O MEIO AMBIENTE COMO TEMA TRANSVERSAL NA ESCOLA: LIMITES E DESAFIOS1

Iwana Martins Camargo Rosa2

Esta pesquisa buscou realizar uma discussão sobre a implementação do Meio Ambiente como tema transversal na escola, proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Seguindo uma tendência internacional, os temas transversais propõem à escola o estudo de temas sociais relevantes, que devem ser implementados transversalmente, por meio de todas as disciplinas. Sabendo dos graves problemas ambientais presentes nas sociedades contemporâneas, da necessidade de repensar os caminhos seguidos pela humanidade e da importância que a escola assume como instância de produção e transmissão do conhecimento, bem como formadora de valores e princípios, pretendeu-se verificar a sua contribuição nesse sentido, pautada na proposta dos PCNs. Essa tarefa foi colocada em andamento por meio de um estudo de caso, isto é, a parte substantiva desta pesquisa desenvolveu-se em uma escola pública de Goiânia — Escola Municipal Arco Íris visando compreender os limites e desafios postos para a implementação do Meio Ambiente como tema transversal.

           

Embora os problemas ambientais façam parte da preocupação de vários educadores e ainda que parte deles, por meio de diferentes concepções teórico-metodológicas, venham discutindo esses problemas, o encaminhamento dessa temática pela escola só se materializou oficialmente, em 1997, por intermédio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, coordenados e propostos pela Secretaria de Ensino Fundamental do Ministério de Educação e do Desporto. Desse modo, os PCNs propõe que os professores de todas as áreas devem contemplar a discussão da temática ambiental em suas respectivas disciplinas ou em projetos, sem, contudo, trabalhar o tema paralelamente. Além disso, espera-se que o professor seja capaz de realizar essa inserção com competência e propriedade. 

 

Constata-se, portanto, que a temática ambiental vem ganhando espaço nas escolas, em decorrência da importância de se rever a relação do homem com o meio em que vive. Políticas educacionais são propostas com o objetivo de trabalhar a Educação Ambiental como tema transversal na escola, visando a suprir lacunas até então encontradas. Diante desse contexto e desse novo ideário, alguns questionamentos surgem em busca de respostas. Conhecendo a fragilidade dos sistemas educacionais brasileiros, no que se refere às suas condições materiais e humanas concretas, o desdobramento desta pesquisa procura indagar como as escolas, e especialmente a Escola Municipal Arco Íris, vêm contemplando o meio ambiente sugerido como tema transversal pelos PCNs. Como a equipe técnica e docente da Arco Íris e seus alunos vêm recebendo essa proposta? Quais as expectativas que vêm nutrindo em relação ao desenvolvimento dessa discussão na Escola? Os professores sentem-se estimulados para desenvolvê-la? Encontram ou não dificuldades para desempenharem a tarefa? Quais valores a Escola Municipal Arco Íris vem buscando repassar a seus alunos por meio da Educação Ambiental? Essas são as principais questões que esta pesquisa busca responder.

 

Orientada por tais questões, bem como pelos estudos e reflexões que a elas deram origem propôs-se em primeiro lugar, realizar uma retrospectiva histórica sobre a problemática ambiental, dando ênfase ao surgimento e ao encaminhamento de discussões e propostas relacionadas à Educação Ambiental. Em segundo, preocupou-se em analisar a proposta de Educação Ambiental delineada nos Parâmetros Curriculares Nacionais, para, em seguida, buscar verificar como a escola vem implementando tal proposta. Para isso, foi necessário analisar o projeto político-pedagógico da Escola Municipal Arco Íris, já que é por meio dele que se pode apreender a possibilidade de sua materialização. Desse modo, foi possível verificar como a escola vem tentando colocar em prática essa proposta, e como os professores e alunos a receberam e vêm lhe dando significado.

 

Por meio da investigação qualitativa, procurou-se descrever e explicar a realidade vivenciada por uma escola pública do município, no que diz respeito à implementação da Meio Ambiente como tema transversal. A análise documental forneceu elementos importantes para o desenvolvimento desta pesquisa, assim como as entrevistas e questionários, uma vez que possibilitaram compreender o significado que o corpo docente e os alunos vem dando ao problema investigado.

