TRABALHO FINAL DA GRADUAÇÃO: ELEMENTOS QUE INFLUENCIAM NA ESCOLHA DO TEMA[1]

 

 

Profª. Ms. Renata Machado de Assis Gori (EF/CAJ/UFG)

renata@jatainet.com.br

Profª. Ms. Minéia Carvalho Rodrigues (EF/CAJ/UFG)

mineiarc@bol.com.br

 

 

1 O PONTO DE PARTIDA DA INVESTIGAÇÃO

 

Nossa experiência enquanto docentes de uma licenciatura em Educação Física proporcionou-nos a visão de que o professor que se forma em uma instituição de ensino superior vivencia diferentes situações de aprendizagem, durante os quatro anos de duração do curso. E ainda, através de estudos realizados e que serão citados no decorrer desse projeto, acreditamos que a formação desse profissional não acontece apenas durante o período de formação inicial.

Existem muitos fatores que influenciam o modo de pensar, sentir e atuar dos professores, segundo HOLLY (1992), dentre eles, o que são como pessoas, os seus diferentes contextos biológicos e experienciais (suas histórias de vida) e os contextos sociais em que crescem, aprendem e ensinam.

Nesse sentido, vários outros autores constataram, em seus estudos, que a formação do professor é influenciada por elementos que não envolvem apenas a aquisição de conhecimentos formais na graduação. Alguns desses autores podem ser elencados a seguir. Para FORTES (1996), a prática dos professores é resultado da interação de três perspectivas: o desenvolvimento e crescimento pessoal, a profissionalização e a socialização profissional. BORGES (1995), por sua vez, constatou que os processos de formação profissional e pessoal nos quais os professores de Educação Física vão construindo seus saberes são inseparáveis. NÓVOA (1992, p. 17) afirma ser impossível "separar o eu profissional do eu pessoal."  Segundo esse autor, a construção das identidades passa pela construção da história pessoal e profissional e precisa de tempo para refazer concepções, acomodar inovações, assimilar mudanças. Também TARDIF et al (1991) explicita que os saberes advêm de várias fontes, como: os saberes da formação profissional, que são transmitidos pelas instituições de formação dos professores; os saberes das disciplinas, que se integram igualmente à prática docente através da formação (inicial e contínua) dos professores nas diversas disciplinas oferecidas pela universidade; os saberes curriculares, que correspondem aos saberes sociais que a escola / sociedade definiu e selecionou como modelo a ser transmitido às gerações futuras; e os saberes da experiência, que se referem aos conhecimentos específicos, fundados no trabalho cotidiano do professor e no conhecimento de seu meio. GORI (2000) sistematiza o processo de formação docente em torno de três eixos centrais: a influência de vida dos professores; a influência da formação inicial e continuada; e as condições de trabalho no contexto escolar.

Nos debates acerca da formação do professor de Educação Física, podem ser encontradas, segundo BORGES (1995), diferentes posições com relação ao perfil deste profissional, ao posicionamento frente às demandas do mercado de trabalho, e à estrutura curricular dos cursos de Educação Física, principalmente quando se trata da polêmica Bacharelado versus Licenciatura.

Ainda segundo essa autora,

 

são contundentes as críticas à formação acrítica dos professores de Educação Física, ao despreparo técnico destes profissionais para atuar no mercado de trabalho e aos currículos das EEFs[2], fragmentados e desvinculados da realidade. (BORGES, 1995, p. 29)

 

Tanto BORGES (1995) quanto FORTES (1996) e GORI (2000) constataram, em seus estudos, que egressos de licenciaturas se queixam da precariedade de seus cursos de formação inicial no sentido de capacitação para a prática docente. No entanto, GORI (2000)  percebeu que existem diferentes representações da Licenciatura em Educação Física por parte de professores que a cursaram em um mesmo período e na mesma instituição, em função  das características pessoais, tais como suas histórias de vida e suas experiências sociais, ou seja, as queixas nem sempre são as mesmas, em função das necessidades individuais.

A própria "opção" de cada aluno pelo curso, a escolha da profissão, resultam de múltiplos fatores. No entender de CAVACO (1991, p. 178), "implicam redes de relações sociais e culturais tecidas a diversos níveis e atravessadas por lógicas próprias, feitas de acasos e circunstâncias, de aspirações e de constrangimentos, de coincidências e decisões."

