COM TEXTO NO CONTEXTO DE 5a. SÉRIE – INOVAÇÕES NO ENSINO DE PORTUGUÊS E SUA RECEPÇÃO POR PROFESSORES[1]

                                                                           CHAGAS,   Flomar A. Oliveira[2]

O presente estudo resulta de uma investigação sobre o ensino de Português na 5ª série de escolas públicas de Goiânia. O principal objetivo dessa investigação foi o de verificar de que modo professores de Português, a partir de sua prática docente cotidiana, recebem e implantam em suas salas de aula as inovações teóricas e metodológicas produzidas na pesquisa sobre o ensino da língua e nas propostas curriculares oficiais, tendo em vista a formação dos alunos para uma vida digna e cidadã.

A aposta que se fez foi a de que a abordagem interacionista da linguagem, acompanhada de adequados procedimentos pedagógico-didáticos, poderia influir positivamente no melhor desenvolvimento lingüístico e cognitivo dos alunos.

Sabe-se que a forma de se trabalhar os conteúdos, tanto pode levar o ser humano a adquirir conhecimentos imprescindíveis para agir, participar conscientemente numa sociedade em transformação, quanto levá-lo a fins conservadores, de difusão da ideologia da classe que domina política e economicamente o país.

          Em face disso, torna-se necessário perguntar: como os professores de língua materna vêm incorporando essas discussões? Como se traduzem no discurso e na prática esses novos conhecimentos teóricos para o ensino de Português, que estabelecem como conteúdo de disciplina a prática de leitura, da produção de textos e da análise lingüística? Os professores apreendem essas mudanças? Como esses conteúdos são concebidos e incorporados ao programa da disciplina de Português? Que métodos e estratégias utilizam os professores? Estão estes articulados às suas concepções teóricas de língua e ensino?

   De posse de todo material coletado — textos repassados pelos professores aos alunos, trabalho, exercícios, avaliações, produção escrita — e das entrevistas, analisei se o discurso do professor estaria condizendo com o que foi construído em sala de aula e se os procedimentos pedagógico-didáticos estariam influenciando, de forma positiva, no desenvolvimento cognitivo e lingüístico do aluno.

    A relevância desta pesquisa é fornecer contribuições teóricas e práticas para o aprimoramento das práticas pedagógicas em escolas públicas do ensino fundamental.

    O método que norteou o desenvolvimento da pesquisa fundamenta-se na abordagem metodológica qualitativa, utilizando-se o estudo de caso.

     As mudanças ocorridas em âmbito geral e no ensino têm exigido dos jovens novas posturas na forma de agir e pensar, assim como, também, uma maior capacidade de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação, o que, conseqüentemente, vêm a exigir dos professores novas metodologias assentadas em pressupostos teóricos de abordagem progressista, a enfatizar o trabalho coletivo, voltado para a reflexividade, para o diálogo, possibilitando superar o conhecimento fragmentado, na direção de uma formação humana, ética e competente.

       Então, propondo superar formas de pedagogia tradicional que se resumem à transmissão de conteúdos, a Didática contemporânea tem se preocupado em atender essas inovações. Em razão disso, está fortemente ligada a questões que envolvem o desenvolvimento de funções cognitivas visando à aprendizagem autônoma, que Libâneo (2001) chama de competências cognitivas, estratégias do pensar, pedagogia do pensar.

       E foi a partir dessas modificações que propus realizar este trabalho, verificando como dois professores da rede pública do Ensino Fundamental de Goiânia recepcionaram e implantaram essas mudanças verificando se os procedimentos metodológicos utilizados por eles foram significativos para se estabelecer uma real integração entre o ensino de leitura, produção de textos (orais e escritos) e de análise lingüística.

        Diante de duas práticas opostas vale questionar: Que fatores decidem a implantação das inovações do ensino de língua?