Desse modo, a pesquisa seguiu os seguintes passos:

  levantamento e realização de pesquisa bibliográfica e documental referente à temática;

 

  levantamento na Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, na Unidade Regional da escola e na própria escola, de documentos referentes ao encaminhamento das políticas educacionais ligadas à Educação Ambiental;

 

  leitura e análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais (volumes: Introdução e Temas Transversais, referentes ao terceiro e quarto ciclos);

 

  realização de entrevistas com pessoas responsáveis pela área de Meio Ambiente na Secretaria Municipal de Educação, com o diretor da Unidade Regional à qual pertence a escola, com o diretor, coordenadora pedagógica e com oito professoras de todas as disciplinas (Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências, Artes, Língua Inglesa e Educação Física) da Escola Municipal Arco Íris que lecionam de sexta a oitava séries;

 

  aplicação de questionários, que foram respondidos por 164 alunos de quinta a oitava séries da escola (correspondendo a 67% dos alunos que estudam nessas séries);

 

  observação e coleta de dados na própria escola, utilizando como referência para análise de seu planejamento e desenvolvimento de suas propostas, o projeto político-pedagógico da escola. 

                       

                  As escolas estão subordinadas às políticas educacionais brasileiras que, seguindo tendências internacionais e inspiradas no ideário neoliberal, têm buscado a qualificação do ensino em decorrência das exigências do mercado de trabalho. Em busca da qualidade de ensino, são propostas amplas reformas curriculares. Guardando as devidas especificidades, estas mudanças no currículo fazem parte de uma tendência de vários países que lhe dão o papel central de transformação das escolas. Assim, vindas de fora, as perspectivas de mudanças curriculares são acolhidas pelas instâncias oficiais competentes, que, por meio de uma equipe de profissionais e a despeito do que pensa a maioria dos professores e parcela significativa da sociedade, elas são elaboradas por meio de documentos, nos quais se diz como e quando devem ser implementadas nas escolas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais lançados pelo MEC são um exemplo concreto destas mudanças postas para a escola. Este documento também reforça a idéia de que toda mudança para a escola deve vir de fora e do alto.

                       

                  Reforçando a centralidade dos conteúdos como síntese nos processos de mudanças, os PCNs apresentam suas propostas em áreas clássicas do conhecimento acrescido pelos temas transversais. Estes temas são propostos visando a discussão de questões sociais relevantes do mundo contemporâneo, apontando para a necessidade de uma visão mais humanitária de ensino, propondo a escola à discussão de problemas que levem a um repensar sobre os valores e princípios da sociedade moderna.

 

                  Nos PCNs, os temas transversais são propostos objetivando o desenvolvimento de uma prática educacional direcionada para a discussão e compreensão dos problemas existentes na realidade social, bem como delegar aos alunos responsabilidades que deverão ter para a construção de um mundo melhor.

 

                  Mesmo diante das críticas que se faz aos PCNs, e sabendo de antemão que a escola por si só não é capaz de mudar a sociedade (embora, tem uma significativa contribuição a oferecer), deve-se reconhecer a grande importância da proposição dos temas transversais contidos neste documento, diante de um contexto social tão problemático como o que se vive nestes tempos. Paradoxalmente, diante dos avanços da ciência, a sociedade contemporânea, vive sob a ameaça da perda de valores e princípios morais, sugerindo a urgência da discussão e compreensão de temas que resgatem essas questões.

 

                  As questões ambientais se incluem no bojo dos problemas sociais relevantes e estão presentes como um dos temas transversais propostos para as escolas, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da consciência crítica dos alunos em relação aos problemas sócio-ambientais. O volume dos PCNs destinado a apresentação do Meio Ambiente, procura apresentar as discussões de modo crítico e contextualizado, sugerindo algumas vezes como o professor poderia estar trabalhando com o aluno este tema. 