O fato de ingressar em uma universidade, de definir uma área de interesse, nem sempre é resultado de uma opção voluntária, de afinidade com o curso escolhido. NUNES (1985) afirma que a opção por determinada profissão apoia-se em representações que  temos sobre nós mesmos, sobre o nosso papel de adulto, sobre a sociedade em que vivemos, sobre a carreira escolar e sobre um futuro exercício profissional. Segundo CAVACO (1991), a origem social, os grupos aos quais o indivíduo pertence, as instituições que freqüenta geram um envolvimento econômico e cultural que está presente na sua visão das coisas e do mundo, na orientação e limitação de suas opções, interferindo, dessa forma, no seu percurso.

Diante dessas considerações e enquanto professoras do curso de Licenciatura em Educação Física do Campus Avançado de Jataí - Universidade Federal de Goiás, conscientes de que a "opção" dos alunos pelo curso e pela carreira docente nem sempre foi decorrente de um ideal ou de uma suposta vocação (FORTES, 1996; GORI, 2000), e intrigadas com situações concretas de sala de aula nas quais o aluno é obrigado a fazer outras opções, de modo especial no momento da escolha do tema para elaboração do trabalho final do curso (monografia), é que tomamos a iniciativa de desenvolver esse projeto de pesquisa.

No entender de PEREIRA (1996, p. 74), "a proposta de incentivar a 'pesquisa em ensino' surge dentro do contexto de valorização da atividade de pesquisa frente às demais atividades da universidade."  Segundo esse autor, vivenciar ensino e pesquisa de forma integrada, com todas as suas diversidades, constitui um caminho metodológico para a formação técnica e política do licenciado. A monografia de conclusão de curso, como exigência curricular, é uma evidência da tentativa de articulação do ensino e da pesquisa nos cursos de formação de professores.

 

O incentivo à pesquisa em ensino nos cursos de Licenciatura parece consoante com a proposta de Donald Schon de se formar o professor como um "pesquisador" no contexto prático, como um profissional que "reflete na ação". ( PEREIRA, 1996, p. 76)

 

A intenção dessa pesquisa é analisar a realidade apresentada pelo curso de Educação Física em Jataí (CAJ/UFG) no que diz respeito a essa produção científica realizada pelos alunos do quarto ano, com ênfase especial no início do processo, que é a escolha do tema da monografia e a conseqüente opção por uma das áreas de Aprofundamento oferecidas (Escolar, Desporto e Popular).

Acreditamos que essa pesquisa poderá contribuir, mesmo que indiretamente, para a análise do currículo vigente nessa Licenciatura. As informações coletadas, de um modo geral, propiciarão um conhecimento ampliado da realidade do aluno graduando, em processo de pesquisa, podendo contribuir para a reformulação de determinadas posturas e práticas docentes, de modo especial dos professores que atuam no último período do curso.  

Para que se possa entender melhor sobre o que é a disciplina que veicula a pesquisa e a produção monográfica no último ano do curso de Educação Física, Aprofundamento, é preciso que se conheça um pouco da estrutura curricular da licenciatura em Educação Física do Campus Avançado de Jataí - Universidade Federal de Goiás.   

O curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás foi implantado no Campus Avançado de Jataí  no ano de 1994, comprometendo-se com a formação de professores para atender a rede regular de ensino.

No ano de 1995, sofreu uma alteração curricular, tendo hoje como base fundamental o estudo da Motricidade Humana, dentro da perspectiva da formação humanista e de seu desenvolvimento técnico (formação geral) e no aprofundamento de conhecimento de natureza teórico prático (formação específica). No que se refere à composição curricular, o curso é composto por disciplinas de Fundamentação, Didático- Pedagógicas, Técnico-Desportivas e Aprofundamento de Conhecimento. (UFG, 1995)

A disciplina Aprofundamento se divide em três áreas (Escolar, Desporto e Popular) e tem por objetivo a vivência de elaboração e execução de um projeto  de pesquisa, com vistas a produção final de um trabalho monográfico, requisito parcial para obtenção do título de licenciado em Educação Física. Desta forma, todos os alunos que concluíram o curso nesta instituição realizaram trabalhos de pesquisa, orientados por professores da UFG. Esta produção foi entregue e apresentada publicamente pelos discentes. Ao final de cada ano letivo as monografias são arquivadas, constituindo grande parte da produção científica desta licenciatura.

