Uma nova abordagem para o ensino da biodiversidade:

A vida em transformação.

Anamaria Graziani P. Barbosa; Ohana D. Rodrigues; Sejana Artiaga Rosa; Welinton Ribamar Lopes; Prof. Dr. Maria Nazaré Stevaux (Orientadora)

Resumo:

Com o objetivo de compatibilizar a sistemática da biodiversidade com a evolução dos seres vivos é que nasceu o projeto de produção de um livro didático para o ensino de ciências para sexta série que abandonasse o sistema de classificação tradicional e abordasse tal classificação do ponto de vista evolutivo, utilizando-se para tanto do método filogenético, promovendo, dessa forma uma aprendizagem dinâmica e construtiva.

Introdução

 

A Biodiversidade está em alta. O termo tem sido uma constante no nosso cotidiano. Objeto fundamental da Biologia, a Biodiversidade vem sendo entendida como um tópico à parte, visto ser mal compreendida e tratada de forma equivocada na base do conhecimento biológico. 

As explicações para a origem e diversidade biológica (ou Biodiversidade), no decorrer da história da humanidade, foram muitas. Sendo o homem, ele mesmo, um componente do Universo Biológico e, ao mesmo tempo o observador crítico e gerador de idéias sobre este Universo, as hipóteses científicas para a vida inspiraram e subsidiaram outras linhas de pensamento que conduzem a história e postura da humanidade, como as filosóficas, políticas e religiosas. Assim, hipóteses geradas em tempos e realidades distintas, convivem nos dias atuais, ora como reflexões totalmente paralelas (isoladas), ora experimentando confrontos ideológicos bastante vigorosos.

O confronto das idéias básicas em Biologia enfrenta problemas na sedimentação e, conseqüentemente, na sua transmissão. O avanço das pesquisas “de ponta” no sentido da aplicabilidade tecnológica tem sido explosivo e, sem  o suporte do conhecimento básico atualizado, vem sendo assimilado de forma cada vez mais distorcida, se agravando geração a geração. Além disto, o desconhecimento da história do pensamento em Biologia, a ausência da prática de refletir e analisar idéias, gera situações conflitantes no estudo da vida. O exemplo mais clássico, é exatamente o tratamento da biodiversidade, onde as regras de classificação criacionista são a norma para a sistematização de elementos gerados por processo evolutivo.

O ensino/aprendizado da Biologia, tanto nos níveis fundamentais, quanto no médio superior, enfrenta atualmente uma profunda reformulação neste sentido. Uma nova idéia de sistematização da Biodiversidade nasceu em função do Método de Análise Filogenética, estabelecida por Hennig (1966), que permite resgatar a história evolutiva dos grupos biológicos. As unidades biológicas aparecem arranjadas num cladograma – a árvore filogenética – onde o parentesco entre as linhagens é o critério de ordenação natural. A classificação tradicional, estabelecida por Linnaeus (1734), baseada na idéia criacionista, onde as espécies são entidades independentes e imutáveis, adotada atualmente (quase 150 anos após o estabelecimento da Teoria da Evolução) no ensino/aprendizado da Biologia para a sistematização da Biodiversidade, revela-se obsoleta. Pior, é incoerente com as bases evolucionistas adotadas como norma para a origem da diversidade biológica.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de ciências naturais para terceiro e quarto ciclos (onde está inserida a sexta série do ensino fundamental – nosso público alvo), devido uma forte tradição, a maioria dos currículos se encontra atrelado a esquemas de classificação biológica baseados em uma Sistemática que se fundamenta apenas na mera semelhança e diferença morfológica entre as espécies. Atualmente, para a tarefa de classificação, os cientistas contam com técnicas de estudo que permitem identificar os parentescos não apenas em relação às semelhanças morfológicas, mas também com base na historia evolutiva de um grupo, tendo, então, como pressuposto a Teoria da Evolução.

Sob esse aspecto, estamos passando por uma verdadeira revolução metodológica e filosófica no campo das ciências biológicas no que diz respeito, principalmente na forma de tratamento ao tema biodiversidade, relacionada principalmente à sistemática e à evolução. Dessa forma, conceitos que antes se julgava como uma verdade pronta e acabada, agora revistos com novos métodos de analise, são alterados ou até mesmo descartados. É o que está ocorrendo, por exemplo, com a Classificação Biológica Tradicional.

A Biodiversidade resulta de diferentes fatores numa função tridimensional: a forma (unidade biológica), no espaço (biogeografia) e no tempo (transformação). Assim, é um sistema dinâmico e complexo definido por dois aspectos obrigatórios: a diferença (identidade) e a semelhança (unidade), ambos resultantes do caráter diagnóstico da vida: a reprodução.

O ensino da Biologia, ainda de forma estática, precisa ser repensado. O universo biológico em transformação constante precisa ser entendido como tal. As mudanças neste campo são profundas, visto que o tema é básico na compreensão de toda a Biologia. O momento transitório torna a situação ainda mais complexa, já que educadores estão defasados neste assunto e não dispõem de subsídios literários para uma tentativa de aplicação.