 

                  Os conteúdos relacionados ao meio ambiente, apresentados pelos PCNs, poderão fornecer elementos para uma compreensão mais ampla dos problemas ambientais, porém, o texto não verticaliza os assuntos tratados, e por conseguinte, pouco têm a oferecer aos professores de disciplinas cujo objeto de estudo não tenham afinidade com o tema. O aprender a fazer ocupa lugar de destaque no desenvolvimento do Meio Ambiente como tema transversal. Assim, os PCNs sugerem que parte dos conteúdos sejam assimilados por meio da vivência concreta, das atitudes e posturas que levem a participação e à co-responsabilidade com o meio em que vivem.        

                 

                  Para o desenvolvimento da proposta do Meio Ambiente como tema transversal, os PCNs alegam ser necessária uma política educacional de formação inicial e continuada dos professores, melhores condições salariais para os profissionais da área e estruturas de apoio, como acervo bibliográfico, recursos didáticos, instalações físicas adequadas para o desenvolvimento dos trabalhos. Sugerem também que os professores estejam sempre se atualizando, trocando idéias, realizando parcerias que toda a comunidade escolar esteja envolvida no compromisso de viabilização dessa tarefa. Apontam o projeto político-pedagógico como o melhor caminho para que o Meio Ambiente seja pensado discutido e proposto na escola. Sugerem, também, que para o bom desenvolvimento desta proposta, todos os professores, de forma interdisciplinar e transversal possam estar envolvidos com este trabalho.

                   

                  O processo de investigação realizado possibilitou comparar a proposta dos PCNs  com a realidade concreta vivenciada na Escola Municipal Arco Íris. Muitos são os limites e desafios postos para que esta proposta possa ocorrer de forma satisfatória. A esse respeito, podem ser feitas reflexões, algumas, das quais pertinentes aos problemas existentes para a implementação dos temas transversais de um modo geral.      

 

                  As professoras vêm implementando o Meio Ambiente como tema transversal, com inúmeras dificuldades. Elas vão desde as questões que transcendem a escola enquanto instituição até as que se localizam no âmbito da sala de aula. Problemas como falta de apoio do próprio MEC e da Secretaria Municipal de Educação, carência de parcerias, falta de recursos financeiros para compra de materiais didáticos-pedagógicos e para saídas a campo com os alunos, baixos salários e jornada dupla de trabalho das professoras se colocam como entraves para o desenvolvimento dessa proposta.

 

                  Outro problema detectado se refere à falta de tempo. Sabe-se que a cada dia o professor dispõe de menos tempo fora da sala de aula, porém dentro da escola para pensar e construir o seu trabalho pedagógico. Nas escolas, de um modo geral, constata-se a ausência de tempo concreto disponível para o professor pensar organizar-se e participar dos projetos e atividades em sala de aula que contemplem os temas transversais. Particularmente, em relação a essa questão, pôde-se verificar que a Escola Municipal Arco Íris, diferentemente de muitas escolas do Município, dispõe de um horário fixo na semana para discutir e programar suas atividades tendo como referência seu projeto político-pedagógico. Constatou-se, porém, que ainda que esse tempo exista para tal atividade, ele é insuficiente, diante de tantos problemas a serem discutidos. Ainda assim, as professoras têm tentado dar conta de implementar esta proposta.    

                 

                  Estes questionamentos passam por uma discussão maior a respeito da autonomia da escola para o encaminhamento de suas propostas. As escolas brasileiras ainda não alcançaram uma autonomia administrativo-financeira que lhes garanta plena liberdade para pensar, discutir e por em prática um genuíno projeto político-pedagógico. Verifica-se uma rígida centralização e controle por parte das instâncias superiores, restando à escola a função de executora de processos e não à sua concepção e avaliação. Com essa lógica, na medida em que esta autonomia é concedida à escola ela deverá assumir toda responsabilidade pelo fracasso ou sucesso de suas propostas e não parte dela. Construir e vivenciar o projeto político-pedagógico parece ser um caminho para recriar, ou melhor, conferir à escola o verdadeiro sentido que ela deve ter. A construção do projeto político-pedagógico deverá ser fruto de um processo complexo de debates, fazendo-se necessário a descentralização e a democratização no processo de tomada de decisões. Decretos, leis e parâmetros parecem estar sempre vindo de cima para baixo, propondo à escola o que ela deverá fazer. Cabe à ela, emancipar-se para se tornar capaz de avaliar essas propostas e adequá-las à sua realidade, tirando delas o que de bom possa existir, e refutando o que não disser respeito à sua realidade.