Verificando os trabalhos produzidos pelos alunos desde 1997, de um modo geral, pudemos observar que os temas são os mais variados possíveis, o que gerou a inquietação referente aos critérios adotados na escolha dos temas/ objetos de estudo para realização das pesquisas.

Em um levantamento inicial, alguns dados se apresentaram como relevantes, tais como o número de monografias produzidas dentro de cada área da disciplina Aprofundamento. Antes de apresentá-los, torna-se necessário explicar melhor o que vem a ser o desmembramento dessa disciplina em três áreas de estudo específicas.

De acordo com a Resolução do CCEP (Conselho Coordenador de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal de Goiás) nº 393, a disciplina Aprofundamento do Conhecimento tem como ementa a centralização dos estudos e preocupações do aluno "sobre um determinado tema, assunto, programa, hipótese, etc., com vistas a elaborar uma análise comparativa, descrita, experimental, crítica... sob forma de monografia para conclusão de sua graduação". (UFG, 1995, s.p.)

Essa disciplina é organizada em torno de três áreas de estudo, constituindo, dessa forma, três subturmas, formadas por alunos que têm em comum os temas de interesse, que são Aprofundamento em Educação Física Escolar, Aprofundamento em Educação Física Popular e Aprofundamento em Desporto.

Cada área do Aprofundamento, além de atender ao objetivo comum da disciplina, possui suas especificidades.

A Educação Física Escolar tem como norte básico os estudos relativos a cultura corporal, "em especial a educação motora, a cultura desportiva como matéria do ensino regular e a saúde do escolar como premissas de uma ação pedagógica no recinto da escola ou da rede escolar de ensino".

A Educação Física Popular envolve a "cultura corporal, o lazer, a cultura desportiva, a proteção a saúde e o bem estar das pessoas e da sociedade como um todo".

Finalmente, o Desporto procura "buscar no interior da própria dinâmica esportiva (...) a possibilidade de avaliar, criticar, reformular, projetar e experimentar uma dada realidade com vistas a fazer evoluir o próprio desporto."

 O produto final do trabalho dos alunos em conjunto com os seus  professores orientadores é a monografia, que é apresentada dentro das normas técnicas exigidas pelo método científico, expressando o resultado de estudos, pesquisas e análises. O ponto de partida para a elaboração desse trabalho, é a opção por determinada área de estudo, de acordo com o tema de maior interesse do aluno.

Pode-se verificar, no quadro abaixo, o número de monografias produzidas desde a primeira turma do Curso de Educação Física do CAJ/UFG.

 

ANO DE CONCLUSÃO DO CURSO

Nº FORMANDOS / MONOGRAFIAS

1997

26

1998

28

1999

29

2000

25

2001

30

2002

31

TOTAL

169

 

Considerando ser o curso de Educação Física do CAJ/UFG uma licenciatura, que tem como princípios básicos preparar o profissional que domine os conteúdos fundamentais e metodológicos inerentes a área para atuar no contexto escolar, compreendendo as dimensões social, cultural e pedagógica do trabalho docente, algumas inquietações surgiram referentes a formação acadêmica que vem ocorrendo efetivamente dentro dessa instituição.

O trabalho de conclusão de curso apresenta-se como um momento ímpar da Licenciatura, no qual o aluno pode estar sistematizando alguns dos conhecimentos adquiridos no decorrer de sua formação acadêmica, direcionando sua produção teórico-científica para o campo de maior interesse pessoal e profissional.

Diante disso, duas questões se destacaram como relevantes e norteadoras da investigação que nos propusemos a fazer dentro dessa realidade aqui caracterizada.

1-              Quais são os elementos que influenciam na escolha do tema para a realização do trabalho final do curso de Educação Física pelos alunos do quarto ano?

2-             Como ocorre a opção por determinada área da disciplina Aprofundamento e como a disciplina influencia na escolha do aluno?