        A sobrecarga de afazeres docentes é problemática para o profissional da educação, impede-o de enxergar além da sua sala de aula, impedindo-o  de refletir a sua realidade, de elaborar conjuntamente a sua prática. E de acordo com Zeichener (1993) refletir é também, compartilhar com o outro. Assim, não sendo possível realizar de forma concreta o trabalho coletivo, afeta-se também a reflexão. E além do mais as condições não se encontram apenas no docente, mas também a sua volta, no contexto em que ele desenvolve seu trabalho (Rios,2000). Dessa forma, a responsabilidade pelo insucesso ou sucesso escolar é coletiva – envolve professor, direção, especialista, de todos que trabalham as leis educacionais, enfim; dos governantes.

         Além de tudo, há de se considerar a  experiência de vida do professor, o que o faz agir de forma diferente. Por fim, a questão salarial entrelaçada com a questão didática, com o número de aula semanais, embricada com as características pessoais de cada professor fazem a  grande diferença em sala de aula.

    Os desafios enfrentados como baixos salários tolhem a formação continuada. Diante das precariedades das condições de trabalho, do pouco entusiasmo pela profissão, os professores não se sentem motivados e nem interessados em ampliar seus conhecimentos, daí surgem resistências a mudar suas práticas.

          E ainda há de se considerar o ambiente familiar e cultural em que o professor cresceu e se desenvolveu; os valores, hábitos, crenças, costumes adquiridos, a classe social a que pertence. Tudo isso contribui para o ensino de senso comum, ministrado de acordo com os parâmetros já pré-estabelecidos.

         As inovações sugeridas no Programa Curricular Mínimo de Goiás (1992), e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (2000), para o ensino de língua materna, são interessantes, elas convergem para atividades interativas, mas  o que se propõem quanto à formação continuada dos professores para incorporarem as inovações?

         Como fazer um ensino eficiente se esses programas não contemplam inovações referentes à melhoria de condições de trabalho, de valorização do professor? É como se estas fossem questões já resolvidas. Pelos PCN têm -se como suposto que  em toda escola há condições necessárias para que as propostas inovadoras possam acontecer.

          Diante dos desafios do mundo moderno, a instituição escolar tem que possibilitar ao professor a formação continuada como parte integrante para o exercício da docência e, não só eventualmente.Também tem que se ampliar o espaço de reflexão coletiva em que a equipe de professores, coordenadores e direção possam a refletir a prática pedagógica, com certeza, ampliar-se-iam consideravelmente as possibilidades de sucesso dos alunos.

Referências Bibliográficas

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental.  Parâmetros Curriculares Nacionais:  Introdução aos parâmetros curriculares nacionais.  Brasília: MEC/SEF, 1997.  26p.    

GOIÁS,  Programa Curricular Mínimo para o Ensino Fundamental de Português 1ª a 8ª     Séries.  Secretaria de Estado da Educação.  2 ed.  Goiânia, 1992. 91p.

LIBÂNEO, José C. Formação de professores: cultura geral de base e reflexidade. Texto de conferencia apresentado no XI Encontro Regional de Psicopedagogia- Goiânia, maio de 2001. Digitado.

RIOS, Terezinha A.  Por uma docência da melhor qualidade. São Paulo, USP, 2000. Tese doutorado. 181p.

ZEICHNER, K.M. A formação reflexiva dos professores: idéias e práticas. Lisboa: Esduca, 1993.

 

Resumo – Este estudo aborda as formas pelas quais professores recebem e implantam na sala de aula inovações teóricas e metodológicas relacionadas com o ensino de Português.Fez-se um estudo das concepções de linguagem e de ensino da Língua  presentes na produção científica brasileira. A intenção final foi juntar o embasamento teórico deste estudo e a análise dos dados coletados,  para fornecer contribuições teórico-práticas ao aprimoramento das práticas pedagógicas do ensino de língua materna.

 Palavras-chave: Ensino fundamental, ensino de Língua Portuguesa, prática educativa.

 


[1] Dissertação de mestrado defendida em set/2001, UCG,  sob a orientação do prof. Dr. José Carlos Libâneo.

[2] Mestre em Educação pela UCG, professora no Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás -CEFET/Uned de Jataí.

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