                 

                  Em relação ao projeto político-pedagógico, viu-se que na Escola Municipal Arco Íris, ainda que ele seja pensado e elaborado anualmente, muito do que se propõe, não consegue ser implementado. A equipe da escola reconhece a importância da construção deste documento para que a escola possa ter sua identidade própria no encaminhamento de seus trabalhos, mas reconhece igualmente, que falta apoio das instâncias superiores para o desenvolvimento de suas propostas e reconhecem também a falta de tempo para contemplar tudo que é proposto. Esses limites que impossibilitam a realização do pensado e proposto pesam, levando a equipe da escola a um contínuo estado de angústia. No que concerne ao desenvolvimento da Educação Ambiental, viu-se que muito do que foi proposto, não foi efetivado, na maioria das vezes pelos motivos já sinalizados. 

 

                  Mais sério que a falta de tempo parece ser a dificuldade das professoras para inserir os temas transversais em suas respectivas disciplinas. São vários os temas a serem discutidos, e como devem todos merecer igual atenção, notou-se por meio da fala das professoras dificuldades em contemplá-los. Os temas transversais também são trabalhados por meio de projetos, e nesse caso há uma certa paralização no desenvolvimento dos conteúdos específicos das disciplinas para dedicar-se as essas atividades. São momentos ricos de troca entre professores e alunos, entretanto, nem todos têm esta percepção. Há pais e alguns alunos (principalmente os da oitava série), que acham que estas atividades atrasam o desenvolvimento do conteúdo programático penalizando os alunos.  Há, porém, um consenso por parte da direção, coordenação e professoras, com relação à importância destas atividades, porém, ainda é muito forte a idéia de ensino conteudista. Esta muito presente ainda na escola, a compreensão de que quanto mais conteúdo for ministrado, melhor para os alunos se tornem aptos para serem aprovados em exames vestibulares.

                 

Foi unânime o reconhecimento por parte da direção, coordenação, professoras e alunos da escola, da importância da compreensão e discussão dos problemas ambientais. Igualmente unânime o interesse dos professores em trabalhar com o Meio Ambiente como tema transversal, a despeito de todos os limites e desafios encontrados. No que se refere ao desenvolvimento da temática ambiental, constatou-se, porém, que algumas professoras se dedicam mais ao desenvolvimento da proposta. Na maioria das vezes, isto ocorre em virtude da afinidade da disciplina com a discussão dos problemas ambientais. As professoras implementam o Meio Ambiente, tanto em sala de aula, como por meio de projetos interdisciplinares. Algumas, entretanto, quando participam, se restringem aos projetos, e uma parte delas fica mesmo à margem e manifestam certa angústia por não se sentirem capazes de se envolver com a proposta.

 

                  Em relação ao aprender a fazer tão decantado nos PCNs, fica muito a desejar. Na Escola Municipal Arco Íris, ainda que se tenha constatado grande disponibilidade de sua equipe para o desenvolvimento desta proposta, faltou apoio das instâncias competentes para que pudessem desenvolver atividades práticas. Pequenos gestos concretos, porém, vão sendo encaminhados com esforço quase sobre-humano por parte das professoras e alunos. Notou-se que em meio a tantas dificuldades, há uma vontade de prosseguir este trabalho, há esperança de que ele cresça e há, sobretudo, a convicção por grande parte das professoras que, a despeito das dificuldades, este trabalho tem que prosseguir, por se tratar de uma proposta extremamente válida e importante.