No intuito de buscar informações que respondessem, de alguma forma, às perguntas iniciais, estabelecemos como objetivo central da pesquisa identificar os fatores que influenciam a escolha do tema do trabalho monográfico de final de curso e da linha de pesquisa pelos alunos do quarto ano de Educação Física do Campus Avançado de Jataí - Universidade Federal de Goiás. Visando atingir esta meta, dois objetivos específicos foram estabelecidos: verificar a relação existente entre o graduando e o processo de construção do problema de pesquisa; e analisar, de acordo com os relatos, a influência do contexto na escolha do tema monográfico.

 

 

2  O CAMINHO PERCORRIDO

 

A pesquisa realizada foi de cunho qualitativo que, segundo LÜDKE e ANDRÉ (1986, p. 18) "é o que se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada."

Realizamos a pesquisa bibliográfica durante todo o processo de pesquisa, uma vez que a investigação social deve ser sustentada pela produção teórica já existente com relação ao tema proposto.

A pesquisa de campo se desenvolveu em três etapas: uma no segundo semestre letivo de 2000,  outra no segundo semestre letivo de 2001 e a última no segundo semestre letivo de 2002. Em cada uma dessas etapas foi utilizado o questionário como instrumento de pesquisa, por ser a forma mais viável de se ter acesso a um maior número de pessoas e por facilitar a caracterização dos sujeitos selecionados, de um modo geral. Os questionários foram reproduzidos com recursos próprios e distribuídos entre os alunos.

Na determinação dos sujeitos, foram escolhidos todos os alunos do quarto ano de Educação Física do Campus Avançado de Jataí - Universidade Federal de Goiás, formandos dos anos letivos de 2000, 2001 e 2002.

A opção por todos os alunos se deu por acreditarmos na hipótese de que cada turma vivencia uma realidade em particular, dentro da universidade, o que, aliado às experiências individuais, pode interferir no momento da escolha do objeto de pesquisa para construção da monografia de final de curso.

Ao nos propormos esta investigação, previmos anteriormente a realização da pesquisa apenas com os alunos formandos de 2000 e 2001, destinando o último ano (2002) apenas para conclusão da análise de dados e elaboração do relatório final . No entanto, durante a coleta das informações, sentimos a necessidade de ampliar o número de sujeitos para enriquecer o trabalho, o que justifica o fato de também aplicarmos o questionário aos alunos do quarto ano de 2002. Apesar de termos distribuído um questionário para cada aluno formando destas turmas selecionadas, alguns não o  devolveram preenchido. Conseguimos, portanto, o total de 23 no ano de 2000, 22 em 2001 e 25 em 2002, totalizando 70 questionários respondidos no decorrer da pesquisa. Através do quadro abaixo podemos visualizar melhor esta informação.

 

QUESTIONÁRIOS

2000

2001

2002

DISTRIBUIDOS

25

30

31

DEVOLVIDOS

23

22

25

NÃO DEVOLVIDOS

02

08

06

 

Concomitante à pesquisa de campo, realizamos a análise dos dados coletados, através de tabulação e estudo dos questionários, aliados ao suporte teórico previamente selecionado, com vistas à construção do relatório final da pesquisa. Durante o processo de análise as informações foram comparadas de forma a respeitar as especificidades relativas a cada questionário respondido, viabilizando, dessa forma, a elaboração do produto final dessa pesquisa.

É importante salientar que, através  do resultado dessa pesquisa, não pretendemos intervir diretamente na realidade. Seu objetivo se limitou a investigar detalhadamente os elementos que interferem na escolha do tema de pesquisa pelos alunos do quarto ano, em fase de conclusão de curso.

 

 

3  A ESCOLHA DO TEMA DO TRABALHO FINAL DE CURSO[3]  

 

Conforme explicitado anteriormente, a disciplina responsável pelo acompanhamento das pesquisas e elaboração das monografias é o Aprofundamento, que se divide em três áreas de estudo: a Escolar, a Popular e o Desporto. Em um levantamento geral, nas três turmas investigadas, obtivemos a seguinte distribuição dos temas por área de Aprofundamento:[4]

 

ANO LETIVO

ÁREAS DO APROFUNDAMENTO

ESCOLAR

POPULAR

DESPORTO

2000

07

10

06

2001

10

10

02

2002

07

12

06

TOTAL

24

32

14

 

É possível perceber que houve uma concentração maior de temas na área de Educação Física Popular do que nas outras áreas, durante os três anos de investigação. A opção dos alunos pela área de Aprofundamento, no entanto, deu-se  predominantemente após a escolha do objeto de pesquisa, através de uma adequação realizada em sala de aula, com auxílio das professoras da disciplina. O que definiu a área de Aprofundamento, portanto, foi a definição do tema a ser pesquisado e que, durante os três anos, coincidentemente, se concentraram em maior número na área Popular, seguida pela Escolar e, por último, pelo Desporto. 

