UMA PROPOSTA PARA O ESTUDO DE CIÊNCIAS – EM ESPECIAL ÀS CIÊNCIAS FÍSICAS – NA ESCOLA FUNDAMENTAL. 

 

                                                                                                  Mauro Alves Pires

                                                                      Profª. Drª. Ivone Garcia (orientadora) 

           Este trabalho tem como proposta inicial apresentar uma abordagem para o estudo de ciências e em especial às ciências físicas,  fundamentada em temas. Cada tema sempre envolverá o estudo de vários fenômenos físicos,  exigindo por isso, o estudo de conceitos relacionados às várias áreas de estudo da física. Mas, tem  outra proposta mais ambiciosa, queremos propor uma discussão acerca de como são formados os conceitos em ciências, pelas crianças e adolescentes. Entendendo, entretanto, que as crianças aprendem de maneira diversa da dos adolescentes. Mas essa discussão levanta um outro problema que pode ser expresso através da frase : "Há diversos tipos de professores no ensino fundamental. Os mais tradicionais contentam-se em transmitir a matéria que esta no livro didático."(Libâneo:1 texto).A proposta de se estudar ciências através de temas exigirá, do professor uma abordagem para o conteúdo, que foge das encontradas nos livros didáticos portanto o professor terá que abrir mão, se for a sua postura, dessa abordagem tradicional. Pois para definir os temas a serem abordados não bastará a ele seguir os conteúdos de um livro didático, ele antes de tudo deve planejar, rigorosamente suas atividades, com muito estudo e muita pesquisa. Mas o  fundamental será, o professor adotar,  em suas aulas uma atitude teórica, diante da realidade, isso lhe  permitirá abordar  mais apropriadamente o conteúdo, para se chegar a um  conhecimento teórico, o fim inalienável da aprendizagem.

 

          No cotidiano observamos a ocorrência de fenômenos físicos  sempre associados uns aos outros. Não é possível nos acontecimentos reais,  isolar  fenômenos para estudá-los. Portanto quando estudamos esses fenômenos isoladamente, através de situações imaginárias e irreais, tornamos o aprendizado mais difícil, pelo fato de não ser possível, muitas vezes, se associar a compreensão  do fenômeno isolado  à sua ocorrência real. Uma vez que a abstração sobre um conhecimento científico envolve um número maior de conhecimentos, que o aprendizando  ainda não possui, é mais eficiente para o mesmo entender uma situação concreta, envolvendo um fenômeno real. "Ora é através de uma atividade concreta que o conteúdo dos conhecimentos é adquirido..." (Rubtsov:1991;130) é então nessa perspectiva que propomos apresentar ao aluno uma situação concreta para estudo e a partir dela extrairmos os conceitos inerentes a cada fenômeno físico.

 

          Como a nossa proposta mais ambiciosa, como foi dito no início deste texto, é a discussão a cerca de como se dá a formação de conceitos e em particular, como ela ocorre nas crianças nas primeiras séries do ensino fundamental, queremos discuti-la sobre o ponto de vista da psicologia. Segundo Rubtsov a psicologia moderna distingue dois tipos de conhecimento: o saber empírico e  o saber teórico, "O conhecimento empírico é elaborado quando o objeto é comparado às suas representações e o saber teórico é formado a partir da análise do papel e da função  de uma certa relação das coisas no interior do sistema."

 

          As generalizações sobre as propriedades do objeto, de acordo com conhecimento empírico, nascem da comparação entre os objetos e suas representações. Essas generalizações não permitem estabelecer relações entre as classes formais de diferentes tipos de objetos. Essa relação entre as classes formais, às quais pertencem diferentes objetos,  permeia o saber teórico, permitindo que o saber se manifeste como uma entidade representada em pensamento. O saber empírico baseia-se na observação externa do objeto, na suas representações concretas dependentes das sensações ou do uso cotidiano desse saber . O saber teórico vai além, das sensações, das representações concretas  ele as supera, alcança as propriedades do objeto e  suas ligações internas.

