EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA

 

                                          Autora: Teresa Cristina Barbo Siqueira

                                           Estagiárias:

Ana Claudia de Oliveira         Ana Velasco Coelho      Christianne de Araújo Freire

Daisy Cléia Oliveira               Débora da Cunha         Fabiana Aguiar

Lena Margareth Cintra          Liza Calil                      Luciene Garcia dos Santos

Ritalícia Santos Sousa           Suênia R. de Oliveira    Thalita B. Baldino

 

RELATO DE EXPERIÊNCIA :

 

A sexualidade, em nossos dias, ocupa posição de destaque nos diálogos, nos meios de comunicação, no ambiente familiar e escolar, no que diz respeito principalmente à maternidade e paternidade indesejada na adolescência e a respeito da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. No ambiente familiar, não raro, as conversas são impregnadas de tabus, preconceitos, vergonha, atitudes cerceadoras dos aspectos prazerosos da sexualidade. Os profissionais da educação, em geral, sentem-se despreparados para orientar os jovens e até as crianças. Postura análoga ocorre com os profissionais de saúde. Assim, de maneira geral, fazem de conta que nada está ocorrendo  e não percebem que tanto as crianças quanto os adolescentes estão clamando por orientação, por diálogos que explicitem suas dúvidas, suas curiosidades.

Foi pensando nisso que desenvolvemos, nos últimos anos, trabalhos que buscam prevenir os adolescentes de uma maternidade e paternidade não planejada ou das transmissões das DSTs ou da AIDS. Mais do que meramente elaborarmos mensagens que priorizem o aspecto cognitivo, por intermédio da divulgação de informações, torna-se fundamental conhecer o modo de ser da criança e do jovem, suas idéias, crenças e sentimentos. Precisamos ouvir nossas crianças e jovens, pois somente assim poderemos apreender o modo como as informações são por eles compreendidas e utilizadas, viabilizando assim o diálogo tão preponderante para seu desenvolvimento biológico, psicológico, afetivo e sócio-cultural.

Este trabalho,  em particular, tem o objetivo de fornecer subsídios para a formação continuada dos professores da Rede Municipal de Educação de Goiânia. Assim, propomos ao Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, o “Projeto Orientação Sexual na escola”, numa parceria com o Departamento de Educação da UCG e a disciplina Didática e Prática de Ensino em Psicologia II.

O “Projeto de Orientação Sexual” leva em consideração as demandas de formação continuada dos professores que se encontram na Rede Municipal de Educação. Nesse caso, tenta articular dois aspectos fundamentais: a formação continuada de professores da Rede Municipal de Educação e o exercício da Didática e Prática de Ensino em Psicologia, que integra o currículo do curso de licenciatura em Psicologia da UCG.

Entre os eixos que norteiam a presente proposta, encontra-se o estudo, a pesquisa, a análise e a execução de atividades interdisciplinares a serem desenvolvidas nesta parceria.

Este projeto se propõe a fornecer informações sobre sexualidade e a organizar um espaço de reflexões e questionamento sobre postura, tabus, crenças e valores a respeito de relacionamentos e comportamento sexuais. Abrange o desenvolvimento sexual compreendido como: saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, auto-estima e relações de gênero. Enfoca as dimensões fisiológicas, psicológicas e sócio-culturais da sexualidade através do desenvolvimento das áreas cognitiva, afetiva e comportamental, incluindo as habilidades para a comunicação eficaz e a tomada responsável de decisões.

O trabalho de Orientação Sexual procura ajudar os professores a entenderem e orientarem as crianças e adolescentes numa visão positiva da sexualidade, a desenvolverem uma comunicação clara nas relações interpessoais, a elaborarem seus próprios valores a partir de um pensamento crítico, a compreenderem o seu comportamento e o do outro e a tomarem decisões responsáveis a respeito da vida sexual, agora e no futuro.

O objetivo desse trabalho de Orientação Sexual é ajudar o professor a favorecer o bem-estar sexual dos alunos, quanto aos seguintes aspectos:

1.      No desenvolvimento humano:

·                    Gostar do seu próprio corpo.

·                    Desenvolver a auto-estima.

·                    Buscar maiores informações sobre reprodução, quando necessitar.

·                    Compreender que a sexualidade faz parte do desenvolvimento humano sem, necessariamente, implicar a reprodução.

·                    Relacionar-se com respeito e responsabilidade.

·                    Exercer os direitos de cidadania nas diferentes manifestações da sexualidade.

2.      Nos relacionamentos:

·                    Identificar e expressar seus sentimentos.

·                    Defender-se de vínculos nos quais se sinta manipulado ou explorado.

·                    Escolher, dentre suas possibilidades, modos de vida e de convivência.

·                    Desenvolver relacionamentos significativos.

3.      Na comunicação:

·                    Identificar os valores sócio-culturais e posicionar-se de forma pessoal em relação a eles.

·                    Pensar por si mesmo em situações-problema, avaliando alternativas e conseqüências.

·                    Buscar informações e ajuda quando necessário.

·                    Responsabilizar-se por suas decisões.

·                    Considerar a comunicação como uma forma de expressão nos relacionamentos.

·                    Ser receptivo às mensagens do outro, ampliando sua própria visão de mundo.

4.      No comportamento sexual:

·                    Usufruir e expressar a própria sexualidade ao longo da vida. Viver a sexualidade de forma congruente com os próprios valores.