 

3.1  Influências na escolha dos temas

 

Na turma de formandos de 2000, o que influenciou na escolha do tema e, conseqüentemente na opção pela área de Aprofundamento foram, predominantemente, a influência de alguma disciplina da graduação (dentre as mais citadas estão Ginástica II, Ginástica III, Dança, Anatomia, Fisiologia e Nutrição), leituras realizadas sobre o assunto a ser pesquisado, a experiência adquirida no campo profissional (trabalho) e a vivência desportiva anterior. Houve menção a outros fatores que influenciaram, tais como a busca de um tema sobre o qual houvesse um grande número de referências bibliográficas para facilitar a pesquisa, a vontade de produzir um trabalho inédito e interessante para a área de Educação Física e ainda a tentativa de resolver algum problema pessoal.

Na turma de alunos que concluiram o curso em 2001, a experiência profissional continuou sendo o fator influenciador predominante, como na turma de 2000, mas outras opções foram apontadas por muitos dos alunos: a participação em projetos de extensão durante o curso, leituras realizadas sobre o assunto, experiências de vida anteriores à entrada na universidade e influência de disciplinas da graduação (predominantemente a Filosofia e a Sociologia). Em menor proporção, alguns fatores ainda foram apontados por um ou outro aluno, tais como tentativa de contribuir para ampliação do mercado de trabalho, participação em eventos científicos, tentativa de resolver um problema pessoal e influência de professores e colegas. Nos questionários respondidos por esta turma, dois alunos se destacaram por apresentar respostas bastante interessantes. Um deles disse que a definição do tema de pesquisa é feita pelos professores, embora não explicitasse se pelos professores do Aprofundamento, pelos orientadores ou outros professores. Também não disse de que forma isso acontece. Outro aluno revelou ter optado pela área de Aprofundamento Popular por não se identificar com o Desporto e a área Escolar.

Em 2002 os fatores apontados como influenciadores na opção pela área de pesquisa não se diferenciaram muito dos anos anteriores. O que predominou foi novamente a experiência profissional, as leituras realizadas, a participação em eventos científicos, a influência de colegas, as experiências de vida anteriores à graduação e as disciplinas cursadas (desta vez prevalecendo Nutrição, Biomecânica, Treinamento, Anatomia, GinásticaII, Antropologia e Fisiologia). Vários alunos mencionaram, ainda, a intenção em contribuir para a ampliação do mercado de trabalho.  Nesta turma algumas respostas também se destacaram, ao mencionarem fatos que interferiram na escolha da área de pesquisa: dois alunos se referiram à vivência de problemas na turma, enquanto discentes; um deles alegou falta de professor orientador  para o tema que ele desejava pesquisar (o que o levou a mudar de tema); e um deles apontou a preocupação com a experiência didática dos professores que atuam no ensino superior.

 

3.2 Dificuldades encontradas no processo de definição do tema de pesquisa

 

Os alunos enumeraram as dificuldades encontradas durante o processo de escolha do tema a ser pesquisado.

A turma de 2000 apontou como dificuldades principais a delimitação do tema, a dificuldade de acesso ao referencial bibliográfico necessário e o fato de não possuírem orientação para elaboração deste trabalho durante os três primeiros anos da graduação.

Dentre os formandos de 2001, curiosamente sete alunos alegaram não terem enfrentado nenhuma dificuldade para escolherem seus temas. Outros discentes enumeraram as indecisões e, coincidindo com a turma anterior, a delimitação do tema e a falta de acesso à bibliografia adequada. Um dos alunos mencionou maior dificuldade em construir a monografia e não exatamente na escolha do tema; outro se queixou do tempo reduzido para fazer pesquisa em apenas um ano letivo; outro ainda afirmou que sua maior dificuldade foi pesquisar sobre algo que não era de seu interesse.