                 

                  A maior parte do corpo docente acredita, portanto, no valor da implementação desta proposta para um repensar e reconduzir da relação do homem com o meio em que vive. Mesmo tendo em vista que este é um trabalho que está se realizando precariamente, as professoras parecem querer encontrar caminhos para prossegui-lo. É importante frisar que, dadas condições materiais e humanas concretas, muitas professoras crêem que têm colhidos resultados positivos. Este fato pode ser constatado por meio das respostas obtidas nos questionários aplicados aos alunos, quando a maioria reconhece a importância da Escola Municipal Arco Íris na discussão dos problemas ambientais. Os alunos reconhecem igualmente o esforço despendido pelas  professoras que se dividem na tarefa de implementar este tema na escola. Por fim, reconhecem que grande parte do que aprenderam sobre o Meio Ambiente foi decorrente do trabalho desenvolvido na escola.    

 

                  Outro sério ponto de entrave para o desenvolvimento desta proposta, refere-se à qualificação das professoras. Elas reconhecem a importância de uma qualificação para o bom desenvolvimento do trabalho e se mostram interessadas e abertas para recebê-la, entretanto, essa oportunidade não lhes têm sido oferecida. Constatou-se que falta à maioria das professoras embasamento teórico para que possam efetivamente dar uma contribuição significativa em sua respectiva área de conhecimento. Percebeu-se que algumas professoras, em razão do objeto de estudo de suas disciplinas, têm realizado esta tarefa com uma certa facilidade, entretanto, falta à maioria condições para que possam fazer reflexões mais aprofundadas sobre a temática em questão. Como pode se ver há muito esforço por parte da equipe de professoras da Escola Municipal Arco Íris para o desenvolvimento do Meio Ambiente como tema transversal. Há também muita angústia gerada, sobretudo, pela dificuldade encontrada para implementar a proposta dos temas transversais e que pode ser traduzida em falta de qualificação para estar realizando este trabalho.

                 

                  Em relação à qualificação se poderia fazer ainda as seguintes indagações: Qualificar-se quando? Onde? Como? Que condições, materiais e humanas concretas, o professor teria para isso? Estes questionamentos têm que ser feitos e respondidos pelas instâncias competentes que designam à escola o papel de executora de tantos intentos. Mais que isso, delas deverá ser cobrada a responsabilidade pelos resultados insatisfatórios colhidos no chão da própria escola, uma vez que não assumem a parte que lhes cabe no desenvolvimento dos trabalhos. Aos professores, como sempre, restam  sonhar e lutar em busca de uma transformação. Mas uma transformação que comece a ser construída no interior da própria escola, entendida como um local privilegiado de intervenção política e ideológica, e que possa se constituir, verdadeiramente, em um espaço de formação do cidadão com ser histórico, crítico e sujeito das transformações sociais.

                         

                  Ainda com esta preocupação cabem aqui, outros questionamentos: As escolas que formaram estes professores têm levado em conta estes tipos de aprendizagens? Qual a contribuição das escolas formadoras de professores até o momento? Quais as iniciativas que as instâncias superiores pensam tomar para reciclar os professores em exercício em relação a qualificação para trabalhar com competência os temas transversais? Os professores parecem estar despreparados, ou seja, não dominam conteúdos e metodologias e têm dificuldades em inserir a realidade social e afetiva em seus programas. Como poderão ensinar um conteúdo que não dominam? Como podem lidar com problemas sociais urgentes se não adquiriram essa habilidade em seu curso e não foram posteriormente preparados para isso? A resposta a essa e outras questões abre com certeza espaços para novas pesquisas. Cabe, pois, nesse momento, dentre outras questões, rever o papel dos cursos de formação de professores diante da urgência da discussão de temas tão importantes e da inserção de novas posturas e valores necessários para enfrentá-los. Ainda que algumas questões estejam sendo contempladas nas universidades, cabe pressupor que talvez elas não estejam merecendo a atenção que deveriam ter, tanto no desenvolvimento dos conteúdos quanto nas propostas metodológicas. Ou seja, parece faltar, ao professor, embasamento teórico e metodologias adequadas para que ele consiga inserir estes temas de forma transversal na escola.