            O objetivo deste trabalho é de minimizar esta lacuna, produzindo um livro didático para a sexta série do ensino fundamental, que trate a Biodiversidade através dos novos métodos e conceitos. Desta forma acreditamos estar contribuindo para reformulação do ensino de Biologia no ensino formal, fornecendo uma primeira fonte de orientação do aprendizado, onde a Biodiversidade é tratada numa abordagem atualizada, dentro do contexto do processo evolutivo, ou seja, através da filogenia.

 

Metodologia

            Inicialmente fez-se uma investigação nos Parâmetros Curriculares Nacionais de ciências para o terceiro e quarto ciclos, no sentido de levantar evidencias sobre as deficiências e necessidades da atual metodologia no ensino de classificação dos seres vivos, no contexto das mudanças no conhecimento nesta área.

Um segundo momento envolveu uma ampla revisão da bibliografia adotada neste nível de ensino, para levantar a situação de abordagem dos conceitos biológicos e, em especial, o tratamento da Biodiversidade em relação à Classificação Biológica e o processo gerador desta diversidade. Os assuntos e a forma de abordagem foram então comparados com o que existe na literatura especializada. 

As estratégias de ensino/aprendizado, implícitas nos livros didáticos avaliados, foram identificadas e incluídas na análise.

            A partir dos dados levantados, procedeu-se um ajustamento da linguagem técnica do tema tratado para o nível de ensino proposto. O conteúdo geral foi delineado e a nova abordagem foi trabalhada passo a passo, incluindo formulação de experiências, exercícios teóricos e práticos. Paralelamente, os projetos integrados na Linha de Pesquisa em Ensino de Zoologia do Programa FaunaCO – Programa de Estudo da Fauna do Centro Oeste brasileiro, projetado, coordenado e sediado pela Universidade Federal de Goiás – fornecem informações sobre a aplicabilidade de procedimentos sugeridos, o que torna possível ajustar  as propostas a sua prática. A elaboração do livro didático, ainda em andamento, apresenta resultados bastante interessantes. O escopo geral e a parte do conteúdo já definidos fornecem uma mostra da proposta inovadora no ensino/aprendizado de Biologia, no nível proposta.

 

   Resultados

            A estrutura do livro:

            Título: Biodiversidade – A vida em transformação.

            Unidades:

1.                 A Biodiversidade: um universo de formas no espaço e no tempo

2.                 Características gerais dos seres vivos: a reprodução é a chave do mistério

3.                 Origem dos seres vivos: como tudo começou

4.                 Classificação geral dos seres vivos: ordenando a biodiversidade

5.                 Procariontes: a mais antiga linhagem

6.                 Protistas: uma linhagem de minúsculos organismos

7.                 Fungi: uma linhagem de consumidores

8.                 Animália: a nossa linhagem

9.                 Plantae: uma bela linhagem

10.             Vírus: uma linhagem duvidosa

11.             Interações entre os seres vivos: como tudo isto convive

O conteúdo é abordado de forma evolutiva, coma idéia de transformação sempre presente.  A partir de uma história mais geral, onde se definem as linhagens maiores que compõem as unidades, cada linhagem é, então tratada do ponto de vista de sua própria história.

 

Conclusões:

O novo livro de ciências, que trata da Biodiversidade, é totalmente inédito em abordagem, conceitos e estratégias de ensino/aprendizado. A biologia assume seu perfil dinâmico e a idéia de evolução torna-se clara e coerente com a sistematização das unidades biológicas.

 

Referências Bibliográficas:

 HANSON, E. D.; Diversidade Animal. São Paulo, Edgard Blücher. Ed.1973.

 HENNING, W. Elementos de una Sistematica Filogenetica. Buenos Aires. EUDEBA-Editorial Universitaria de Buenos Aires. 1968. 330p.

 HICKMAN, C. P.; ROBERTS, L, S,Jr.; LARSON, A. Integrated Principles of Zoology. 11a Edição. McGraw-Hill. 2001. 590p.

 KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 3a Edição. São Paulo. Harbra. 1996. 264p.

 Orr, R.T. Biologia dos Vertebrados. São Paulo. Livraria Rocca. 1986.

Pough, F.H. et all. A Vida dos Vertebrados. 4a. Ed. São Paulo. Atheneu Editora. 1999

 RUPPERT, E. E.; BARNES, R. D. Zoologia dos Invertebrados. 6a edição. São Paulo. Roca. 1013p.

 STORER, T.I.; USINGER, R. L.; STEBBINS, R. C.; NYBAKKEN, J. W. Zoologia Geral. 6a edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo. 2000. 754p.

 WILEY, E.O. Phylogenetics: The Theory and Practice of Phylogenetic Systematics. New York. Wiley-Interscience Plubication. 1981. 400p.

BANNER.PPT

<Voltar