Os alunos de 2003 também confirmaram que a delimitação do tema foi uma das dificuldades que prevaleceu na turma, seguida de dificuldade de acesso ao referencial bibliográfico e escolha do campo de pesquisa. Cinco dos alunos disseram não ter encontrado nenhuma dificuldade. Dentre as respostas que merecem ser ressaltadas individualmente, estão: o fato de que temas que o aluno julgava interessantes já tinham sido pesquisados pelas turmas anteriores; dificuldade em conciliar o referencial teórico com a opinião pessoal durante a redação do trabalho; influência de terceiros no trabalho; e medo de se comprometer no emprego devido aos resultados encontrados na pesquisa.  

 

3.3 Momento da graduação em que se deu a escolha do tema

 

Nas respostas de alguns dos alunos das três turmas foi possível identificar, ainda, em que momento da graduação se deu a escolha do tema de pesquisa.  Apenas uma aluna afirmou ter se interessado pelo seu tema de pesquisa desde o primeiro ano do curso, motivada pelo nascimento de seu filho, o que a fez se dedicar aos estudos sobre a criança.

Onze alunos disseram ter  optado pelo tema durante o segundo ano do curso, sendo que três deles especificaram que o interesse foi despertado através de conversas com professores; quatro se sentiram influenciados pela vivência em projetos de extensão durante esta série; três mencionaram a experiência profissional como influenciadora; e um aluno citou as disciplinas Ginástica II e sua prática profissional nesta área como responsáveis pela sua decisão.

Durante o terceiro ano, dezenove alunos conseguiram fazer sua escolha, sendo que dois deles apenas ao final do ano se sentiram seguros quanto ao que gostariam de pesquisar. Três alunos apontaram as leituras sobre o tema como responsáveis por sua decisão; um deles mencionou a conversa com professores; quatro citaram os projetos de extensão como influenciadores; dois mencionaram a participação em congressos; três alunos se referiram à experiência profissional na área pesquisada; um dos alunos disse ter optado pelo seu tema após ter assistido às apresentações de monografias do quarto ano; quatro alunos citaram a disciplina Oficina Experimental como tendo facilitado sua opção pelo tema escolhido; e um aluno ainda citou a disciplina Handebol.

Dezessete alunos disseram que apenas no quarto ano conseguiram se definir, sendo que quatro deles no início do ano e cinco se demoraram um pouco mais, conseguindo se resolver apenas na metade do ano letivo. Os outros não mencionaram o período do ano em que isso aconteceu. Dentre estes alunos que definiram o tema durante o quarto ano, cinco deles apontaram as conversas com professores como desencadeadoras de suas decisões; um aluno reforçou a influência do projeto de extensão do qual havia participado; sete alunos se disseram contemplados no momento da exposição do tema na disciplina Aprofundamento, em sala de aula, através da contribuição de professores e colegas de turma; e quatro confessaram ter definido seu tema apenas às vésperas da apresentação do projeto de pesquisa, ou seja, de última hora.

 

 

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTA INVESTIGAÇÃO

 

Conforme afirmamos no início, a intenção desta pesquisa foi tentar identificar os fatores que influenciam na escolha do tema do trabalho monográfico de final de curso e da linha de pesquisa pelos alunos do quarto ano.

Pudemos perceber que houve uma maior concentração de trabalhos monográficos produzidos, em primeiro lugar, na área de Aprofundamento Popular, em segundo lugar na área Escolar e, em menor quantidade, na área do Desporto. Segundo as informações coletadas, a opção pela área de Aprofundamento, no entanto, ocorreu após a definição do tema de pesquisa e apenas dois alunos, dentre os 70 que responderam aos questionários, disseram ter optado primeiro pela área de Aprofundamento para, depois, escolherem seus temas.

Dentre os fatores influenciadores na escolha do tema de pesquisa dos alunos, os mais mencionados foram a experiência profissional, as leituras realizadas sobre o assunto, a vivência em determinadas disciplinas da graduação e, em menor escala, a participação em congressos, a participação em projetos de extensão e pesquisa, a influência de professores e colegas de curso e as experiências de vida que antecederam a entrada na Licenciatura em Educação Física. Outros fatores também foram apontados por alguns alunos, especificamente, conforme apresentamos anteriormente.  