 

                  Pode-se inferir da pesquisa realizada a existência de muitos problemas que dificultam o bom desempenho dos professores e também, que muitos extrapolam a boa vontade e o empenho deles. Alguns desafios, entretanto, poderão estar sendo superados quando cada instituição escolar se propuser à tarefa de busca de uma educação transformadora. Para tal, os professores com sujeitos da história, deverão cobrar o justo direito ao apoio politico-pedagógico, das instancias competentes, incluindo o direito a uma formação que os qualifique de fato para o exercício de sua profissão diante dos desafios educacionais contemporâneos.

 

                  A prática administrativa, pedagógica e política da Escola Municipal Arco Íris, renova a esperança de que isto, de fato, possa estar sendo forjado pois suas professoras reconhecem seu papel político e social, na medida em que se propõe a pensar, discutir e por em prática — com todos os limites sinalizados — o seu projeto político-pedagógico. Em relação ao Meio Ambiente como tema transversal, o primeiro ponto importante para o seu desenvolvimento parece já existir por parte da direção coordenação, das professoras e os alunos da Arco Íris: a consciência da importância do desenvolvimento deste tema. O segundo ponto, decorrente do primeiro, pode ser visto pela boa vontade e o esforço das professoras a despeito de tantos limites. O caminho parece estar sendo aberto, e cabe a cada instância competente dar a contribuição necessária. Cabe aos professores continuarem lutando, reivindicando e tentado construir a sua práxis tendo sempre em vista o seu papel  com sujeitos históricos, capazes de contribuir para a transformação social.  

 

            Finalizando, faz-se necessário dizer, que não há a menor dúvida da importância da inserção da temática ambiental na escola. Os problemas ambientais têm se agravado de forma espetacular e cabe a cada cidadão refletir sobre o modelo de sociedade e estilo de vida atual. Faz-se necessário e urgente conhecer e compreender de forma crítica, a dinâmica que envolve estas questões A escola continua sendo um caminho importante a ser percorrido em busca desta compreensão, visando contribuir para a construção de um mundo mais ético, equilibrado e justo. Os resultados dessa pesquisa parecem sinalizar para a compreensão de que diante do contexto sócio-econômico, político e cultural da sociedade atual, é quase unânime o reconhecimento do significado da escola em busca de um repensar a respeito dos caminhos trilhados pela humanidade. Ao lado dos aspectos cognitivos, a escola deverá dar prioridade, a construção de novos valores e posturas que possibilitem ao homem um convívio mais harmônico e respeitoso com o Planeta que o abriga. O meio ambiente, assim como os demais temas transversais representam uma proposta em busca desta meta e, talvez seja esse um dos grandes desafios da educação do terceiro milênio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O MEIO AMBIENTE COMO TEMA TRANSVERSAL NA ESCOLA: LIMITES E DESAFIOS

 

Iwana Martins Camargo Rosa

 

A educação ambiental foi paulatinamente pensada e constituída, visando contribuir para a busca de uma relação mais equilibrada entre o homem e o meio ambiente. No plano nacional, leis e diretrizes foram encaminhadas objetivando implementá-la. No ensino formal, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a educação ambiental foi proposta como um dos temas transversais. Assim, por meio de análise de documentos (principalmente os PCNs — volume que trata do meio ambiente como tema transversal), pesquisa teórica, entrevistas com agentes escolares e professores e questionários com alunos, realizou-se um estudo de caso em uma escola da rede municipal de ensino, visando analisar o conteúdo dessa proposta, sua processualidade, seu significado, seus limites e desafios. Em que pese a importância dessa temática no mundo atual, muitas dificuldades existem para que sua implementação possa se dar de forma satisfatória. Apesar das prováveis contradições entre o discurso e a prática, e das dificuldades, materiais e humanas concretas, para a execução dessa proposta, é provável, entretanto, que ela aponte a favor de mudanças lentas, porém significativas, na busca de uma nova relação do homem com o meio ambiente.

Palavras chave: Educação, Meio Ambiente, Tema Transversal

 

1 Pesquisa realizada no Mestrado em Educação da Universidade Católica de Goiás.

2 Professora Adjunta do Departamento de História, Geografia, Ciências Sociais e Relações Internacionais da Universidade Católica de Goiás.

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