disciplina, respeitando os princípios de:
- caráter científico: trabalhar fatos, idéias, métodos, conhecimentos básicos que os alunos necessitam dominar da disciplina para exercerem a profissão escolhida;
- acessibilidade: compatibilizar os conteúdos com o nível de preparo e desenvolvimento mental dos alunos, com os pré-requisitos da disciplina, dosar os conteúdos de modo que possam ser assimilados pelo aluno;
- sistematicidade: escolha dos conteúdos que tenham uma ordenação numa seqüência lógica, coerente com o desenvolvimento do curso e o tipo de atividade que será realizada pelo aluno;
- relação entre teoria e prática: considerando a relevância social e profissional do conteúdo;
- conexão com outros conteúdos da mesma disciplina com os quais contribui para a formação do homem e do profissional;
3. Critérios sociais: considerar as questões:
- que tipo de homem quero formar?
- que tipo de profissional quero formar?
- quais são as exigências sociais e históricas dessa profissão?
- quais são os valores que devem ser formados nesse homem, nesse cidadão e nesse profissional?
4. Tempo disponível: é outro critério a ser considerado na seleção de conteúdos pois não adianta escolher um número grande de assuntos se não se dispõe de tempo suficiente para trabalhar todos eles. Assim, faz-se necessário uma triagem e escolha do que realmente é básico para a profissão e que pode ser bem trabalhado no tempo que se dispõe;
5. A relação com as atividades acadêmica, trabalhista e de pesquisa: também deve ser considerada, pois fornece os conteúdos necessários para treinar o aluno a resolver problemas profissionais, buscar novos conhecimentos e se preparar para o auto-desenvolvimento;
6. A lógica da profissão: conteúdos que modelam a tarefa profissional que será desempenhada pelo aluno;
7. A lógica do instrumento ou etapas de realização da tarefa profissional: conteúdos que funcionam como meios, instrumentos e são comuns a diferentes tarefas profissionais;
8. A lógica das ciências historicamente constituídas e sistematizadas na prática pedagógica: conteúdos que modelam e expressam os objetivos da profissão;
9. Critérios filosóficos e epistemológicos: histórico, desenvolvimento dos conceitos, princípios, hipótese, resultados da ciência a que está ligada a disciplina em questão;
10. Critérios da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade: conteúdos de outras disciplinas que podem ser trabalhados em conjunto e contribuem para a formação do homem, do cidadão e do profissional que queremos.
Para que o Modelo dos
Conteúdos, que envolve os conteúdos específicos e os não específicos, possa ser
aplicado com sucesso faz-se necessário preparar os professores e para isso se
propõe:
- formação de grupos de estudos entre os professores para adquirirem informações sobre o enfoque Histórico-Cultural e o Modelo dos Conteúdos;
- realização de intercâmbios com Instituições que adotam o enfoque Histórico-Cultural a fim de adquirir subsídios que auxiliem a adoção do modelo e troca de experiências; e
- seleção de conteúdos com base na lógica da profissão, na lógica das etapas de realização das tarefas profissionais e na lógica das ciências historicamente constituídas.
A adoção dessas medidas culminará no preparo dos professores para selecionarem conteúdos que contribuam para formar o perfil profissional, preparar melhor os alunos para atuarem no campo profissional e melhorar o nível da educação formal oferecida .
This work shows how the subject Selection of Materials have been treated by
teachers, makes a theoretical study about teaching materials based on many
national and international authors, shows proposals to select teaching
materials following the historic-cultural method and recommendations for the teachers
to select materials on a scientific way, contributing to the building
the professional profile.
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