Apenas alguns alunos não se queixaram de dificuldades no processo de escolha de seu tema de pesquisa. A maioria deles caracterizou o período de definição como uma fase de muitas dúvidas e incertezas. As dificuldades mais comuns apontadas por eles foram: a delimitação do tema, o acesso ao referencial bibliográfico adequado e a falta de conhecimento sobre como se fazer uma pesquisa científica (dificuldades ao realizar a pesquisa de campo, a análise de dados, etc.)

A escolha do tema de pesquisa a ser desenvolvida se deu, predominantemente, no terceiro e no quarto ano da graduação, conforme a opinião dos sujeitos, devido às exigências das próprias disciplinas Oficina Experimental e Aprofundamento. Os alunos que conseguiram definir ainda no segundo ano, foram influenciados pela participação em projetos desenvolvidos pelo curso de Educação Física e em eventos científicos, ou ainda pelo convívio mais próximo com determinados professores.

Acreditamos que estas informações obtidas a respeito da produção científica realizada no quarto  ano do curso de Educação Física poderão contribuir para repensarmos, enquanto docentes, o trabalho de ensino, pesquisa e extensão que é realizado nesta instituição investigada (CAJ/UFG) e suas influências nas opções de pesquisa dos discentes em fase de conclusão da graduação. Pretendemos continuar os estudos sobre as monografias nesta Licenciatura, a partir dos dados coletados nesta investigação, tentando aprofundar na questão da opção por temas que se encaixam, predominantemente, em uma das áreas de Aprofundamento e na qualidade do produto final que é apresentado publicamente e arquivado na biblioteca local. 

 

 

 

5  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BORGES, Cecília Maria F. Formação e prática pedagógica do professor de Educação Física: a construção do saber docente. Belo Horizonte: UFMG, 1995. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, 1995.

CAVACO, Maria Helena. Ofício do professor: o tempo e as mudanças. In: NÓVOA, Antônio (Org.). Profissão professor. Porto, Portugal: Porto, 1991, p. 93-124.

FORTES, Maria de Fátima Ansaloni. A constituição da prática docente na trajetória profissional de professoras da rede municipal de Belo Horizonte. Belo Horizonte: UFMG, 1996. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.

GORI, Renata Machado de Assis. A inserção do professor  iniciante de Educação Física na escola. Belo Horizonte: UFMG, 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, 2000.

HOLLY, Mary Louise. Investigando a vida profissional dos professores: diários biográficos. In: NÓVOA, Antônio (Org.). Vidas de professores. Porto, Portugal: Porto, 1992. p. 79-110.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A .  Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

NÓVOA, Antônio. Vidas de professores. Porto, Portugal: Porto, 1992. Cap. 1: Os professores e as histórias de sua vida, p. 11-30.   

NUNES, Clarice. A sina desvendada. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 2, p. 58-65, dez. 1985.

PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. A formação dos professores nos cursos de licenciatura: um estudo de caso sobre o curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 1996. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.

TARDIF, Maurice et al. Os professores face ao saber. Teoria e Educação, Porto Alegre: Pannônica, n.4, p. 215-233. 1991.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Resolução CCEP nº 393, de 5 de dezembro de 1995. Fixa o currículo pleno do Curso de Educação Física, revogando a Resolução- CCEP nº 300/90. (mimeo).

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[1] Este artigo relata um projeto de pesquisa que foi desenvolvido pelas professoras mencionadas, durante os anos de 2000 a 2003.

[2] A autora, ao utilizar a sigla EEFs, se refere às Escolas de Educação Física, de um modo geral.

[3] Neste item, como estaremos abordando os resultados encontrados na pesquisa de campo, optamos por suprimir a parte de fundamentação teórica para propiciar aos leitores o maior acesso possível às informações obtidas nesta investigação. O trabalho, na íntegra, poderá ser disponibilizado através de contato com as autoras.

[4] O número total das monografias que foram distribuídas conforme a área de Aprofundamento não coincide com o número total de alunos formandos em cada ano letivo. Apesar de terem sido distribuídos questionários a todos os alunos de cada quarto ano (2000, 2001 e 2002), alguns não o devolveram respondido, conforme já justificamos.