·                    Buscar informações que contribuam para o esclarecimento e o desenvolvimento da própria sexualidade.

·                    Discriminar entre comportamentos sexuais enriquecedores e prejudiciais a si e aos outros.

·                    Reconhecer os próprios limites e desejos sexuais e respeitar os dos outros.

·                    Ser capaz de tomar decisões e ser responsável por elas ao se envolver em relacionamentos sexuais.

·                    Ser capaz de conversar ou buscar ajuda entre os amigos, familiares, na escola, com uma pessoa de sua confiança ou com um profissional especializado, nas dúvidas ou dificuldades referentes a sexualidade.

5.      Na saúde sexual:

·                    Aprender a conhecer o próprio corpo e cuidar dele.

·                    Escolher um método anticoncepcional que considere as características pessoais, para poder usá-lo de forma eficaz.

·                    Prevenir-se de abusos sexuais.

·                    Agir de modo consistente com os próprios valores ao lidar com uma gravidez indesejada.

·                    Evitar contrair ou transmitir doença sexualmente transmissível, inclusive o vírus da AIDS.

6.      Na sociedade e cultura:

·                    Vencer tabus e preconceitos relacionados à sexualidade.

·                    Respeitar pessoas com valores sexuais e estilos de vida diferentes dos seus.

·                    Exercer a cidadania desenvolvendo um posicionamento claro nas questões sexuais.

·                    Avaliar o impacto das comunicações familiares, culturais, da mídia e da sociedade nos próprios pensamentos, sentimentos, valores e comportamentos relacionados à sexualidade.

·                    Defender o direito de todas as pessoas obterem informações precisas a respeito da sexualidade.

·                    Evitar comportamentos discriminatórios e intolerantes a respeito da sexualidade.

 

II.           O Desenvolvimento do Curso

1.          Público Alvo:

A cada semestre, poderão se inscrever os professores da Rede Municipal de Educação. As inscrições ao curso acontecerão nas Unidades Regionais de Ensino, que também se responsabilizarão em distribuir entre as escolas um quantitativo de vagas, segundo a demanda e a necessidade das mesmas.

2.             Carga horária

           O curso teve uma carga horária de 40 horas/aulas, com encontros uma vez por semana, onde acontecem as oficinas pedagógicas sobre os temas solicitados pelos professores.

3.    Temas abordados

 Este semestre os temas que estão sendo abordados são:

-         Anatomia e Fisiologia Reprodutiva

-         Sexualidade na Infância

-         Puberdade e Sexualidade na Adolescência

-         Corpo e Auto-Estima

-         Paternidade/Maternidade

-         Heterossexualidade e Homossexualidade

-         Sexualidade ao Longo da Vida .

-         Masturbação

-         Vida Sexual Compartilhada

-         Desejo e Prazer Sexual.

-         Métodos Anticoncepcionais

-         Identidade, Papéis e Gênero.

-         Sexualidade, Sociedade e Cultura

4. Estrutura do curso a partir da elaboração do programa:

 

A estrutura do curso a cada semestre deverá obedecer os momentos dos ciclos de estudo/debates, oficinas pedagógicas. Neste segundo semestre de 2003 o curso  obedeceu a seguinte estrutura:

Data

Atividades

Horas/Aula

Ago

Palestra de abertura do curso “Educação sexual X Informação sexual na escola.

Profª. Ms. Teresa Cristina Barbo Siqueira - UCG

4

Set.

Out.

Nov.

-    Discussões de temáticas que retratem os temas citados no item 3 ( trabalho desenvolvido pelos alunos de Didática e Prática de Ensino em Pscologia).

-    Desenvolvimento de oficinas teórico/práticas que integralizem os temas citados no item 3.

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  Dez.

 

-    Encerramento e Confraternização:

Obs.: Para o procedimento de certificação dos cursistas, considerar-se-á a freqüência mínima de 75% e média final de 7,5 (sete e meio).

02

III.Recursos Materiais e Contra-Partida dos Atores Envolvidos:

Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação

-       Organização, acompanhamento e avaliação dos cursos;

-       Apoio logístico:

a)      Reprodução dos textos e materiais produzidos pelos alunos da UCG e material final do curso.

b)      Fornecimento de materiais de consumo para o desenvolvimento do curso.

-       O curso acontece às quartas-feiras das 13:30 às 17:30 - Rua T.50 esq.T.1 no Centro de Formação Paulo Freire.

Departamento de Educação da UCG

-       Estabelecimento da parceria a cada semestre.

-       Formalização do número de turmas que irão participar da proposta.

-       Elaboração e execução do curso (professores e alunos da disciplina Didática e Prática de Ensino em Psicologia).

-       Colaboração na reprodução de materiais de divulgação dos cursos (cartazes e folders).

-       Certificação dos cursistas.

Unidades Regionais de Ensino

- Apoio na organização, acompanhamento e avaliação  do curso.        

 

III.        A Avaliação do Curso

 

·                    A avaliação do curso é positiva, o projeto encontra-se em andamento, é observado e avaliado que esta atividade é profícua e leva em consideração a demanda de formação continuada dos professores da Rede do Município, bem como, responde a necessidade da disciplina Didática e Prática de Ensino em Psicologia.

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                                                          Teresa Cristina Barbo Siqueira

Professora de Didática e Prática de Ensino em Psicologia da Universidade Católica de Goiás.

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