 

          O nosso objetivo, ao propomos a abordagem do estudo de ciências a partir de temas não é só discutir a aprendizagem pontual de como resolver um problema em física, mas é acima de tudo discutir como se resolve problemas de aprendizagem em geral. Como a aprendizagem em ciências, acreditamos que parte da observação empírica, julgamos importante distinguir o conhecimento empírico do conhecimento teórico. Pois é o segundo o principal objetivo das atividades de aprendizagem, de acordo com  Semenova, ao falar da teoria de Davidov   "teoria da generalização teórica"(Semenova:1991;160)

 

          O professor, nas séries iniciais, ao abordar o conteúdo de sua disciplina usa, por vezes, termos de sentido cotidiano, que tem os seus sentidos determinados pelo conhecimento empírico. Mas não é o fato de usá-los que traz  problemas para o aprendizado do aluno. O problema está no fato do professor usa-lo em situações  de aprendizagem e não dominar o conhecimento teórico a cerca dos temas que são usados no cotidiano da sala de aula. O que propomos através dessa discussão é que o professor das séries iniciais passe a usar os termos  que são de domínio da ciência, com sentido conceitual científico, mesmo nas aulas da séries iniciais. Para que isso se dê o professor deve discutir com seus alunos problemas com os quais os mesmos se depararem em seu cotidiano .É dessa maneira que o professor trabalhará problemas concretos.Mas antes de tudo ele  deve tratar esses fenômenos através de uma abordagem teórica.

 

          Nesse trabalho apresentaremos como proposta, de tema para discussão em sala de aula, o estudo de uma situação real, o  fenômeno do aquecimento em geral e em particular o aquecimento da água em um aquecedor solar. Fazemos essa proposta  acreditando, com base no primeiro princípio  da generalização teórica , defendido por Davidov, " todos os conceitos que constituem esta ou aquela disciplina, considerada em si mesmo e em suas ramificações essenciais, devem ser adquiridos pelas crianças por meio da análise das fontes materiais que se encontram em sua origem, objetos em razão dos quais esses mesmos conceitos se tornam indispensáveis à aprendizagem;" (Semenova:1991;161), acreditando que tal abordagem proporciona, ao aluno, um momento de aprendizagem significativa. Essa proposta pode levar à seguinte pergunta: como um assunto de tal complexidade pode ser tratado nas séries iniciais? A nossa proposta é que esse assunto deve ser tratado com a complexidade que lhe é inerente, pois para cada conceito dominado pelo aluno surgirá um novo conceito que ele pode dominar.O importante, no entanto , é o papel ativo do aluno pois, “O estudo sobre os processos de pensar e aprender destacam o papel ativo dos sujeitos na aprendizagem,”(Libâneo:2003;texto). Não acreditamos que o desenvolvimento deve preceder ao aprendizado e que existam momentos determinados para que uma criança aprenda, acreditamos, isto sim na teoria das  zonas de desenvolvimento proximal definida  por  Vygotsky, ou seja com a ajuda do meio social é possível que uma criança hoje só realize uma tarefa com assistência, mas essa mesma criança, posteriormente,  poderá realizar essa mesma tarefa de forma independente.A ilustração, dessa situação, podemos ver em, “Se, no princípio, o adulto assumia a parte mais ativa, no final, eram as próprias crianças que organizavam a atividade.”(Rubtsov:1991;188). Essa constatação Rubtsov faz descrevendo  atividades, de crianças ao lidarem com um experimento para estudo do  eletromagnetismo. Portanto o que determinará o aprendizado do aluno será a qualidade das interações entre o conteúdo e o aluno  tendo o professor como mediador dessas interações.

 

Bibliografia

SOUZA, Solange Jobim, Infância e linguagem. Campinas,SP: papiros,1994

VYGOTSKY ,L.S., a formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,1998

GARNER , Catherine e outros, após Vygotsky e Piaget. Perspectivas social e construtivista escolas russa e ocidental. Porto Alegre: Artes Médicas,1991.

LIBÂNEO, José Carlos, O essencial da didática e o trabalho do professor- Em busca de novos caminhos.Goiânia ,www.ucg.com,2003.

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